Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Vigésimo Primeiro Domingo de Pentecoste – 24 de Outubro de 2004
Série Trienal C – Lucas 17.11-19 - Nilo Figur

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


De caminho para Jerusalém, passava Jesus pelo meio da Samaria e da Galiléia. Ao entrar numa aldeia, sairam-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Mestre, compadece-te de nós! Ao vê-los, disse-lhes Jesus: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. Um dos dez, vendo que fora curado, voltou, dando glória a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe; e este era Samaritano. Então Jesus lhe perguntou: Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove? Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou. (Lucas 17.11-19, Sociedade Bíblica do Brasil, ed. Revista e Atualizada)

Onde estão os outros nove? Por certo tem sido esta a tônica dos sermões sobre este relato de Lucas conhecido como “a cura dos dez leprosos.” Está claro que Jesus está diante da mais escancarada ingratidão humana, quando de dez curados, apenas um voltou para agradecer! Mas nesta mensagem vamos falar especialmente daquele um que voltou para agradecer e que na história normalmente é obscurecido pela atitude de ingratidão dos outros nove leprosos curados com ele.

É este um relato que trata da gratidão ou da ingratidão dos filhos de Deus? Para entendermos o gesto de gratidão daquele um que voltou, precisamos observar também o contexto no qual se deu o gesto de ingratidão dos outros nove companheiros de infortúnio. Naquele tempo a lepra não só isolava a pessoa da família e da sociedade, como na verdade a alienava e descartava do mundo e do convívio dos seus. Como não podiam se aproximar das pessoas, gritaram de longe ao Mestre, clamando por compaixão.

Esta é a realidade dos leprosos espirituais do nosso tempo também, grupo no qual nós todos estamos incluídos. Não há outra saída para a terrível lepra do pecado, que condena não só temporalmente, mas eternamente, do que clamar: Mestre, tem compaixão! E quando o Mestre intervém na história, remove a condenação causada pela lepra do pecado, com o seu sacrifício na cruz e sua ressurreição, aniquilando a morte, a pergunta é: onde estão os “outros nove que foram curados, resgatados, libertados? Parece tão simples exclamar, mas como pode? Mas infelizmente esta é a realidade não sómente “dos outros,” mas a nossa triste realidade ambém. E é aqui que focalizamos nossa atenção naquele um leproso curado que voltou para agradecer a Jesus.

O que distinguia o leproso agradecido dos demais companheiros de sofrimento e infortúnio? Jesus menciona apenas uma coisa que o caracterizava dos demais: ele era samaritano. Conhecendo o que isto sigificava na contenciosa relação dos judeus com os samaritanos, nós podemos entender a mensagem de Jesus nesta simples caracterização do leproso que voltou para agradecer. Ele não só era rejeitado pela sociedade, como também pela comunidade religiosa judaica. A compaixão do Mestre para com ele foi algo extraordinário e milagroso que aconteceu em sua vida. Ciente de sua doença corrosiva que o destruía lenta e inexoravelmente, bem como de sua condição de samaritano condenado e rejeitado pelos judeus, ele reconhece a ação misericordiosa de Deus e volta para agradecer.

Quando aplicamos este texto à nossa realidade, facilmente somos levados a focar a atenção nos nove mal-agradecidos, mostrando como não devemos fazer em nossas vidas como filhos de Deus, e acabamos colocando em segundo plano a mensagem que está contida na ação e atitude daquele um leproso samaritano que voltou para agradecer a Jesus.

A gratidão dos filhos de Deus tem sua base na ação misericordiosa de Deus no mundo. É uma ação que perpassa a nossa vida em toda a sua dimensão. A vida é um presente de Deus. Cada dia de nossas vidas é parte de um presente imerecido. E não sómente a vida neste mundo passageiro marcado pela lepra do pecado, como também a fé no Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. É uma bênção e um milagre poder agradecer a Deus pela vida e pela fé, mesmo que as coisas muitas vêzes pareçam dificeis e complicadas para nós.

Fome e pestilência se espalhavam por toda a parte, enquanto a Guerra dos Trinta Anos sacudia a Europa política e socialmente, no Século 17. Em meio ao caos reinante, o pastor Martin Rinckart escreveu um belo hino de louvor e gratidão a Deus. No ano em que escreveu o hino, morreram seis mil pessoas na sua pequena cidade alemã, incluindo sua esposa e seus filhos. Em meio aos trágicos momentos de sua vida ele escreve um hino de gratidão, que seria cantado pelo povo de Deus nos séculos vindouros:

“Dai Graças ao Senhor, louvai seu nome santo. A Deus, o Criador, alçai o vosso canto,

porque jamais cessou de nos abençoar, E nunca abandonou quem nele confiar.” (Hinário Luterano, 150)

Sómente alguém que tem a sua fé e confiança no amor, na graça e no poder de Deus pode escrever um hino de gratidão em meio a tamanha dor por tão preciosas perdas nesta vida. É o milagre da fé que produz e manifesta gratidão. A gratidão que moveu o samaritano leproso a voltar para agradecer é a mesma que move os filhos de Deus hoje.

Por certo é muito mais fácil seguir os nove do que aquele que voltou para agradecer. Nem sempre a maioria está certa, especialmente em se tratando das coisas de Deus. Neste caso, não se trata de maioria ou minoria, mas trata-se do privilégio imerecido de “voltar e dar glória a Deus.”

Nilo L. Figur
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Concordia University
Austin , Texas, USA
Nilo.Figur@concordia.edu

 

 

 


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