Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Reforma Luterana – 29/31 de Outubro de 2006
Texto livre: Salmo 4 – Adilson D. Schünke
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


SEGURANÇA DA REFORMA

Salmo 4.8: Em paz me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.

O homem, em todos os tempos, sente a necessidade de segurança. A própria vida religiosa começa com essa necessidade elementar. O sentir-se seguro explica a obediência sistemática a certas regras e leis a que as pessoas se submetem sem questionar. O indivíduo não pode fazer isso ou aquilo, e deve cumprir isso ou aquilo. Quantos cristãos "navegam por essas águas", acreditando que Deus organiza uma espécie de contabilidade, anotando cuidadosamente todas as boas ações e também os escorregões de cada um. No fim da vida, acredita-se, a pessoa poderá sentir-se segura porque Deus vai reconhecer o esforço dela e ela vai "merecer" a salvação.

Desde os primeiros tempos do cristianismo pode-se verificar a existência de tal mentalidade na vida da igreja. Paulo protestou com muita veemência, assegurando que o cristão não pode construir garantias para a eternidade, como quem possui uma caderneta de poupança mediante a qual vai poupando na caixa econômica celestial. Tudo o que Deus faz pelo homem, Ele o faz por graça e de graça. É uma perversão ensinar que o homem pode construir garantias para a eternidade, quando a Palavra de Deus ensina algo diferente.

1500 anos depois, esta idéia renasceu com muita força dentro da igreja cristã – a idéia de que a gente pode comprar o perdão e garantir a eternidade com um pouco de caridade. Quem então se levantou foi Martinho Lutero. Ele protestou em nome do Evangelho de Jesus Cristo, repetindo os argumentos de Paulo. E foi este protesto que desencadeou todo aquele processo de mudança que nós conhecemos como Reforma Luterana.

Na verdade, a Reforma começou através de alguém que realmente "sentiu na carne" o que foi executar, cumprir e realizar todas as obrigações da igreja, e nem assim, conseguir a tão sonhada e buscada paz de espírito e segurança. Foi longa e penosa a caminhada de Lutero para descobrir que o cristão não pode construir suas garantias e seguranças. Deus é o autor. Deus tem a iniciativa. Ele perdoa, Ele nos aceita, Ele nos busca.

Foi dura e penosa a caminhada de Lutero para descobrir que mesmo uma vida exemplar não representa coisa alguma. Mesmo uma doutrina correta não pode dar segurança. A Igreja, o Batismo, a Santa Ceia, a Bíblia como Palavra de Deus são sinais da presença de Deus, por si só não são garantias de nada. Quem pensa que ser proprietário de um belo exemplar da Bíblia na prateleira da casa é sinal de garantia de alguma coisa, está enganado! Experimente e verá com ficará confuso e cheio de dúvidas.

Nossa única segurança, nossa única, só pode ser o Senhor - só pode ser o Deus que aprendemos a conhecer por meio de Jesus. Quer dizer, a segurança tão almejada é uma coisa dada. A segurança e garantia só podem vir de fora. Como diz o salmista, verdadeira segurança é quando alguém deita e logo adormece - pois está seguro e tranqüilo. Quem sabe, quantas noites Lutero precisou ficar acordado, enfrentando a insegurança espiritual para que nós, hoje, pudéssemos deitar e logo adormecer ao saborearmos a segurança dada por Deus em Cristo Jesus.

Lutero pôde falar, ensinar e pregar porque ele viveu, sobretudo, a falta de segurança e garantias. Conhecendo a história de Lutero, reconhecemos como ele precisou viver sem nenhuma outra segurança senão aquela que o seu Deus proporcionava a ele. Foi excomungado, considerado proscrito (qualquer que o encontrasse, poderia matá-lo). Sob a ameaça de autoridades civis e religiosas de seu tempo, sob o medo de inimigos infiltrados em seu meio de vida, sem direito de justiça, sem garantias de espécie alguma, Lutero viveu e começou a Reforma da Igreja.

Não, não estamos aqui para idolatrar Lutero. Ele não é o nosso Senhor, nem nosso Salvador. Mas ele apresenta para nós um modelo de onde podemos encontrar verdadeira segurança e garantia. Numa época, em que cada vez mais, as nações poderosas do nosso tempo discutem a questão da segurança mundial, principalmente quando as expectativas deste milênio misturadas a crendices e pseudo-profecias apocalípticas criam em nossa gente um interesse cada vez maior e uma busca mais incessante por respostas a questões que, na verdade, tem a haver com a segurança e garantia do ser humano.

Enquanto problemas políticos nos fazem desacreditar no poder público, podendo até ser legítimas nossas preocupações quanto ao futuro – como cristãos não podemos permitir que estas preocupações tomem conta de nossa vida pessoal. Pois é exatamente o que temos constatado na vida humana nestes tempos: a angústia, o medo, a insegurança, a busca frenética e desenfreada de garantias, terminam quase sempre em frustração profunda, quando se verifica que nada está garantido nesta vida. A garantia que buscamos é algo dado, oferecido, é Dom. Procede de Deus. É ato do amor e da iniciativa de Deus. Pressupõe compromisso sério com Deus. Pressupõe certeza nas palavras e promessas do Pai, pressupõe confiança irrestrita naquilo que Cristo realizou.

A reforma de Lutero, antes de tudo, é uma amostra, uma lição de vida para uma pessoa que desiste das falsas garantias e seguranças deste mundo. A reforma de Lutero nos lembra que nossa segurança vem de Deus, como diz aquele hino sacro: "Que segurança, sou de Jesus"; que o salmista estava com toda a razão quando garantiu: Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais Ele fará. E quando isso realmente ocorre com você, então se tornam pura realidade as palavras do salmista: Em paz me deito e logo pego no sono, porque a segurança de meu repouso vem só de ti.

Conclusão

A Reforma Luterana tem este mérito: mostrar às pessoas onde podemos encontrar a verdadeira segurança e tranqüilidade e incentivá-las, ao mesmo tempo, a abandonarem as falsas idéias e buscas.

A Reforma de Lutero possibilitou que pudéssemos reclinar a cabeça no travesseiro à noite e descansar na segurança e garantia da misericórdia de Deus. Quando você desiste das falsas seguranças, então você perceberá como Deus estende a sua mão protetora. E assim aprendemos que todas as outras coisas são secundárias, quando as olhamos do ponto de vista da garantia e misericórdia dadas por Deus em Cristo Jesus. Amém.

(Adaptado de sermão em sala de aula pelo professor Arnaldo J. Schmidt)

Adilson D. Schünke – Coordenador do PEM
Porto Alegre – RS – Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
adilson@ielb.org.br
www.ielb.org.br

 

 


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