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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

14º Domingo após Pentecostes, 17.08.2008

Predigt zu Mateus 15:21-28, verfasst von Werner Wiese

Prezada comunidade!

"Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás". Estas palavras extraídas do Salmo 50.15 resumem muito bem o que aconteceu no episódio narrado no texto de Mateus. Vejamos alguns detalhes de perto: Jesus de Nazaré - o Cristo de Deus era judeu. Por isso, o próprio Jesus pôde dizer: "A salvação vem dos judeus" (Jo 4.22). E diga-se mais: Jesus foi enviado por Deus em primeiro lugar para salvar os próprios judeus. Parece ser ironia, mas é verdade: Jesus não foi recebido de braços abertos por todos. Pelo contrário, foi rejeitado por muitos do seu povo. Havia momentos de grande tensão com grupos religiosos, especialmente com fariseus letrados. Muitas vezes a vida de Jesus estava em perigo. Por conta disto, retirou-se diversas vezes do meio do seu povo. É o que também conta Mateus: "Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom". (15.21).

Ouçamos bem: Tiro e Sidom era sinônimo de terra pagã a exemplo de Sodoma e Gomorra no AT. Mas em todos os casos, nesta terra Jesus estava mais seguro do que na sua própria terra natal. Ao chegar lá, foi "molestado" por uma mulher daquelas regiões. Não a conhecemos. Diz-se simplesmente que "uma mulher cananéia" o procurou. Ser cananeu ou cananéia significava ser alguém de origem duvidosa, especialmente do ponto de vista religioso. Esta mulher era como tantas pessoas em nossos dias: sem nome conhecido, mas profundamente estigmatizada pela história. Pela história social e pela história pessoal ou familiar: por ser mulher, tinha ‘valor humano diminuído'; por ser cananéia, o acesso à comunidade de fé era dificultado. E como se isso não bastasse, sua história familiar estava marcada por profunda dor pessoal. Ela confessa: "Minha filha está horrivelmente endemoninhada". A expressão "minha filha" pode indicar que ela era viúva; seria mais uma agravante. Realmente, a história da vida desta mulher é sombria como a história da vida de muitas pessoas hoje pode ser e é sombria. Quem sabe, nossa própria história pessoal e familiar evoque a pergunta existencial: Como vou enfrentar o dia de amanhã?! É difícil viver com incertezas que se estendem por longo tempo.

A mulher em nossa história tinha algum conhecimento de Jesus de Nazaré. De quem o obteve não é dito.  Ela ouviu que Jesus se encontrava numa casa da região (Mc 7.24-25). Aflita e angustiada como estava, foi procurá-lo para pedir socorro. Possivelmente ela já tinha procurado ajuda em outro lugar. Problemas que geram angústias e aflições profundas impulsionam à busca de auxílio. Isso é comum. Imaginemos se isso não acontecesse. Neste caso, dramas na vida poderiam transformar-se em tragédias. Mas atenção, angústias e aflições podem tornar-nos vulneráveis para enganos terríveis: na ânsia de resolver os problemas, podemos cair nas mãos de charlatões religiosos, podemos cair nas mãos de pessoas que agem de má fé e exploram as pessoas aflitas. O resultado disto seria o agravamento do problema que se quis resolver. "Oportunidades" para cair em ciladas não faltam.

Ao dirigir-se a Jesus, a mulher cananéia não correu este risco. Ela tinha plena confiança nele. E estava certa, pois Jesus não era charlatão religioso, nem aproveitador da necessidade de ninguém. Portanto, ela foi ao endereço certo. Isso é louvável. E mais: como pessoa de procedência religiosa suspeita faz "confissão de fé" acima de qualquer suspeita. Chama Jesus de "Senhor, Filho de Davi". Portanto, reconhece em Jesus o ungido de Deus - o messias. Esta confissão esperava-se daqueles que se consideravam povo escolhido de Deus, mas não da boca de alguém como esta mulher. Isso evidencia que ninguém pode patentear Deus. Aliás, da boca desta mulher saem palavras que marcam o culto cristão até hoje. Ela diz: "Senhor,... tem compaixão de mim!" Aqui está a nascente da prece: "Tem piedade de nós, Senhor"! Expressa nossa mais profunda necessidade na presença de Deus, não só aos domingos e em celebrações religiosas. É claro, aqui também! A realidade em que se vive pode ser muito dura. E a fé cristã tem a ver concretamente com nossa realidade. Quando buscamos a Deus não deixamos nossas angústias de fora, mas as trazemos na sua presença. Assim, fé cristã e clamor do fundo da nossa alma a Deus têm a ver com os desafios do dia-a-dia, e são inseparáveis.

Com certeza, levar nossos problemas ao endereço certo nos protege de engano perigoso. Mas não significa solução fácil. Aliás, Jesus de Nazaré nunca é solução fácil para problemas difíceis. Dito em outras palavras: a fé cristã não é opção e garantia para vida fácil e tranqüila. Como? É isso mesmo! Pode soar estranho aos nossos ouvidos, especialmente a nós que somos assediados por "propostas religiosas" para os problemas que afligem nossa sociedade. Basta que nos lembremos de programas religiosos em nossos dias que "oferecem" curas, sucesso, prosperidade e felicidade, no grito e por atacado. Mateus diz que Jesus "não respondeu palavra" àquela mulher. Na sua angústia, ela insistia clamando por socorro. Chegou a tal ponto que os discípulos ficaram incomodados e pediram a Jesus que a mandasse embora, de vez. 

A postura de Jesus choca tanto a razão como os sentimentos humanos. Não atendeu prontamente à mulher, nem atendeu aos discípulos. À primeira vista, tornou-se extremamente insensível. Vejamos: a mulher continuou insistindo: "Senhor, socorre-me!" (v. 25). É como se dissesse: Senhor, se tu não me ajudares, minha vida se transforma em tragédia insanável. Pasmemos: Jesus não diz: está bem, minha senhora, desta vez vou ajudá-la. Pelo contrário, responde dizendo: "Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos" (v. 26). Que duras palavras. Por que ele as diz? Quis ele provar essa pobre mulher afligida? Não havia necessidade nenhuma nem prazer para fazê-lo. Suas palavras desvendam uma verdade profunda: Jesus de Nazaré - o enviado de Deus não é "despachante religioso", mas tem uma tarefa específica a cumprir.

De fato, essa história toda deixa um recado extremamente animador para nós: o drama desta mulher não se transformou em tragédia. Ao ouvir as palavras duras de Jesus, esta senhora teria todo motivo para se ofender e sair indignada. Contudo, ela entendeu o cerne da questão. Diz: "Sim, Senhor, porém os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos." (É claro, trata-se de linguagem figurativa) Esta pobre criatura profere uma das mais belas confissões de fé na Bíblia. Ela dá razão a Deus: Sim, Senhor, como os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos, assim eu vivo daquilo que tu me dás! Nestas palavras se externa um reconhecimento de Deus e uma necessidade básica que o ser humano tem de Deus como poucas vezes se encontra na história da igreja cristã. Realmente, aqui Jesus não é procurado e visto como "despachante religioso" ou "pronto socorro", mas como o enviado de Deus de quem depende vida e sobrevida.

Para concluir: o que parecia tão duro nesta história, não é nenhuma "queda de braços" entre uma pessoa religiosa e necessitada e Deus. Jesus não diz, está bem, venceste. Vai e não me incomodes mais. Ao contrário, confere singular certificado de fé: "Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contido como queres" (v. 28). A rigor, o que essa mulher quer e precisa é o que Deus também quer: misericórdia e não sacrifício (Os 6.6). Sem misericórdia, sim, a vida periga transformar-se em suplício e, por fim, tragédia. No entanto, este testemunho bíblico encoraja-nos a confiarmos em Deus e apostarmos na sua misericórdia. Nossa vida não foi entregue ao acaso, nem é destino cego sobre o qual está selada a desgraça. Deus não é impassível de modo que não pudesse nos socorrer.  Por isso, vale: "Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás".

Amém!



P. Werner Wiese
São Bento do Sul, SC
E-Mail: wwiese@ftl.edu.br

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