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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

5º Domingo após Pentecostes, 28.06.2015

Predigt zu Lamentações 3:22-33, verfasst von Júlio Cézar Adam

Estimada comunidade,

Esperar é tarefa difícil. Esperar na fila do banco (mesmo sentados); esperar que alguém chegue; esperar no congestionamento que não anda; as horas no trabalho que não passam; esperar que as férias cheguam...

Esperar é tarefa difícil. Esperar que uma situação se resolva (a conclusão da reforma ou da pintura da casa...); concluir o estudo; esperar que os filhos cresçam; esperar melhorar de vida...

Somos a geração das pessoas que querem tudo rápido. Tudo tem que ser para ontem. Somos a geração miojo (massa que fica pronta em minutos). Minha sogra está na minha casa a algumas semanas (não estou esperando que ela vá embora). Ela faz massa. Massa caseira! Demora muito mais tempo que o miojo. A massa precisa ser feita, esticada, cortada, secada, cozida, misturada com o molho! O sabor e a qualidade, não dá para comparar com um miojo.

Sim, somos a geração miojo. Não aguentamos ter que esperar. Não esperamos as frutas amadurecer, nem os frangos crescerem no tempo certo para o abate. Somos a geração da internet que tem que ser sempre mais rápida... Somos a geração que precisa 10 horas para ir do Brasil a Alemanha e achamos que é muito tempo! Não esperamos nem os bebês nascerem... marcamos a cesariana. Para a geração miojo, esperar é tarefa muito difícil.

Se esperar quando tudo vai bem é difícil, muito mais difícil é esperar quando as coisas vão mal. Esperar que as contas diminuam, quando falta dinheiro! Esperar que a dor que não passa, passe! Esperar que a intriga entre amigos, casal, família que não se resolve, se resolva! Esperar o resultado de um tratamento quando estamos doentes! Esperar que a água baixe, quando veio a enchente. Esperar que a chuva venha, quando há seca e falta água. Esperar quando temos pressa... esperar quando dói, é muito mais difícil.

Esperar realmente é tarefa difícil!

Como esperar?

O que fazemos para aliviar a angústia da espera?

Como esperar quando tudo se perdeu?

Imaginemos perder nossa casa, em um incêndio, p. ex.! Imaginemos perder a quem amamos? Imaginemos perder nosso lugar de vida? O que esperar depois? Como esperar?

Difícil esta tarefa de esperar! A geração miojo que somos, ficamos sem rumo. Geralmente xingamos tudo e todos! Culpamos a nós mesmos. Culpamos os outros. Xingamos, inclusive Deus! Culpamos a Deus pela catástrofe, pela miséria, pela angústia.

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Um povo de uma cidade perdeu tudo que tinha. Perdeu a casa, a rua, os vizinhos, os amigos, os familiares, os filhos... O rei viu seus filhos sendo mortos na frente dele. Depois teve ele mesmo os olhos furados. O povo perdeu a própria cidade. A cidade foi destruída. A igreja, o templo, o centro da vida daquela cidade, posto abaixo! Grande parte do povo foi levado preso para viver em outro lugar, em outro país, outra cultura, outra religião, outra língua... como escravos. O que esperar? Como esperar?

Também eles xingaram e se lamentaram a Deus! Seus xingamentos eram tantos... que viraram poesia... Viraram livro: as lamentações!

O sofrimento era tamanho, que chegaram a esperar a morte! Mesmo assim, este povo escreveu poesia para falar da própria espera! Mesmo tendo perdido tudo! Mesmo que não tivessem mais nada para esperar! O povo espera em Deus! O povo se lamenta, se queixa para Deus... Mas o povo reconhece diante de Deus, que apenas ele é a esperança.

Leitura do texto Lm 3. 22-33

Quando tudo se foi, só resta esperar em Deus. Lamentações é um pequeno livro da Bíblia. São as lamentações de um povo atacado e levado para o exílio da Babilônia (587 a. C.). Não se sabe exatamente que é o autor. Atribui-se a Jeremias... mas não necessariamente tenha sido ele. Podem ter sido os cantores do templo, que ficaram nas ruínas de Jerusalém. Várias pessoas, talvez. Todo o livro é um grande grito de dor, tristeza, protesto e xingamento contra Deus. Mais do que auto piedade é um clamor, um grito dirigido a Deus. (Isto significa que podemos gritar a Deus... significa que ainda o reconhecemos!)

Este texto nos diz muito. Este texto nos ensina a esperar. Esperar em Deus!

É um texto de profunda fé! Fé é crer no que não vemos! No meio da miséria, quando perdemos tudo, é muito mais difícil ver adiante. A fé é esperar mesmo que não tenhamos o que ver. Esperar é tão somente confiar, crer na misericórdia de Deus. “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”; “A minha porção é o Senhor”.

A fé em Deus é uma espera silenciosa: 26 Bom é guardar a salvação do Senhor em silêncio; 28 Assente-se solitário e fique em silêncio.

Como aprender a esperar na misericórdia de Deus, sendo uma geração miojo... geração que não aguenta nem mesmo o tempo para os bebês nascerem? Conseguimos esperar e confiar em Deus?

Acho que não! Eu acho que não consigo! Esperar em Deus é tarefa difícil!

O texto das lamentações diz que Deus não quer o sofrimento das pessoas (v. 32). Creio que Deus não quer o sofrimento das pessoas! Mas, mesmo assim, muitas vezes, não conseguimos entender porque precisamos sofrer. O Deus da misericórdia não dá para ser entendido, sempre. Acho que na maioria das vezes não entendemos a Deus. E, mesmo assim, o texto nos convida a esperar pela sua misericórdia. Mesmo que a gente não possa entender o sofrimento, o texto nos convida a simplesmente crer e esperar em Deus cujas misericórdias não têm fim e se renovam a cada manhã. Não dá para entender o sofrimento, nem a misericórdia de Deus. Mas podemos lamentar e esperar que a misericórdia de Deus é o alimento para seguir adiante.

Duas situações nós ouvimos do Evangelho. Uma mulher e uma menina. A mulher, havia 12 anos tinha hemorragia. 12 anos! Não só 12 dias, nem 12 semanas, nem 12 meses... São 12 anos. Mesmo com tamanho sofrimento, ela toca na veste de Jesus e é curada. Ela tem fé e a fé a curou! Um pai está desesperado porque sua filhinha de 12 anos está morrendo. No desespero ele procura Jesus. A menina volta à vida! Não temas, crê somente, diz Jesus. Os dois textos nos mostram a misericórdia viva de Deus. Os dois relatos, nos contam de pessoas com muita fé. Pessoas que esperam, contra todas as chances.

Jesus Cristo, a misericórdia viva, a onipotência do amor. Ele carrega para a cruz todo os nossos lamentos! Ele é a expressão suprema do nosso lamento. Ele é a expressão do nosso desespero: Meu Deus, meu Deus por que me desamparaste, foi o que ele gritou na cruz. Na cruz está exposto todo o nosso exílio! E na mesma cruz está a promessa de que tudo passará! Por que Jesus supera a cruz, supera a morte! Jesus cura. Jesus chama de volta para a vida!

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Qual é o nosso exílio?

Qual é a nossa hemorragia?

Qual é a nossa morte prematura?

Qual são os nossos 12 anos de espera?

Qual é o nosso lamento?

Qual é a nossa espera?

Injustiça e a violência, o medo de sair na rua, as notícias de pessoas atacadas, feridas porque são diferentes... este é o meu exílio. Meu exílio são as filas de espera por tratamento de saúde. Meu exílio é perceber a intolerância religiosa que mata pessoas... Mas, maior que todo meu exílio, é minha incapacidade de esperar. Já não sei esperar! Tantas vezes não consigo vislumbrar futuro para meu país. Tantas vezes sou incapaz de esperar que um dia o exílio acabará. Incapacidade de crer e confiar que as misericórdias de Deus tardam, mas não falham... Que difícil esperar!

Mas, o choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem pela manhã. Também o salmista expressa sua fé assim. Esperar não é simplesmente aguentar! Esperar pela misericórdia de Deus, crer em Deus, é esperar com muita esperança. Esperar em Deus é mais do que apenas esperar. Esperar em Deus é esperançar (Paulo Freire)! A cruz de Cristo é nossa esperança. (Ação de Graças é uma forma de esperar em Deus). Um dia o exílio irá passar, porque Deus não nos quer sofrendo. Um dia, haverá justiça e paz no Brasil.

Lenda dos índios Cherokees: O pai leva o filho para a floresta durante o final da tarde, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho. O filho se senta sozinho no topo de uma montanha a noite toda e não pode remover a venda até os raios do sol brilharem no dia seguinte. Ele não pode gritar por socorro para ninguém. Se ele passar a noite toda lá, será considerado um homem. Ele não pode contar a experiência aos outros meninos porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido. O menino está naturalmente amedrontado. Ele pode ouvir toda espécie de barulho. Os animais selvagens podem, naturalmente, estar ao redor dele. Talvez alguns humanos possam feri-lo. Os insetos e cobras podem vir picá-lo. Ele pode estar com frio, fome e sede. O vento sopra a grama e a terra sacode os tocos, mas ele se senta estoicamente, nunca removendo a venda. Segundo os Cherokees, este é o único modo dele se tornar um homem. Finalmente... Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida. Ele então descobre seu pai sentado na montanha perto dele. Ele estava a noite inteira protegendo seu filho do perigo.

Que Deus nos permita lamentar. Que Deus nos permita esperançar Nele e na sua onipotente misericórdia. Amém.



Prof. Dr. Júlio Cézar Adam
São Leopoldo
E-Mail: Julio Cézar Adam

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