Göttinger Predigten im Internet
hg. von U. Nembach

Décimo-sexto Domingo após Pentecoste – 4 de setembro de 2005
Série Trienal A – Mateus 18.15-20 – Gleisson Roberto Schmidt
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Se teu irmão pecar, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer cousa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles (Mateus 18.15-20).

Dentro de toda família existe – ou, pelo menos, deveria existir - uma divisão de responsabilidades. Todos têm que fazer alguma coisa. Uns trabalham para sustentar a casa, outros cuidam da casa. Um lava, o outro seca. Porém, a responsabilidade que deve existir por igual no coração de todos os membros da família é o interesse, o cuidado de uns para com os outros. Ou seja, se a mãe está doente, toda a família se organiza para cuidar da mãe. O pai tenta sair um pouco mais cedo do serviço, o filho falta um dia na escola para cuidar da mãe, a filha faz o almoço e limpa a casa. Isso evidencia cuidado e interesse pelo bem estar do outro.

Pois bem: é exatamente sobre esse cuidado e interesse pelo outro na comunidade cristã que fala o texto do evangelho que você acaba de ler. Se a igreja é a família da fé, Cristo diz em Mateus 18: preocupe-se com a fé do seu irmão. Interesse-se pela saúde espiritual dele. Cuide dele. No v. 15 Jesus diz: "Se o teu irmão pecar, vai argüi-lo entre ti e ele só". E para quê? Para reconquistá-lo, para trazê-lo de volta ao caminho da salvação.

Desde que nascemos em pecado, temos uma forte tendência à hipocrisia – por mais que isso nos seja forçoso admitir. Por causa do pecado temos o hábito de julgar os outros. Em vez de nos preocuparmos com a nossa própria vida, sentimos um certo prazer em cuidar da vida alheia. Mas não "cuidar" para o bem do próximo, como um filho cuida da mãe doente, não! Nosso interesse é outro. Gostamos de saber detalhes, pequenas “misérias” do nosso semelhante para podermos fazer fofoca da sua vida. Não conseguimos "interpretar tudo da melhor maneira", como Lutero orienta na explicação do Oitavo Mandamento. Se descobrimos um cisquinho no olho do vizinho, fazemos logo uma tempestade num copo d'água e aumentamos o cisco do outro, sem perceber o tronco que está no nosso próprio olho. E o pior de tudo isso é que ainda temos a coragem de nos desculpar, dizendo: "não que eu queira fazer fofoca... mas você já ficou sabendo o que o fulano fez?". Você não quer fazer fofoca: você já está fazendo.

Não existe diferença entre "pecado, pecadinho e pecadão". Todos os pecados que cometemos tem um mesmo peso. "Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos", diz a Escritura (Tg 2.10). E quantas vezes não vemos a gravidade do pecado da fofoca, achando que "não tem nada de mal". Pois essa mesma fofoca é um pecado terrível aos olhos de Deus.

As nossas igrejas não estão livres disso. Muitas vezes os cristãos – eu e você, vamos admitir - também agem como hipócritas: dão tanta atenção ao pecado do irmão que esquecem dos seus próprios. Julgamos a fraqueza e o pecado do nosso próximo sem nos lembrar que também somos pecadores. Além disso, esquecemos que ao julgar o pecado do outro nós mesmos estamos pecando. "Não julgueis, e não sereis julgados", disse Jesus (Mt 7.1). Achamos que o pecado alheio é mais grave que o nosso. E qual é a conseqüência dessa intolerância com relação aos próximo? Mágoas, rixas, divisões, brigas, que na maioria das vezes são causadas por motivos quase insignificantes.

Graças a Deus, porque Ele não agiu conosco como nós costumamos agir com os outros. Enquanto nós estamos sempre prontos a julgar, a fazer fofoca, a desprezar o nosso semelhante, Deus tratou a nós, pobres pecadores, de uma maneira maravilhosa. Respondeu à nossa intolerância com misericórdia. Deu-nos o seu filho, o seu bem mais precioso, para que por seu sacrifício Cristo pagasse a dívida do pecado que era nossa. Cristo tomou todas as nossas maledicências, todo o desprezo com o qual tratamos nosso irmão, nossa falta de respeito, e levou todos esses pecados nojentos para o Calvário. E lá, Cristo pagou por todos eles. E mais, pagou por todos, absolutamente todos os pecados que todos os seres humanos cometeram em toda a história da humanidade. Mediante a fé, Deus nos olha por meio da cruz de Cristo. Por meio dessa cruz, Deus nos considera santos, justos e sem pecado – graças à sua misericórdia.

Nessa vida renovada Cristo nos convida a um relacionamento renovado com os outros também renovado, especialmente com os nossos irmãos na fé. "Se teu irmão pecar, vai argüi-lo entre ti ele só", diz Jesus. Se antes sentíamos prazer em humilhar e desprezar nosso irmão que caiu em pecado, agora que somos, de fato, justos por causa de Cristo, as coisas mudaram, as coisas precisam mudar. Agora, Cristo nos diz: sejam responsáveis uns pelos outros! "Se o teu irmão pecar, vai argüi-lo". Para quê? Agora o nosso objetivo não deve ser aquela vontade mesquinha de difamar a vida do irmão. Pelo contrário; agora nosso interesse está em "ganhar" nosso irmão, isto é, reconduzi-lo do caminho errado que tomou para o caminho da salvação e da comunhão com Deus. Sua alma é muito preciosa para Deus, e pelo pecado ou pelo afastamento da Palavra de Deus essa alma pode se perder. Se amamos o nosso irmão, não vamos permitir que ele se perca assim.

Se o teu irmão pecar, vá atrás dele para trazê-lo de volta para o caminho da salvação. O Salvador apresenta, em Mt 18, a preocupação do pastor que deixa todo o rebanho para trás e vai atrás da ovelha perdida, e a alegria que sente quando consegue encontra-la. Levando-se em consideração a advertência dos vv. 6 a 7 e 10-11 desse capítulo, Jesus parece indicar aqui que o afastamento da ovelha pode ter sido provocado pelo desprezo de outros do rebanho. Por outro lado, dos vv. 15 a 17 ele aponta para alguém, na comunidade cristã, que comete um pecado manifesto. Nesse caso também é o seu irmão na fé, aquele contra o qual o outro até pode ter pecado, que precisa tomar a iniciativa de ir atrás dele. E ir atrás não para "excomungá-lo", mas para "ganhá-lo" (v. 15). As três tentativas dão a indicação do cuidado que se deve ter por esse irmão faltoso. E o objetivo de todo esse cuidado é ganhá-lo de volta. Se, porém, não quiser arrepender-se, a comunidade cristã deve considerá-lo "gentio e publicano", isto é, uma pessoa que, com sua insistência no pecado, exclui-se da comunhão dos santos. Porém, essa "excomunhão" (se a quisermos chamar assim, ainda que a Bíblia não use esse termo), esse “considera-lo gentio e publicano”, tem igualmente como objetivo levar a pessoa ao arrependimento (veja, por exemplo, 1Co 5.1-5), mas nunca difamá-la ou considerá-la um pecador pior que os outros.

Se o teu irmão pecar, vá atrás dele para ganhá-lo de volta para a salvação. Em 1Co 9.19-24, que é a sua declaração missionária, o apóstolo Paulo usa 5 vezes o verbo "ganhar". Existe uma conexão entre o cristão que se esforça para "ganhar" o próximo que caiu em pecado de volta e o missionário que se faz "tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns" (1Co 9.22). Cada um de nós, eu e você também, somos responsáveis pelo próximo e devemos interessar-nos pela saúde espiritual de nossos irmãos. Como diz a Escritura: "Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instrui-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vossos corações" (Cl 3.16).

Se o teu irmão pecar, vá atrás dele para ganhá-lo de volta para a salvação. Você também é responsável por ele. Procure hoje mesmo aquele irmão que já não vem mais à igreja ou que está vivendo uma vida de pecado. Chame-o ao arrependimento. Afinal, "não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos" (Mt 18.14). Amém.

Gleisson Roberto Schmidt
Vila Velha, ES – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
rev_gleisson@hotmail.com
www.ielb.org.br

 


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