Göttinger Predigten im Internet
ed. by U. Nembach, J. Neukirch, C. Dinkel, I. Karle

Sexto Domingo após Epifania – 11 de fevereiro de 2007
1 Coríntios 15:16-20 – Horst R. Kuchenbecker
(Sermões atuais: www.predigten.uni-goettingen.de)


Após o texto do sermão sobre o Evangelho, há comentários sobre as demais leituras do domingo.

Sob a graça de Deus, queremos meditar hoje sobre uma palavra que encontramos na epístola para este domingo, 1 Coríntios 15, versículo 19: Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. Deus abençoe esta palavra em nossos corações.

Qual é a Esperança Cristã?

O que esperamos de Deus em nossa vida? Qual é a expectativa ao abraçarmos a fé cristã, filiando-nos a uma congregação cristã? Permitam-me citar alguns fatos da vida real. Uma família, muito cristã, se preparava para viajar. Antes de partirem, fizeram sua oração, pedindo a proteção de Deus. Mas a viagem terminou mal. Eles acidentaram. Um deles ficou muito ferido e teve que ser hospitalizado. Eles estavam visivelmente consternados. Mas apesar de todas as dúvidas, dos por quês, que vêm à mente, eles não desesperaram. Consolavam-se mutuamente, dizendo um ao outro: Não compreendemos os caminhos de Deus, mas sabemos que todas as coisas cooperam para o bem dos que temem e amam a Deus. (Romanos 8.28).

Numa outra família, nominalmente cristã, mas não apegada nem à leitura da Bíblia nem à sua congregação, uma pessoa adoeceu. O médico informou aos familiares da gravidade da doença. Eles ficaram apavorados. Clamaram a Deus. Voltaram para a congregação e pediram que orassem por eles. A congregação orou. Mas, após algumas semanas de muito sofrimento, a pessoa veio a faleceu. Desesperados e revoltados, os familiares disseram: “Não acreditamos mais em nada.”

Tentamos orientá-los com a palavra de Deus. Em vão. Um deles me levou para a janela do apartamento e apontou para um terreno baldio. Ali se encontravam duas pessoas, abrigadas sob uma lona. Então a pessoa me disse: Por que Deus sustenta e dá saúde a estes vagabundos e não ouviu nossos clamores, tirando a vida de nosso familiar, uma pessoa boa e útil à sociedade? Eis uma questão muito difícil de ser respondida. Na verdade não temos resposta. São os caminhos inescrutáveis de Deus. Por que Deus permitiu que o jovem Estevão fosse apedrejado por causa da confissão de sua fé? Porque Jesus permitiu que seu próprio irmão Tiago, bispo em Jerusalém fosse decapitado, enquanto a Pedro, Deus o tirou milagrosamente da prisão? Por que muitos fiéis levam uma vida sofrida e difícil, enquanto que pessoas ímpias vão de bem a melhor?

O rei Davi que se defrontou com esta pergunta e escreveu a respeito no salmo 73, onde ele afirma: Não encontrei resposta, até que abri a Bíblia e atinei para o fim dos ímpios, então pude compreender um pouco do por quê Deus amarga, muitas vezes, a vida de seus filhos aqui na terra. Isto para que não amem este mundo e venham a perder sua fé.

É importante lembrar que Deus não prometeu aos fiéis o céu na terra. Ele disse: No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo eu venci o mundo. Jesus não veio para melhorar o mundo, para dar aos homens uma vida com mais saúde, felicidade, e mais justiça, como muitos apregoam. Não. Ele veio para nos salvar o que estava perdido. Ele veio nos salvar de nossos verdadeiros inimigos, do pecado, da morte e do poder de Satanás. Por isso ele mesmo sofreu a morte de cruz. E por sua obediência à lei, por sua paixão e morte, Jesus nos conquistou perdão dos pecados, a volta a uma vida em comunhão com Deus e a esperança da vida eterna.

Por isso afirma o apóstolo Paulo: Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a essa vida, somos os mais infelizes de todos os homens. Mas a nossa esperança em Cristo não se limita apenas a esta vida, nos aguardamos novo céu e nova terra. E dentro desta esperança temos a certeza de que Deus cuida também das coisas materiais de seus filhos. Pois ele disse: Não cai um cabelo de nossa cabeça, sem a sua permissão. E tudo o que nos aflige podemos apresentar em oração e ele, certos de que Deus nos ouve e atende. Mas em tudo dizemos seja feita a tua vontade. E se Deus permitir que tudo nos seja roubado, os bens, a família e a vida, dizemos: Que tudo se vá, proveito não lhe dá, os céus nos são deixados. (HL 165) Porque a nossa esperança em Cristo é a vitória sobre o pecado, a morte e Satanás e olhar para a eternidade, o novo céu e a nova terra. Assim confessamos no Credo Apostólico: Creio na remissão dos pecados, na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém.

Comentários sobre as demais leituras do domingo

 Salmo 1 – A diferença entre justos e ímpios. A humanidade está dividida em discípulos de Cristo e ímpios; os que crêem na graça de Cristo e os que não crêem; os que seguem e servem a Cristo e os que seguem e servem a outros deuses. A cristandade, por sua vez, e com isso cada congregação, se divide ainda em verdadeiros crentes e hipócritas. (Mt 13.47-50)

Bem-aventurados os justos! Quem são eles? Todos os que arrependidos crêem na graça de Cristo, que pela fé em Cristo são declarados perdoados, justos. Como posso reconhecê-los? Está fé no coração não podemos ver, só Deus conhece os que lhe pertencem. (2 Tm 2.19) Eles vivem no meio do povo. Eles próprios têm princípios que norteiam suas vidas.

1. Eles não andam no conselho dos ímpios. Ímpios são aqueles que desprezam a palavra de Deus e seguem somente seus desejos carnais, sua razão corrompida pelo pecado. Os cristãos também têm ainda sua natureza carnal, mas eles, conforme o conselho do apóstolo Paulo, apresentam seus corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Eles se orientam pela palavra de Deus, que os transforma, e assim experimentam a boa agradável e perfeita vontade de Deus. (Rm 12.1,2)

2. Eles não se detém nos caminhos dos pecadores . Eles vivem no meio de um mundo que jaz nas trevas do pecado, num mundo ímpio, que os convida e puxa para o caminho do pecado, mas eles resistem. Eles não têm prazer no pecado. O seu prazer está na lei do Senhor. (Sl 119.92)

3. Eles não se assentam na roda dos escarnecedores . Em nossos dias, a maior roda dos escarnecedores, é, sem dúvida, a televisão. Os discípulos de Cristo não se assentam diante da televisão para se alegrarem com toda a imundície e zombaria que está ali. A televisão, esta maravilha, em si, não é o mal. Mas o mal se vale da televisão e, na verdade, bons programas são poucos. Os discípulos de Cristo têm prazer em ler, meditar e aplicar a si a palavra de Deus e falar dela. Pois a palavra de Deus é sua fonte de vida e de força. Nisso são como uma árvore plantada junto a um riacho, que é forte, porque não lhe falta a água, que resiste às tempestades e secas. Assim são os filhos de Deus. Estão firmados na palavra de Deus. São consolados em tempo de crises, têm forças para resistir nos momentos de tempestades. Eles sabem que Deus governa e que tudo coopera para o bem dos que temem e amam a Deus. Eles cantam com o poeta sacro: Entrego o meu destino ao Criador divino, que tudo pode e faz; só ele pode dar-me saúde e contentar-me do modo que melhor lhe apraz. (HL 429.1)

4. Os ímpios não são assim; são como a palha que o vento dispersa. Eles não prevalecem no juízo. Observe uma colheitadeira na hora da colheita. A planta é ceifada. O grão separado da palha e guardado, enquanto que a palha é triturada e jogada ao vento que a espalha. Assim são os ímpios. No dia do juízo serão jogados e lançados no fogo eterno, enquanto os fiéis serão recolhidos ao celeiro celestial, para a vida terna (Fp 3.17-21). Você faz parte de que grupo?

Jeremias 17.5-8. O profeta denuncia a falta de confiança em Deus.

O profeta Jeremias teve que denunciar os graves pecados de Israel. Eles apartaram seu coração de Deus e confiaram na sua inteligência e força. Quando viram que as coisas iam de mal a pior, buscaram refúgio em ídolos, na sua angústia e desespero sacrificaram seus próprios filhos a Baal. Pelo profeta, Deus os chamou de volta, mas eles não deram ouvidos a Deus. O profeta teve que dizer-lhes: Por ti mesmo te privaste da tua herança. (v.4) Por seus pecados e sua idolatria eles próprios acenderam o fogo da ira de Deus que virá sobre eles. (v.4)

No seu desespero diante do inimigo, o rei Nabucodonosor, eles não se voltaram a Deus, mas buscaram refúgio e auxílio do rei do Egito. O profeta teve que dizer-lhes: Maldito o homem que confia no homem, fez da carne moral o seu braço, e aparte o seu coração do Senhor! (v.5)

Como estamos hoje? O que leva hoje, especialmente os nossos jovens a apartarem seus corações de Deus? Com tristeza vemos que muitos jovens ao entrarem na Universidade, fascinados pela saber humano, apartam seus corações de Deus. Outros se deixam fascinar pelas riquezas ou prazeres deste mundo. Confiam em si, em sua inteligência, em sua força. E quando seus planos não se concretizam por causa de doenças, desastres, prejuízos econômicos, desesperam. Então vem a tona o que o profeta afirma: Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? (v.9)

Corajosamente o profeta destaca a verdade: Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas. (v.7,8) Ele não desespera. Ele tem consolo e esperança. Ele é capaz de consolar e orientar os outros (frutos da fé).

Lucas 6.17-26. (cf.: Mt 5.1-12) O sermão do Monte, as bem-aventuranças. Jesus tinha escolhido seus discípulos. Após isso, naquela noite, subiu ao monte para orar. Ao descer do monte encontrou ao pé do monte uma grande multidão, que trouxeram seus doentes, e ali estavam também muitos de seus discípulos. Em primeiro lugar Jesus curou os doentes. Depois se sentou, chamou seus discípulos para mais perto de si e começou a ensinar. Seu ensino dirigiu-se especialmente a seus discípulos. O sermão do monte é pregação da lei, da lei no seu terceiro uso, que orienta a vida dos discípulos. Este sermão não responde a pergunta: Como posso ser salvo, ou como posso vir a ser um discípulo de Cristo. Aqui, neste sermão do monte, Jesus se dirige àqueles que já são seus discípulos, que já renasceram e crêem na graça de Cristo, que já conhecem o caminho para o céu. A estes ele mostra agora como devem se comportar como peregrinos e forasteiros neste mundo, como devem viver, lutar, tomar sua cruz e seguir a Jesus.

Este sermão começa com as bem-aventuranças, um sermão sobre as boas obras, como frutos da fé. Jesus lembra a seus discípulos de que estão num mundo que lhes é hostil. Mostra-lhes o grande alvo que nunca devem perder de vista. Eles são salvos sem as obras da lei, somente pela fé, mas a fé necessariamente produz boas obras.

1. Bem-aventurados vos, os pobres. (v. 20) Jesus fala a seus discípulos. A maioria deles são pobres. Poucos ricos são chamados (Mt 19.23) O que é um pobre? Alguém que não tem nada, que depende da compaixão de outrem. Os discípulos de Cristo sabem-se pobres e indignos, especialmente, diante do Filho de Deus, a quem suplicam por misericórdia. A eles pertence o reino dos céus com todos os seus tesouros.

2. Bem-aventurados os que choram (Mt 5.4) Uma tradução mais precisa é: Felizes os infelizes. A que infelizes Jesus se refere? Jesus está falando da tristeza que o Espírito Santo gera ( Co 7.10). Os discípulos reconhecem a verdadeira causa de toda a tristeza que é o pecado. Eles choram sobre seus próprios pecados e os pecados no mundo. Choram em diário arrependimento e suplicam por misericórdia (Es 9.6-15) Deus os consola com a graça de Cristo, o perdão dos pecados e a esperança do novo céu e da nova terra, na qual habita a justiça.

3. Bem-aventurados os manos. (Mt 5.5) Manso é o contrário de explosivo, egocêntrico, cobiçoso, vingativo. Os que brigam pelas coisas efêmeras da vida como honra e bens materiais. Os discípulos de Jesus aprendem com Jesus, que é manso. (Mt 11.9) Buscam a paz. Por amor à paz sabem abrir mão de seus direitos, só não abrem mão da palavra de Deus. São gentios e amáveis até com seus inimigos. Sabem que são herdeiros do céu e que tudo lhes pertence.

4. Bem-aventurados os que têm sede e fome de justiça (Mt 5.6) Os discípulos de Cristo sabem que tudo o que fazem, mesmo suas melhores obras estão manchados de pecado, por isso anseiam por justiça. Pelo evangelho e sacramentos são fartos de justiça, a saber, do perdão dos pecados. Mas aqui Jesus não está falando da justiça que precisamos para subsistir diante de Deus, mas da justiça civil, da vida santificada. Os cristãos têm fome e sede pela justiça de vida. Por isso lutam por sua própria vida santificada e também por justiça ao derredor deles. Buscam forças para isso pelo meditar na palavra de Deus e pela oração. Eles oram: Vem Senhor Jesus! Anseiam pelo novo céu e a nova terra, onde habita justiça (2 Pe 3.13). Eles têm certeza de que herdarão o céu pela graça de Cristo.

5. Bem-aventurados os misericordiosos (Mt 5.7) Misericórdia (do latim: miseri – cordia), um coração aberto para a miséria do próximo. Eles receberam e recebem diariamente a misericórdia de Deus e esta os governa para terem um coração aberto para a miséria dos outros. Jesus disse: Sede misericordiosos como é misericordioso o vosso Pai celestial (Lc 6.36). Os cristãos se sacrificam em favor do próximo, e sabem que no Senhor o seu trabalho não é vã. (1 Co 15.55)

6. Bem-aventurados os limpos de coração (Mt 5.8) Quem são os limpos de coração? Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém! (Jo 14.4; Gl 8.21) Isto vale também de nós cristãos. Temos ainda nossa natureza carnal. Mas o sangue de Cristo nos purifica de todos os nossos pecados. (1 Jo 1.7) Por isso Jesus disse a seus discípulos: Vós estais limpos pela palavra que vos tenho falado. (Jo 5.2) E nós suplicamos diariamente: Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim espírito reto (Sl 51.10) Os discípulos de Cristo crucificam diariamente a carne com suas paixões e concupiscências (Ef 5.24) Eles têm certeza de que verão a Deus como Pai e herdarão a vida eterna.

7. Bem-aventurados os pacificadores (Mt 5.9) Grande é o anseio por paz. Que excelente qualidade a de pacificador. Aquele que consegue reunir e conciliar, pacificar pessoas, famílias, grupos e nações em conflito e intermediar a paz. A maior guerra que se trava neste mundo, não é a guerra material; pois nossa luta não é contra carne e sangue, e, sim, contras os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças do mal, nas regiões celestiais. (Ef 6.12) Eles foram vencidos por Cristo. (2 Co 5.19,20) Mesmo vencidos, eles têm uma pequena liberdade até o dia do juízo final. Procuram agora por todos os meios afrontar o reino de Cristo. Cabe-nos lutar. Esta luta á árdua. Mas Cristo tem tudo sob o seu controle. Eles não podem ir além do que Cristo lhes permite. O quanto estiver em vós, tende paz uns com os outros (Rm 12.18). Os cristãos, como filhos de Deus, são os verdadeiros mensageiros da paz.

8. Bem-aventurados os perseguidos (Mt 5.10,11) Pela fé na graça de Cristo, somos filhos de Deus, membros do reino de Deus. Mas como filho da luz, em meio às trevas deste mundo, somos considerados e tidos como perturbadores da paz e odiados pelo mundo. Jesus disse a seus discípulos: Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vocês, me odiaram a mim (Jo 15.18,19) Nós vivemos aqui em relativa paz externa, mas Satanás guerreia violentamente contra a igreja de Cristo e procura especialmente desviar da fé nossas crianças e nossos jovens. Basta que testemunhemos corajosamente de Cristo e imediatamente sentimos o ódio do mundo. Isto é sinal de que somos filhos de Deus e herdeiros do céu.

Conclusão. As bem-aventuranças nos orientam na vida cristã. Reconhecemos o quanto somos fracos. Suplicamos diariamente a Jesus por perdão e força. Só em Cristo há perdão, vida e eterna salvação.

Rev. Horst R. Kuchenbecker
São Leopoldo, RS, Brasil
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
horstkuchenbecker@gmail.com
www.ielb.org.br

 


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