Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Quinto Domingo na Quaresma - 13 de março de 2005
Série Trienal A – João 11.1-53 – Heldo Bredow
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


A morte não tem a última palavra

Não se todos vocês acompanharam o debate que houve no congresso nacional em Brasília há poucos dias em torno da assim chamada biosegurança.Ele envolveu os produtos transgênicos e também o uso de células tronco na medicina em nosso país. Também foram mostrados nesta semana os primeiros resultados do uso de células tronco na regeneração de pâncreas em pessoas diabéticas. Eu confesso que não parei ainda para pensar seriamente sobre o caso, pois o uso de células tronco envolve também não só o extrair de células da própria pessoa, que são tratadas e daí devolvidas ao corpo doente, para tentarem recuperar órgãos doentes, mas envolve matar embriões recém formados, o que quer dizer matar vidas recém formadas. Se for isso, aí a medicina vai matar vidas em formação para salvar outras já formadas, o que cer-tamente se constitui em crime.

Quando a gente fala de salvar vidas, estamos falando com absoluta certeza da morte. Ou não? Quando a medicina avança a cada pouco tempo alguns pas-sos mais na descoberta de novos remédios e de novas tecnologias, ela faz isso em cima da presença da morte. É a vida tentando sobreviver diante da morte que mata. E é certamente um tema muito adequado falarmos da morte nesta época de quaresma. Falamos com tanta facilidade sobre a morte de Jesus na Sexta-Feira Santa, quem sabe até nos emocionamos, dependendo do drama que montamos em torno do assunto até choramos. É fácil pensar sobre a morte dos outros. Pergunto: Como nos sentimos quando vimos pela TV as imagens de morte que o tsunami na Ásia provocou? Pergunto: O que sentimos quando pensamos na NOSSA morte? O que sentimos e pensamos quando vamos a algum velório ou cemitério, onde estão talvez os restos mortais de um familiar muito chegado?

Os nossos anos se passam como um breve pensamento”, assim se expressa e escreve o profeta Moisés no salmo 90 quando ele constata que a vida é quase como um breve pensamento. Quando alguém de nosso círculo familiar ou social parte para a eternidade, ele certamente deixa um rastro de saudades, de dor e até de desespero, depende o caso. Por mais que a ciência procure pro-longar a vida – esta é a função da medicina, esta é a função de um médico, de um/a enfermeiro/a, a função de qualquer remédio – por mais que nós tentemos fugir da morte, negá-la simplesmente não é possível. Estamos todos marchando ao seu encontro. Seguidamente eu me deparo com o seguinte pensamento: Cada novo dia é um dia mais perto da morte! Cada noite dormida, mal ou bem dormida, é um dia a menos na minha peregrinação por este mundo. Todo o novo dia não é mais um dia de vida, mas é, na verdade, para sermos bem claros o objetivos, também um dia de vida a menos ! ! ! Cada dia a mais vivido é um dia a menos na contagem.

E quando na palavra de Deus, nas Escrituras Sagradas, nós lemos muitas referências à morte, com elas Deus nos procura tornar sábios para que a minha morte seja uma morte bem morrida, sem revolta, sem desespero, como um fim de tudo, mas como um encontro no mundo espiritual com o Criador e Deus.

O evangelista João nos conta em seu evangelho que certo dia Jesus foi visi-tar a sepultura de seu grande amigo, amigo do peito, Lázaro, eu há 4 dias tinha já sido enterrado por suas irmãs Maria e Marta. As duas irmãs, vencidas quase pela dor da morte de seu irmão, provavelmente seu único amparo, pois elas de-viam ser solteiras, sem outros irmãos, e os pais delas não são mencionados, sinal de que já deviam ter falecido. A situação de uma mulher solteira ou viúva, sem filhos ou irmãos homens para cuidarem delas era muito complicado na época.

E nesta sua angústia elas mandam um recado para Jesus, para ao menos lhe comunicar da morte do irmão. E Jesus, como podemos ler no cap. 11 do evangelho de João, não se demorou muito. As irmãs acreditavam que, se Jesus tivesse estado presente ao lado do leito de enfermidade de Lázaro, ele podia ter curado Lázaro. Mas agora, depois de morto, achavam elas, não tinha mais nada a fazer, a não ser chorar com elas a perda do irmão e amigo.

Diante do desespero das irmãs, Jesus não fica a lamentar, como a dizer: “Pois é, que pena que eu não vim mais cedo, antes de Lázaro morrer”. Jesus demonstra ali a sua divindade e traz Lázaro de volta para a vida, não injetando num corpo morto algumas células tronco, mas fazendo nele operar o poder criador de Deus, o mesmo poder que deu existência ao universo.

Hoje nós nos perguntamos: Por que é que nós temos que morrer? Por que Deus não faz com que nós nunca venhamos a morrer?” Quando estamos ao lado da sepultura de alguém que muito significava para nós, lembremo-nos que as sepulturas são um acidente provocado pelo pecado desde Adão e Eva, como escreve o apóstolo Paulo na carta aos romanos: “O salário do pecado é a morte”. Uma das conseqüências do pecado é a morte física. Nós nascemos, vivemos e morremos. A nossa trajetória neste mundo tem um começo, um meio, que é a etapa da vida terrena, e um fim. Como se diz, “curto e grosso” é esta a resposta que Deus nos dá em sua palavra.

Mas entra aí um “porém” de Deus. A morte não tem a palavra final. A se-pultura não vai segurar para sempre os mortos, a morte não é o fim de tudo, como tantas ideologias e filosofias descrentes e pagãs pregam, confessam e afir-mam em seu desespero. Lutamos com todos os meios para prolongar a vida, assim como a medicina estuda a descoberta de novos recursos científicos para empurrar a morte para mais adiante. Quando nós estamos com saúde, parece que nem nos damos de conta que amanhã poderá ser o dia de nossa morte. Ela pode sobrevir de maneira inesperada, como sobreveio e matou por meio do tsunami na Ásia a mais de 200 mil pessoas em uma tacada só, e deixando atrás de si um enorme rastro de destruição e tristeza.

É aqui que entra a pregação da fé e da esperança cristã. É aqui que preci-samos nos lembrar da morte não como castigo. Deus tem o poder sobre a vida e a morte. É isto que nós pregamos, p. ex., quando realizamos uma cerimônia fúnebre. Deus dá a vida e Deus a tira, queiram aceitar isso ou não, não faz dife-rença. Agora faz uma grande, uma profunda diferença para aquele que crê nas palavras que Jesus fala de si mesmo: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá, e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente”.

Jesus, antes mesmo de operar a ressurreição de Lázaro, disse para Maria, a irmã do falecido, que ela devia crer que ele tinha o poder de ressuscitar seu irmão. A pessoa de Jesus Cristo para ela, como também para os apóstolos, ainda estava muito confusa. Esta confusão só foi afastada depois da Páscoa, quando o próprio Jesus ressurgiu, quando ele mesmo se mostrou vencedor sobre a morte. É para lá que se dirige o alvo de todo o tempo da quaresma. Não podemos ficar cultivando a morte de Cristo na Sexta-Feira Santa como se este fosse o fim último do período da quaresma. A morte de Cristo, sim, foi o preço que Deus exigiu e ele mesmo pagou pelos pecados do mundo. Esta é a mensagem que se constitui em “loucura para os que se perdem, mas para nós, os que cremos, ela é o poder de Deus”, palavras de Paulo em 1 Co 1.18.

Jesus, apontando para a morte de seu amigo Lázaro, nos diz que morte é certa, que não dá para negar todo o estrago que ela causa e deixa atrás de si. É o pecado que provoca toda a desgraça, sofrimento e morte. Porém, a graça de Deus é muito maior do que o pecado e a morte. Em Cristo, o Redentor, está a solução de nosso problema e de nosso aparente terror diante da morte. Jesus Cristo, ao vencer a morte na madrugada da Páscoa, deu provas mais do que evidentes de que ele é o Senhor sobre a morte também. Era para lá que Jesus estava apontando em sua conversa com Maria, irmã de Lázaro.

Quando nós, ao nos lembrarmos que cada dia de vida a mais é um dia de vida a menos nesta terra, quando soluçarmos de saudade diante da sepultura de um ente querido, voltemo-nos a nós mesmos e nos perguntemos o que será com cada um de nós a partir do momento em que soar a voz de Deus por meio da morte. “É sábio pensar na morte” diz a própria bíblia.

Quando tantos em cada dia vão aos cemitérios, desesperados, revoltados e inconsoláveis, acompanhando os restos mortais de pessoas de seu relacionamento, porque não crêem numa vida depois da morte ou porque não têm esperança alguma para o além, quem sabe até erguem o punho para o alto como querendo culpar Deus, e outros tantos que são céticos, como Tomé no dia da Páscoa por não ter crido na ressurreição de Cristo, não têm nenhuma perspectiva de vida para depois de sua partida, lembremo-nos de que Cristo ano apenas ressuscitou a Lázaro, mas ele mesmo ressuscitou e é Vencedor sobre a morte. Creiamos e digamos e confessemos que a morte não é um mistério insondável, mas a porta para uma realidade que todas as cabeças pensantes deste mundo jamais conseguiram captar e imaginar.

As preocupações terrenas, os prazeres de uma vida puramente material, de uma vida levada na base dos prazeres das paixões da carne, a busca por bens puramente materiais, por tentativas apenas de sobrevivência física e material colocam uma cortina de fumaça ou uma máscara diante dos olhos de tantas pessoas, para não lembrarem que um dia serão carregadas para alguma sepultura e voltarão ao pó, do qual foram formadas.

Esta aí mais uma oportunidade, nesta época própria pra refletirmos sobre a morte e a ressurreição de Cristo, de pensarmos que um dia seremos, como Lázaro, pobres e restos mortais, e que o nosso corpo descansará, à espera do grande dia da ressurreição. Se um dia alguém de nós será beneficiado pelos recursos que as células tronco trarão, não vem ao caso. Morrer vamos igual, assim como Lázaro tempos depois voltou a morrer e foi sepultado pela segunda vez. Seus restos mortais também aguardam o grande dia em que Cristo, aquele que é a garantia dos que estão mortos (1 Co 15.20), fizer soar a última trombeta, quando os mortos em Cristo ressuscitarão para a vida eterna. Por mais “bicho papão” que a morte possa nos parecer, a palavra final é daquele que diz: “Eu sou a ressurreição e vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim nunca morrerá, eternamente”. Você crê nisso? Amém.

Heldo Bredow 
Curitiba, PR - Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
hebredow@yahoo.com.br

 


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