Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Terceiro Domingo na Quaresma – 19 de março de 2006
Série Trienal B– João 2.13-22 – José Aragão da Silva
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Dinheiro e Evangelho Juntos? Possível?

Contexto litúrgico para terceiro domingo na quaresma – Oculi

O tempo de Quaresma capacita-nos a ver Jesus no seu melhor desempenho. É enganoso, segundo a Epistola, presumir que nossa obediência e obras podem alcançar o favor de Deus. O Intróito fala claramente, que “meus olhos estão sobre o Senhor”, e sobre o zelo do Senhor Jesus, que em nosso lugar, buscou o Pai de todo o coração. O Gradual convida a igreja a fixar seus olhos sobre Jesus, porque ele é manifestado pelo Pai como a única salvação de que o homem necessita, em lugar das obras.

A coleta nos lembra que por nós mesmos não temos capacidade alguma, mas o zelo de Deus, encontrado e realizado por Cristo, é dado aos filhos de Deus, que os guarda de todos os perigos para a alma. Na purificação do templo, vemos o zelo de Cristo, revelando que Ele, enviado pelo Pai, é a perfeita e completa salvação, e não os sacrifícios distorcidos do homem.

O texto

“Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá. Perguntaram-lhe, pois, os judeus: Que sinal nos mostras, para fazeres estas coisas? Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo. Quando, pois, Jesus ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus” (Jo 2.13-22).

O Sermão

Já na antiga Grécia, os sofistas contratados pelos comerciantes praticavam a “negação do ócio”, daí a palavra negócio; enquanto que a aristocracia praticava o ócio e a meditação, daí vem “escola”, e esta era destinada aos que tinham tempo e dinheiro para ela. Em nossos dias, temos a frase que diz: tempo é dinheiro. Quem pratica o negócio, ganha dinheiro e conforto para se dedicar a outras coisas, enquanto que os que praticam o ócio nada ganham, pois perdem tempo e oportunidades.

Jesus confronta duas forças dentro da igreja que têm o poder de destruí-la e fazê-la fechar as portas, torná-la insensível e meramente pragmática.

Quando Jesus se dirige ao mercantilismo dentro do templo, deixa claro que Deus e dinheiro podem se tornar rivais (Mt 6. 24). Isso acontece quando a ênfase cai sobre salários, festas, atividades econômicas da igreja e visões humanas sobre a rentabilidade e lucro na igreja. Jesus lembra que a “Casa do Pai” não é lugar para comércio e nem é a razão de ser da igreja.

Quando a palavra de Deus fica em segundo plano, os sintomas são de uma observação mecânica da liturgia e toda a prática religiosa que envolve a cruz do discípulo e o negar-se a si mesmo, por isso tornar-se hábito ou uma cultura apenas. Jesus ao dirigir-se ao templo, reafirma mais uma vez que é Ele - não o dinheiro e o comércio: as obras – que deve nortear os princípios administrativos de sua igreja.

Mas alguém dirá, “mas pastor, como vamos pagar a luz, a água, o telefone, os impostos e o seu salário se não dermos ênfase neste assunto?” Reconheço, é mais fácil, para o velho homem, ter certeza do funcionamento das coisas no que é concreto do que no que é abstrato. É justa essa pergunta, entretanto ela pode se tornar o coração da descrença que Jesus encontra no Templo, e por isso eles pedem um sinal do que é verdadeiramente a adoração e prática religiosa, pois em situações de crise é difícil depender de Deus, e então, procurar sinais, como estava acontecendo com os judeus naquele tempo, sob o governo romano. A resposta de Jesus ao pedido de um sinal é clara, e também nega o tipo de sinal que eles pedem, pois eles já tinham rejeitado o chamado ao arrependimento feito por João Batista, e, com certeza, esse pedido sinalizava um motivo a mais para fabricar mais evidências contra Jesus.

Mas mesmo assim, Jesus dá um sinal que logo se realizaria. Jesus se refere a sua crucificação, morte e ressurreição como o único meio de conserto, aprovação e perdão para as ações deles e para a sua igreja. Todavia, a descrença rejeita esse sinal - o dom do perdão dos pecados - cancelando assim a promessa da vida eterna.

Isso nos mostra que não o dinheiro é a coisa mais importante da igreja, e sim o perdão dos pecados, ou melhor, o evangelho com tudo o que ele representa. O terceiro artigo do Credo lembra que o Espírito Santo é o guia e Consolador da igreja, nos negando que pelas nossas forças podemos chegar a crer em Cristo. Quem realiza essa obra é o Espírito Santo através de tudo o que Cristo conquistou por nós, nos iluminando com suas bênçãos e nos santificando na verdadeira e única fé. Esse sim é o assunto mais importante da igreja, o resto é conseqüência disto. Então, somos igreja, porque Cristo através de sua obra e o Espírito Santo nos colocou dentro dela.

Por outro lado, o assunto dinheiro revela muito sobre o assunto da fé, pois a vida cristã se relaciona com as coisas concretas do nosso mundo, caso contrário, a igreja se fecha em torno de si, correndo o risco de dissociar a fé e vida do Evangelho. Quando isso acontece, a fé não transforma, nem liberta e nem salva. A pessoa vive em dois mundos e não sabe relacionar os dois, mantendo um como santo e o outro como a maldade em pessoa.

Por isso, é importante aos cristãos encarar a realidade de frente sem fugir, pois o Evangelho nos desafia a relacionar nossa fé com o mundo, com os nossos dons, com os nossos talentos e com nossos bens – toda nossa vida. Essa é a razão porque Jesus nos tirou do mundo através de sua obra e nos colocou de volta ao mundo. Sem isso, não há testemunho. Assim, Cristo é para todos, em todos e em tudo na nossa vida. Toda e qualquer leitura em nossa vida deve ser feita a partir de Cristo, porque o cristão sabe o que é compartilhar, pois lida com a Verdade que transforma – Cristo e seu Evangelho - por isso entende também de compaixão e não da negociação. Assim, a leitura melhora sobre a vida em congregação ou comunidade, que na verdade é resultado da obra de Deus em Cristo e a soma de todas essas coisas.

É importante lembrar que o medo de não ter o suficiente revela nossa fraqueza na fé e ansiedade, porque não confiamos que Deus proverá, guardando enganosamente para nós mesmos, por medo de não termos o suficiente. A conseqüência disso é que não se oferta, esquecendo que Deus já deu tudo - o seu reino e sua Justiça, bens, vida e o lar. Assim sendo, o que nos parece mais óbvio, apostar no Evangelho transformador ou na capacidade de acumular bens? Isso não pode ser silenciado por nossas certezas e convicções.

Já dizia o Apóstolo Paulo que o amor do dinheiro é raiz de todos os males (1Tm 6.10) e que alguns, nessa cobiça, se desviaram e abandonam a fé, trazendo para si o tormento de muitas dores.

Deus nos fez o que somos agora, em Cristo, para um objetivo específico e nos colocou dentro da igreja. Ele nos criou para que fizéssemos boas obras, já preparadas bem antes por Ele para nós. Assim, permaneçamos na palavra (Jo 8. 31-32), cuidemos uns dos outros (Gl 5. 13-16); falemos das Boas Novas (At 5.41-42); mantenhamo-nos fiéis ao que aprendemos na igreja – nada pode substituir isso (1Tm 4.1-9), vivamos em paz com Cristo (2Co 3.11) e lutemos por uma igreja de portas e sensibilidades abertas pelo evangelho de Cristo e para o “diferente” (Fl 2.5-11).

O “dinheiro” não é o assunto da igreja, e sim o Evangelho e tudo o que ele representa para nós, por causa disto, ambos podem coexistir juntos na igreja, na compreensão evangélica e desta maneira, colocar o zelo no foco certo.

 José Aragão da Silva
Brasília – DF – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
jaragaosil@uol.com.br
www.ielb.org.br


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