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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

Prédica para a Véspera de Natal , 24.12.2009

Predigt zu Lucas 2:1-7, verfasst von Yedo Brandenburg

 

Oração: Concede, ó Deus, por meio do Espírito Santo, ouvidos abertos e corações receptivos para a proclamação do teu evangelho. Amém.

 

Estimada comunidade de Jesus Cristo:

  

Natal: é tempo de valorizar pessoas e não coisas.

 

Nós sabemos do perigo de se reduzir o Natal aos presentes, ao consumo, às bebidas e comidas. É a coisificação do Natal. Como família cristã, nós nos reunimos nesta noite para celebrar o Natal de Jesus Cristo.  O Natal não tem a ver com coisas, mas com o nascimento de um ser humano, de uma criança.

 

O texto do evangelho de Lucas nos remete à dura realidade de mais de dois mil anos atrás. No cenário internacional havia o domínio do império romano sobre os povos. O imperador era Augusto que significa "o venerado", "o sublime", "o sagrado". O imperador Augusto via-se como uma divindade e exigia dos súditos o culto a sua pessoa. Sempre que pessoas são divinizadas e adoradas, o mundo se torna mais escuro, mais desumanizado. O imperador necessitava de recursos financeiros para manter seu luxo, seus funcionários, seus soldados e para equipar seu exército. Fundamentado na força militar, o imperador assegurava a "pax romana" (paz romana). Era um governo de conquista e de imposição que visava ao interesse próprio em detrimento do bem-estar do povo. Era um governo que valorizava coisas em prejuízo das pessoas.

 

Também a Palestina precisava sujeitar-se ao poder de Roma. Um decreto da parte do imperador ordenava um recenseamento do povo. O imperador queria saber quem eram as pessoas, o que elas faziam e o que elas possuíam para atualizar e melhorar a arrecadação de impostos. O registro deveria acontecer na cidade de origem. Decretos não eram questionados pelo povo, mas cumpridos. Como descendente do rei Davi, José teve que ir de Nazaré, ao norte da Palestina, para Belém, que ficava uns 120 km ao sul.

 

Em Miquéias 5.2 está escrito: "Deus diz: - Belém-Efrata, você é uma das menores cidades de Judá, mas do seu meio farei sair aquele que será o rei de Israel. Ele será descendente de uma família que começou em tempos antigos, num passado muito distante". Nós percebemos que os planos humanos de poder, controle e domínio da população por meio do recenseamento se subordinaram ao plano divino do nascimento do Messias em Belém. O significado da palavra Belém é ‘casa do pão'. O Messias seria o pão vivo que viria para saciar o povo de sua fome por libertação, por carinho, por cuidado, por respeito, enfim, fome de vida com sentido. Acompanhado de Maria, José se dirigiu para Belém. Maria estava grávida. Era uma longa viagem por estradas pedregosas e em condições precárias.

 

Atualmente, as futuras mamães e os futuros papais participam de cursos para gestantes, têm todo um acompanhamento médico pré-natal, escolhem com antecedência a maternidade em hospital público ou particular com boa infra-estrutura e profissionais especializados, deixam pronto o enxoval e a sacola do bebê e organizam um esquema para chegar com rapidez ao hospital. Maria, assim como as mulheres daquela época, não usufruiu desses privilégios. Panos, no entanto, fizeram parte da sacola de viagem que Maria havia preparado para o nascimento da criança.

 

Provavelmente, José e Maria já estavam alguns dias em Belém, quando chegou o tempo de a criança nascer (v. 6). Como não havia lugar para eles na pensão, a criança nasceu num estábulo. O biblista argentino Ariel Álvarez Valdés esclarece que a palavra grega ‘katályma', usualmente traduzida por ‘pensão', ‘hospedaria', também pode significar ‘quarto', ‘dependência', ou seja, uma parte mais separada ou reservada da casa Aliás, em Lucas 22.11 nós lemos: "O Mestre mandou perguntar a você onde fica a sala - katályma - em que ele e os seus discípulos vão comer o jantar da Páscoa". E em Lucas 10.34: "Depois disso, o samaritano colocou-o no seu próprio animal e o levou para uma pensão - pandoxeion -, onde cuidou dele". Lucas, portanto, emprega o termo ‘pandoxeion' para ‘pensão'. Naquela época, as moradias em Belém normalmente possuíam uma sala central que servia de cozinha, de despensa e até de dormitório. Além dessa sala, havia um anexo utilizado para hóspedes e também para parturientes. Na religião judaica daquela época, quando nascia a criança, a mulher ficava impura durante dias devido à perda de sangue no parto (Levítico 12.1-8). Esse era o motivo para a mãe ficar na ‘katályma', isto é, na dependência separada da casa e não no ambiente comum. Como o anexo talvez estivesse ocupado e para não tornar ninguém impuro, Maria e José se instalaram num outro recinto disponível: o estábulo.

 

E foi lá, na escuridão da noite, que chegou o tempo da criança nascer. Não havia sala de parto higienizada, nem médico obstetra, nem enfermeiras, nem as fortes luzes de uma sala de parto. Sem lugar adequado, sem assistência, tendo ao seu lado apenas José, Maria sentiu as dores do parto e deu à luz ao menino que se tornaria a "luz do mundo" (João 8.12). Após isso, Maria enfaixou o bebê e o deitou numa manjedoura. Faixas são utilizadas para distinguir uma pessoa. O Presidente da República, por exemplo, recebe a faixa presidencial no dia de sua posse. Os jogadores de futebol que conquistam o campeonato ganham a faixa de campeão. A rainha e as princesas de um concurso de beleza igualmente. Quando alguém se machuca, muitas vezes também se usa uma faixa para proteger a ferida. As faixas têm o seu significado. A faixa que envolveu a pequena e frágil criança era sinal de carinho e de cuidado maternos, mas também a forma encontrada para distinguir o rei que havia nascido em toda a simplicidade.

 

A manjedoura era o cocho para alimentar animais. O cocho era tosco, forte e serviu de abrigo para o recém-nascido, mas não ofereceu nenhum conforto. Apenas a palha, o resíduo do alimento dos animais, amaciou a dureza da madeira do cocho que acolheu a criança. Posteriormente, foram justamente os restos, os excluídos, os marginalizados pela sociedade judaica daquela época que viram na criança ‘a casa do pão', ‘a luz que brilha na escuridão', o Messias, o Salvador. A partir desse nascimento, o mundo passaria a conhecer a nova imagem de Deus: um Deus próximo, humano, nascido de mulher na fragilidade de um bebê. Um Deus que não tem poder político, econômico e militar, um Deus que não oprime, mas que liberta as pessoas das mais diferentes escravidões. Um Deus que não veio para ser servido, mas para servir. Um Deus que valoriza pessoas e não coisas.

 

Aparentemente, José e Maria eram marionetes nas mãos do imperador Augusto. Na verdade, o colocar-se a caminho de José e Maria representou uma quebra do círculo vicioso que priorizava o ter sobre o ser, as coisas sobre as pessoas, o amor ao poder sobre o poder do amor, o ser servido sobre o servir. Somente o cristianismo dá testemunho de um Deus que assumiu a condição humana na fragilidade da criança nascida em Belém. Criança que precisava de pai, de mãe, de família, de cuidados para crescer e se desenvolver como pessoa. Somente o cristianismo proclama um Deus que, na cruz, se tornou solidário com todas as pessoas que sofrem e se doou integralmente para a salvação da humanidade. Natal é muito simples. É um menininho que nasceu na simplicidade de um estábulo. Mas a história afirma que, quando ele nasceu, algo mágico aconteceu com o mundo: o ser sobrepôs-se ao ter, as pessoas passaram a ter mais valor do que as coisas. E tudo ficou diferente. Um conto de Natal diz: Nasceu o Menino. Tão pequenino, já carrega nos ombros o peso das dores do mundo. Já leva no peito a dor dos solitários, a fome dos famintos.

 

Nasceu o Menino. Tão inocente, já sabe do sofrer, já enxerga o egoísmo nos olhos fechados para as outras crianças. Nasceu o Menino. Tão abençoado, já traz consigo o presente mais infinito, o amor pelos outros pequeninos, pelos fracos e desprezados. Mas seus olhos carinhosos também buscam os grandes, os fortes e os descrentes para a eles ensinar a mais bela lição: de como abrir o coração e amar (Saramar Mendes - adaptado).

 

Num tempo em que coisas são amadas e pessoas utilizadas, o Natal de Jesus Cristo nos anima a nos utilizarmos de coisas e a amarmos pessoas. Um abençoado Natal.

Amém.



Yedo Brandenburg
Novo Hamburgo, RS, Brasil
E-Mail: yedo@brturbo.com.br

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