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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

12º Domingo após Pentecostes, 03.08.2008

Predigt zu Mateus 14:13-21, verfasst von Darci Drehmer

 

Estimados irmãos e irmãs!

Eu entendo Jesus. É o que acontece com todos, também conosco. Depois de um dia estressante, com trabalho e com tragédias, o que mais queremos é isolar-nos, esticar as pernas, cruzar os braços e descansar. O Mestre parece uma pessoa do século XXI. Está estressado. Às suas atividades normais, soma-se, agora, a notícia de uma tragédia: a morte de João Batista, decapitado por Herodes. Jesus está estressado, precisa descansar. Por isso "saiu dali num barco e foi sozinho para um lugar deserto". Aliás, Jesus não foi sozinho. Essa era sua intenção. Temos que corrigir: "queria ir sozinho". A multidão não deu trégua. Precisava dele para curar seus doentes.

Essa é a razão pela qual as pessoas o procuram. Não o procuram, em primeiro lugar, para ver o milagre da multiplicação dos pães. Esse é, em princípio, apenas um fato periférico, dado pelas circunstâncias do momento e do local - era tarde e o lugar era deserto - mas que acaba se tornando o centro do texto. O foco é mudado no decorrer dos fatos.

Soube-se, depois, que "os que comeram foram quase cinco mil homens, sem contar as mulheres e as crianças". Era gente que não acabava mais. Haja comida para tantos estômagos famintos! A preocupação dos discípulos era legítima. Como bons assessores recomendam: "Mande essa gente embora, a fim de que vão aos povoados e comprem alguma coisa para comer". Jesus muda o foco: "Eles não precisam ir embora. Dêem vocês mesmos comida a eles". Quero destacar três aspectos importantes:

1. Jesus não descansa enquanto a missão não está cumprida.

Ele foi enviado ao mundo para instaurar o Reino de Deus. Reino de Deus não é uma doutrina ou uma teoria que aponta para depois da morte, mas são fatos concretos que se manifestam no nosso chão, na nossa história, no dia-a-dia. Sinais dele tornam-se visíveis quando "os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e os pobres recebem o Evangelho", conforme o recado que Jesus manda a João Batista quando este queria saber se ele era, de fato, o Messias. Poderíamos complementar esta lista, dizendo que o Reino de Deus manifesta-se quando doentes são curados e famintos são fartos. Enquanto houver doentes e famintos, o Reino de Deus ainda não está completo. E, enquanto ele não estiver completo, a missão do Filho de Deus não terminou, e ele não descansa. E, por extensão, também os seus discípulos de todos os tempos não descansam.

Em cada comunidade acontecem sinais concretos do Reino de Deus. Quando se faz o sopão na Vila Paulo Couto, aqui em São Leopoldo, de duas em duas semanas, onde mais ou menos trezentas crianças se fartam e, quando, neste mesmo programa, crianças são instruídas a respeito de sua higiene bucal e de cuidados que devem ter com a sua saúde física e emocional, temos, aí, sinais de um mundo sadio, de um mundo "muito bom", conforme a avaliação do próprio Criador em Gênesis 1.31. São sinais, pequenos é verdade, mas sinais concretos do Reino de Deus. Cada vez que alguém tem alta do hospital da nossa cidade e volta para casa, para junto de sua família, com a saúde recuperada, acontece um sinal do Reino de Deus. E, enquanto houver doentes, sejam de que espécie forem, físicos, emocionais, espirituais, ou pessoas famintas, a missão do Filho de Deus e de seus seguidores não está cumprida, e nós não temos o direito de isolar-nos num lugar deserto, cruzar as pernas e os braços e descansar.

2. Cada momento tem sua forma de ajudar.

A multidão que procura Jesus quer ver seus doentes curados. E ele, com pena, os cura. Mesmo assim, o foco é desviado para um aspecto que é circunstancial e urgente: é tarde, o lugar é deserto e essa gente não tem o que comer. Isso é um fato novo. Não estava previsto. Como resolver o impasse? Mandar que cada um se vire por si. Essa é a sugestão dos discípulos. Não! contesta Jesus. Gente com fome não é problema de cada um, mas é coletivo. Aliás, eis aí um equívoco. Sempre pensamos que, resolvido o nosso problema particular e imediato, podemos ser felizes sozinhos. Chegamos em casa no fim de um dia estressante e nos refugiamos atrás das paredes da nossa casa, com portas e janelas guarnecidas com grades de ferro, com sistema de alarme e, de preferência, monitorado por uma empresa de segurança. Os nossos carros são guarnecidos com alarme e seguro contra roubo. E, assim, blindados com ferro e seguros, garantimos o nosso patrimônio. E o mundo lá fora, como fica?

"Mande essa gente embora", propõem os discípulos. Que cada um se vire por si! Quando o esmoleiro bate à porta da nossa casa pedindo pão, que fazemos? Nós o  mandamos embora... que vá trabalhar, não devemos dar o peixe, mas ensiná-lo a pescar... sentenciamos. Levantamos mil e um argumentos para dizer que não estamos dispostos a pensar numa solução! E, pior, não damos pão, não ensinamos a pescar, nem lhe damos anzol e caniço para que possa ganhar seu próprio sustento. E fica por isso. Planos de governo, articulados para resolver o impasse, por melhores que possam parecer, normalmente, têm segundas intenções: não querem resolver o problema do povo faminto, mal instruído e analfabeto, mas angariar votos para as próximas eleições.

Discípulos, seguidores de Jesus de todos os tempos, precisam ouvir, gostem ou não, o seu Mestre: "Dêem vocês mesmos comida a eles". Nenhum argumento conseguiu demover Jesus da sua intenção de tomar medidas concretas. Dar de comer era a exigência e a necessidade do momento. Tudo tem o seu tempo determinado. Há tempo de curar doentes, tempo de encher a panela do povo e dar de comer e tempo de ensinar a pescar e a ganhar o seu próprio sustento.

3. Com pouca comida alimenta-se uma multidão - este é o milagre!

"Só temos aqui cinco pães e dois peixes", dizem os discípulos. É como se quisessem dizer: nem queremos começar a pensar numa solução diante do pouco que temos! Jesus manda trazer o pouco que tem, pega-o olha para o céu, dá graças e o entrega aos discípulos, e estes o repassam ao povo. Simplesmente isso: dá graças, para significar que o pão que temos é dádiva de Deus. Pão que Deus dá não é para ser guardado na sacola para mofar e, depois, ser jogado no lixo. E somente a partir disso o milagre acontece: cinco pães e dois peixes alimentam mais de cinco mil pessoas, e ainda se recolhem doze cestos cheios de sobras.

É um equívoco pensar que com pouco nem adianta começar. Os poucos alimentos disponíveis não foram multiplicados antes, para serem distribuídos depois. Não se formou o bolo para, depois, reparti-lo. O milagre acontece à medida que se faz a partilha. Jesus não juntou um monte de comida para, depois, distribuí-la. Tudo começou quando uma, duas, três ou mais pessoas abriram suas sacolas, colocando à disposição o que tinham - mesmo que fosse pouco, apenas cinco pães e dois peixes - para que todos participassem e todos se fartassem. O milagre acontece à medida que cada um abre mão daquilo que, num primeiro momento, considera exclusivamente seu. Este é o milagre que pode acontecer a qualquer instante: à medida que pessoas começarem a abrir suas sacolas, seus bolsos e suas contas bancárias e tiram de lá seu farnel e o repartem, o milagre pode tornar-se realidade. O milagre não é multiplicar o pão, mas deixar-se motivar a reparti-lo. Num primeiro momento, não é uma questão de plantar mais, de colher mais, de criar novas sementes e novas espécies, mas trata-se, em primeiríssimo lugar, de amar mais e de se deixar conscientizar de que mesa posta é dádiva de Deus.

Este é o milagre que muda o mapa da fome do mundo e sacia multidões. E enquanto isso não for realidade, seguidores de Jesus, assim como ele próprio, não podem esticar as pernas e cruzar os braços como se o mundo fosse o paraíso. A pergunta que sempre deve estar diante de nós é: "Que estou fazendo se sou cristão?" (HPD 449).

                                                                                                            Amém.

 



P. Darci Drehmer
São Leopoldo, RS
E-Mail: darci.pas,nho@terra.com.br

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