Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Décimo-oitavo Domingo após Pentecoste – 8 de outubro de 2006
Marcos 8.27-35 – Gleisson Roberto Schmidt
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Negar-se a si mesmo

 Depois Jesus e os seus discípulos foram para os povoados que ficam perto de Cesaréia de Filipe. No caminho, ele lhes perguntou: “Quem o povo diz que eu sou?” Os discípulos responderam: “Alguns dizem que o senhor é João Batista; outros, que é Elias; e outros, que é um dos profetas”. “E vocês? Quem vocês dizem que eu sou?”, perguntou Jesus. “O Senhor é o Messias!”, respondeu Pedro. Então Jesus proibiu os discípulos de contarem isso a qualquer pessoa.

Jesus começou a ensinar os discípulos, dizendo: “O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, três dias depois, ressuscitará”. Jesus dizia isso com toda a clareza. Então Pedro o levou para um lado e começou a repreende-lo. Jesus virou-se, olhou para os discípulos e repreendeu Pedro, dizendo: “Saia da minha frente, Satanás! Você está pensando como um ser humano pensa e não como Deus pensa”. Aí Jesus chamou a multidão e os discípulos e disse: “Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa e por causa do evangelho terá a vida verdadeira”.

“Era uma vez” – uma fábula do cotidiano. Acontece todos os dias, acontece perto de nós, pode acontecer conosco mesmo:

Dois senhores, muito amigos e já bem velhinhos, que tinham hábitos alimentares bastante peculiares: gostavam muito de um bom churrasco. E no churrasco preferiam – e como preferiam – as carnes mais gordurosas. Mas certo dia, como a idade já estava chegando, os dois resolveram ir fazer um check-up médico. Procuraram um clínico e, após uma bateria de exames o doutor constatou: ambos estavam com um princípio de entupimento das artérias que bombeiam sangue do coração. Se continuasse com o tipo de alimentação e vida sedentária que levavam, poderiam enfartar a qualquer hora.

Diante disso o médico deu uma receita taxativa: além dos medicamentos e do acompanhamento médico, os dois senhores teriam que renunciar totalmente às frituras, ao cigarro e ao churrasco. Um deles, sentindo o drama, seguiu à risca a orientação do médico. Mas como “pau que nasce torto morre” torto, o outro foi teimoso. Não quis mudar seus hábitos. Fumava, bebia e continuava se alimentando de maneira errada. Fim da história: aquele senhor morreu em menos de meio ano. De enfarte.

No texto do evangelho que nós lemos acima, o nosso Salvador Jesus tem a mesma preocupação daquele médico. Mas ele não se preocupa, em primeiro lugar, com as coisas que nós podemos comer ou não para mantermos nossa saúde. Sua preocupação é com respeito à nossa vida espiritual aqui no mundo.

Por isso o nosso Salvador nos ensina que a vida cristã exige renúncia. Assim como aquele senhor precisava renunciar certos alimentos para manter a sua saúde, nós, como filhos de Deus, precisamos renunciar, negar certas coisas prejudiciais se quisermos manter nossa saúde espiritual. Mas você pode estar pensando: olha, isso está parecendo meio confuso, exagerado até. O que é que eu tenho que renunciar? Ora, é o próprio Jesus quem responde, e ele é bem claro: “Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa e por causa do evangelho terá a vida verdadeira” (versículos 34 e 35) . O que Jesus quer dizer com isso? Será que nós temos que nos punir, nos castigar para sermos cristãos? Será que nós temos que odiar a nós mesmos? E o nosso amor-próprio, onde fica?

Meu irmão, o nosso Salvador Jesus sabe melhor do que ninguém como o diabo, o mundo e a nossa carne pecaminosa nos tentam para o mal. A todo momento esses nossos três inimigos estão aí, querendo ver a gente tropeçar e cair. Jesus mesmo foi tentado pelo próprio diabo lá no deserto. E pouco antes de ter dito essas palavras o diabo apontou o seu rabo mais uma vez através de Pedro. Quando Jesus começou a ensinar seus discípulos de que era necessário que ele morresse para pagar pelos pecados de todos os homens - os meus e os seus também -, mais uma vez o pecado em Pedro põe as manguinhas de fora e diz: “Que que é isso, Jesus? Tenha pena de si mesmo! Você não precisa morrer por causa de ninguém não, seu bobo! Fica na sua e, ó, faz de conta que o negócio não é contigo. Deus perdoa, cara, não esquenta...”.

O mesmo acontece conosco. E acontece todos os dias. O mundo, com seus prazeres passageiros e suas facilidades pecaminosas está o tempo todo aí, nos tentando, querendo nos convencer de que o que é proibido é mais gostoso. Todos os dias nós nos deparamos com as orientações que a Bíblia dá para a nossa vida e com o que o mundo nos oferece: sexo livre, vícios, bebidas, intrigas, noitadas em boates, extorsões, "jeitinhos" para resolver nossos problemas, maledicências e tantas outras coisas. O mundo nos convida a desfrutarmos disso tudo. Pedro convidou Jesus a deixar sua cruz pra lá. Essas coisas enchem os nossos olhos, e por vermos quase todo mundo fazendo essas coisas elas nos parecem deliciosas. E querem saber? Essas coisas são mesmo uma delícia. Uma delícia como aquele churrasco gordo que acabou matando o bom velhinho.

Diante dessas coisas todas o nosso Salvador espera de nós uma postura. Como novas criaturas, lavadas dos pecados pelo sangue do Cordeiro, trazidas das trevas para a maravilhosa luz de Deus, Cristo espera que nós renunciemos a essa vida de pecados e aos pecados desta vida. E que, assim, com toda humildade, nós vivamos nossa vida para Jesus, carregando cada um sua própria cruz. A cruz que cada um de nós tem nunca é mais pesada do que podemos carregar, Deus garante isso. E enquanto seguimos o nosso Salvador na nossa vida, testemunhando a fé que temos através das nossas atitudes, podemos ter a certeza de ele mesmo, o nosso bom pastor, nos dá forças para prosseguir, mesmo em meio às dificuldades e tentações.

Mas por que isso tudo? Por que negar-se, por que deixar de aproveitar todas essas coisas da vida que parecem ser tão boas? Há um provérbio bíblico que diz que "há caminhos que ao princípio parecem bons ao homem, mas ao fim dão em caminhos de morte". Com Jesus nós vivemos uma vida nova. Com sua morte e ressurreição, Cristo pagou por todos os nossos pecados. Ele tirou a cada um de nós das trevas do pecado e do inferno. Ele libertou-nos da escravidão do pecado. E não só isso: Jesus também nos deu uma nova perspectiva de vida: uma vida alegre, repleta de coisas boas, de bons sentimentos, também de boas obras. Além disso, o próprio Jesus deixou para nós seu exemplo de vida: em vez de cair na tentação de desistir da cruz que tinha pela frente, como Pedro propôs, Cristo foi fiel até a morte. Mas nós sabemos que ele não permaneceu na morte: ressuscitou, e presenteou a todos nós com a salvação. Essa ressurreição é nossa esperança certa, mediante a fé nele.

Você não ficou curioso de saber o que aconteceu com o outro senhor, aquele que seguiu as orientações médicas? Ele está vivinho da silva até hoje. Alimenta-se corretamente, faz caminhadas e até se casou novamente. E isso já há 15 anos.

Gleisson Roberto Schmidt
Curitiba, PR – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
gleisson.schmidt@gmail.com
www.ielb.org.br

 


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