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VIGÉSIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 22 de Outubro de 2006 |
2 Então se aproximaram dele alguns fariseus e, para o experimentarem, lhe perguntaram: É lícito ao homem repudiar sua mulher? O ESTADO DO SANTO MATRIMÔNIO 1 - Introdução Recentemente chegou ao gabinete pastoral de uma de nossas congregações um jovem casal. Ambos estavam sorridentes. O propósito deles era marcar a data e combinar com o pastor alguns detalhes da cerimônia de seu casamento. Após as usuais perguntas preliminares, o casal, um tanto hesitante, pediu ao pastor se ele poderia assegurar-lhes o privilégio de duas coisas. Uma delas vinha da perspectiva do noivo, e a outra, da parte da noiva. O noivo pediu que as palavras “até que a morte os separe” fossem omitidas da cerimônia de casamento. A noiva pediu para que o pastor omitisse da cerimônia a palavra “submissa”. Ah! Sim, eles já tinham dialogado profundamente sobre o assunto, e esse era o desejo de ambos. De acordo com a maneira de pensar deles, a omissão dessas palavras não iria comprometer a contínua fidelidade de cada um, pois cada qual sentia que o amor de um para com o outro era o selo de garantia da união deles. Além de estarem convencidos que não havia uma causa justa para fazer tal promessa, eles ainda argumentaram que ninguém poderia comprometer-se com uma promessa para a vida inteira. O pedido dos noivos estava baseado na idéia humana de que se o casamento demanda o relacionamento de um perfeito companheirismo baseado no amor mútuo, então não deveria incluir uma promessa de “obediência” como pré-requisito do matrimônio. Qual não foi a surpresa do casal diante da forma decisiva com que o pastor envolvido na questão recusou-se, por razões de consciência, a oficiar a cerimônia do casamento deles. Exigências ou pedidos como as desse casal, bem como perguntas como as que foram feitas a Jesus em nosso Evangelho pelos fariseus, demonstram um conceito completamente errôneo e denotam a leviandade com que a instituição do casamento e da família é tratada. 2 - A divina instituição Quando duas pessoas decidem que elas vão casar-se, isto ainda não estabelece toda questão. Se o matrimônio não envolvesse mais do que um mero relacionamento humano, sujeito também apenas a leis que atendem conveniências, interesses e desejos humanos, então, aquele pastor bem poderia ter realizado a cerimônia de casamento daquele jovem casal. Embora estado civil, e pertencente à jurisdição do Estado, o matrimônio é instituição divina e faz parte do plano original de Deus da criação. A vontade de Deus com relação ao matrimônio está inscrita na própria estrutura da humanidade: Deus criou os homens com a distinção dos sexos, como homem e mulher, destinando-os à união do amor. A distinção e a união dos sexos é o fundamento do matrimônio como união de amor indissolúvel, desejada e confirmada por Deus. União esta que os homens não têm o direito de desfazer ou modificar. Jesus, em nosso Evangelho, contrapõe a argumentação dos fariseus a respeito do divórcio com duas citações da Escritura que expressam esta vontade de Deus da indissolubilidade do matrimônio, “desde o princípio”. Recebendo uma proposta para discutir o divórcio (a exceção), Jesus se põe a ensinar o que é casamento segundo a vontade de Deus (a regra). 3 - A divina concretização Deus, que “desde o princípio” os fez homem e mulher, disse: “Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). Isso mostra que o matrimônio constitui-se de um vínculo mais forte do que aquele que existe entre pais e filhos. Trata-se da união de duas metades que se completam e, como que coladas, formam uma unidade completa. Mas, além do envolvimento e relacionamento humano existentes no “deixar pai e mãe” e no “unir-se à sua mulher”, é preciso ver e levar-se em conta a presença e participação divina no casamento. De acordo com a Palavra de Deus, Deus não apenas instituiu o santo matrimônio, como também é ele quem une homem e mulher neste estado. Sim, Deus concretiza o matrimônio quando promove, secretamente, no coração do casal, a livre obediência ao seu mandamento de aceitação mútua, com disposição e convicção de manter-se fiel em amor. Esta verdade e fundamento são confirmados por nosso Senhor e Salvador, ao afirmar em nosso Evangelho: “O que Deus ajuntou não o separe o homem” (v. 9), estabelecendo, ao mesmo tempo, a vitalicidade do casamento. Apenas a morte pode separar o casal que por Deus foi unido nestes sagrados laços! 4 - Os propósitos divinos Segundo a vontade do Criador, o matrimônio, esta união que se concretiza plenamente no plano físico, espiritual e emocional, tem propósitos bem claros e definidos: Um dos propósitos de Deus na instituição do matrimônio é o sadio companheirismo, pois ele próprio afirmou, ao criar o homem: “Não é bom que ele esteja só” (Gn 2.18). Deus deseja a união de homem e mulher em matrimônio, não apenas para uma mera convivência sexual, mas para perpetuar por meio dela o seu amor e a sua providência para com os homens. É nos laços matrimoniais que Deus torna visível a nós o seu amor paternal e protetor. Perpetuar a criação da raça humana – este é outro propósito do matrimônio instituído por Deus: criar e educar responsavelmente filhos. Nesta santa instituição do Criador, o relacionamento entre homem e mulher, a princípio, era perfeito. Acontecia em amor, harmonia, paz e felicidade. 5 - O desvio do propósoto divino Mas, já no início, a escolha do homem contra a perfeita criação de Deus não só corrompeu a sua existência, mas afetou também o estado matrimonial, fazendo com que o propósito original de Deus em sua vida fosse perdido. O coração humano tornara-se duro, inflexível e resistente para todo propósito divino. Desde então, por causa do pecado, que levou ao irremediável “endurecimento do coração”, marido e mulher também não vivem mais no estado de pureza e inocência. O pecado se torna evidente, especialmente, nos relacionamentos quebrados entre as pessoas, nas famílias, entre marido e mulher. O que Deus tinha destinado como uma união de amor acaba, muitas vezes, terminando na desgraça da separação e do divórcio. Hoje, diante do grande número de separações que acontecem (mais que uniões), até parece que este é o caminho normal da vida: casar para separar! Infelizmente, o conceito de casamento daquele jovem casal e dos fariseus nos dias de Cristo em nada difere da compreensão adotada por muitos outros casais de hoje. Também em nossos dias é grande a falta de compreensão a respeito dos deveres de marido e mulher. E as conseqüências estão visivelmente diante de nós: famílias desintegradas, relacionamento de pais com os filhos rompidos, matrimônios dilacerados, crianças abandonadas, adolescentes marginalizados, violência nas ruas e lares aumentando... O que, na verdade, se constata é que o matrimônio está se constituindo uma instituição a perigo, o que nos leva a reforçar aquilo que Jesus disse aos fariseus: “O que Deus ajuntou, não o separe o homem!” “Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério!” E o apóstolo Paulo deixa claro (1 Co 6.9) que os adúlteros não herdarão o reino de Deus. O que devem fazer aqueles que fizeram do seu casamento uma aventura? Aqueles que entraram neste relacionamento de forma irrefletida e leviana, e nele se surpreenderam com uma relação de miséria e desgraça? Buscar a solução dos problemas através da separação e do divórcio? É o que os fariseus queriam, mas Jesus confirma a regra: o casamento. Casamento indissolúvel, enquanto ambos viverem. Jesus diz que o divórcio foi permitido não por causa da incompatibilidade, da incompreensão e falta de amor, mas, sim, pelo domínio do pecado que chegou a ponto de não permitir a convivência com alguém livremente escolhido e a quem se prometeu, perante Deus, de viver ao seu lado durante toda a vida. Sendo assim, o divórcio é pecado. Pecado que pode levar à condenação eterna, se não houver arrependimento sincero. 6 - A restauração do propósoto divino Graças a Deus, porém, em tempo, o Criador promete e restaura, em Cristo, as condições para uma vida matrimonial e familiar condizente aos seus mais altos propósitos. Em Cristo, Deus restaura a integridade do homem e constrói, outra vez, um relacionamento familiar, fortalecendo, pelo amor, principalmente os laços do matrimônio. Se você, que se deixou dominar pelo pecado, buscou como saída o divórcio, para evitar pecados maiores, como a destruição mútua, saiba que, assim como todos os outros pecados, o divórcio também é perdoado por Deus quando confessado e solicitado o perdão de Deus. Ao mesmo tempo em que se pede perdão a Deus, deve-se perdoar e pedir perdão para o ex-cônjuge. Mesmo estando separado fisicamente neste mundo, o “ex” continua sendo meu próximo, que merece o meu amor como irmão/irmã, ainda mais quando ambos forem membros da mesma igreja. Homem e mulher, mesmo imperfeitos, sim, pecadores, como discípulos de Jesus, observam as prescrições do Mestre, e vivem do perdão! Em todos os tipos de relacionamentos, mas principalmente no matrimônio, deve reinar a compreensão, o amor e o perdão. Os erros devem ser perdoados e um deve amparar e ajudar ao outro para que possam viver juntos e serem felizes até que a morte os separe. Grande parte dos problemas da humanidade reside no fato de como as pessoas encaram o casamento. Homem e mulher, mesmo imperfeitos, sim, pecadores, como discípulos de Jesus, seguem o Mestre; olham para a sua cruz; e, vivem do seu perdão, perdoam os erros um do outro, amparam-se e ajudam-se mutuamente para que possam viver juntos e serem felizes até que a morte os separe. Que seja uma grande alegria para todos ao verem que a igreja e os pastores permanecem fiéis nos conceitos e preceitos de Deus. Queira Deus também, por seu amor e graça, conceder que cada cristão, casado ou solteiro, honre este santo estado, colocando no seu coração o desejo de mantê-lo santo, para que no momento em que Deus nos chamar e nos separar dos vivos, possamos participar das bodas de seu Filho na glória celestial. Amém. Pastor José André Schwanke
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