Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

9º Domingo Após Pentecostes – 06 de agosto de 2006
Jr 23.1-6 – José Aragão da Silva
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Tema: Deus Envia Profetas aos tosquiadores e as ovelhas tosquiadas.

No quadro mundial atual, nos parece que a herança deixada do passado não possui qualquer testamento. Basta olhar para exemplos na condução internacional dos modelos políticos, econômicos e sociais em vigência em todo o mundo. Em tempos de globalização e blocos econômicos, temos ainda a pobreza e a exclusão social. Os lideres continuam “tosquiando rebanhos”. No âmbito nacional, depois de décadas de sonho e esperança, um enorme segmento da sociedade vê-se pega de surpresa e decepcionada com a ideologia tão defendida por anos. Também por aqui, temos ovelhas tosquiadas, sem agasalho e segurança.

No campo religioso, vemos instituições atirar em seus próprios feridos, negando o perdão e o evangelho ao transformar a igreja numa empresa que o homem barganha com Deus. Divisões religiosas prosseguem e vários líderes acabam por subverter e perverter o Evangelho de Jesus Cristo, dando uma nova interpretação não autorizada pelo Senhor e Cabeça da igreja. Em que acreditar?

Parece que conhecemos bem o personagem da parábola de Kafka ao ilustrar o homem se tornando três ao mesmo tempo. Um é o do presente, empurrado para o futuro por aquele do passado ou de sua origem, a fim que ele continue prosseguindo e progredindo. Já o outro, o do futuro, obriga o do presente a retornar ao passado e a investigá-lo, devido a incerteza do presente. Kafka nos mostra um homem no presente que vive na angústia, que o obriga a reagir, mas sem muita certeza dentro de sua reflexão. Parece que nossa herança nos foi deixada sem nenhum testamento no mundo em que vivemos. Mesmo com o otimismo esporádico do tecnológico e avançado, angústias de toda a sorte perseguem o homem. No que se apegar? Esse é o dilema do homem no presente entre o seu passado e futuro.

Às vezes nos encontramos sem muita esperança, sem muita opção. Mas será que Deus permite que poderes continuem “tosquiando o rebanho” de Deus, deixando-os sem nenhuma esperança, ou até mesmo com as imagens equivocadas da esperança sem qualquer herança? Não! Por essa razão Jeremias foi chamado por Deus. Deus age e coloca o seu dedo na história e aponta o caminho para os líderes religiosos e políticos. Quando o rebanho de Deus é tosquiado e podado, ele vive o medo, o temor, terror, injustiça e exclusão. É comum lideres de todas as esferas cederem ao desejo da imoralidade excessiva, da falta de moderação e do comedimento. O poder corrompe e o poder absoluto corrompe de forma absoluta. Não há como fugir disso por causa de nossa natureza pecaminosa. Por isso mesmo, as pessoas e lideres estão em constante perigo de perder a fé, a esperança nas benções de Deus como o Senhor da história e dono do mundo e confiar apenas em si mesmos.

Deus sempre tem uma estratégia. Ele sempre tem um plano para colocar as coisas nos trilhos e parar com a tosquia. Ele envia profetas ao povo tosquiado pelo. Deus enviou Jeremias ao povo e líderes religiosos e políticos de Judá. Não é uma nova estratégia, pois já tinha utilizado esta forma de abordagem com o Reino do Norte. A profecia de Jeremias registra a ira de Deus e enfurece os líderes e os religiosos que desviaram o povo de Deus. A infidelidade de governantes, de sacerdotes e ainda outros líderes termina em um estado de decadência nacional sem precedente. O resultado quase sempre é que apenas um pequeno remanescente permanece fiel como aconteceu no tempo de Jeremias. E como ele, Jeremias sofreu por isso. Por causa se sua fé para com Deus e compaixão para com o povo termina sendo exilado quando Judá caiu nas mãos de Nabucondonosor.

Isto é comum no ministério e Deus nos alerta sobre isso. Pensando no presente, o profeta e suas ovelhas têm que se levantar contra o desejo das multidões, ir contra governantes e pregar julgamento e arrependimento quando o povo está sendo tosquiado e afastado de Deus. Por outro lado, os profetas precisam pregar a graça, a promessa e esperança ao remanescente fiel a Deus, proclamando Cristo, o Messias Salvador como o centro desta esperança.

O foco e natureza desta pregação está no olhar do passado, em Cristo e trazê-lo para o presente, vislumbrando a esperança eterna no futuro, sem deixar de observar como Cristo conduziu sua obra. Este é a ênfase a ser seguido. Assim, o foco, natureza e vontade de Deus fica, apenas na obra de Cristo. Olhemos mais de perto isso.

A Escritura diz que Jesus, veio pregar arrependimento e perdão dos pecados para todos com a autoridade de Deus. Mas é ai que os problemas começam. Por ninguém quer isso. Quando Jesus perdoa os pecados de um paralítico, as pessoas ficaram iradas (Mc 2. 1-12). Este homem está blasfemando, disseram. Ninguém pode perdoar pecados, apenas Deus o faz. E assim, isso se apresenta em todo o ministério de Jesus.

Os persistentes protestos cresceram e se acentuaram em seu ministério: “Você não pode correr o mundo dando e oferecendo perdão. Isso vai contra a maneira que pensamos que devemos agir”. Finalmente, então, Jesus é crucificado por perdoar pecados. A ironia que o velho homem não conhece é que Ele morreu para que isso fosse justamente assim. Até mesmo de c ima da cruz ele chora e clama, “Pai perdoa-os, porque eles não sabem o que eles estão fazendo”.

Jesus foi para a morte e como espectador, o homem do presente ainda diz para ele parar. “Se você é o filho de Deus”, diz, “desce da cruz”. Mas ele não desce e nem faz isso. Caso contrário, significaria que ele lida conosco segundo nossa ótica, tão presente no mundo e não pelo perdão de Deus. Assim, permaneceríamos sobre a lei, ira e morte para sempre. Sem herança.

Não nos iludamos e é insano pensar que aqueles do passado crucificaram Jesus! Jesus morreu em nossas mãos e por nossas mãos. Estas não desistirão até que tente Jesus a deixar o caminho do perdão na cruz. Isso acontece porque ainda sonhamos no presente dar nossa contribuição, conquistar nossa salvação e por gostar de viver pela lei e não do perdão. Pelo menos, o homem natural nos faz agir e pensar assim, por que somos comprometidos com o viver pela lei, e assim mantemos nossas mãos sobre Ele conduzindo-o para a morte.

Assim, ele morre. Não há nada de bonito aí para se admirar ou imitar. Seus discípulos traem-no, negam-no, esquecem-no e fogem. Ele é desprezado e rejeitado “como alguém que escondemos os nossos rostos” (Is 53.3). Ele morre por nós. Isso é tudo o que ele pode fazer. Essa é a ótica em que nosso mundo e vidas funcionam. Em relação a obra de Cristo no passado e quando aplicanda no presente, a atitude para com Deus é a mesma do passado. O homem natural e mundo continuam desfiando Cristo na cruz, negando seu perdão e seguindo seus padrões. Para isso, há também uma herança, o peso da lei por não cumpri-la e a condenação.

A obra do jeito que se apresenta nos Evangelhos, como os aparentes entraves para nossa visão e certeza, é poder para os que crêem. É nesse evento, que quando em meio ao vale da sombra da morte, temos em Cristo crucificado, o Bom Pastor que não nos desampara. Um Pastor que não tosquia suas ovelhas, porque precisam se aquecer das agressividades do tempo e do pecado. Um pastor que conhece suas ovelhas e dá sua vida por elas. Um pastor que dá consolo e o devido descanso em águas e terras tranquilas. Um pastor que deixa 99 que estão bem e busca aquela que está a beira do precipício do desespero, em vias de ficar a dispor dos tosquiadores e sem pastor. Aqui está a outra herança.

No Bom pastor encontramos forças continuar vivendo, levar nossas vidas, encontrar tempo e lugar para muitas coisas no que se relaciona com nosso testemunho e proclamação. Com Ele aprendemos a nunca estar cansados para servir e aproveitar todas as oportunidades oferecidas para fazer a obra de apresentar o Bom Pastor que dá sua vida pelas ovelhas tosquiadas pelo pecado. Isso pode ser difícil, mas lembremos que ao mesmo tempo em que Jesus busca nossa dedicação em seguí-lo, ele reconhece nossas limitações. Jesus sempre mostrou uma preocupação para com todos. Veja como conduz seu relacionamento com seus discípulos. Quando cansados, ele concede o descanso.

Tal descanso, não é necessariamente um completo relaxo e ausência da vida de “ovelhas tosquiadas pelo tempo e mundo” e nem da casa de Deus. As ovelhas de Jesus não se isolam da vida das pessoas, porque sempre são servos de Jesus. O recuo e isolamento parece ser uma coisa crescente na igreja, especialmente por causa do fator financeiro. Não sei se isto é por timidez ou medo. Nesta questão, Jesus já nos alertou que o mundo é mais sábio em seus negócios do que nós nos do reino. Entretanto, uma coisa é certa, se andarmos com o Senhor, ainda que seja no vale da sombra da morte, sem perceber estaremos por perto daqueles que necessitam de nós. As ovelhas tosquiadas do nosso tempo e sem esperança no presente, necessitam do amor carinhoso e Salvação de Jesus. Essa, nós podemos apresentar e deixar com que Deus faça a sua obra.

Por isso, Deus nos chama a sermos resistentes e proclamar sua palavra, sua vontade, desejo e salvação em Cristo. Grande é o grande desafio da igreja, que vive o presente não muito ideal por causa da perseguição sutil, mas que é empurrada para frente por seu passado e origem em Cristo e sua mensagem, mas também pressionada para o seu passado e presente pelo futuro por causa da esperança da nova vida em Cristo no céu. Essa é a dinâmica que nos faz agir a fim que a obra de Deus em Cristo possa ser aplicada nas “ovelhas tosquiadas” no presente para que mais algumas possam estar entre o remanescente, entre os que envergonhados no presente por causa do seu passado se ajoelham diante da cruz e sabe que lá está o perdão, consolo, descanso e esperança de Deus para o passado, presente e futuro no Bom Pastor.

José Aragão da Silva
Brasília – DF - Brasil

Igreja Evangélica Luterana do Brasil
jaragaosil@yahoo.com.br
www.ielb.org.br

 


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