Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Quinto Domingo na Quaresma- 02 de Abril de 2006
Série Trienal B –Salmo 51.10-15– Fernando Garske
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Salmo 51.10-15

Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro em mim um espírito inabalável. Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação e a minha língua exaltará a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores.
(Leia ainda 2 Sm 12.1-15)

Estimado amigo! No início desta mensagem eu quero contar um pouco com a sua imaginação. Vamos imaginar que certo dia você está voltando do trabalho em seu carro e nem se dá conta de que sua velocidade está muito acima da velocidade permitida. Só que, de repente, em uma curva, você dá de cara com uma barreira policial que fiscaliza a rodovia com um radar móvel. Que situação embaraçosa!

Vamos imaginar ainda outra situação; que você tem o costume de jogar lixo na rua, um papel de chocolate ou outra coisa qualquer, e sem você perceber a rede de televisão está fazendo uma reportagem naquele dia sobre os cidadãos que sujam a rua e as câmeras apressadas dos cinegrafistas não deixem escapar o seu “lapso”. Como se não bastasse a gravação, a repórter ainda lhe entrevista pedindo explicações. Que vergonha! Que situações embaraçosas, não é verdade? E em nenhuma delas existe a possibilidade de fugir, fingir, dizer que não foi contigo, porque a verdade está ali, escancarada para todos!

Bem, é claro que existem aqueles que, mesmo diante de um fato claro e exposto, ainda têm a cara de pau de tentar sair pela tangente ao invés de reconhecer o erro. Vemos isso na prática quando acompanhamos os escândalos políticos que têm sido revelados em nosso país.

O Rei Davi estava passando por uma situação parecida na ocasião em que escreve o Salmo 51, salmo do nosso culto. Havia cedido ao seu impulso humano e de uma maneira egoísta e egocêntrica se achou no direito de tomar de um súdito seu a única coisa que ele tinha: sua esposa Bate Seba. Através de um plano diabólico, o Rei Davi assassina Urias para ficar com sua mulher. Esta por sinal, já estava esperando um filho de Davi, resultado do adultério do Rei.

E ao que parece, na sua arrogância Davi nem percebe que está cometendo um grave pecado. Até que Natã, o profeta, vem a ele e lhe mostra com bastante clareza a lei de Deus e ele se dá conta de quem ele é. Diante da lei de Deus ele se envergonha e seus olhos se abrem para a maldade que cometeu contra Deus. (2Sm 12)

Humanamente falando, Davi estava no fundo do poço e não poderia sair de lá. Seu pecado estava exposto com uma luz em cima de um morro. Como se justificar? Como fugir? Adiantaria negar? Ou quem sabe um discurso bem elaborado? Bem sabia ele que não estava diante de uma CPI humana onde as coisas tantas vezes “acabam em pizza”. Mas estava nu, diante do próprio Deus, com seu pecado exposto e escancarado.

Apenas uma palavra poderia lhe devolver a esperança. E esta palavra é dita!

Da boca do profeta de Deus não deveria sair apenas a lei que mata, mas a palavra do profeta Natã também é vivificadora: Também o Senhor te perdoou o teu pecado... (2Sm 12.13). O perdão de Deus quer agora restaurar o infiel Davi. É o perdão de Deus que faz o rei levantar e ele então compõe esta canção de arrependimento e confiança que é o Salmo 51.

E por isso, diz o salmista no versículo 10: Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro em mim um espírito inabalável. Este é o pedido corajoso de um ser humano que olha para sua vida e vê que está morto com o seu próprio pecado, mas que é renovado gratuitamente pelo perdão. O desejo por um coração puro é um desejo que brota da certeza do perdão. É um desejo que brota de corações arrependidos que nada têm para oferecer a Deus, mas que dele tudo espera.

Meus queridos irmãos, representada por Davi em seu pecado estava toda a raça humana. Pois todos os humanos por natureza são adúlteros. Diariamente rejeitam todas as bênçãos que Deus oferece e procuram por aquelas coisas que não são suas e nem devem ser. É bem natural e próprio em nossa vida deixarmos de olhar para tudo o que Deus nos tem dado e concentrar a nossa atenção naquilo que não temos e, muitas vezes, nem devemos ter.

Ora, não é a cobiça mais comum e abundante do que o ar que respiramos? Ou porque tanta guerra? Porque a violência? Porque as brigas e discussões entre familiares e amigos? Não é a cobiça por acaso que nos leva ao stress? E a todos os outros males modernos? Estamos, como humanos, no mesmo barco que o rei Davi e por isso as palavras de juízo que Natã profere devem ecoar também em nosso coração. Também são para nós. A lei de Deus também nos deixa nus e por isso não resta, a ninguém no mundo, outra opção do que exclamar com Davi: Pequei contra o Senhor (2Sm 12.13). E de ouvidos bem abertos ouvir, por sua vez, a Palavra: Também o Senhor te perdoou o teu pecado, não morrerás! Esta palavra é para todos e não apenas para Davi. Por isso Jesus afirma que sendo levantado da terra, isto é, morto na cruz, atrairá todos a ele mesmo.(Jo 12.32). Tanto judeus, quanto gregos, enfim o mundo inteiro encontra na cruz de Jesus estas palavras: Também o Senhor te perdoou o teu pecado, não morrerás. E por isso a cruz de Jesus é o imã que atrai todos os que odeiam sua vida neste mundo, todos os que não encontram descanso em suas “boas obras” e necessitam de uma palavra vivificadora.

Cria em mim, ó Deus, um coração puro é o pedido de alguém que perdeu a sua vida e que agora, pede a Deus por uma reconstrução, por uma nova maneira de ser, porque não se conforma mais com o pecado, nem o aprova e nem deseja mais ser seu escravo.

Meus queridos irmãos, esta é uma oração que brota de um coração cheio de fé e confiança em Deus. Percebam os pedidos que Davi faz:

Ele pede a Deus que crie um coração puro, renove dentro dele um espírito forte, não o expulse da sua presença, não retire seu Espírito, dê novamente a alegria pela salvação, o mantenha com um espírito voluntário, livre-o da violência e abra seus lábios em louvor. Davi pede por dons espirituais, os quais Deus deseja dar sem medida.

Esta também deve ser a minha e a sua oração. Fazer desta a nossa oração não é um ato de lei ou de auto desprezo. Isto por causa da resposta de Deus, daquilo que ele, por sua vez, nos retorna. É ele quem nos concede estes dons. Ele nos dá gratuitamente um coração puro: o coração de Jesus Cristo, que nos faz andar em paz e confiança.

Ele através dos seus meios continuamente nos oferece um espírito inabalável, não um espírito que se agita com qualquer vento de doutrina, mas um espírito firme!

Sim, amados irmãos, ele nos faz estar em sua presença, permite que estejamos aqui neste momento porque nos perdoou e redimiu e assim, aqui na igreja, nos renova a alegria por sermos o seu povo. Nesta alegria, Deus ainda deseja manter nosso espírito voluntário, deseja que estejamos sempre prontos ao seu serviço de amor, um espírito que olhe para a sua Lei como o conselho de um pai amoroso que só quer o bem de seu filho.

É ele quem nos defende, e o faz sem cessar, de toda a violência deste mundo mau e nos faz suportar com confiança e fé as provações.

Enfim, Deus ouve nossa oração e por isso nossos lábios estão abertos para proclamar que só Jesus é o Senhor e que a ele pertence toda a honra e a glória.

A oração que Davi nos ensina é sim uma oração que escancara uma confiança humilde e pura em nosso Deus e Pai. Pois nos entregamos a ele e deixamos que ele seja tudo em nós, de maneira que podemos repetir com o apóstolo: não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim.

Estimado irmão, não existe vergonha maior do que ser pego em flagrante fazendo algo errado. Correndo com o carro ou jogando lixo na rua. Ninguém gosta de ter seu erro exposto ainda mais em uma sociedade que não perdoa e nem pode perdoar o erro. Mas é diferente com Deus! Em primeiro lugar porque não temos como esconder dele nossos erros. Em segundo lugar porque se confessarmos os nossos pecados ele é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça. E em terceiro lugar porque ele pode e promete nos dar uma nova vida e um novo coração. E tudo isto não apenas uma vez, mas diariamente. Isto é vida cristã! E por isso o Salmo 51 deve ser o nosso cântico diário, onde nos unimos a Davi no reconhecimento do pecado, na certeza do perdão e no pedido constante de uma vida santificada, vida no Espírito. Que assim seja!

Amém!

Fernando Garske  
Canela, RS – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
pastorfernando@ibestvip.com.br
www.ielb.org.br


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