Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

5º Domingo após Pentecostes, 19.06.2005
Série Trienal A - Mateus 10.24-33, Paulo Proske Weirich

(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Texto:

24 O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor. "
25 Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésti­ cos?
2 6 Portanto, não os temais; pois nada há encoberto, que não venha a ser revelado; nem ocul­ to, que não venha a ser conhecido.
27 o que vos digo às escuras, dizei-o a plena luz; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o dos eira­ dos.
28 Não temais os que matam o corpo e não po dem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a a l ma como o corpo.
29 Não se vendem dois pardais por um asse? " E nenhum deles cairá em terra sem o consentimen to de vosso Pai.
30 E, quanto a vós outros, até os cabelos todos da cabeça estão contados.
31 Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais.
32 Portanto, todo aquele que me confessar dian­ te dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus;
33 mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.

Irmãos e irmãs em Cristo!

Boas notícias. Nós queremos ouvir boas notícias. Especialmente, quando elas apontam para o nosso futuro. A palavra é prognósticos. Quais são as possibilidades de sermos pessoas felizes? De evitarmos males e doenças? De construirmos uma estabilidade emocional? De manter uma visão positiva da vida?

Tais questionamentos são determinantes para as pessoas. A partir deles se fazem opções, se adquirem livros, se assistem programas, se consultam especialistas.

Como se sente um discípulo de Jesus quando o assunto é o seu futuro, enquanto discípulo? Jesus está falando ao seu círculo de discípulos. O tema é o futuro. O assunto são os prognósticos.

O futuro de um discípulo de Jesus

A ocasião é muito especial: Jesus está revelando aos discípulos aquilo que os espera na medida em que forem realizando aquilo que a comunhão com Jesus lhes inspira. As perspectivas não são boas. Jesus não está delineando um caminho de sucessos. Dificuldades, rejeição, sofrimento estão no caminho diário previsto e predito por Jesus.

Então, pode se afirmar que o sofrer diário caracteriza o cristão? Também nos recusamos a pensar desta maneira. A que Jesus está se referindo?

A resposta a essa pergunta está no contexto que Mateus construiu. Ao sermão da montanha segue-se o relato da intensa atividade de Jesus revelando na prática aquilo que o seu discurso afirmara. Jesus vai ao encontro das necessidades das pessoas que se conheciam como excluídas do reino. Jesus leva a bem-aventurança onde já só havia um desesperado conformismo de exclusão. O sermão do Monte é coroado com a cura de um leproso. A Galiléia dos gentios, Gadara, são regiões que recebem a bem-aventurança do Messias de Israel. Grupos de excluídos como os publicanos e pecadores (9.10) são recebidos à sua mesa, na sua comunhão. Até os endemoninhados se tornam bem-aventurados.

Enquanto isso, fariseus questionam o conceito de reino de Deus que se revela na prática teológica de Jesus (9.11). Finalmente, o veredito: Ele é diabólico, mensageiro de Satanás (9.34).

Exatamente no meio dessa oposição (9.9), Mateus situa o seu chamado pessoal na coletoria. Será que Mateus era um dos curiosos que se aproximaram quando Jesus ensinava os discípulos no Monte? Ou terá tido outros contatos com Jesus?

Por que Jesus é perseguido? Por que o sofrimento ronda a sua atuação? Simplesmente porque havia pessoas a quem a sua atuação incomodava. Jesus incomoda. Quando ele se aproxima dos rejeitados, ele incomoda aqueles que produziram a rejeição aos publicanos, aos pecadores, a Mateus.

Podemos imaginar com quanto idealismo os discípulos iam ao encontro de outros rejeitados levando a palavra da bem-aventurança, da aceitação, do acolhimento divino tal como o tinham experimentado em Jesus. Mas eles precisavam saber que isso incomoda e perturba o sistema religioso e social gerador de sucata humana.

O cristianismo incomoda pode ser um resumo do que Jesus está dizendo aos discípulos. E não incomoda pouco. Aliás, quando o cristianismo não incomoda, é de se perguntar se ainda pode ser chamado de cristianismo. O apóstolo Paulo foi um grande incômodo para a igreja estabelecida em Jerusalém. E ao escrever aos Romanos ele aponta para o resultado prático da magnífica exposição dos capítulos precedentes: “E não vos conformeis com este século mas transformai-vos.” (Rm 12.1)

Jesus alerta com outras palavras, reportando-se ao que acontecera há bem pouco quando os fariseus o chamaram de mensageiro de Belzebu, ou o próprio (9.32-34): “Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?” (10.25)

Como se sente um discípulo que está entusiasmado diante deste reino que acolhe exatamente pecadores como eles? Como se sente oi discípulo que tem uma mensagem fantástica como essa para transmitir, mas é perseguido e rejeitado exatamente por causa dessa mesma mensagem? A resposta está na palavra de Jesus: “Não temais”. Sim o discípulo sente medo. E são muitos os medos que os discípulos sentem. Mas o maior dos medos é o medo de que essa mensagem possa ser sufocada. Ou não?

Há ainda outros medos. O medo da própria perseguição. O medo de não resistir ao medo. O medo de se conformar, de se acovardar diante das ameaças. O medo de estar ao lado dos perdedores, estar ao lado da sucata humana e ser confundido com sucata.

Não temais, é o encorajamento de Jesus. Em outras palavras, não desistam. Não permitam que o vosso entusiasmo seja abatido. Previnam-se contra essa possibilidade. Para tanto, Jesus levanta os olhos dos seus discípulos para a realidade final, a dimensão escatológica é fonte de ânimo constante. Com os olhos voltados para a bem-aventurança final, lembrem que estou do vosso lado sempre. O próprio Pai cuida de cada um de vocês.

Assim como os fariseus perseguiram esse Jesus que comia com pecadores, a igreja cristã necessita repensar permanentemente a sua postura diante de Deus. A igreja dos fariseus era uma comunidade terapêutica em que os “iguais” se encontravam em sessões de auto-ajuda, de mútuos elogios, e de admiração da sua própria fidelidade e saúde espiritual. O diferente, o “outro” os incomodava. Era necessário rotular o “diferente”. Rotulando-o de pecador, de perdido, de endemoninhado, de publicano, de adúltero, ficavam livres do incômodo que sua existência lhes causava. Até que veio Jesus.

Quando nos reunimos em nossas igrejas, quando olhamos com alegria para as nossas ofertas e nossos projetos, é bom olhar ao nosso redor e perguntar: Quem se alegra conosco? Quem se incomoda conosco? Quem está conosco? Os fariseus, com medo de serem reconhecidos como pecadores, como sucata, reduziram a graça de Deus a sucata. Por isso, “quem me negar diante dos homens”, quem não expuser e praticar essa graça ilimitada diante dos homens, “eu também o negarei diante de meu Pai.”

O discípulo não está acima do seu mestre. Qual o prognóstico que se projeta sobre o cristianismo que praticamos?

É tempo da graça. Tempo de chamar a atenção da igreja para o fato de que temos uma missão a realizar: A mesma missão que Jesus realizou conosco: “Ele nos recebeu sendo nós ainda pecadores” (Rm 5) Essa graça se renove nos nossos corações todos os dias e a promessa do Pai espante os medos que a hostilidade de muitos promove e ameaçam amordaçar a palavra de salvação que aquece nossas vidas.


Paulo Proske Weirich
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
São Leopoldo
weirich@ulbranet.com.br



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