Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Último Domingo do Ano da Igreja, 21 de Novembro de 2004
Lucas 23.35-43, Gerson L. Flor

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


35 O povo estava ali e a tudo observava. Também as autoridades zombavam e diziam: Salvou os outros; a si mesmo se salve, se é, de fato, o Cristo de Deus, o escolhido. 36 Igualmente os soldados o escarneciam e, aproximando-se, trouxeram-lhe vinagre, dizendo: 37 Se tu és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. 38 Também sobre ele estava esta epígrafe em letras gregas, romanas e hebraicas: ESTE É O REI DOS JUDEUS. 39 Um dos malfeitores crucificados blasfemava contra ele, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. 40 Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? 41 Nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez. 42 E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. 43 Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. (Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada.)

Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino!

O último Domingo do ano da Igreja é por vezes celebrado como o festival de Cristo Rei. Em se tratando de um Domingo dedicado às últimas coisas, e em particular ao julgamento final, a ênfase no retorno de Cristo em glória para inaugurar o seu reino de eterna bem-aventurança é natural. Também natural, no contexto do ano eclesiástico, que o texto para meditação neste dia venha das palavras do malfeitor na cruz: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino!”

Estas palavras tão óbvias são, no entanto, um paradoxo da maior magnitude em seu contexto original. Um malfeitor, prestes a morrer, suplica a outro na mesma condição: “lembra-te de mim quando vieres em teu reino”. Este paradoxo exige investigação. Como pode alguem prestes a morrer ser de alguma utilidade? Como pode um conhecido malfeitor pedir para ser lembrado? E mais: como pode um crucificado reinar?

1. Jesus!

Em sua narrativa da crucifixão, Lucas destaca a realeza de Cristo. A alegação de que Jesus se havia apresentado como o Messias restaurador da casa de Davi, o rei prometido, é confrontada com zombaria e ironia. Os líderes de Israel, juntamente com os soldados romanos e um dos malfeitores na cruz, zombavam do rei messiânico que nnem sequer podia salvar-se a si mesmo. A própria inscrição afixada à cruz é entendida por Lucas mais como zombaria do que como confissão. Cristo, o Rei? Que bela piada! A sua morte na cruz era a prova de que diante dos líderes de Israel e das autoridades romanas ele era apenas um perturbador da ordem, um blasfemador revolucionário.

Contra toda esta zombaria, apenas uma voz se levanta: o malfeitor que repreende seu colega de infortúnio. Ele não pede a Jesus que prove sua divindade. Em sua aflição, ele pede ajuda não aos soldados, não a um centurião, menos ainda a um membro do sinédrio. Ele volta-se para o mais desprezado de todos os presentes, e suplica auxílio. “Jesus, lembra-te de mim quando vieres em teu reino!”

A súplica “lembra-te de mim/nós” é comum no Antigo Testamento. Especialmente nos Salmos, onde funciona como uma espécie de refrão em que se clama por misericórdia, perdão e salvação. Sempre que o verbo “lembrar” é usado em uma súplica nas Escrituras, Deus é o endereçado. Desta forma, as palavras do malfeitor proclamam de modo enfático não só a realeza, mas também a divindade de Jesus.

A confissão do malfeitor – que a partir deste momento passa a ser na verdade um benfeitor! – introduz uma guinada na narrativa. Daqui para a frente, ao invés de zombaria e arrogância, Jesus será referido com louvor e humildade. Os céus se escurescem para proclamar a morte do rei do universo. O centurião declara, “Verdadeiramente, esse homem era justo!” As multidões batiam-se no peito em lamentação pelo acontecido.

Jesus. Rei. Verdadeiro Deus. A quem mais clamar por socorro? “Jesus, lembra-te de mim quando vieres em teu reino!”

2. Lembra-te de mim!

Já foi dito que a súplica “lembra-te de mim!” é comumente usada para apelar a Deus no Antigo Testamento. Mas porque justo um delinqüente haveria de usá-la? Onde estavam as pessoas boas e íntegras que acompanhavam a execução? Onde estavam os discípulos, ou Simão Cireneu, José de Arimatéia? Por que calaram? Será possível que somente uma notável criminoso clama pelo salvador? E sob que pretexto, visto ser ele um pecador, um vero merecedor da pena capital?

Já foi dito que a súplica “lembra-te de mim!” é comumente endereçada a Deus. Nos salmos, sobretudo, essa é uma súplica por misericórdia. Em especial o Salmo 25, que segue os salmos reais (15-24). Neste salmo não há a menor esperança de merecer alguma recompensa de Deus. Há apenas a dura consciência da própria maldade, da gravidade e quantidade dos pecados que separam o salmista do Deus. A motivação para a súplica vem unicamente da misericórdia e da bondade divinas. O Deus que perdoa, redime e socorre o pecador cobre as suas faltas com justiça e verdade. E como crê o salmista, assim também o malfeitor: os que em ti esperam jamais serão envergonhados. Eis por que o clamor, “Jesus, lembra-te de mim!”

Como pode um criminoso receber a aprovação de Deus? Que Deus é esse que inocenta mãos sanguinárias? A resposta para essa questão não encontramos no relato de Lucas. Mas podemos buscá-la na única palavra da cruz registrada por dois evangelistas: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Nessas palavras o amor de Deus se revela em toda a sua incompreensibilidade. O verdadeiro Deus que se humilhou assumindo a natureza humana, sem contudo conhecer pecado, ele se faz maldito perante o Pai Celestial para que o criminoso, o pecado indigno, para que tu e eu sejamos benditos eternamente. Que gloriosa trroca ocorre aqui: nossos pecados colocados sobre o justo, a justiça de Cristo imputada ao nós pecadores.

Graças ao sacrifício de Cristo, o pecador pode suplicar: “Jesus, lembra-te de mim!” Pois agora já não somos lembrados por nossos pecados, mas por nossa fé nauqele que assumiu a culpa de todo pecado. “Lembra-te de mim, Jesus, Deus misericórdioso em quem está a minha salvação!”

3.   Quando vieres em teu reino!

O malfeitor reconhece em Jesus o Deus verdadeiro. Ele entrega toda sua esperança à misericórdia e à bondade do salvador. E por fim ele expressa a confiança na vinda de Cristo como rei do universo. O que tem Cristo a dizer? Como ele responde à súplica do pecador?

Cristo não decepciona quem que nele confia. Ele não deixa que seja envergonhado quem nele deposita sua confiança. “ Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. ” Essas palavras confirmam uma a uma as expectativas do pecador. Sim, Jesus é o Deus verdadeiro, o rei ungido para restaurar o reino de Davi. Sim, a súplica do pecador é recebida e aceita. O coração quebrantado e arrependido, Deus não o rejeita. Eis que ele veio para buscar e salvar quem está perdido. Sim, Cristo virá novamente em seu reino. Esse reino já está iniciado, pois o malfeitor crucificado recebe a garantia de que ainda naquele dia ele haveria de estar com Jesus no paraíso. E nesse reino Jesus continua a lembrar de nós em sua misericórdia, preparando a sua Igreja para o grande dia em que todos os seusserão reunidos na Jerusalém celeste. Este julgamento podemos podemos esperar e ansiar, pois já fomos declarados justos pelo sangue que Cristo derramou na cruz e que nos é dado no Sacramento; já fomos unidos em sua morte e ressurreição pelo Santo batismo; e o veredito divino nos é repetido cada vez que o ministro do evangelho de Cristo nos declara absolvidos em nome do Deus triúno.

Irmãs e irmãos em Cristo. O Ano da Igreja se encerra nos lembrando do retorno glorioso de Cristo como rei do universo. O evangelho de hoje, porém, nos indica o lugar onde o rei pode ser encontrado. Pois é na cruz que encontramos o Deus revelado em graça e misericórdia. Outros o procuram na majestade e glória do onipotente juiz. O juiz, no entanto, não nos pode salvar. Somente o Deus que tomou sobre si os nossos pecados nos pode resgatar. Na cruz de Cristo está a nossa salvação e a nossa esperança. Ali o nosso pecado foi esmagado, para que a nossa morte pudesse ser tragada por sua ressurreição.

Essas palavras foram escritas para que saibamos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhamos vida em seu nome: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres em teu reino!” Amém.

Rev. Gerson L. Flor
Lutheran Church - Canada
Georgetown , ON, Canada
gflor@cogeco.ca

 


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