Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

16° Domingo Após Pentecoste – 24 de Setembro de 2006
Marcos 7.31-37, Horst R. Kuchenbecker
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Introdução

Você reparou com que palavras termina a leitura do presente evangelho?

Tudo ele tem feito esplendidamente bem: não somente faz ouvir os surdos, como falar os mudos”. Isto era o sinal da vinda do Messias, conforme a profecia do profeta Isaías:

O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu, para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração e proclamar libertação aos cativos, e a por em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus” (Isaías 61.1). Por isso Jesus respondeu aos discípulos de João Batista que vieram lhe perguntar:

És tu o Messias ou havemos de esperar outro. Jesus lhes respondeu: Ide, e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxo andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres anuncia-se-lhes o evangelho. E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço” (Lucas 7.22,23).

A pergunta é: Tu podes dizer a mesma coisa a respeito de Jesus, com júbilo e gratidão no teu coração? Espero que, após a exposição deste evangelho, todos nós possamos confessar assim com renovada convicção e júbilo. Que Deus o conceda.

1. Contexto histórico. – Jesus voltou das cidades de Tiro e Sidom, hoje o Líbano. Ele veio para a região oeste do mar da Galiléia. Atravessou o rio Jordão e foi para o lugar chamado Decápolis, isto é, a região das dez cidades. A primeira vez que Jesus foi para esta região, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados. Ele expulsou os demônios deles. Os demônios entraram na manada de porcos que estavam ali perto e os precipitaram ao mar. O povo de Decápolis, por causa da perda da manada, pediram a Jesus: Vai embora. Sai daqui.

Agora Jesus volta pela segunda vez a essa região, para buscar as ovelhas perdidas da casa de Israel. Os libertos dos demônios havia testemunhado ali a respeito de Jesus. Por isso, quando souberam da presença de Jesus, o povo afluiu e se aglomerou em torno dele. Trouxeram-lhe, então, um mudo e gago, para que o curasse.

2. Um mudo. Você conhece um surdo e mudo? Já tentou alguma comunicação com tais pessoas? Nós nem podemos imaginar o mundo deles. Professores que lidam com tais pessoas sabem que o mundo deles é diferente. Mesmo quando aprendem a linguagem dos sinais e estudam, chegando talvez até à Universidade, o mundo deles permanece diferente. O surdo vê as pessoas em seu derredor. Vê as pessoas conversarem, gesticularem, chorarem e rirem, mas ele não os entende. Não sabe o que estão conversando, o que está acontecendo. Que coisa triste.

Se o ser “surdo e mudo” físico já é um grande suplício, maior ainda é ser surdo e mudo espiritualmente. As pessoas ouvem a palavra de Deus, vêem os cristãos orarem, mas eles não entendem nada disso, antes dizem: Isto é loucura. Isto é pura bobagem. Eu não posso crer nisso. E nesta cegueira todos nós nascemos, como o confessamos na explicação do Credo Apostólico:

Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo meu Senhor, nem vir a ele . Terrível, esta morte espiritual. Própria razão, isto é, toda nossa capacidade intelectual não pode nos ajudar a vir a Cristo. Própria força, todo nosso esforço por vida piedosa, jejuns, mosteiros, sacrifícios não podem me abrir o caminho para Deus. Nem vir a ele. Deus precisa vir a mim, agir sobre mim, ou alguém precisa me levar a ele, no caso de crianças para o batismo.

Pois bem, diz nosso texto: “Trouxeram um surdo e gago e lhe suplicaram que impusesse a mão sobre ele” (v. 32). Pessoas que haviam chegado ao conhecimento de Jesus, que já criam nele, quando ouviram que Jesus estava na região, tomaram o surdo e mudo e o levaram a Jesus. Jesus o recebeu e, “tirando-o da multidão, à parte” (v. 23). Isto para poder comunicar-se melhor com ele pelo tato.

Na verdade todo sofrimento, doenças, desastres são momentos em que Jesus nos chama a si e quer falar conosco em particular. Feliz aquele que nestes momentos se lembra de Jesus. Feliz aquele que nestes momentos tem amigos que o conduzem e lhe falam de Jesus. Feliz aquele que nestes momentos recorre a Jesus e se deixa tomar pela mão por Jesus.

Então lhe colocou os dedos nos ouvidos e lhe tocou a língua com saliva, para dizer: Eu sei o que te aflige e qual é teu mal. Tenhas a certeza, Jesus te conhece, conhece o que te aflige em todos os seus detalhes e está pronto a te socorrer.

Então, diz o texto, “erguendo os olhos ao céu, suspirou” (v. 34). Isto para indicar ao cego de onde vem todo o auxílio, todo o socorro, toda a ajuda, de Deus.

Mas o suspiro indica também sua profunda compaixão para com a humanidade a quem Satanás desgraçou tão profundamente. E ele veio para libertar o que estava perdido. Quantas vezes ainda suspiraria, no Jardim do Getsêmani, na cruz, até finalmente triunfar pela ressurreição. E através de sua igreja continua a lutar até o dia do juízo final. Temos nós, que conhecemos a Jesus, a visão das desgraças que o pecado e o diabo causam à humanidade? Suspiramos em orações, lutamos pela proclamação da palavra para tirar as pessoas da surdez espiritual? E então Jesus pronunciou as palavras:

3. “Efatá! que quer dizer: Abre-te. Abriram-se-lhe os ouvidos, e logo se lhe soltou o empecilho da língua e falava desembaraçadamente ” (v. 34,35). Com este milagre Jesus deu testemunho aos moradores desta região de ser ele o Messias prometido que veio para destruir as obras do diabo e libertar a humanidade de toda a miséria e aflição para dentro da qual Satanás precipitou a humanidade desde o Jardim do Éden.

Esta cura aponta ainda para uma cura maior, a libertação da surdez espiritual. A maior bênção que Jesus pode fazer a um pessoa é abrir-lhe os ouvidos da alma, para que ouça a Palavra de Deus, seja levado ao reconhecimento de seus pecados, à fé na graça de Cristo, para então louvar a Deus por palavras e obras.

Mas Jesus lhes ordenou que a ninguém o dissessem” (v. 36). Eles ainda não tinham conhecimento suficiente da obra de Cristo para saírem a testemunhar. Só iriam acentuar seu poder, seus milagres, quando o objetivo de Jesus era levar à fé na graça de Cristo.

Terminada a obra com sua ressurreição e ascensão, Jesus ordenou: Ide fazei discípulos de todas as nações (Mateus 28.19,20).

Ainda hoje Jesus está presente junto aos seus, conforme sua promessa: Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos. A uns ele cura diretamente, a outros ele cura através de meios, a saber, da medicina. Já a outros ele diz, como ao apóstolo Paulo: A minha graça te basta - e deixa a cruz. Mas a todos os fiéis ele diz: Se fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida eterna, isto é, no céu serão aliviados de todos os males para viverem eternamente com Jesus. Este é o verdadeiro consolo.

Certos do amor de Cristo, do seu perdão, de sua graça, de ter-nos aberto os olhos, ter-nos dado perdão, vida e eterna salvação, queremos louvá-lo aqui, quer em dias maus ou bons. E queremos louvá-lo por toda a eternidade. Pois ele fez tudo maravilhosamente bem. Amém

Horst Reinhold Kuchenbecker
São Leopoldo – RS – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
horstrk@cpovo.net
www.ielb.org.br


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