Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Terceiro Domingo após Epifania – 23 de Janeiro de 2005
Série Trienal A - Mateus 4. 12-23, Paulo Proske Weirich

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Texto:
12 Jesus, porém, ouvindo que João estava preso, voltou para a Galiléia; 13 e, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e Naftali; 14 para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz: 15 A terra de Zebulom, e a terra de Naftali, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia das nações; 16 O povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; e, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, a luz raiou. 17 Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.
18 E Jesus, andando junto ao mar da Galiléia, viu a dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores; 19 e disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. 20 Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no. 21 E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, num barco com seu pai, Zebedeu, consertando as redes; 22 e chamou-os; eles, deixando imediatamente o barco e seu pai, seguiram-no.
23 E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. 24 E a sua fama correu por toda a Síria, e traziam-lhe todos os que padeciam, acometidos de várias enfermidades e tormentos, os endemoninhados, os lunáticos, e os paralíticos, e ele os curava. 25 E seguia-o uma grande multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do Jordão.

Irmãos e irmãs em Cristo!

Em muitos lugares do mundo e em muitos lares ao redor do mundo os fogos de artifício que ainda saudaram o ano de 2005 pareceram brilhar muito menos do que em anos anteriores. As cenas da tragédia quebraram em muitos o ânimo de ver a luz explodindo e se derramando pelo céu da noite. Pode haver luz que vença esse tipo de escuridão, a escuridão que cobre a terra de luto?

O evangelista Mateus está falando exatamente desse tipo de luz. A única que pode brilhar ainda quando todas as demais luzes perderam força e brilho. A luz que brilhou nas terras da Galiléia dos gentios, a luz que se acendeu para aqueles que ouviram:

Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.

A metáfora que o contraste luz e trevas estabelece é muito comum em toda a literatura e na tradição dos povos. Todos, a seu modo, a empregam. O que, em vez de facilitar o seu uso, antes vem dificultá-lo. Falou-se já das trevas da ignorância, das trevas do preconceito entre as pessoas e grupos de pessoas, das trevas culturais e mesmo das trevas da intolerância presentes em manifestações religiosas.

Pode-se também falar de pessoas que andam em trevas sem terem a consciência disso. Algumas perguntas, por isso, se impõe. A que trevas pode alguém estar-se referindo? São trevas de que natureza, em relação a que fatos ou situações?

O povo que andava em trevas, refere-se especificamente ao povo de Israel ou inclui a humanidade como um todo? Qual é extensão das trevas?

Um indicativo de resposta está nas palavras de Jesus. As palavras de Jesus registradas por Mateus são elas próprias palavras que apontam para uma alteração no estado de coisas. Arrependei-vos é a palavra da mudança. O que era já não é mais. O sentido da promessa de luz sobre as trevas declarada por Isaías se revela e se concretiza agora.

Vocês, agora, sejam de outra mentalidade. Vejam a vida de acordo com aquilo que a luz revela, a verdadeira luz, a luz que estava anunciada que deveria vir ao mundo. Não andem mais como quem anda nas trevas. A realidade não é mais andar como cegos que guiam cegos. Ninguém vos engane. Ou como o apóstolo Paulo diria aos gentios-cristãos de Éfeso: Não sejam mais como meninos agitados de um lado para o outro por todo vento de doutrina (Ef 4.14).

Esse é o ponto matemático na existência humana: Assumir a responsabilidade pela sua existência. Mudem de mentalidade é a palavra chave. Parem de criar seus próprios deuses. Não fujam da pergunta básica que martela o ser humano do nascimento até à morte: Que é o homem? (Sl 8.4) Há momentos em que o ser humano se vê forçado a admitir que nenhuma resposta é suficiente. Diante da crueldade e perversidade demonstrada por pessoas que obrigavam cães a lutar até à morte, o colunista de um jornal diário que circula no estado do Rio Grande do Sul, afirma: “O ser humano decididamente não tem limites na sua maldade.” Perplexidade como essa também esteve presente diante da tragédia das ondas gigantes. Não pela maldade, mas pela pequenez do ser humano diante da natureza.

Antes de chegar nesse ponto o ser humano parte do pressuposto de que em algum momento terá poder sobre si próprio e sobre a natureza, empurrando Deus para um espaço fora da sua preocupação imediata. Assumir a responsabilidade pela sua arrogância e maldade é o desafio que não pode ser enfrentado. E aí que Deus, em sua misericórdia e justiça se aproxima e diz: Mudem de mentalidade. Assumam a cegueira e as trevas em que tentam encontrar caminho e saída para a luz.

Por quê? Por quê? Pergunta-se o ser humano constantemente. E a resposta é totalmente inesperada. Uma resposta incapaz de nascer de dentro do ser humano. Ela vem do seu Criador: O reino dos céus esta perto de ti.

Não é o reino que o ser humano pensou em construir para si próprio enquanto se aventurava a como senhor de si próprio e do seu destino. Os religiosos do tempo de Jesus, que tanto se empenhavam em cultivar a própria piedade e virtudes pessoais, não se apercebiam do egoísmo da sua religiosidade. A Auto-satisfação de se alçarem acima do próximo, ao ponto de, como o fariseu no templo, manifestarem satisfação quando podiam apontar o “fracasso” da vida dos que caíram diante da opinião pública. Ou quando encontravam satisfação com as próprias orações e vida devocional, sem se sentirem minimamente solidários com os pobres, os doentes, os condenados, os decaídos. Não lhes custava passar de largo aqueles aos quais rotulavam de “perdidos”.

Mudem de mentalidade, é o chamado de Jesus, tirando o véu de escuridão que cobre a vida do ser humano e muito da sua religiosidade, como também da sua irreligiosidade. Por quê? O reino dos céus está próximo.

Deus está próximo de cada um. O ser humano, ainda nos seus descaminhos de trevas, sem respostas, ou com respostas próprias que ignoram e ofendem Deus, esse ser humano foi acolhido desde o primeiro momento por Deus e é chamado a retornar a Deus em confiança filial. “Já não me lembro das vossas transgressões”, é a decisão redentora de Deus. E Jesus, finalmente, vem revelar diante dos olhos da humanidade, de que natureza é esse esquecimento de Deus: “Eis o Cordeiro de Deus” anunciara João Batista.

O reino dos céus começa por essa oferta destinada a erguer os humildes e desesperados aos céus e a humilhar os poderosos. Na pessoa de Jesus está definida a nova humanidade que Deus criou. Independentemente de como o ser humano se vê a si próprio, independentemente de como queremos ver o próximo, a nossa humanidade brota da palavra redentora de Deus pronunciada sobre cada um no batismo. Somos n a nova criatura, a nova humanidade de Deus em Cristo e por causa de Cristo. O reino dos céus está perto, portanto, mudem de mentalidade e vejam pelos olhos de Deus que Jesus Cristo desoculta diante de nós com o seu convite.

As pequenas e as grandes desgraças que constantemente tem se abatido sobre o nosso mundo, todas expõe a nu o ser humano na sua impotência, sua vaidade e sua cegueira. Nada que façamos ou criemos pode mudar aquilo que Deus reservou para seu exclusivo juízo. Entretanto, a visão da vida que vem ao nosso encontro, por causa da ressurreição de Jesus, essa vida nos motiva a esperar ativamente a revelação final.

E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.” Chamar pessoas a que conheçam essa nova vida, o reino dos céus, é um plano de vida que os cristãos tem tentado manter vivo através dos tempos, especialmente em tempos de crise e de desgraça. “Curar enfermidades e moléstias”, ver o mundo como essa família ferida e fragmentada, que necessita de cuidados é tirar diariamente o véu da cegueira e das trevas e andar na luz dedo reino dos céus e de Cristo.

Não deveríamos ter necessidade de sermos acordados de nossa indiferença natural por grandes desgraças que se abatem sobre as nossas vidas. A visão do reino permite que Cristão antecipem e encontrem forças por estarem exatamente “perto” daquele que lhes dá a visão maior do sentido que tem a nossa vida nesse mundo. Cada dia é oportunidade de mudar de mentalidade e buscar o reino de Deus e essa sua justiça que nos permite então, com a esperança renovada, olhar os pássaros e as flores e ter os olhos da fé para descortinar a beleza e as bênçãos que já nos acompanham diariamente. Bênçãos que são ainda sombras das coisas que nos aguardam quando Deus finalmente conseguir remover o último grau de cegueira dos nossos olhos. Então contemplaremos face a face o reino que desfrutamos desde já na fé e na esperança.

Paulo Proske Weirich
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
São Leopoldo
weirich@ulbranet.com.br


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