Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Terceiro Domingo na Quaresma – 19 de março de 2006
Série Trienal B – 1 Coríntios 1.22-25 – Gerson Luis Linden
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Em nome de Jesus, poder de Deus e sabedoria de Deus. Amém.

Uma leitura descuidada e rápida do texto pode dar a impressão de que cristãos se vangloriam de serem estúpidos e irracionais. Será a mensagem cristã uma apologia ao relaxamento na elaboração de uma mensagem? Será ela o esforço consciente dos pregadores cristãos em elaborarem um anúncio sem sentido?

Vale a pena observar que Paulo não diz que nós tornamos a mensagem do evangelho em escândalo e loucura; mas que ela o é ... para os que se perdem! É, porém, o que há de mais sábio e forte, mais do que qualquer palavra dos sábios e vigor dos homens. Há algo no próprio evangelho que se torna escandaloso e louco diante do mundo; mas que é recebido como a mais sublime sabedoria e poder entre os que crêem.

A mensagem é “escândalo” - uma pedra na qual se tropeça e cai. Assim o foi para os judeus, diz Paulo. E, convenhamos, eles tinham suas razões. Afinal, quem tem o Antigo Testamento como base, vai lembrar das pragas que assolam o inimigo, do mar que é aberto, da água que sai da pedra, do alimento que cai do céu, enfim, sinais que apontam para o Deus Todo-Poderoso que está agindo. É de se perguntar, então: Será que Deus não vai continuar agindo assim, com poder, com sinais? E foi isso que os judeus exigiram de Jesus - “que sinal nos mostras para fazeres estas coisas?” (Jo 2.18 – Evangelho do dia). Vale lembrar que ao lhe serem pedidos sinais, Jesus falou do que ele chamou de “sinal de Jonas”, ou da destruição e reconstrução do santuário (Jo 2.19), ou seja, sua própria morte e ressurreição. Um Messias crucificado? Não era o que se poderia esperar, na visão de muitos judeus. Messias significa rei, significa glória, poder ... não cruz, vergonha, sofrimento!

A mensagem é “loucura” - O estadista romano Cícero, que viveu no primeiro século antes de Cristo, falou sobre o horror que a cruz causava aos romanos, e que ela jamais deveria estar presente nem no corpo de qualquer romano, nem em seu pensamento ou diante de seus olhos e ouvidos. Um Deus crucificado? Só pode ser uma “superstição perniciosa”, como disse o historiador romano Tácito. O evangelho do Cristo crucificado afronta os padrões da sabedoria humana; e isto, para os gentios da época de Paulo, cheirava a vulgaridade. Mais grave ainda, ela afronta o que há de mais humano - a certeza, ou ao menos esperança, de que as pessoas podem resolver os problemas através da reflexão, análise e tomada de decisão.

É importante lembrar que Paulo havia dito, pouco antes, no v. 18, que “a palavra da cruz é loucura para os que se perdem”. Mas esta palavra é, de fato, “poder de Deus e sabedoria de Deus” (v. 24). O próprio Deus já havia alertado, pela boca de Isaías, que os seus caminhos e pensamentos são mais altos do que os caminhos e pensamentos humanos (Is 55.9). É que o poder e a sabedoria de Deus não se medem pelo seu impacto na razão e expectativa humanas, mas se caracterizam pelo amor de Deus, que traz salvação de um modo contrário a toda expectativa humana.

Os judeus tinham seus motivos para desconfiar da mensagem da cruz como sendo de Deus. Afinal, a cruz os lembrava das palavras de Deuteronômio, “o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus” (Dt 21.23). Sim, o evangelho é loucura e escândalo porque mostra um Deus santo e justo, diante de pecadores ímpios, que ao invés de castigo, propõe, no Seu Filho crucificado, perdão e vida incondicionais, totalmente imerecidos. Ao justo ele condena na cruz; aos ímpios ele declara justos - que loucura, que escândalo - ou, nas palavras do Hino 75: “Quanto amor! Oh! Quanto amor! Revelaste, ó meu Senhor!”

O Evangelho continua sendo e sempre será desafiador, não só para o mundo, mas para a Igreja e para os pastores! Há propostas de poder e de sabedoria no caminho da Igreja neste mundo. Não faltam os planos, os projetos e programas que, na sua proposta, irão resolver os problemas da Igreja, seja na área das finanças, seja no evangelismo, seja no envolvimento das pessoas no trabalho. Fórmulas do tipo “Como ter sucesso no ministério”, “Como tornar sua Igreja eficiente”, “Como aumentar os números”, podem refletir a preocupação sincera de pastores e congregações com o trabalho no reino de Deus. Mas a trajetória do Evangelho nem sempre é aquela dos grandes resultados.

Esta não é nenhuma defesa do relaxamento, do descuido, do desleixo ou do despreparo com a obra de Deus. Paulo não anuncia que nós tornamos o Evangelho loucura e escândalo, mas ele o é, pela sua própria natureza; que confronta o desejo humano de salvar-se a si mesmo. É preciso que pastor e Igreja deixem o evangelho ser escândalo e loucura.

Ou, não é um escândalo dizer que um bebê, nascido em pecado, nasce novamente, como filho querido de Deus, nas águas do Batismo? E que nós, até o fim de nossos dias, em nosso batismo teremos fonte de consolo e de amparo - somos filhos de Deus! É, ou não um escândalo, que um homem pecador, parado diante de nós, diga, da parte do próprio Deus: “Eu vos perdôo”? É, ou não é um escândalo e loucura que no pão e no vinho Jesus nos dê seu verdadeiro corpo e sangue, para perdão dos pecados e renovada comunhão com ele e com os irmãos? Que “escândalo” e “loucura” benditos! Pois para nós, que fomos chamados por Deus, em Seu evangelho, esta palavra é poder e sabedoria de Deus, pela qual vale a pena, sim, dedicar nossa vida, nosso tempo, nosso estudo, nosso trabalho. Amém.

Gerson Luis Linden
Seminário Concórdia, São Leopoldo, Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Gerson.linden@gmail.com
linden@ulbranet.com.br

 

 


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