Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

7° Domingo após Pentecostes – 18 de julho de 2004
Série Trienal C – Lucas 10.1-12, 16 (17-20) - Paulo P. Weirich

(-> A las predicaciones actuales: www.predigten.uni-goettingen.de)


A tarefa dos discípulos de Jesus

Nem sempre é simples dizer-se o por quê de alguém se alinhar aos seguidores de Jesus. O texto que temos diante de nós desenha um quadro de várias facetas ou matizes. Vamos alinhar alguns que se destacam:

Vão como predecessores de Jesus.
Jesus decide enviar os seus seguidores como aqueles que o precedem e, por assim dizer, preparam a sua chegada a cada lugar onde ele estaria. Isso não é novo. João Batista é o modelo mais conhecido de um predecessor. É interessante observar que um seguidor não é somente um seguidor. É ao mesmo tempo um predecessor, aquele que prepara a chegada daquele de quem se diz seguidor.
Jesus acabara de aparentemente dissuadir pessoas que estavam dispostas a segui-lo. Jesus apresenta obstáculos aos que estavam decididos a segui-lo. Jesus dera a entender que segui-lo demandaria qualidades ou virtudes nem sempre tão óbvias a quem se dispõe a segui-lo, porque, talvez não se imaginam as dificuldades que podem estar à espreita de quem segue Jesus como seu líder.
Um seguidor, pressupõe-se que tenha sempre a atenção voltada para a frente, para o seu líder. E um predecessor, um abre-alas? Para onde deve olhar? Para o seu líder? Mas o seu líder não está à sua frente. Para onde olhar quando se é o abre-alas do líder?

Os desafios.
Atenção à frente! É um sinal bastante comum na sinalização das estradas pelo mundo a fora. Curvas, perigo, estrada com problemas, precipícios são motivo para que a estrada seja bem sinalizada. Alguém esteve lá antes e sinalizou para quem vem atrás.
Interessante que o evangelista diz que os discípulos foram enviados como predecessores (10.1), mas Jesus está o tempo todo sinalizando os perigos e desafios que esperam pelos discípulos à frente.
Atenção à frente! Sinais de perigo. Advertência. Jesus fala como alguém que já esteve lá, conhece o caminho e seus perigos e agora envia os seus seguidores. Ele dissera isso no momento que tivera antes com aqueles que desejavam segui-lo: O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Conforto (9.58), laços familiares (9.60) e indecisões (9.62), atitudes de quem olha para trás no momento do perigo, não são qualificativos para os seguidores de Jesus.
Seguidores que olham para a frente diante dos desafios são predecessores. Falta algo aos que, diante do desafio, olham para trás.

A urgência
Viaje leve! Há pessoas que quando se preparam para uma viagem procuram antecipar todos os possíveis problemas que possam surgir. Faz lembrar a história daquele que procurou se prevenir contra possíveis doenças da região para onde estava em viagem. Levou consigo tantos litros de água quantos os dias que lá permaneceria. Na primeira refeição, munido da sua água, viu, na mesa vizinha a mesma água sendo servida.
Carregar peso inútil é um entrave e atraso para quem é enviado por Jesus.
Não carreguem peso desnecessário. O quadro que Jesus descreve não é animador.
Vocês estão em inferioridade numérica e com falta de pessoal. Jesus esteve lá e viu o quadro e agora o descreve. Modernos planejadores esperariam de Jesus pelo menos alguma sugestão para a solução desta dificuldade. Jesus se limita a descrever o quadro.
Além da absoluta falta de pessoal, a oposição que vão enfrentar é terrível: como se fossem ovelhas enfrentando lobos. Não muito diferente de Moisés quando ouviu o relato dos espias que voltaram com relatos fantásticos sobre gigantes a enfrentar durante a possível ocupação da terra prometida. O povo de Deus, aqueles que anunciam paz, aqueles que preparam a nova ordem no mundo, são poucos e frágeis diante do desafio que os espera.
Não se deixem distrair. Mantenham o foco. Não se desviem do objetivo. Cortesia demais podem ser desvios e atrasos que se interpõe à missão. Talvez Jesus lembrasse intensamente as gentilezas de que Satanás o cobriu no deserto. Que tal conversarmos sobre as condições sub-humanas a que estás sujeito. Fome? Para que essa fome? Por que não começar com um ministério de sucesso em Jerusalém? José, Maria, Nazaré? Que currículo é este para um Rabi com vocações e planos tão elevados? Se o objetivo é o mundo, por que aceitar as limitações que estão sendo impostas?

O foco da tarefa
Antes de tudo, PAZ. (v.5) Saberiam os discípulos, num primeiro momento, que paz era esta? Lucas insere este relato num contexto mais amplo de discípulos. Mateus lembra este relato no contexto dos doze (Mt 10) logo após a escolha dos doze. Lucas o insere na seqüência da disputa dos doze quanto aos lugares de honra no novo reino que vislumbravam em Jesus. Mateus acrescenta a observação de Jesus: “de preferência buscai as ovelhas perdidas da casa de Israel.”
Os setenta vêem-se enviados às aldeias da periferia de Judá, nas aldeias e cidades da Galiléia. Enquanto os discípulos se questionavam sobre os cargos elevados e buscavam auto-apascentar-se, (9.46-48) Jesus ainda assim os envia como seus seguidores e predecessores de sua confiança. O que se espera de um discípulo não é mais do que isso. A mensagem não é dele. A tarefa não é dele. A ele cabe identificar a aldeia, a cidade, o lugar dos perdidos, dos que não tem reino, nem identidade e nem paz. Aqueles que não são mais procurados por mensageiros do Reino. “Ovelhas perdidas” que não mais são contadas como parte do rebanho. Meros dígitos na estatística nos macro-relatórios e planejamentos.
Eles são o foco da tarefa. Digam a eles que chegou a PAZ. Essa paz é o reino de Deus que chegou para vocês. Agora são cidadãos do reino de Deus aqueles que até não eram mais do que dígitos da estatística, pequenos demais para figurar entre os que se auto-apascentavam como do reino.

A tarefa.
Permaneçam, participem, confirmem, ajudem. Não é a linguagem do conquistador, daquele que vai derrotar e destruir. É linguagem de quem vai estar ao lado, estar junto, conviver com os que até então não eram procurados. É linguagem que ofende Satanás no deserto. Linguagem que ofende Pedro: “Senhor, isto nunca te aconteça.” É linguagem da cruz e do sacrifício. É a linguagem do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e oferece a paz.
“Para que fique cheia a minha casa” é a visão que Jesus passa aos discípulos na parábola da grande ceia. Aqueles que a si mesmo se consideram justos não se sentem bem em partilhar o reino com os perdidos da casa de Israel e de todas as casas que ao longo da história perderam de vista que seguidor e predecessor são, na verdade, a mesma coisa. Fomos chamados para viver ao lado de Cristo exatamente porque estávamos sem credenciais próprias de quem aspira o reino de Deus. Agora somos enviados sem outra credencial senão aquela palavra: Ide como cordeiros para o meio dos lobos. Esta credencial é tudo que temos.
Ela tem nada a ver com o que o mundo espera de quem vem em nome de Deus. Aparentemente nada temos a fazer e oferecer. A não se, como Paulo o expressa aos Gálatas: “Sejam carregadores de da carga alheia”. Tenham o espírito de um carregador de cargas. Ajudem as pessoas que ainda não se desfizeram do excesso de bagagem, que ainda sofrem sob grandes fardos de culpa, de rejeição.
Talvez alguém se lembre de quem lhe carregou as malas algum dia. Mas, em geral, são figuras apagadas e anônimas. São tarefas inglórias, muitas vezes. Nem sempre seguidas de gratidão.

A recompensa.
Então? Para que tudo isso?
Alegrem-se, porque os vossos nomes estão arrolados nos céus.
Pensando bem, Jesus está super-estimando os desafios, o perigo, a rejeição. Ele parece estar dizendo que não há alegria a não ser a recompensa nos céus.
Bem, não sei. Penso que Jesus está deixando a questão da recompensa ao nosso próprio critério e julgamento. Somos predecessores, mas de que? Do Reino. Somos a cara do reino de Deus para o mundo. O Reino veio até nós. Alguém carrega a nossa carga. Alguém está ao nosso lado com a nossa carga, os nossos excessos de bagagem.
Geralmente pensamos o reino de forma institucional, eclesiástica. Jesus parece pensar de maneira mais ampla quando pergunta ao intérprete da lei: Quem é o próximo daquele que foi assaltado? (Lc 10.25 ss.) A recompensa não está no nosso futuro. A recompensa está no nosso passado como bem reconheceu o filho pródigo quando lembrou o que tinha perdido.
A recompensa que nos mantém focados está sempre presente, aproximando o futuro e o passado no presente glorioso: Tu és meu. Aquilo que nos fez seguidores é também o que nos converte em predecessores do Reino para aqueles que ainda não são. É também o que nos mantém solidários e unidos ao povo de Deus: Jesus, aquele que nos incluiu no rol dos seus.

Paulo P. Weirich
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
São Leopoldo, RS - Brasil
weirich@ulbranet.com.br


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