Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Décimo Sétimo Domingo após Pentecostes- 26de setembro de 2004
Lucas 15.1-10 - Paulo Proske Weirich

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Lc 15. 1-10
A parábola da ovelha perdida
Tema: A alegria de Deus

Perder e achar, angústia e alegria.
Crianças pequenas facilmente desviam-se dos pais em aglomerações públicas. Quem já não ouviu avisos passados pelo sistema de som de algum centro comercial ou grande supermercado nesse sentido? Entretanto, quem já passou pela experiência de perder alguém ou algo que lhe é precioso, não recorda com alegria a angústia que tais momentos acarretam.

A angústia da perda parece dimensionar-se na razão inversa do sentimento de alegria que toma conta de quem encontra aquilo que perdeu. Paradoxalmente, as maiores alegrias que lembramos estão ligadas a momentos de grandes angústias.

Assim Jesus revela aos fariseus que estão diante dele aquilo que ele, Jesus, sente no seu íntimo enquanto eles o recriminam naquilo que vem fazendo. Falando dessa maneira Jesus também parece indicar a dimensão que o separa dos fariseus e dos escribas. Jesus revela nessa seqüência de parábolas aquilo que motiva a mais plena alegria em Deus, aquilo que deixa Deus plenamente satisfeito.

Responsabilidade da perda.

É importante notar o contexto que Lucas recorda para as parábolas que se seguem. Os fariseus e os escribas detêm o ensino bíblico da religião em Jerusalém para todo o povo. A sua prática pastoral estava bem definida e era criteriosamente aplicada. Eles faziam tudo e mais alguma coisa para dar a Deus motivos de estar plenamente feliz com aquilo que faziam e ensinavam.

Não era Deus a fonte de todas as coisas boas? Não merecia Deus o melhor culto, a mais perfeita obediência, a mais dedicada adoração por tudo que faz pelos seus crentes e também por todas as pessoas?

Por essa razão examinavam e expunham as Escrituras cuidadosamente. Dedicavam suas vidas a ensinar ao povo suas descobertas de como se deve viver para que Deus possa ter plena satisfação e alegria pelos seus crentes. Não somente ensinavam. Suas vidas eram coerentes com o seu ensino. Cumpriam com zelo extremo aquilo que ensinavam.

Com o mesmo zelo repudiavam aquelas pessoas cujas vidas contrariavam o ensino da igreja. Pessoas essas cuja vida pessoal denegria e manchava a imagem da religião que deveria ser exemplar. Obviamente lhes causava pena ver pessoas não estarem à altura daquilo que delas se podia esperar minimamente. Mas era necessário e para o bem dessas pessoas que elas fossem afastadas do convívio daquelas que eram fiéis aos princípios e mantinham vida exemplar.

Ultimamente os escribas e fariseus estavam perturbados. Um Rabí, de nome Jesus, estava indo ao encontro dessas pessoas. E mais. Ele as acolhia sem restrições, contrariando frontalmente a prática deles. Inaceitável. Era o mínimo que se podia dizer dessa prática de Jesus. Lucas registra essa contrariedade. E indica que as parábolas que seguem são a resposta de Jesus à contrariedade dos fariseus.

Uma vez que Lucas nos mostra esses pressupostos, podemos ver o que a parábola estabelece.

A ovelha não tem como retornar se alguém não procurar indefinidamente até achá-la, não importa o tempo e os esforços que isso demande. O pastor não está contrariado com a ovelha. A ovelha não está com o rebanho. Ela, então, é a prioridade absoluta e a preocupação de toda a aldeia. Todos sentem a angústia da perda. Todos estão comprometidos em trazê-la de volta. Ninguém está indiferente ao que possa estar acontecendo.

A indiferença dos fariseus em relação à situação em que se encontram aqueles que eles declararam perdidos é o foco da parábola. Não me parece fora de propósito lançar sobre as igrejas de hoje e sobre nós, mestres e pastores na igreja, a pergunta que queima: Em que contexto estamos nós? Com que atitude tomamos conhecimento que pessoas estão sendo contadas como desgarradas do rebanho, enredadas em situações condenáveis? Esse fato nos afasta ou nos aproxima dessas pessoas?

A parábola tem o seu eixo determinado pelo fato de a ovelha estar perdida. Esse fato instala uma situação de crise aguda. Assim como a mãe ou o pai larga tudo quando perde de vista um filho na multidão, a aldeia e o pastor largam tudo que não concorra para o esforço de encontrar e trazer de volta a ovelha.

Os fariseus e escribas estavam engessados nos seus rituais de religião, com regras fixas de execução dos mesmos, regras fixas sobre o perfil e do papel de cada um nesse ritual. Não havia espaço para quem se aproximasse sem estar enquadrado, sem o perfil para estar nesses rituais elaborados e fixados através dos séculos.

A criança perdida, a ovelha perdida, a pessoa que está fora do raio de ação e proteção, essa é a regra. E não existe outra regra. Ela é o eixo da religião tal como Jesus a entende e pratica.

Não praticar essa regra, não sentir essa angústia da perda, estar fixado sobre um eixo que não contemple essa realidade, acaba por deixar Jesus na oposição e os fariseus a recriminá-lo. Jesus assume essa oposição pela angústia que o domina de ver alguém afastado e nada sendo feito a favor dele.

O último aspecto que quero ressaltar na parábola é o da culpa.

Quando um pai ou uma mãe perde de vista um filho ou filha no shopping, o sentimento mais difícil de suportar é o da culpa. Quando o pastor de ovelhas se dá conta de que uma ovelha está perdida, é inevitável a sua responsabilização. Ele é o responsável. Não foi a ovelha que se perdeu. Foi o pastor que perdeu a ovelha.

Se os fariseus sentiam alguma responsabilidade pelos perdidos, certamente não aceitariam a responsabilidade que a parábola indicava. Alguma responsabilidade, sim. Mas não aquela que seria atribuída a um pastor de ovelhas. Era para eles inconcebível que se esperasse deles que assumissem nesse grau a responsabilidade pelos perdidos. Isso significaria assumir uma culpa que eles não podiam reconhecer, nem admitir.

Em função disso não podiam compreender, nem aceitar como vindo de Deus essa "promiscuidade" que acusavam em Jesus: Ele recebe pecadores e come com eles. Eles, ao contrário, tinham de manter sua própria pureza como contraste e modelo para os pecadores.

A parábola termina em festa. A aldeia vive em função da celebração de cada um que foi trazido. A aldeia não admite viver e festejar sem os seus perdidos. Eles são o motivo da festa. Resta aos fariseus entenderem que eles não estão realizando culto a Deus. O culto que realizam é o culto a si próprios. O culto de Deus e o culto a Deus é aquele que faz novas todas as regras, que renova suas estruturas para incluir, receber e acolher os de fora.

Ainda hoje é grande o número de pessoas que estão à margem e nas periferias das igrejas. Essas pessoas, no tempo de Jesus, se sentiam estranhas e até indignas de se aproximarem do templo. Mas não se sentiam intimidadas na presença daquele Mestre, que se punha à disposição delas. Sentiam-se acolhidas sem quaisquer restrições como se o seu passado e suas culpas não mais pesassem contra elas.

Essa é a alegria na aldeia. A palavra vai de boca em boca e só faz sentido para os perdidos. Somente eles estão à espera de uma palavra de salvação, da voa que acolhe e recebe. Do braço que carrega os que estão ainda frágeis demais para andar. A alegria na aldeia é comum a todos, na medida em que a ovelha perdida é a metáfora para pessoas que se alegram porque a salvação que veio até elas, incluiu mais uma ovelha.

Ao nos reunirmos para um culto, a festa se renova para nós, para lembrarmos com renovada alegria o dia em que fomos acolhidos e celebramos que essa salvação seja permanente em nossas vidas. O som dessa festa é a palavra que anuncia para fora que a salvação é para todos.

Paulo Proske Weirich
weirich@ulbranet.com.br


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