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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

4. DOMINGO NA QUARESMA, 26.03.2017

Predigt zu Efésios 5:8-14, verfasst von Erni Drehmer

Texto da prédica: Efésios 5.8-14

Leituras: 1 Sm 16. 1-13; Jo 9. 1-41

 

 

Caras irmãs e caros irmãos.

 

Quem tem medo do escuro? Talvez alguns de nós, mais corajosos, seriam capazes de admitir que, no mínimo, se sentem pouco confortáveis na presença da escuridão. Geralmente crianças têm medo do escuro. Se perguntamos por que, elas vão ter bons argumentos para justificar seu medo: não conseguem ver o que tem pela frente, aparecem os monstros que durante a presença da luz se escondiam no armário ou debaixo da cama, e muitos outros argumentos.

Em resumo podemos dizer que a escuridão representa tudo aquilo que nos assusta, que não deixa ver o que temos e onde estamos. É o negativo, o ruim, o assustador.

A luz, por outro lado, revela, mostra o que temos ao nosso redor, o lugar onde estamos. Diante da luz nossos monstros desaparecem ou, no mínimo, vão se esconder em algum lugar para não serem vistos.

Também é verdade que algumas pessoas preferem a escuridão. Ela ajuda a relaxar nossos olhos e nossa mente depois de um dia carregado de coisas para ver e para fazer. Muitas vezes, nossos olhos e mentes cansados de verem acontecimentos de morte, corrupção, mentira encontram na escuridão impulsos para desligar e descansar. Esse é um lado bom de conviver com a escuridão, como uma terapia para os nossos cansaços.

Mas também sabemos que existem pessoas que preferem a escuridão como aliada para poderem fazer o que a luz não pode revelar. O assaltante se sente protegido pela escuridão para praticar seus roubos. O mentiroso prefere a escuridão para que a luz não revele sua expressão quando conta suas mentiras. O corrupto sente na escuridão um ambiente favorável para praticar seus atos sem ser descoberto e revelado pela luz.

Em nosso texto, o apóstolo Paulo usa a imagem da luz e da escuridão para insistir junto aos cristãos de Éfeso que eles vivam sua fé como pessoas renovadas. Pessoas que, conforme suas palavras, antes eram “trevas e agora são luz”. Muito importante é notar que o apóstolo diz aos cristãos que eles e elas “eram trevas e agora são luz”. Com isso ele alerta cada cristão e cristã que não precisam justificar seus atos como se fossem frutos de um mundo de luz ou trevas que os cerca. Pelo contrário, ele coloca a responsabilidade da vivência de fé sobre os ombros de cada um e cada uma. Cada cristão, diz o apóstolo, é fonte de luz ou escuridão para o mundo em que vive. Essa responsabilidade de ser fonte de luz traz consequências práticas. Os atos praticados por pessoas que são fonte de luz são o oposto dos atos praticados por quem é fonte de escuridão. Conforme as palavras do apóstolo, eles são portadores de bondade, justiça e verdade.

Caras irmãs e caros irmãos. Eis um assunto extremamente atual. É basicamente a manchete que ocupa os meios de comunicação, especialmente do Brasil, mas também de outros países. A pergunta pela verdade, pela justiça. A cada dia, novas denúncias de corrupção, mentira, lavagem de dinheiro, envolvimento em desvios de verbas e de conduta, começam a abalar nossa capacidade de confiar nas pessoas.

Em meio a tudo, há quem encontre nesse mar de lama justificativas para suas atitudes: “está todo mundo roubando, por isso também vou garantir o meu”. “Se os políticos não dão um bom exemplo, porque eu devo ser diferente?” Facilmente jogamos todas as responsabilidades pela situação do mundo sobre os ombros das autoridades constituídas. Ao mesmo tempo, porém, continuamos a jogar o lixo em qualquer lugar, a desrespeitar regras e leis básicas, a tentar subornar autoridades quando somos flagrados infringindo a lei.

Em meio ao mundo em que vivemos, a palavra do apóstolo Paulo fica muito fácil de entender. Ela serve como palavra de alerta e consolo. A palavra alerta para o fato de que nós mesmos, através de nossas palavras e ações, não apenas vivemos num mundo que nos leva de arrasto como uma enxurrada. Nós somos esse mundo, nós ajudamos a construí-lo e moldá-lo. Não somos apenas vítimas de uma sociedade violenta e injusta. Somos parte dessa sociedade, capazes de agir para que ela seja diferente.

Não é fácil ser diferente. Não é fácil manter-se firme nos princípios de honestidade e verdade, quando tudo ao nosso redor parece apontar para o outro lado. Não é fácil continuar insistindo em educar nossos filhos com os chamados valores tradicionais da justiça, responsabilidade, honestidade, quando aparentemente esses princípios passam a ser considerados relativos diante da concorrência e da necessidade de ser sempre, e em tudo, melhor do que outros.

E o apóstolo Paulo não é ingênuo quando insiste na mudança de atitude de cristãos e cristãs. Ele sabe que essa mudança não acontece simplesmente porque alguém decide ser diferente. Ele sabe que a força para mudar não depende apenas do desejo pessoal. É preciso algo mais. Por isso mesmo, ele inicia o capítulo 5 do nosso texto com a afirmação: “Vocês são filhos queridos de Deus e por isso devem ser como ele. Que a vida de vocês seja dominada pelo amor, assim como Cristo nos amou e deu a sua vida por nós, como um oferta de perfume agradável e como um sacrifício que agrada a Deus!”

O ponto de partida para a mudança de atitude não está dentro de nós. Não precisamos inventar o amor. Ele já foi inventado por Deus e aperfeiçoado quando o próprio Deus veio morar entre nós e morreu por nós. Mas então, precisamos ser capazes de morrer por alguém para termos atitudes cristãs? Certamente não. Pois Cristo morreu e carregou nossa culpa na cruz exatamente para que nós não nos sentíssemos obrigados a repetir o sacrifício, algo inimaginável para nossa frágil condição humana.

Queridas irmãs e queridos irmãos. Somos luz do Senhor. Não somos, nem precisamos ser, luz própria. Através de nossas atitudes, através da vivência da fé, o mundo nos vê como luz ou escuridão. Desde os menores até os maiores gestos, dependendo do espaço que ocupamos e do raio de ação de nossas vidas, podemos ser a luz que irradia verdade, justiça, bondade, ou não. Essa é uma decisão que precisamos tomar. É a liberdade que Deus nos concede de escolhermos o caminho pelo qual queremos andar.

Muito bem, vocês dirão, decidimos ser luz, decidimos falar e agir guiados pelos frutos da luz, a bondade, a verdade e a justiça. Mas como fazer isso? De onde reunir forças para mudar as atitudes, enfrentar os ventos contrários?

Com certeza dificilmente encontraremos forças suficientes dentro de nós individualmente para promover essa mudança de atitude. Por isso é importante buscar apoio. E um desses apoios pode ser a comunidade cristã. Sim, a comunidade cristã na qual podemos experimentar modelos de como sermos luz de Deus em meio à vida diária. A comunidade deixa de ser o que é para algumas pessoas: apenas um centro de tradições religiosas que, como diz o nome, serve tão somente para preservar velhas tradições que são apenas bonitas e emocionantes, mas não nos desafiam à mudança. Se buscamos na vivência da comunidade cristã a força para nos ajudar na mudança de atitude, ela passa a ser o lugar, por excelência, o lugar onde o convívio com irmãos e irmãs, embalado e motivado pelos ritos e tradições religiosas nos fortalece para sairmos mundo a fora, não importando o tamanho do mundo que alcançamos, em nova postura que reluz na verdade, na justiça e na bondade.

Nessa nova inspiração de vida nossos olhos se abrirão de uma forma nova e surpreendente. Lugares e experiências que antes não nos chamavam a atenção passam a se mostrar como desafios para fazer brilhar a luz de Deus, para iluminar o escuro, para revelar o que estava escondido. Mas engana-se quem acha que essa nova experiência resolverá todos os nossos problemas e que só veremos prosperidade e sucesso na vida. Isso prometem os falsos profetas e os falsos pastores que se preocupam apenas em nos afagar para que nossa contribuição financeira seja grande o suficiente para enriquecer o pastor. Quando os olhos da fé se abrem, passamos a ver com mais clareza onde há carência de bondade, justiça e verdade. E todo o nosso ser se inquieta e precisa trazer à luz do dia a mentira, a exploração, a injustiça, a mentira que alimentam a miséria e o sofrimento do povo de Deus.

Que o bondoso Deus nos ajude para que tenhamos a coragem de deixar que Sua palavra nos transforme. Que ela nos ajude na difícil caminhada que nos leva da escuridão para o novo jeito de viver como luz de Deus para nós e para o mundo em que vivemos. Que a graça revelada em Jesus Cristo nos ajude a entender que não precisamos realizar tudo isso com nossas próprias forças, mas podemos saber que o amor de Deus nos alcançou muito antes de sermos capazes de realizar qualquer gesto de amor. Muito antes e independente de sermos merecedores ou não. O jeito de viver sendo luz de Deus simplesmente propõe construir um mundo diferente. Um mundo onde se ama incondicionalmente, se fala a verdade, se convive em bondade. Simplesmente assim. Aparentemente impossível aos olhos humanos. Simplesmente possível a partir da graça de Deus.

Que a graça de Deus acompanhe a todos e todas quando retornarem à sua vida diária na família, na sociedade, na profissão. Que ela os fortaleça na luta por um mundo guiado pela bondade, verdade e justiça. Que ela os console quando o sentimento de frustração e dor parecerem maior do que a esperança. Que ela multiplique em vocês a alegria quando colherem a recompensa pelos pequenos ou grandes gestos de bondade, verdade e justiça.

Amém.



P.em. Erni Drehmer
São Leopoldo – RS (Brasil)
E-Mail: ernidrehmer@gmail.com

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