Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Nono Domingo após Pentecoste – 17 de julho de 2005
Série Trienal A – Mateus 13.24-30, 36-43
Gerson Luis Linden
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Estimados em Cristo Jesus, Senhor da Igreja, Salvador do mundo.

O capítulo treze de Mateus nos traz algumas das parábolas de Jesus. Elas têm em comum, entre outras coisas, o propósito de trazerem, em linguagem alegórica, verdades a respeito do “reino dos céus”. Em cada uma delas fica muito evidente, assim como no restante da pregação de Jesus, que o reino dos céus não é apenas uma realidade futura, que ainda aguardamos. Este reino está presente, pois o Rei está aí! Com a chegada de Jesus, o reino se manifestou em toda sua glória e poder, ainda que na maior parte do tempo, sob humildade e fraqueza. O reino de Deus, mais do que um espaço, um local, um território, é ação, a ação dinâmica de Deus em atuar no mundo, através de Seu Filho, para salvar o mundo.

O reino de Deus é um reino diferente. Ele não está aí para fechar fronteiras, nem para aprisionar, nem para causar dano a quem quer que seja. O reino existe para salvação das pessoas do mundo inteiro. É um reino que inclui, pois no amor de Deus todos são vistos sob a vontade de Deus de salvação. Por isso, uma palavra da parábola do joio é tão significativa, ainda que possa por vezes passar despercebida. Diz Jesus, ao explicar a parábola: “O campo é o mundo” (Mt 13.38).

O campo é o mundo, diz Jesus. Em outras palavras, o lugar da graciosa atuação de Deus, através do Rei Jesus, é o mundo. São palavras que ecoam aquelas tão conhecidas de João 3.16: “Deus amou o mundo”. Na parábola, o mundo é o campo de atuação de Deus, é o local do plantio da boa semente, os filhos do reino. Também é o local onde o inimigo faz o seu plantio. “O mundo jaz no maligno”, lembra o apóstolo (1 Jo 5.19). Mas ele continua sendo o mundo de Deus. Se, por um lado, por causa do pecado, o diabo se arroga o direito de ter para si o mundo, sempre é bom lembrar que Deus continua sendo Senhor sobre céus e terra e nada há que esteja além do seu domínio. Mesmo o diabo precisa estar submisso e só pode realizar aquilo que Deus lhe permite. O mundo é o campo de Deus. Deus não desistiu do mundo, apesar do pecado ter trazido todas as pessoas (o “mundo”) sob a ira. Mas o amor de Deus, em Cristo, superou a ira e trouxe esperança para o mundo.

A misericórdia de Deus para com o mundo se manifesta em paciência, em longanimidade. Na parábola isto pode ser observado na resposta que o dono do campo deu aos servos. Perguntado se deveriam eles arrancar o joio, que estava no meio do trigo, o senhor lhes diz: ainda não! Vamos esperar até a colheita. Há quem iria aplicar estas palavras para dizer que é preciso deixar que os ímpios, os que vivem em pecado manifesto, sejam mantidos na Igreja, até o dia do juízo. As palavras de Jesus em Mateus 18.17, a respeito do pecador impenitente, “considera-o gentio e publicano”, nos lembram que esta não é a aplicação correta. É preciso que as “chaves” sejam aplicadas, seja para abrir, seja para fechar. Lembremos: ao falar do campo, o Senhor não se referia à Igreja. O campo é o mundo! E no mundo, Ele diz, há filhos do reino e filhos do maligno, lado a lado. Não se pode arrancar com violência alguns destes do mundo, sem causar também dano aos outros.

Não é contra a correta disciplina cristã que o texto adverte. É contra o uso da força – como ocorreu no tempo das cruzadas, ou da inquisição – como forma de purificar o mundo do mal. O mundo – o campo de Deus – continuará sempre sendo terreno de batalha. E, por mais que a batalha, em última análise já tem seu vencedor – Jesus, que venceu morte, diabo e inferno, ainda há algo a acontecer. O reino, que já está presente em Cristo e hoje manifesto em sua palavra e sacramentos, este reino ainda não manifestou tudo o que está preparado para os filhos de Deus. Ainda há sofrimento, tentação, pecado, fraqueza. A advertência de Jesus é para que não procuremos ignorar, nem resolver à base da força, a presença do mal no mundo, um mal que tenta invalidar a obra de Deus, pelo seu reino.

Deus é paciente com o mundo. Ele está dando tempo para seu reino continue a se manifestar de forma salvadora. Ele está dando tempo para arrependimento, para mudança dos corações, através da proclamação da palavra da vida. Deus tem paciência com o mundo e dá tempo. E é aí que entra o seu povo, a sua Igreja.

A Igreja já foi mundo! Os cristãos – filhos do reino – já foram um campo devastado e improdutivo, pedregoso e seco. Foi a água ligada à palavra vivificadora que fez do campo um reino de vida e esperança. O batismo continua a plantar a boa semente no campo, tornando-o o belo jardim de Deus. A parábola do joio e do trigo lembra à Igreja a sua identidade. Somos os filhos do reino, plantados no mundo até a consumação. A Igreja no mundo é temporária. Seu destino é o reino celeste e definitivo. Mas o fato de ser temporária não diminui a importância de sua estada no mundo. Pois o campo de Deus é o mundo, onde está a Igreja, protegida e mantida pelo Senhor, mas também por ele comissionada.

O campo é o mundo! É o campo de atuação de Deus, por meio do evangelho que Ele faz ser proclamado e que traz àqueles que são mundo a graça de serem tornados filhos do reino. E é neste campo que está a Igreja. Como filhos de Deus temos nossos olhos voltados para o alto, para a esperança da vida eterna. Mas nossos olhos também se voltam para aqui e agora, para o campo de Deus, onde o evangelho precisa continuar sendo vivido e proclamado.

A Igreja não é do mundo, mas está no mundo. A presença dos cristãos no mundo é por si só um testemunho do amor de Deus e da sua paciência para com todas as pessoas do mundo. A presença da Igreja é um testemunho de que Deus continua investindo no seu campo, fazendo brotar a boa semente. Por isso, é preciso que como povo de Deus no mundo vivamos esta vocação de sementes que geram vida.

Uma das tentações para a Igreja é dar pouca atenção à sua identidade de boa semente neste vasto campo a ser semeado. E então viver como se já estivesse no céu e o mundo fosse simplesmente um lugar pelo qual se desejaria passar o mais rapidamente possível. Sim, há a mansão celestial, onde Jesus nos preparou lugar. Mas há também aqui e agora uma oportunidade. É tempo, sim, de oportunidade de semear a boa semente. Esta é a missão de Deus. E Ele a faz, por sua boa e misericordiosa vontade.

Na sua missão Deus tem um lugar para nós. Primeiro, como aqueles que dele recebem a graça de serem feitos filhos do reino e herdeiros da vida eterna. Além disso, Deus tem um lugar para nós como seu povo no campo, que é o mundo. Somos um testemunho vivo do amor de Deus para com todas as pessoas do mundo. É preciso que olhemos para o mundo, para as pessoas que há no mundo, com o mesmo amor que Deus teve e tem por elas. Ao programarmos nossas atividades como Igreja, olhemos para fora de nosso “território”, pois o reino de Deus está aí, alargando suas fronteiras e trazendo mais e mais pessoas para a comunhão com o Pai.

O campo é o mundo. Estamos no mundo, não como um acidente de percurso, mas porque Deus aqui nos colocou, com um propósito de vida, para nós e para todos os que nos cercam. Que Deus nos abençoe em nossa vocação de filhos do reino, que aí estão para viverem e proclamarem desde já a realidade que se manifestará plenamente naquele dia, quando “os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai.” (Mt 13.43) Amém.

Gerson Luis Linden
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
linden@ulbranet.com.br

 

 


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