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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

18º Domingo após Pentecostes, 14.09.2008

Predigt zu Mateus 18:21-35, verfasst von Harald Malschitzky

                                              

Irmãs e irmãos em Cristo.

Um dia desses recebi um telefonema no qual alguém oferecia uma determinada mercadoria, era uma oferta de  tele-marketing. Eu respondi que já tinha um objeto semelhante. A pessoa do outro lado ficou insistindo.Quando eu disse um não definitivo, ouvi a seguinte observação: "Mas nós somos humanos e o ser humano quer levar vantagem!". Levar vantagem  como uma característica do ser humano que precisa ser explorada! Muitos devem estar lembrados que no Brasil, a partir de uma propaganda de cigarros, surgiu  até uma "lei da vantagem" que levou o nome de um ex-jogador de futebol: Gerson. De repente mencionar a lei de Gerson deixava claro que se tratava de levar vantagem sem muitos escrúpulos.

Sem dúvida, o ser humano gosta de levar vantagem e se esforça para levar vantagem. Isso já pode ser observado no brinquedo de crianças, mas pode ser observado também nos negócios, no trânsito, entre familiares (bastaria lembrar as brigas por herança!), no lugar de trabalho, na escola.

A história de Jesus retrata alguém que quer levar vantagem, que para cobrar uma dívida está disposto a lançar  o devedor na cadeia, o que,  pela lei, era perfeitamente possível. De nada adiantou o devedor pedir clemência e mais um tempo de paciência. O credor estava em situação de vantagem e  queria  fazer valer o seu direito.

A cena que Jesus conta, porém, já tem um momento anterior a este, no qual, quem agora está em vantagem, estava em desvantagem. Ele estava sendo cobrado de uma dívida muitas vezes maior, tanto que o seu credor não apenas queria pô-lo atrás das grades,  mas  vender todo o seu patrimônio inclusive sua mulher e seus filhos, o que na época era permitido (aliás, em muitos lugares ainda hoje existe esta prática!). Seu choro e seu pedido por compreensão, porém,  foram ouvidos pelo seu credor e o prazo de pagamento não foi simplesmente prorrogado, mas a dívida lhe foi perdoada!

Este é um retrato doloroso do ser humano: quem ganhou tudo - a sua vida, a vida de sua família, os seus bens -  quer aplicar a lei no momento em que está em situação de vantagem contra seu colega de trabalho.  Usar a vantagem, levar vantagem a qualquer custo é um processo que  desfigura o ser humano e lhe rouba a dignidade. Quem quer levar vantagem transforma o outro em criatura inferior. Quantas famílias, por exemplo, já foram totalmente destruídas porque alguém acendeu a chama da vantagem na hora da partilha; quanta morte em nossas estradas têm como raiz a busca da vantagem, às vezes até inconsciente, ao volante.

Voltemos ao início do nosso texto. Jesus conta a história de uma pessoa  e suas reações em dois momentos distintos, para ilustrar a sua resposta a uma pergunta que Pedro lhe fizera sobre o perdão. Pedro queria saber quantas vezes a gente deve perdoar o irmão - até poder perder a paciência! Sete vezes? Vamos lembrar: Sete é um número sagrado. Humanamente falando a gente até diria que Pedro é muito generoso.A maioria de nós perde a paciência muito mais cedo! Jesus, em vez de elogiar o seu discípulo,  dá uma resposta  que é desconcertante: Setenta e sete vezes. Ora, é quase certo que a gente se perderia na contagem. Então, o setenta e sete tem o significado de que o verdadeiro perdão não é contado ou medido de alguma maneira. O efeito desse perdão é ilustrado com a primeira cena da história contada: O perdão devolve e assegura a vida, o perdão devolve a dignidade de criatura de Deus a quem é perdoado. Uma bela ilustração é o texto sobre Caim e Abel (Gn 4). Quando Caim percebeu  que não conseguiria mais esconder o assassinato de seu irmão, tirou a conseqüência mais lógica: Agora qualquer um me mata. Deus, porém, quebra esta lógica dando-lhe a sua proteção. Para evitar mal-entendidos que gostam de se instalar, vale lembrar que perdão não significa a licença de repetir os pecados cometidos. A frase mais lapidar e ilustrativa é uma palavra de Jesus em João 8, naquele texto da mulher adúltera que seria apedrejada. Jesus primeiro desmascara os homens que estavam com as pedras nas mãos e depois despede a mulher com o perdão e as palavras claras "Vai e não peques mais" (v. 11b). Se aplicarmos  isso ao personagem da nossa história, isso significaria: "Toda a tua dívida está perdoada, tua dignidade está devolvida, tens o teu espaço de vida. Vai e não voltes a pôr tudo em risco. Assim como recebeste tua vida de volta, conserva-a e ajuda para que também  o outro mantenha a sua dignidade de gente, de criatura de Deus". Não foi assim que aconteceu, e o texto termina com uma tremenda advertência: De Deus não se zomba; quem agride e destrói a criatura de Deus precisa ficar avisado de que Deus não ficará indiferente. Quem quer levar vantagem precisa  saber que isso pode ter conseqüências  muito sérias.

Ouvindo tudo isso seguramente nos vem a pergunta: Será que a proposta de Jesus é viável no mundo moderno, de mudanças em alta velocidade, um mundo cada vez mais marcado pelo lucro (até os dias festivos somente são considerados bons se o lucro for grande!), pelo medo, por guerras, por uma luta árdua de cada um para conseguir viver a sua vida... será que o que Jesus diz  ainda é possível de realizar?

Bem, Jesus nunca disse que perdoar seria fácil. Odiar e se vingar é muito mais fácil. Mas mais do que nunca o nosso mundo está carente de perdão! Daquele perdão que restaura a dignidade de criaturas de Deus e que assegura as condições de vida também para o outro. Povos estão carentes de perdão, porque pela lei da vantagem eles estão sendo sugados e destruídos;  segmentos diferentes nas sociedades estão carentes de perdão porque a concorrência em sua fúria é destrutiva; comunidades cristãs estão carentes de perdão porque tantas vezes estão movidas pela inveja, pelo fanatismo, pela sede de poder, e a comunhão tantas vezes é apenas uma farsa; famílias estão carentes de perdão porque deixam de ser espaço de vida e solidariedade entre crianças, jovens e velhos para serem campos de batalha.  Perdão reconcilia.

Cristãos e suas diferentes igrejas, que confessam que em Cristo Deus perdoou fartamente e reconciliou o mundo consigo,  não podem se esquivar de dizer que o perdão reconcilia, refaz a comunhão rompida, refaz o respeito perdido. Viver este  perdão é a melhor forma de dizer ao mundo que o projeto de Deus é a reconciliação, não para que ele se sinta  bem, mas para que a sua criação e criatura  sobrevivam e vivam com dignidade. A força para perdoar setenta e sete vezes precisa ser buscada no próprio Deus, ela não se encontra em nossa boa vontade e nossas boas intenções.

E não esqueçamos que também o mundo moderno - e nós que dele fazemos parte - precisa ouvir a advertência de que Deus não se deixa zombar. Não nos cabe especular sobre como e quando a paciência de Deus se esgota. Vamos dar graças a ele por sua infinita paciência testemunhada na Bíblia e perceptível na nossa vida.

A nós cabe o desafio e a tarefa de viver o perdão "setenta e sete" vezes, não para dar a Deus alguma coisa em troca do  perdão a partir do qual vivemos e nem para nos prevenir em relação ao juízo de Deus, mas simplesmente porque o amor de Deus é imensurável e sua paciência com sua criatura enorme. Eu não tenho a menor dúvida  de que o amor de Deus, também no juízo, vai falar mais alto do que se coubesse a nós julgar.

Porque Deus perdoa  podemos construir e ter comunhão, olhar-nos nos olhos e ser solidários uns com os outros. Demos graças a Deus porque o seu perdão renova a chance de vivermos.

                                                                                                           Amém.

 

 

                                                          

 

 

 

 

                                              

 

 

 

                                                          

 

 

 

 

 



Harald Malschitzky
São Leopoldo ? RS
E-Mail: harald.malschitzky@terra.com.br

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