Göttinger Predigten

Choose your language:
deutsch English español
português dansk

Startseite

Aktuelle Predigten

Archiv

Besondere Gelegenheiten

Suche

Links

Konzeption

Unsere Autoren weltweit

Kontakt
ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

4º Domingo após Pentecostes, 08.06.2008

Predigt zu Mateus 9:9-13, verfasst von Gottfried Brakemeier

Prezadas irmãs e irmãos!

Ninguém gosta de pagar imposto, ainda mais quando a carga tributária é excessiva como é o caso em nosso País. Imposto parece ser uma forma sutil de roubo, de exploração, a que a gente resiste. Daí porque é comum a sonegação. Quem assim pensa, na verdade, está errado. Pois em princípio o imposto é um pagamento justo. É a contribuição para o bem comum, para a coletividade, a fim de o governo poder cumprir suas obrigações na segurança pública, na saúde, na educação, enfim no que se chama "infra-estrutura" de uma sociedade. A oposição ao imposto se deve antes à desconfiança do mau uso das verbas públicas, do desperdício, da distribuição injusta dos encargos sociais, do excesso de cobrança. De fato, é preciso ficar de olho aberto para controlar os gastos. Trata-se não só de um direito como também de um dever do cidadão e da cidadã. Mas o imposto como tal é nada injusto. É uma necessidade social.

O texto da prédica para o domingo de hoje fala de um "coletor de impostos", respectivamente de um "publicano" como também são chamados. Seu nome é Mateus. O evangelista Marcos lhe dá o nome Levi. A diferença é irrelevante. Certo é que se trata da mesma pessoa. Esse Mateus / Levi está sentado aí na coletoria, exercendo sua função. Ele o faz a serviço da autoridade romana que havia arrendado a arrecadação dos impostos a pessoas dentre os próprios judeus. Zaqueu, de quem nos fala o evangelista Lucas no capítulo 19, é um deles. Ele é um "arqui-publicano", um chefe entre os coletores de impostos. Estes costumavam por sua vez empregar gente para fazer o trabalho. Pelo que parece Mateus é um desses "subempregados", um pequeno entre os grandes. Mesmo assim, é pessoa de posse. Logo mais vai hospedar Jesus em sua casa.

Coletores de impostos eram pessoas antipáticas. Não só por causa do imposto que cobravam, como também pelas fraudes que cometiam. Extorquiam as pessoas, exageravam nos valores cobrados, desviavam dinheiro para o próprio bolso. Aos olhos dos fariseus eles são "pecadores", pessoas de má fama, com as quais a gente não se mete. Hoje a coleta de impostos é feita de outra maneira. Na maioria dos casos os tributos estão embutidos, como no caso do ICMS, por exemplo, o "imposto sobre a circulação de mercadorias". É espantosa a carga tributária do povo brasileiro. Sobre tudo incide imposto. Mas a função de "publicano" não mais existe. "Coletor de impostos", isto já não é profissão como antigamente. É uma atividade praticamente extinta. Máquinas assumiram o serviço. E, no entanto, o que existe é, isto sim, gente que se aproveita do cargo que ocupam para angariar fundos pessoais, para abastecer suas contas privadas, para enriquecer ilicitamente. Sempre de novo ouvimos de escândalos, de "superfaturamento", de golpes contra o patrimônio público. A corrupção é um dos grandes males da atualidade, sim, da sociedade brasileira em especial. Mateus é um corrupto, um gatuno, um ladrão.

A esse sujeito Jesus diz: "Venha comigo! Siga-me." E Mateus se levantou e foi com ele. Que surpresa! Isto significou uma radical mudança para aquele homem. Pois Jesus não tolera que, em sua companhia, alguém continue sendo ladrão. Quem quer integrar o grupo de seus discípulos assume um compromisso com a vontade de Deus. E esta diz, entre outras coisas: "Você não deve roubar!" Ninguém sabe explicar essa súbita mudança na vida de Mateus. Mas ela aconteceu. Um milagre! Talvez o chamado de Jesus fosse tão poderoso que Mateus não conseguiu resistir. Ou então estava cansado do exercício de sua atividade incômoda. Nós não o sabemos. Seja como for, o caso ensina: Gente corrupta pode converter-se, graças a Deus. Talvez milagres como esse aconteçam ainda hoje. Então, será possível vencer o cancro da corrupção em nosso País? O texto para este domingo renova a nossa esperança.

O método de Jesus, porém, irrita. Os fariseus, pessoas de bem, o criticam. Como Jesus pode misturar-se a essa gente? Ele aceita o convite do coletor de impostos para jantar em sua casa. E aí chegam os companheiros, os amigos de Mateus, gente igualmente mal vista, e tudo parece ser uma grande festa. Ora, isto é cumplicidade com o pecado. Jesus valoriza esse pessoal, o que só pode significar que aprova a sua safadeza. Assim não dá! Ele deveria ter mantido distância, denunciado o crime, manifestado seu repúdio. Em vez disso, Jesus concede a sua companhia, abraça essa gente, come com eles. Para os fariseus não é este o jeito de corrigir o mundo. Muito pelo contrário: Os malfeitores devem ser combatidos, excluídos, condenados. Para tais pessoas não há lugar numa sociedade de direito e muito menos na comunidade de Deus. O procedimento de Jesus, aos olhos dos fariseus, é um escândalo.

Mas Jesus bem sabe o que está fazendo. Que ele estaria apoiando o pecado é um grande mal entendido. Jesus não deixa sombra de dúvida quanto ao que pensa com relação à corrupção, à fraude, ao roubo. São graves enfermidades, doenças horríveis, chagas que necessitam de cura. "Os que têm saúde não necessitam de médico, mas sim os doentes." Assim Jesus se defende. Indiretamente dá a entender que se considera a si mesmo um médico, muito em conformidade com o que o Antigo Testamento, no livro do Êxodo (15.26), diz com respeito a Deus nos termos: "Eu sou o Senhor, teu médico!" Jesus veio para curar. Isto não só em termos fisiológicos. Ele curou não somente leprosos, paralíticos, cegos e outros. Não, também corrupção, ladroeira, exploração são doenças muito graves que necessitam de terapia. Não são doenças físicas, são doenças sociais que afetam não o organismo humano, e, sim, o corpo da sociedade. Mas seus efeitos não são menos desastrosos. 

Isto significa que Jesus não exclui os coletores dos impostos do grupo de seus pacientes. Distingue-se nisso dos fariseus. Estes já excomungaram os publicanos, já os condenaram, nada querem ter a ver com eles. Eles os consideram "perdidos", casos sem esperança, sem chance de recuperação. Ora, também Jesus desaprova o pecado dos maus. Ele não o legitima. Mas ele não quebra as relações com eles. Permanece em contato com eles, sim, vai ao encontro deles, procura o perdido. Não sei como Jesus conseguiu converter aquele Mateus. Pessoas corruptas necessitam por vezes de um forte puxão de orelhas, devem ser punidas, devem ser corrigidas. Vai depender. Mas é preciso manter o contato, respeitá-las como pessoas, chamá-las ao seguimento de Cristo. Pessoas como Mateus precisam de médico, sendo que o remédio certamente nem sempre poderá ser o mesmo.  De qualquer maneira, o deplorável quadro de corrupção em nosso País tem necessidade de um urgente tratamento intensivo.    

Mas Jesus acha que a mera crítica não resolve o problema. A dureza dos fariseus que apelam ao rigor da lei para disciplinar os malfeitores, não vai atingir os objetivos. A lei é muito importante, sim. Nós precisamos dela para organizar a sociedade. Mas a lei, por si só, não muda mentalidades. Precisamos em nosso país de um novo Espírito, uma nova maneira de pensar, uma nova maneira de agir. E me parece que foi isto o que aconteceu no caso de Mateus. No encontro com Jesus ele aprendeu a pensar de outra maneira. Ele aprendeu amor, consideração aos direitos dos outros, arrependeu-se de seu pecado. E é isto o que importa. Enquanto a cabeça das pessoas não muda, a sua conduta também não muda.

Nesse contexto Jesus lembra uma passagem do Antigo Testamento. Falando em nome de Deus o profeta Oséias disse: "Eu quero que as pessoas sejam bondosas e não que ofereçam sacrifícios de animais." Deus quer misericórdia o que vale muito mais do que todos os sacrifícios. Isto se aplica em primeiro lugar aos corruptos, a exemplo de Mateus. Sua corrupção prejudica seus semelhantes, causa danos à economia de um Estado, é um ato de desamor e até mesmo de violência. As falcatruas, as fraudes, a extorsão e outros delitos semelhantes demonstram absoluta falta de amor às vítimas que criam. Misericórdia vale mais do que sucesso profissional, mais do que inteligência, mais do que propriedade. Mas também os fariseus têm o que aprender. Seus juízos contundentes, sua maneira de condenar os outros e de romper as relações com as pessoas consideradas más, ferem o supremo mandamento que é o amor. Bondade é mais construtiva do que a frieza daqueles que só julgam e só criticam.

Jesus encerra a sua defesa dizendo: "Porque eu vim para chamar pecadores e não justos." Isto agora é um golpe desferido diretamente aos que, em termos de moral, se julgam superiores. Eles querem separar o joio do trigo. Desprezam as pessoas que carregam culpa, que tropeçaram na vida, que são de má fama. Também eles ou elas desconhecem misericórdia. Distanciam-se como justos dos pecadores. Ora, Jesus se sabe enviado somente a estes, não àqueles. É uma palavra muito dura. Quem se considera e se comporta como justo nada tem a esperar de Jesus. No fundo, porém, é bom que assim é. Pois quem seria a pessoa justa? Certa vez alguém perguntou a um médico: Quem é a pessoa realmente sadia? Ao que o médico respondeu: Pessoa totalmente sadia não existe. Existem somente aquelas que ainda não foram suficientemente examinadas. A mesma coisa acontece com as pessoas justas. Elas não existem. O que existe é pessoa que ainda não se examinou a si mesma como devia. Nós todos carregamos as nossas enfermidades e os nossos pecados.

Convém não iludir-se com respeito a isso. Pois a consciência das nossas próprias deficiências nos fará humildes. Ela vai nos ensinar a pedir pelo perdão dos nossos pecados, a agradecer pela misericórdia de Jesus e a perdoar uns aos outros. Ela dará inclusive olhos para ver a miséria dos outros e, em vez de roubar-lhes os últimos bens, ajudar-lhes a ganhar o pão de cada dia. Misericórdia muda o mundo. Muda as pessoas. É a "lei" de Deus. Que Deus nos ajude a acolher e a praticá-la.

Amém!  



P. Dr. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS, Brasilien
E-Mail: brakemeier@terra.com.br

(zurück zum Seitenanfang)