Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

9º Domingo Após Pentecostes – 06 de agosto de 2006
Mc 6.30-34 – Horst Reinhold Kuchenbecker
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Tema: Compaixão

À base do Evangelho queremos meditar nas palavras:

Jesus se compadeceu deles .

Em outras palavras, Jesus teve compaixão da multidão. Compaixão! O que vem a ser isto? A palavra Compaixão era conhecida somente na literatura judaica. No Novo Testamento o termo compaixão aparece 12 vezes. Hoje se fala também no mundo em compaixão. São duas palavras: com e paixão, isto é, sofrer junto. Se examinarmos como o mundo pratica a compaixão, veremos que há uma grande diferença entre a compaixão de Jesus e a do mundo. Jesus é o único que teve e tem verdadeira compaixão. Ele a revelou em seu grau máximo, por sua morte na cruz do Gólgota. Dele queremos aprender o que é compaixão, tanto para nosso consolo como para seguir-lhe o exemplo.

Fundo histórico

Vejamos o contexto no qual a história do nosso evangelho se desenrola. Jesus estava trabalhando intensamente, pregando o evangelho de cidade em cidade. E aos lugares que não conseguiu alcançar enviou seus discípulos de dois em dois. Sua fama correu por toda a Galiléia.

Os discípulos voltaram jubilosos de sua missão, mesmo que muito cansados. Ouviram, então, a notícia da morte de João Batista. Isto os entristeceu muito. João Batista foi o primeiro mestre de vários dos discípulos de Jesus, por outro, isto lembrou a Jesus de que mais um ano e seria a sua vez de ser morte, por morte de cruz. Então Jesus lhes propôs, vamos nos retirar um pouco a sós, para um lugar deserto, para descansar.

Eles embarcaram num barco e seguiram para o norte do mar da Galiléia, para a região deserta. O povo observou a direção que o barco tomou e todos seguiram a pé! Mal Jesus e seus discípulos encostaram o barco, lá estava a multidão. O que atraía estas pessoas a Jesus? Era o desejo por salvação? Seria? Provavelmente era a novidade, o sensacional, a busca por milagres. Hoje não é diferente.

Jesus olhou para a multidão e não viu somente a massa humana, mas a situação das almas do povo. E disse: São como ovelhas sem pastor.

Ovelhas sem pastor.

Que impressão esta imagem causa a nós hoje? A nós na cidade talvez nenhuma. Talvez os jovens adolescentes até digam: Que coisa boa! Ótimo! Viva! Este é o pensamento em nossa cultura individualista e egoísta, avessa a qualquer autoridade, no desejo de ser livre. Ninguém manda em mim. Faço o que quero e gosto. Assim filhos dizem muitas vezes a seus pais. Deixa de ser chato! Hoje é diferente! Eu sei o que fazer! Não fica me pegando no pé a toda a hora! Portanto, a condição de “ovelhas sem pastor” pode ser até uma situação desejada por muitos.

Mas na visão pastoril: ovelhas sem pastor é um quadro desesperador para as ovelhas, uma situação calamitosa, de alto perigo. Ovelhas não têm faro. Elas, por si, não acham pastagem verdejante, nem águas frescas. Elas não encontram o caminho certo. Elas não dispõem de defesa própria. São presas fáceis dos animais selvagens, seus inimigos. Elas precisam de um guia, de um orientador, de um protetor. É um quadro como o de um bebê abandonado...

Jesus compara a multidão a ovelhas sem pastor. Pessoas desorientadas, que rumam para a eterna condenação, sem o saberem, sem conseguirem achar um caminho. Presa fácil de enganadores e exploradores, de falsos pastores, mercenários, que os apascentam por seus próprios raciocínios e doutrinas falsas, em seus próprios interesses.

Mas esta multidão não estava buscando Jesus? Sim! Mas com um propósito errado. Eles, como a maioria ainda hoje, não haviam reconhecido seu estado de pecadores perdidos e condenados, que necessitavam sobretudo de um Salvador, e que Jesus era seu único e suficiente Salvador. Corriam atrás da fama dos milagres. Queriam dele somente benefícios materiais. Jesus lamentou isso e teve compaixão deles.

Um quadro muito semelhante a nossos dias. Multidões enchendo igrejas. O que os atrai para ali? A sede pela verdadeira Palavra de Deus ou por benefícios materiais? A olhar pelos testemunhos que ali são dados: Eu estava desesperado. Vim aqui. E meus problemas se resolveram. Eu estava falido, mas orei, e hoje prospero, etc.

Será que este mesmo pensamento não está, muitas vezes, também no nosso coração. Eu cumpro o meu dever: Vou à igreja, dou minha contribuição. Então tudo bem. Jesus vai me abençoar. Um tipo de barganha. Por isso vamos ao culto e procuramos um culto com muita produção própria, um culto do qual podemos dizer: Eu fiz, eu amei, eu ofertei, eu realizei culto, esquecendo que no culto, em primeiro lugar é Deus que nos serve...

Muitas igrejas planejam e aperfeiçoam seus planos e programa de culto, de rádio e televisão, para captarem mais e mais pessoas, em busca do dinheiro. Essas massas são jogadas de um lado para o outro, de uma igreja para a outra: Mas ali há um pregador ainda mais poderoso. O culto naquele lugar é ainda mais sensacional. O culto foi maravilhoso e senti Deus no meu coração.

Nossa missão é proclamar a clara e pura palavra de Deus para arrependimento e fé, para chamar as pessoas ao reino de Deus, sob a cruz de Cristo. Esta pregação, no entanto, continua sendo loucura e escândalo para os que se perdem. Mas bem-aventurados os que não se escandalizam em mim, disse Jesus. E disse mais: Qual dos profetas vossos pais não mataram? (Mt 5.12; At 7.52) Herodes havia acabado de decapitar João Batista, e em breve gritariam contra Jesus: Crucifica-o! Mas, não temais, ó pequenino rebanho.

Vendo Jesus a multidão, compadeceu-se dela. Uma expressão consoladora. Uma dor profunda que afeta o coração, o comoveu. Uma dor, um amor, para com pessoas que na verdade nem mereciam mais este amor, mas precisavam ser alertados e ensinados. Esta compaixão se revela imediatamente em ações.

a) Jesus recebe a multidão. Jesus e seus discípulos estavam cansados. Queriam descansar um pouco, mas ele abriu mão de seu descanso e de seus interesses. Colocou isto em segundo plano e recebeu a multidão, para cuidar dela. Mostrar-lhe como todo o amor e paciência, como o bom pastor, o verdadeiro caminho, a verdadeira pastagem e a fonte de água fresca.

b) Passou a ensiná-los. Ensinou-lhes muitas coisas. Marcos não nos revela o conteúdo do ensino. Mas os outros evangelhos, Mateus e Lucas, nos falam sobre o seu ensino. Jesus falou sobre o Reino de Deus. O caminho para este reino, por arrependimento e fé. O alimento deste reino: A doutrina, a única verdade. De que ele, Cristo é o caminho, a verdade e a vida, o verdadeiro pão da vida. E que ninguém vem ao Pai senão por ele.

Aqui temos uma das principais diferenças entre a compaixão do mundo e a de Cristo. O mundo freqüentemente presta auxílios, até com certos sacrifícios, mas evita falar a verdade. Por exemplo, não falam do pecado, a causa de todo os males. Dizem que isto é normal. A gente não deve dizer não a ninguém. Se alguém desgraçou sua vida e está com AIDS, dizem: Coitado. Que injustiça. Ele não merecia isso. Chamam isto de compaixão.

Para Jesus, a compaixão começa com o falar a verdade. Jesus mostrou que nossos pecados fazem uma divisão entre nós e Deus. Sem fé em Jesus Cristo não há salvação.

Ele continua compassivo com a multidão até hoje através de muitos pregadores fiéis, que não pregam filosofias e sentimentos, mas a palavra de Deus, para arrependimento, fé e vida santificada e salvação eterna e não apenas lenitivo temporal. Mas muitas vezes o resultado é o que aconteceu a Jesus: após uma pregação sobre o grande amor de Deus, revelado em Jesus, a multidão deu as costas a Jesus dizendo: Duro é este discurso, quem o pode ouvir? (Jo 6.60)

c) Este é o ponto essencial da compaixão: Falar a verdade. Nisto consiste também a verdadeira tarefa dos pais, especialmente do chefe da família, o pai, na condução da família e educação dos filhos, ser ele o verdadeiro sacerdote do lar. Manter a família no verdadeiro fundamento do lar. No ensino da verdade bíblica, em sua correta exposição no Catecismo Menor e no Hinário, na admoestação e consolo. A isso se somam todos os outros frutos do verdadeiro amor cristão, o sacrificar-se pelo próximo também nos assuntos materiais. Sabendo que por mais amor e compaixão, a graça é rejeitável. E há filhos que, apesar de todo o amor e esmero dos pais, rejeitam a verdade e o amor de Cristo, o que causa muita tristeza aos pais.

Que a compaixão que Cristo revelou e continua a nos revelar em sua palavra, seja nosso consolo no dia a dia. Para recebermos também com gratidão as muitas bênçãos materiais que Jesus nos concedeu e concede, e assim seguirmos, guiados pelo Espírito Santo, o exemplo da compaixão de Jesus, não medindo esforços no testemunhar e difundir sua palavra. Amém.

Horst Reinhold Kuchenbecker
São Leopoldo – RS – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
horstrk@cpovo.net
www.ielb.org.br


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