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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

7º Domingo após Pentecostes, 29.06.2008

Predigt zu Jeremias 28:1-9, verfasst von Gottfried Brakemeier

    

Prezadas irmãs e irmãos!

Deve ter sido um espetáculo sensacional: Dois profetas se confrontando no pátio do templo em Jerusalém. Ambos afirmam falar em nome de Deus, mas dizem exatamente o contrário. Um deles anuncia um futuro de paz e de prosperidade, o outro carrega uma canga em cima da nuca como símbolo do jugo que será imposto a Israel, caso não volte a depositar sua esperança exclusivamente em Deus. O contraste não podia ser maior. Então, quem tem razão, Hananias ou Jeremias? Estão aí os sacerdotes, o povo, o público, testemunhas do conflito dos profetas. Devem tomar partido e decidir a quem dar crédito.  Mas como o farão?

O histórico confronto dos profetas tem data segura. É o ano de 594 a.C., "no quarto ano do reinado de Zedequias". Este rei havia sido entronizado em Jerusalém por Nabucodonozor, soberano da Babilônia, depois que este, em 598 a,C., havia saqueado o templo e levado cativo uma parcela da população de Israel. Desde então o reino de Judá vivia dependente da poderosa Babilônia, obrigado a pagar pesado tributo financeiro, sem nenhuma liberdade política. É claro que o anseio por independência continuasse forte. Zedequias buscou apoio junto ao faraó do Egito, tramou alianças com essa potência, para se livrar da opressão. Um forte grupo da corte simpatizava com essa política e a apoiava.

O profeta Hananias é representante dessa facção que julga poder resistir aos babilônios. E sua profecia é nada tímida. Diz que Deus lhe mandou anunciar: "Eu acabei com o poder do rei da Babilônia. Dentro de dois anos, eu trarei de volta para este lugar todos os tesouros que o rei Nabucodonozor tirou do templo e levou para a Babilônia." E mais: Hananias prenuncia também a volta do rei de Judá, Joaquim e juntamente com ele dos demais prisioneiros, terminando com palavras muito enfáticas: "Eu, o Senhor, o disse"! Então, Israel tem um brilhante futuro à frente. O inimigo vai sofrer derrota, a liberdade voltará a reinar nas terras de Israel. Uma bela perspectiva.

Frente a tal prognóstico o profeta Jeremias está em situação difícil. Hananias diz o que o povo gosta de ouvir. Jeremias se julga no dever de anunciar o que o povo precisa ouvir. E isto não é a mesma coisa. Pelo que sabemos, ele mesmo, sofreu sob o juízo que deve proclamar. Chega até mesmo a confessar: "Espero que o Senhor Deus faça tudo como você disse." Seria ótimo, se Hananias tivesse razão. Jeremias ama o seu povo e gostaria muito de lhe dizer palavras agradáveis. Mas ele não o pode. O Deus de quem se sabe servo não o permite. O profeta não pode concordar com a visão de Hananias e com suas palavras animadoras. Sua consciência exige que proclame o juízo. Ele chama a uma conversão de última hora, a uma reorientação da sociedade de seu tempo, a uma mudança de rumo na política. A canga que leva nas costas é um sinal de alerta. A tragédia ainda não aconteceu. Ainda é tempo para evitá-la. Mas isto significa que as coisas têm que mudar na corte de Zedequias, bem como no povo que o aplaude. A profecia de Jeremias é um grito desesperado por mudança, por reforma, por conversão e transformação de mentalidade - uma tarefa ingrata.

As simpatias dos ouvintes evidentemente estão com Hananias. Por que os profetas sempre devem ser críticos? Profetas costumam ser gente "chata", são estraga-prazeres, pessimistas. É preciso dar esperança ao povo, reconhecer as chances do momento, arriscar-se. Hananias quer ser um outro tipo de profeta, diferente daqueles que só incomodam. Ele tem salvação a oferecer, com o que se revela como pessoa altamente "moderna". Pois são essas as expectativas que se tem com relação à religião e a seus "funcionários", também no Brasil de hoje. Religião deve falar de salvação, de prosperidade, de vitória. Ela deve ser útil, trazer lucro, satisfazer necessidades. Ela deve, para usar a figura de Jeremias, quebrar as cangas, sob as quais o povo está sofrendo. O Brasil vai bem, não é? Então vamos nos alegrar com o futuro brilhante à nossa frente. Para que sempre de novo criticar, alertar, apontar para as falhas? Nós precisamos de profetas do tipo de Hananias, ou? Jeremias é sentido como um estorvo inoportuno.              

Mas a história não julga pelas simpatias. Nós sabemos que Deus deu razão a Jeremias. Poucos anos depois do confronto dos dois profetas, o rei da Babilônia arrasou a cidade de Jerusalém, incendiou o templo e deportou mais outro grupo, abandonando a Palestina desolada e arruinada. O que Hananias havia profetizado se revelou como pura ficção. Se Zedequias e seus seguidores tivessem dado atenção a Jeremias, a catástrofe talvez pudesse ser evitada. Mas não o fizeram. Preferiram dar crédito a Hananias e suas projeções otimistas. Deus iria destruir o poder do rei da Babilônia e restaurar a autonomia de Israel. Foi um engano, um trágico engano. Mas como distinguir a tempo as ficções da realidade?

É esta a pergunta crucial que o texto para a prédica de hoje levanta. Como identificar os falsos profetas e os verdadeiros? Como saber quem está falando em nome de Deus e quem está mentindo? O pluralismo religioso do mundo globalizado agravou a problemática. Todas as religiões, de uma forma ou de outra, reivindicam ser voz de Deus e profetas do Altíssimo. Com quem está a verdade? Criam-se conflitos não só entre muçulmanos e judeus, cristãos e hindus, budistas ou outros, como também entre cristãos de diferentes confissões e até mesmo ateus. Pois também ateus têm os seus credos. Vivemos numa época de verdadeira confusão religiosa que deixa as pessoas tontas. Não raro os conflitos religiosos terminam até mesmo em violência. Os profetas de hoje se combatem mutuamente, disputam clientela e produzem perplexidade. Em que devemos crer? Quem fala de fato em nome de Deus?

Ora, receitas simples nessa questão altamente sensível não existem. Mas o profeta Jeremias oferece valiosas pistas. Indiretamente ele acusa Hananias de servir a um Deus partidário que sustenta os interesses do rei Zedequias, do seu partido, dos nacionalistas da época. "Deus é nosso", diziam. Ele está do nosso lado. Ele vai nos proteger e aniquilar os nossos inimigos. Tal mentalidade teve muitas réplicas na história da humanidade. Se Deus é "nosso", ele não pode estar com os "outros". A monopolização de Deus está na raiz de enormes tragédias humanas. Provocou não só sempre novos confrontos de "profetas", como uma verdadeira luta dos deuses. Alimenta a violência religiosa. Assim aconteceu também no Brasil. Os conquistadores chegaram aqui na convicção de serem os donos da verdade, legitimados a subjugar os povos indígenas e a cometer verdadeiro genocídio. Hananias é serviçal de um "Deus estatal", encampado pelos interesses políticos de Zedequias e de sua corte.

O Deus de Jeremias é outro. Ele é o Deus da justiça que não faz acepção de pessoas, que não pertence a ninguém e que tem o direito de criticar e de questionar. Nesse tocante Jeremias está muito próximo de Jesus de Nazaré. Também este "profeta" se negou a ser defensor de interesses grupais, nacionalistas, corporativistas. É verdade que ele se dirigiu preferencialmente aos pobres, doentes, marginalizados e culpados. Mas não o fez por partidarismo, e, sim, por amor. Serviu a "necessidades", não a "interesses". Deus pode criticar também os pobres. Se isto já não mais for permitido, a "fé" se transformou em ideologia e estamos bem no caminho de Hananias. Deus é livre. Ele se doa por amor, mas não por obrigação partidária. Nós somos de Deus, sim, mas Deus não é nosso. Jeremias nos ensina exatamente isto.

Nós não vivemos no reino de Judá, no sexto século antes de Cristo. Nós vivemos no Brasil e no mundo do século XXI. Onde está a voz de Deus? É mais fácil dizer, onde ela não está. Deus certamente nega a sua presença, onde religião serve para justificar guerras "santas", para legitimar privilégios classistas, para sustentar monopólios. Esta é uma atribuição legitimamente "profética", a saber, a vigilância quanto ao abuso do nome de Deus. Cabe aos profetas a denúncia de flagrantes ficções, de discurso sedutor, de estupidez política ou pessoal. Um exemplo: O Brasil certamente passa por um bom momento. O poder aquisitivo da população cresceu. Há hoje menos pobreza em nosso país do que em épocas passadas. Graças a Deus. Mas dizer que tudo está bem? Quem assim fala é mau profeta. O Brasil corre sérios riscos, entre eles, a explosão dos gastos públicos. Será permitido criticar? Quem já não mais permite a crítica, amordaçou Deus e se tornou cúmplice de Hananias.

Em contrapartida, a voz de Deus será ouvida lá onde se proclama e se faz justiça, onde se pratica amor, onde se deposita a confiança em Deus somente. É o que nós aprendemos com Jesus de quem Jeremias foi um precursor. E não só isto. Também observamos ser este o único caminho para evitar tragédias grandes e pequenas, como essa do ano de 587 em Israel e de tantas outras na história da humanidade. Obrigado, Jeremias, por tua coragem. Vale a pena seguir o teu exemplo. É o que lhe atesta a comunidade cristã que apregoa Jesus Cristo como o maior de todos os profetas.             

Amém!

 

 



Prof. Dr. Gottfried Brakemeier
Mova Petrópolis, RS, Brasilien
E-Mail: gbrakemeier@gmx.net

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