Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Quarto Domingo na Quaresma – 6 de Março de 2005
Série Trienal A – Romanos 8.1-10 - Sérgio Valkinir

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Vida na Carne – Vida no Espírito

O lema da igreja, “Nascidos como filhos de Deus” lembra do nosso batismo e de como fomos transformados, regenerados e renovados pelo poder do Espírito Santo. O Santo Batismo é uma realidade presente a cada dia de nossa vida, pois a cada instante quando tentados, somos lembrados de que devemos afogar a velha natureza pecaminosa e fazer sobressair a nova vida, no poder do Espírito Santo.

Convivemos com essa duplicidade: Velho Ser versus Novo Ser; o Velho Homem versus a Nova Vida em Cristo. Essas duas naturezas estão em conflito diário, e não há trégua. Todo cristão precisa estar atento, vigiando e orando, cuidando mais de si do que ficar reparando e criticando atitudes alheias. É por isso que no texto de hoje a exortação do apóstolo é no sentido de que VIVAMOS COM AS NOSSAS MENTES CONTROLADAS PELO ESPÍRITO DE DEUS. A 1ª coisa a destacar é a respeito do perigo de se levar uma vida de acordo com a carne.

I – VIDA NA CARNE

A) “OS QUE SE INCLINAM PARA A CARNE COGITAM DAS COISAS DA CARNE”. (v.5)
a) Quando Adão e Eva foram criados, a corrupção da carne não fazia parte de sua natureza, e o pecado e a morte não existiam. Eis que tudo era muito bom e perfeito. Havia comunhão com Deus e felicidade. Mas, depois de um certo tempo, veio o Tentador e ... sabemos o que houve.
b) Vamos definir: O que é “carne”? É a velha natureza humana pecaminosa herdada de Adão; é a completa corrupção do gênero humano por causa do pecado de Adão e Eva e que passa de pai para filho. “Carne” não é apenas alguma coisa em torno do homem que o prejudica;“carne” é toda inclinação de sua mente, toda força motriz de sua vida” (M.H. Franzmann).
c) NTLH: “As pessoas que vivem de acordo com a natureza humana têm a sua mente controlada por essa mesma natureza” (v 5). O que essa natureza carnal faz? Vejamos:
d) As obras da carne – Gl 5.19s: “As coisas que a natureza humana produz são bem conhecidas. Elas são: a imoralidade sexual, a impureza, as ações indecentes, a adoração de ídolos, as feitiçarias, as inimizades, as brigas, as ciumeiras, os acessos de raiva, a ambição egoísta,a desunião, as divisões, as invejas, as bebedeiras, as farras e outras coisas parecidas com essas...” - Corremos o risco de pensar que as “obras da carne” acontecem só com as pessoas mais vis e desavergonhadas do planeta. Então, como poderíamos esmiuçar/entender um pouco mais essas coisas que a natureza humana pecaminosa produz e às quais se apega. Vou responder com M. Lutero:
e) M. Lutero. Comentário de la Carta a los Romanos. La Aurora. Buenos Aires. 1985. pp. 272 –274. O apóstolo fala aqui em sentido moral, e de assuntos que dizem respeito ao nosso modo de agir ... o pendor (Lit., “mente” / sabedoria, concupiscência) da carne busca só o que contribui para o seu próprio bem, e evita o que poderia vir ao seu próprio prejuízo; desconsidera o que poderia favorecer o bem comum ... a sabedoria que governa a carne é a vontade egoísta; para seu próprio prazer “usa” a todos os demais, até ao próprio Deus; seus anseios e aspirações estão voltados só para si mesmo e aos seus próprios interesses. A pessoa que vive segundo a inclinação da carne vê a si mesmo como objetivo final e último – o ídolo ao qual consagra tudo quanto faz, busca, pensa e diz ... Esta inclinação, depravação e iniqüidade é censurada pelas Escrituras inúmeras vezes sob o nome de AVAREZA, EGOÍSMO E IDOLATRIA, e tem suas raízes no mais profundo ser de nossa natureza! Esta natureza é tão corrompida que, sem a graça de Deus, não há como curá-la! E nem sequer reconhecê-la em toda a sua plenitude.

Deus presenteou os homens com múltiplos dons e os vestiu assim como uma saia plissada com suas numerosas pregas:
- BENS EXTERNOS/MATERIAIS: Riquezas, poder, honra, pais, amigos, família, filhos, cônjuge.
- BENS CORPORAIS: Saúde, vigor, beleza corporal.
- BENS MENTAIS OU PSÍQUICOS: Personalidade, memória, inteligência
- CIÊNCIAS E ARTES: Virtudes corporais e mentais, sejam inatas ou adquiridas.
- SABEDORIA DO CONHECIMENTO HUMANO / INTELECTUAL.
- O CONHECIMENTO DOS MISTÉRIOS DAS ESCRITURAS.
- DONS DO ESPÍRITO SANTO.

Porém, estes dons, quando se juntam (aderem) à concupiscência da carne - a uns isto acontece em menor grau e a outros em maior grau; em uma pessoa sobressai um certo dom e em outra um outro dom – então a pessoa começa a pensar só em si e em seu próprio interesse, os lucros que poderá obter, esquecendo-se da vontade de Deus e ignorando o seu próximo. É horrível dizer isso, mas ela se torna em seu próprio ídolo que vem a ocupar o lugar do Deus verdadeiro, porque seu intuito é servir-se a si mesma! E tal pessoa não reconhece a Deus, que é o Doador de tudo quanto somos e temos. ... Todas as coisas criadas por Deus são boas, mas se tornam más por causa da “carne”, por causa do mau uso que fazemos delas.

B) O QUE O NOSSO TEXTO DIZ A RESPEITO DAQUELES QUE VIVEM SEGUNDO ESSA NATUREZA HUMANA CARNAL?
a) O pendor da carne leva à MORTE (v.6);
b) É inimizade contra Deus e é de sua natureza instintiva resistir a Deus (v.7); por conseguinte, a pessoa que se deixa dominar por ela, não quer se submeter à lei de Deus para obedecer com alegria; tudo o que faz é à base de ameaças ou porque poderá sofrer algum prejuízo no futuro.
c) Portanto, os que estão vivendo de acordo com essa natureza não podem agradar a Deus (v.8).

C) FICA MUITO CLARO EM TODO O TEXTO QUE NÃO HÁ NADA NA PESSOA QUE ELA POSSA POR SI MESMA FAZER PARA A SUA SALVAÇÃO – NEM MESMO COOPERAR COM NADA (também cf. Rm 7.14-25).
a) Por causa da “carne”, é impossível à lei dar a vida (v.3). Não que a lei, por si, não tivesse essa força. “A lei é santa; e o mandamento é santo, justo, e bom” (Rm 7.12). O que acontece é que o homem não consegue mais fazer o que a lei pede.
b) De modo que, por causa do pecado, a lei não pode trazer vida aos que estão na carne, porque a lei não pode derrotar a “lei do pecado e da morte” (v. 2). A lei só pode trazer à luz o pecado de Adão, intensificá-lo e fazê-lo crescer, e transformar o corpo do homem num “corpo de morte” (Franzmann, p. 115,116)

II – VIDA NO ESPÍRITO.

A) A “VIDA NO ESPÍRITO” COMEÇOU PRA VOCÊ QUANDO VOCÊ FOI TRAZIDO AO BATISMO. Ali, o Espírito Santo aplicou em você a nova vida em Jesus mediante a fé. O que seria o mesmo que dizer que você passou a ter o “Espírito de Deus” ou o “Espírito de Cristo” habitando em seu interior. Isto aconteceu inteiramente pelo poder e pela graça de Deus. [Para muitos outros pode ter acontecido quando da conversão. Mais tarde o Batismo lhes serviu para confirmar a fé e a graça de Deus]. Em ambos os casos se verifica: O que a lei não podia fazer Deus fez:

B) O QUE DEUS FEZ PARA TE LIVRAR “DA LEI DO PECADO E DA MORTE”? A resposta está no v. 3, segunda parte: “Deus condenou o pecado na natureza humana, enviando o seu próprio Filho, que veio na forma de nossa natureza pecaminosa a fim de acabar com o pecado”. (NTLH).
a) Um novo tempo começou quando o Filho de Deus foi enviado ao mundo. A antiga lei teve o seu fim e passou a valer “a lei do Espírito da vida”. Esta é a lei que agora é atuante: Lei do amor, da graça e do perdão.
b) Esta nova lei tem o seu valor “porque aquele que não conheceu o pecado, ele o fez pecado por nós” (2 Co 5.21) ”Lá na cruz, o Filho de Deus identificou-se totalmente com a humanidade; lá estava completa e abertamente “na semelhança de carne pecaminosa” (v.3). (Franzmann, p.116)
c) Ele se fez em oferta pelo pecado. Em sua morte Ele expiou a nossa culpa; sofreu o nosso castigo pelos nossos pecados e morte sob o juízo de Deus.
d) No Filho encarnado, em sua carne, Deus “condenou” o pecado (v.3). Então, o pecado foi executado, recebeu sentença de morte. (Franzmann, p. 116) Sua força de condenar foi anulada pela morte vitoriosa de Cristo. E os frutos dessa vitória se fazem bons, agora, para todos os que estão “nele”. De modo que, “agora, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.”(v.1)
e) Assim, tudo o que a lei exigia para se estar em conformidade com a vontade de Deus, realiza-se agora, desde o Batismo, mediante a fé, na vida daqueles que são dirigidos pelo Espírito Santo, e são libertados da escravidão da velha ordem. (v. 4). Quer dizer: o preceito da lei é cumprido “em” nós, que não queremos mais que a vida seja determinada pela vontade da carne.

C) Agora, a esta altura, de fato podemos repetir a exortação central de nosso texto: Vamos verdadeiramente levar nossas vidas dirigidas pelo Espírito Santo. A segunda parte do versículo destacado já no início continua, dizendo: “OS QUE SE INCLINAM PARA O ESPÍRITO, COGITAM DAS COISAS DO ESPÍRITO”. (v.5b) Embora ainda possamos existir na carne, não é mais ela que vai nos dominar, ditar as nossas ações. Estamos “não na carne, mas no Espírito” (v. 9). Esta é a nossa nova realidade de vida. Há ainda, lamentavelmente, uma existência no pecado ou na carne, mas é o Espírito que em nós habita que é a nossa principal característica, de cada cristão. (Franzmann, pp. 117,118)
a) Vejamos o mesmo versículo 5 cf. a NTLH: As pessoas “que vivem de acordo com o Espírito de Deus têm a sua mente controlada pelo Espírito.” (v. 5). E Quais são os frutos que o Espírito produz na vida do Cristão?
b) Os frutos do Espírito, entre outros, – Gl 5.22s: “O Espírito de Deus produz o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio. E contra essas coisas não existe lei.”
c) Antes citamos M. Lutero quando falamos do pendor da carne. Vamos então também agora ver, em resumo, o que ele igualmente fala sobre o “pendor do Espírito”, isto é, as pessoas que têm suas mentes dirigidas pelo Espírito:

Estas pessoas preferem escolher aquilo que contribui para o bem de todos, e evitam o que poderia ser prejudicial ao bem comum; reprovam aquilo que redunda só para o seu próprio benefício. Pois “pendor do Espírito” é o que dá as diretivas ao amor, que “não procura os seus interesses” (1 Co 13.5), mas o de Deus e de todas as suas criaturas. Aos olhos destas pessoas guiadas pelo Espírito, “bom” é somente o que é bom aos olhos de Deus e favorável a todos, e “mal” é o que é mal aos olhos de Deus e prejudicial a todos. Pois não têm outro objetivo na vida senão servir a Deus; e tudo o que são e possuem, o são e possuem com Deus, negando tudo o que não é de Deus. ... Fruto do Espírito acontece também quando a alma se desliga completamente de preocupações e afazeres do mundo/temporais para buscar aquela Uma Só Coisa necessária, como fez Maria (Lc 10.38ss.). Marta, ao contrário, andava ocupada com seus muitos afazeres “carnais”/domésticos, quando deveria deixar tudo e primeiramente ouvir a Jesus.

É fruto do Espírito também quando uma pessoa não confia em sua própria devoção, piedade e justiça, mas tão somente na justiça e nos méritos de Cristo. ... Enquanto o pendor da carne busca os desejos mais baixos, o pendor (mente / sabedoria) do Espírito aspira ao que é mais elevado, não por interesse, mas por amor, assim como a água ao ser fervida naturalmente se evapora para o alto. (M. Lutero.Op. Cit., pp. 274 – 276).

É por meio do Espírito Santo que nós aprendemos a chamar a Jesus de Senhor, aprendemos a servir a Deus, a prestar culto livre e voluntário, a empregar os nossos dons e bens para servir a igreja e a todos. É por meio deste Espírito que aprendemos a buscar e a ouvir a Palavra de Deus. Também nos guia a toda a verdade. Também nos inspira para trazer ofertas voluntárias e significativas. Tudo isso e muito mais.

D) O QUE O NOSSO TEXTO DIZ A RESPEITO DAQUELES QUE VIVEM SEGUNDO “O PENDOR DO ESPÍRITO”?
a) Já ficou claro que eles estão livres da condenação eterna por causa de Cristo;
b) Se o “pendor da carne” leva à morte, se é inimizade contra Deus; os que estão no Espírito estão reconciliados com Deus, têm comunhão com ele e, portanto, recebem “vida e paz”. (v. 6). Em outras palavras, viverão eternamente na glória dos céus.
c) Nós agora vivemos na bendita esperança da nossa ressurreição. Tão certo como Jesus ressuscitou vitoriosamente dos mortos pelo Espírito, o mesmo Espírito Poderoso e Criador de Deus “vivificará também o vosso corpo mortal” (v.13).

CONCLUSÃO: O “nascidos como filhos de Deus” nos faz recordar da grande importância que tem o nosso Batismo e o seu significado eterno. Vivamos a cada dia, subjugando a velha natureza carnal, e vivendo verdadeiramente uma vida guiada pelo Espírito de Deus, em justiça e retidão. Se no Batismo fomos incorporados em Cristo, então sua ressurreição e vida são nossas também, agora e eternamente. Amém.

Sérgio Valkinir
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Mandaguarí, PR
valkinir@bwnet.com.br



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