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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

24º Domingo após Pentecostes, 26.10.2008

Predigt zu Mateus 22:34-46, verfasst von Gottfried Brakemeier

 

Prezada comunidade!

A lógica do mercado é a busca do lucro. É esta a lei que rege a bolsa de valores e o mundo dos negócios. No jogo da oferta e da procura o que importa é sair ganhando e tirar alguma vantagem. Sentimentalismo aí não cabe. O que importa é o cálculo, frio e objetivo, sempre com o objetivo de garantir o proveito. Conforme se diz aqui no Brasil, negócio e amizade não se misturam. Portanto, amor ao próximo e economia são coisas distintas. Elas nada têm a ver uma com a outra. Quem quiser fazer bons negócios não deve ter escrúpulos morais nem pensar na sorte dos outros. São os interesses próprios que devem prevalecer.

Tal mentalidade é fatal. A mais recente crise financeira internacional que a despeito de alguns atenuantes atinge também a economia brasileira é a mais flagrante demonstração do fracasso de um mercado que aposta no egoísmo do ser humano e coloca a causa social em segundo plano, se é que tem alguma sensibilidade para ela. O que nós vimos foi uma escandalosa dança em torno do bezerro de ouro, ou seja, em torno do lucro fácil, rápido, sem vergonha. Alguns enriqueceram da noite para o dia, sendo que o cidadão e a cidadã simples terão que pagar a conta. É este o resultado de um mercado solto, entregue à ganância desenfreada e à avidez dos especuladores.  

Entrementes a comunidade internacional acordou. Ainda estamos longe de uma solução do problema. Mas uma coisa está clara: O assim chamado livre mercado necessita de regras de jogo capazes de prevenir crises como essas. Não se pode permitir que a ganância de uns cause a ruína de outros. O capital deve estar a serviço da coletividade, não vice-versa. É exatamente esta a exigência do amor. Ele é inimigo do caos e da arbitrariedade. Quer a distribuição justa das riquezas para que haja paz entre as pessoas.  Seria estúpido exigir do próprio mercado amor ao próximo. Mercados não amam. Mas as pessoas que atuam no mercado e que o usam para os seus fins, estes, sim, devem amar. Não estão dispensadas daquilo que Jesus qualificou como sendo o supremo mandamento. Os capitalistas aí não se excluem.

É de esperar que a atual crise inaugure uma reorientação da economia, acabando por disciplinar o mercado e imprimir-lhe leis mais humanas. Seria absurdo querer abolir o mercado. Ele, se bem usado, é de muita utilidade. Mas é preciso resgatar sua função positiva. A comunidade cristã, a partir do texto para a prédica de hoje e a partir do evangelho em seu todo, está comprometida a sintonizar com esse reclamo.

Pois sem o amor, a vida humana sofre prejuízo em qualquer uma de suas esferas. A recente crise financeira é apenas um exemplo. Nos Estados Unidos, que pertencem aos países mais ricos do mundo, estão surgindo cidades barracas, habitadas por gente despejada de seus lares em razão de dívidas impagáveis. Não precisamos ir tão longe. As favelas em nossos centros urbanos são retratos falantes do fracasso frente à exigência de Jesus. A sociedade brasileira não consegue assegurar vida condigna a uma significativa parcela de seus membros. E não é por falta de condições. O Brasil é um País extremamente rico. Mas admite vergonhosa pobreza em seu meio. Algo aí está errado.

Pois é! Amar o próximo como a si mesmo! O mandamento que é o mais importante é também o mais difícil. E ele sofre críticas. Como posso amar pessoas que me são antipáticas? Amar meu inimigo? Não, isto é impossível. Inimigos não se amam. Inimigos se combatem. Ademais, não é com o amor que se governa a sociedade, nem se combate com ele o crime organizado. Nós precisamos do rigor da lei para impor ordem e disciplina. E quem é preguiçoso não merece nossa compaixão. Ele mesmo é culpado de sua desgraça. Diante desses e outros argumentos, a exigência do amor ao próximo é vista com desconfiança. Parece ser sinônimo de moleza. É algo bonito, mas irreal, algo puramente sentimental. Pode valer para a esfera privada. Mas na luta do dia a dia é recomendação ilusória. Aí vale a lei do mais forte, do mais vivo, do melhor informado. É preciso vencer. Amor ao próximo aí estorva.

Coitadas as pessoas que assim pensam. Pois elas não compreenderam absolutamente nada. Elas não sabem o que é amor ao próximo, elas não sabem de que as pessoas realmente precisam, elas desconhecem as condições da paz em nosso mundo. Como vamos construir paz sem amor? Nada mais urgente do que um estudo amplo e profundo sobre este texto de Jesus, para fazer frente a uma ignorância que deve ser considerada catastrófica. Pois volto a dizer que sem amor a vida se torna desumana, sofre irreparável prejuízo, degenera, acaba se auto-destruindo. Podemos imaginar-nos uma educação sem amor? Poderá ser considerada normal uma pessoa incapaz da compaixão? Já o apóstolo Paulo dizia que as maiores conquistas do ser humano, os maiores dons, suas mais nobres qualidades a nada se reduzem, se não tiver amor. É o amor que dá qualidade à vida humana, que lhe dá sentido e valor.

Aliás, importa esclarecer que amor em sentido bíblico não deve ser confundido com simpatia, afeto, paixão. Embora possa ser também isto, jamais se reduz a uma mera questão sentimental. Amor é uma questão da vontade. Decisivo é não o que sinto, e, sim, o que quero (!) com relação à pessoa de meu próximo e de minha próxima. O inimigo certamente não me é simpático. Mesmo assim posso querer o bem também para ele. Não preciso odiá-lo. Posso, quem sabe, estender-lhe a mão da reconciliação. Algo análogo vale para as demais pessoas. O que eu quero com relação ao meu vizinho, é isto o que importa. E se o amor quer o bem, ele também vai ter que dizer às vezes um enérgico "não". Não pode fazer-se cúmplice do mal. Vai ter que refletir sobre o que convém e o que o bom êxito exige neste e naquele caso.

Creio ser importante resgatar uma concepção não-sentimental do amor cristão. Para tanto ajuda uma observação que é fundamental neste texto. Jesus fala não somente do amor ao próximo. Ele fala também do amor a Deus. Na verdade trata-se de dois mandamentos. Ambos são iguais em importância. Jesus junta o que no Antigo Testamento ainda estava separado e faz do amor o critério de todas as leis. Isto é novo. Conforme ele, existe uma relação muito estreita entre os dois mandamentos. Quem ama a Deus deve amar também a pessoa a seu lado. Por isto já não é permitido separar "religião" e "humanismo". Em termos cristãos, pessoa religiosa deve ser pessoa que ama seus semelhantes, seus irmãos e suas irmãs. Mesmo assim, os dois mandamentos não se confundem. Não são idênticos. O amor a Deus e o amor ao próximo tem cada qual o seu próprio jeito. Como se ama a Deus? Ora, reservando a ele a adoração, o culto, a liturgia. Ai de nós se começarmos a adorar o próximo. Então, sim, o nosso amor vai tornar-se sentimental. Vai adquirir traços religiosos e vamos perder a liberdade frente ao vizinho. Não, o culto é devido a Deus, e somente a ele. O que devemos ao próximo é a diaconia, o serviço, a ajuda. Dessa Deus não tem necessidade. Ele não tem carências, não precisa de socorro. Já as nossas pessoas próximas, estas sim, necessitam de nossos cuidados.

A crise financeira, que tão duramente nos sobreveio, é um exemplo não só da falta de amor ao próximo, como também da falta de amor a Deus. Pois o que se viu foi um culto ao que Jesus chamou de "mamom", dinheiro, riqueza, lucro. É a idolatria do dinheiro que conduziu à quebra dos bancos e a perdas bilionárias dos acionistas. Ora, nós precisamos de um novo espírito na bolsa de valores e no sistema financeiro internacional, que eu chamaria de "espírito do amor". Isto não significa licença para descuidar da lucratividade. Empresas precisam ser lucrativas para poderem sobreviver. Mas tudo dentro de justos limites e com base em claros princípios éticos. É uma questão de responsabilidade. De qualquer maneira, o amor não pode conformar-se com o abuso. Diante dele está obrigado a reagir.  

Seria interessante discutir com os próprios economistas sobre a relevância do amor para a sua atividade. Será forçoso desconsiderá-lo? Eu falei em espírito. Na verdade o amor não é uma "lei" igual a outras. O que Jesus quer é uma determinada mentalidade. O amor não cabe num código legal. Mas ele pode e deve fazer a nossa cabeça, determinar a nossa vontade, comandar a nossa conduta. Gente que ama a Deus e ama ao próximo vai querer o benefício do outro juntamente como o proveito próprio. Pessoas assim serão capazes de desprender a atenção de si mesmos e de perceber as necessidades, os anseios, as angústias alheias. É de tais pessoas que a sociedade precisa em seu combate à violência, à pobreza, às crises. Que o texto para a prédica de hoje motive muita gente, com inclusão de nós mesmos, a reorientar o pensar e o agir.

Amém!

 

   



P. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS
E-Mail: gbrakemeier@gmx.net

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