Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Décimo Primeiro Domingo de Pentecoste – 15 de Agosto de 2004
Série Trienal C – Lucas12:13-21 - Nilo Figur
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LOUCOS?

Mas Deus lhe disse: louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem sera? Assim é o que entesoura para sí mesmo e não é rico para com Deus. Lucas 12: 20 & 21

Está todo mundo louco! É uma expressão comum que na verdade faz sentido! Há muitas formas de loucura no mundo. O texto do Evangelho desta semana nos aponta para uma forma de loucura muito comum, que normalmente nem é percebida ou aceita por aqueles que se encontram nesta trágica situação. Isso porque a loucura de que trata o texto bíblico não está na área do tratamento mental, psiquiátrico, da medicina, mas na esfera espiritual do relacionamento da criatura humana com o seu Criador. Deus define como louco aquele que tem como princípio e valor máximo da vida os seus bens materiais.

A questão da posse de bens materiais afeta básicamente a todas as pessoas, em diferentes níveis e aspectos, independentemente de cultura, classe social, ideologia política, religião, etc. A triste realidade da desigualdade social no mundo mostra as consequências do apêgo das pessoas aos bens materiais. Na raíz desta triste realidade está a condição da natureza humana caída em pecado. Em nenhuma sociedade ou ideologia implantada no mundo as consequências da avareza foram eliminadas. Nas tribos, nas sociedades capitalistas, socialistas, comunistas há os que tem mais e os que tem menos, os que são mais ou menos iguais, e a busca pelo poder e a riqueza como um sintoma comum.

O Evangelho deste domingo, bem como as leituras do Antigo Testamento e da Epístola se complementam no tema dos valores fundamentais da vida, apontando a transitoriedade dos bens materiais em contraste com o valor dos bens espirituais que permanecem eternamente. Jesus conta uma parábola para definir e estabelecer a diferença entre os tesouros terrenos e os celestiais, bem como para apontar o prioritário e eterno em contraste com o muitas vezes “urgente” e terreno, que é transitório. Jesus define como loucura a prioridade e o valor absolute dado aos bens materiais.

O homem louco da parábola não reconhece de onde provém a sua riqueza e a sua própria vida. Ele não vê além de sí mesmo e de seus próprios horizontes. Ele credita à sua inteligência e capacidade o sucesso de seus negócios e de sua vida neste mundo. Atrelado ao aqui e agora ele não percebe que a vida não termina no cemitério e que está negligenciando a vida eterna ao colocar os seus bens materiais como prioridade absoluta em sua vida. Isso tem um resultado trágico, de consequências irreparáveis - de condenação eterna. Por isso Jesus o chama de insensato, louco.

Nosso mundo está cheio de loucos como o descrito nesta parábola. O vírus desta loucura pode facilmente nos afetar e certamente é um dos maiores perigos para a nossa fé e a nossa vida como cristãos neste mundo. Jesus chama a atenção para a importância de se ter cuidado e de guardar-se de toda e qualquer avareza. Como cristãos não estamos livres das tentações do diabo, do mundo e da nossa própria carne, como definiu muito bem Lutero, ao se referir à nossa condição simultânea de santos (redimidos por Cristo) e pecadores. Vivemos numa sociedade onde o ter significa mais do que o ser, onde as aparência é mais valorizada do que a essência, onde os bens materiais são mais importantes do que os bens espirituais. Nós facilmente podemos entrar no rol dos loucos da parábola. Por isso a advertência de Jesus: Cuidado! Guardem-se da avareza!
“A vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui,” adverte Jesus. Ele o faz porque sabe que seus discípulos seriam tentados na inversão deste princípio. Quantas vêzes nós somos tentados a ver ou encontrar significado, valor, segurança, felicidade na abundância das coisas materiais, colocando-as numa ordem prioritária às coisas do Reino de Deus, às “coisas lá do alto?” Facilmente investimos naquilo que parece ser “muito importante” para o nosso futuro e a segurança da nossa família, enquanto temos dificuldades para ofertar e investir “nossos” recursos na expansão do Reino de Deus. Facilmente racionalizamos e temos “bons argumentos” para o pecado da avareza. Jesus não contemporiza, mas chama isso de loucura, de insensatez!

Apropriadas são as palavras da oração de Agur, em Provérbios 30:7-9: “Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: Afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza, nem a riqueza: Dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o Senhor? Ou empobrecido, não venha a furtar, e profane o nome de Deus.”

No mundo materialista e imediatista em que vivemos, a preocupação para com a fé e a vida eterna é facilmente atropelada pelos valores materiais. Em Mateus 16:26 Jesus compara o valor da alma humana com o mundo: “Q que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma?” É interessante se observar que ao mesmo tempo em que o nosso mundo se “materializa” cada vez mais em dimensão global, a “espiritualidade” se torna mais e mais comum na aceitação e no crescimento de religiões, crenças e ritos não cristãos. Como cristãos e filhos de Deus somos chamados a confrontar esta realidade do mundo com a mensagem do Evangelho de Cristo, que é loucura para os que se perdem, mas poder e salvação para os que crêem, conforme disse o apóstolo Paulo.

A vida é uma dádiva de Deus e nenhum empreendimento humano pode extendê-la ou dar sentido a ela. A mensagem central de Jesus na parábola está relacionada com a dádiva da vida e dos bens que recebemos de Deus e de como os usamos e administramos. Como pecadores redimidos por Cristo, temos valores e perspectivas de vida diferentes dos do mundo. Somos ricos para com Deus não por nossos méricos ou posses, mas pela graça e misericórdia de Deus em Jesus Cristo, nosso Salvador. Bens materiais passam a ser vistos como bênçãos a serem usados e repartidos.

A vida e as coisas deste mundo tem uma dimensão transitória para nós cristãos. Temos a percepção de que as coisas terrenas são limitadas e passageiras. Nosso presente e nosso futuro não dependem de grandes celeiros cheios e nem de bens em depósito. Nossa esperança está na certeza da vida eterna que temos em Jesus Cristo. A vida neste mundo não consiste na abundância dos bens que possuímos, mas sim na relação com Deus através de Cristo. Se não fosse por isso – pela graciosa misericórdia de Deus – seríamos considerados loucos também.

Jesus nos ensina através desta parábola que a dádiva da vida e os bens que recebemos de Deus não são para ser guardados, escondidos, usados egoísticamente, mas são dádivas para serem compartilhadas. É trágica a inversão de valores estabelecidos por Deus para a nossa vida. Que desafio o de alcançar os loucos do nosso tempo com a mensagem transformadora e salvadora do Evangelho!

Nilo L. Figur
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Concordia University, Professor
Austin, Texas, USA
Nilo.Figur@concordia.edu


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