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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

4° Domingo após Epifania, 31.01.2010

Predigt zu Lucas 4:21-30, verfasst von Teobaldo Witter

 

Estimada comunidade!

Aqui no norte do Brasil, muitos presbíteros têm testemunhado a respeito da valor da comunidade para as suas vidas. Vida cristã está ancorada na importância que as pessoas depositam na Palavra. Cativados pela Graça de Deus, pessoas dedicam tempo e dinheiro para edificar vidas na comunhão do Senhor, ocupando postos comunitários fundamentais na função de serem testemunhas de Jesus Cristo.

Quero ilustrar isso com a adaptação de uma parábola de KHALIL, Gibran. O Peregrino. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2004, 29. Conta-se que numa vila, nas montanhas, vivia um homem que possuía uma escultura. Esta estava jogada ao lado da entrada de sua casa com o rosto no chão. Suja e descuidada, os moradores da casa e da vila não a valorizavam. Então passou um homem da cidade por aquela região. Ele prestou atenção à estátua. Perguntou aos moradores de quem ela era. Com indiferença e um sorriso de deboche, informaram o nome do proprietário. O viajante perguntou se ele queria vendê-la.

O dono retrucou, sorrindo: "Quem iria querer comprar essa pedra sem brilho e suja?" O homem da cidade respondeu: "Dou-te uma moeda de prata por ela." O dono ficou surpreso e muito feliz, achando que havia feito um bom negócio. E a estátua foi levada à cidade. O viajante limpou a estátua. Cuidou dela. Lustrou-a. Colocou-a num lugar bem visível.

Muitos meses depois, alguns moradores da vila foram à cidade. Quando caminhavam pelas ruas, viram uma multidão diante de uma praça. Um homem falava em voz alta: "Entrem e vejam a estátua mais linda, brilhante e valiosa da terra! São apenas duas moedas de prata para ver essa maravilhosa obra de arte!" Os moradores da vila, um por um, pagaram duas moedas e entraram no salão. E lá viram a estátua brilhante que eles haviam desprezado e vendido por uma moeda de prata. A estátua desvalorizada pelos habitantes da vila era uma pedra esculpida de muito valor.

Entre outros aspectos, o texto de Lucas nos faz celebrar o valor da Palavra. O valor do estudo bíblico. O valor da comunidade. O valor da vida. O valor da vinda de Jesus. O valor do amor. O valor da fé. O valor da graça. Que valor têm para nós a fé, a palavra, a graça, Jesus Cristo?

Jesus está na sinagoga, na terra onde viveu com seus pais, parentes e amigos. Está, portanto, em casa. Faz o que judeus fazem no sábado: vai à sinagoga e estuda a Bíblia. Nada de grandes espetáculos, magias e shows. Algo simples que todos podem entender. O texto, por certo, é conhecido. Mas tudo muda a partir deste estudo bíblico. O que houve?

1. Durante a leitura de Isaías 61.1-2, todos os que estavam na sinagoga olhavam para Jesus com atenção e concentração. Ele lê o texto e entrega o livro. Fala e explica com as suas próprias palavras, dizendo: "Hoje se cumpriu essa passagem da escritura que vocês acabaram de ouvir". A clareza com que Jesus lê e explica as palavras das Escrituras tira as pessoas da neutralidade e da indiferença. A promessa das Escrituras não é vazia, nem distante. A promessa de Deus se cumpriu. Deus está salvando. Deus está presente. O tempo da graça chegou.

2. Jesus é aclamado com elogios e admiração. Nota dez com louvor para Jesus. Suas palavras são agradáveis. Sua maneira de falar encanta. A sinagoga pergunta: "Ele não é o filho de José? O que está por trás das palavras do povo? De Nazaré e da família de José pode vir alguma coisa importante? "Será que pode sair alguma coisa boa de Nazaré, pergunta Natanael. Venha ver, responde Filipe" (João 1.44). O clima não é só de acolhida, mas também de rejeição. Confiança e desconfiança estão ligados como faces da mesma medalha. O texto não menciona perguntas da sinagoga, mas Jesus responde com termos que, talvez, estejam estampadas nos olhos e nas entrelinhas das palavras do povo.

3. Nessas se percebe a desconfiança que diz: "Médico, cure-se a você mesmo". Se Jesus for de fato filho de Deus, então ele não pode ter problemas humanos. Nenhum dano sofrerá. Estará imune a problemas, sofrimentos e frustrações. Assim se pensa ainda hoje. Mas esta idéia não vem de Deus. Ela vem "do diabo" que tenta Jesus. Jesus, porém, venceu a tentação. Atualizando, poderíamos dizer que a população espera que Jesus seja um guarda chuva, uma proteção infalível contra doenças, dores, frustrações. Que ele enriqueça quem diz crer nele. Não é assim. Jesus não é uma vacina contra males e doença. A diferença fundamental é que doenças, males, dores, frustrações existem sem Jesus ou com Jesus. Quando existem sem Jesus, estamos perdidos. Quando existem com Jesus, passamos por eles carregados por quem os venceu, Jesus Cristo.

Ademais, o povo pensa: "Nós sabemos tudo o que você fez em Cafarnaum. Faça as mesmas coisas aqui, na sua própria cidade". Jesus tem sensibilidade para o que o povo pensa. E ele, nas afirmações seguintes, não diz nem sim, nem não. Antes explica a história profética sobre "milagres" ou sobre "as coisas que o povo espera que Jesus faça". E conclui que "nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra". Nenhum profeta é valorizado na sua própria terra, a exemplo da valiosa estátua na parábola de Khalil.

4. Que é que diz Jesus? Ora, Deus enviou Elias somente a uma viúva que morava em Sarepta, perto de Sidom, apesar de que havia muitas viúvas necessitadas em Israel. Elias foi enviado para uma viúva empobrecida, estrangeira, com um filho doente. Neste caso, solidariedade, fé e compromisso foram os pontos significativos das atividades proféticas. E ainda: No tempo do profeta Eliseu, somente o leproso Naamã, o sírio, foi curado, apesar de que havia, em Israel, muitos leprosos. Um estrangeiro recebeu a graça, através do profeta Eliseu. Em ambas as situações não são ostentados atos miraculosos, shows de cura, atos mágicos de fazer chover, apesar de que o clima fosse propício. São valorizados atos cotidianos, pequenos diante dos enormes problemas de doenças, de fome e de seca. Deus se deixa sensibilizar pelas necessidades humanas. Ele age, se faz presente. Valoriza gestos que parecem simples, mas que são protótipos do agir de Deus e exemplos para as próprias atividades humanas.

5. A pregação de Jesus provoca ira na sinagoga. Os ouvintes não podem ser considerados pessoas de má fé, predispostos a fazerem atos violentos. Certamente são pessoas normais que desejavam justiça, bondade, dedicação, cuidado. Provavelmente, nem todos conheciam Jesus. Permitiram que ele lesse as Escrituras e pregasse na sinagoga. Admiraram-se. Mas a pregação de Jesus mexeu com seus conceitos, com seu orgulho, com sua própria pregação, com sua compreensão de Deus e de ser humano. Jesus incluiu todos e todas, inclusive as pessoas que a religião excluía. A leitura bíblica e a explicação de Jesus foram tão simples e claras que não as suportaram. Não agüentaram o fato de Deus, segundo a pregação de Jesus, amar todos, incluindo pessoas que, segundo a tradição da sinagoga, não mereciam o cuidado da parte do Deus de Israel: viúvas e estrangeiros. Jesus as coloca como alvo do agir de Deus. E é claro, do agir humano. Não desprezar, ignorar e separar, mas amar em palavras e ações.

Todas as pessoas que estavam na sinagoga ficaram iradas. Decidiram arrastar Jesus para fora. Levam-no para fora da sinagoga e da cidade, ao alto do monte, para jogá-lo dali abaixo. O estranho é que no mesmo texto, o grupo elogia e se encanta com as palavras de Jesus. Poucos minutos depois, o mesmo grupo se deixa tomar pela ira e o condena à morte.

6. Mas aí vem a surpresa de Deus. Jesus passou pelo meio da multidão e foi embora. O grupo que o arrasta para fora, ao monte, vê Jesus se ausentar, no meio da multidão curiosa que olha para Jesus sem desviar os olhos. E Jesus vai. Não deixa de ser surpreendente o fato de Jesus não ser morto, neste momento. Mas, também, não deixa de ser preocupante o fato de Jesus ir embora, enquanto todos, carrascos, simpatizantes, indiferentes, curiosos e parentes olharem para ele, em silêncio. Foi embora como alguém sem valor, sem importância, desprezível, dispensável para aquela multidão.

Falamos, no início, do valor que pessoas atribuem à Palavra e à Comunidade de Jesus. Valorizamos, quando estamos sendo cativados. Assumimos compromissos, quando a Palavra é significativa. Ela é significativa, quando faz parte do nosso projeto de vida. O projeto de vida é legitimado pelas pessoas, quando imbricado na afetividade e na razão humana. Vida e salvação a gente sente, mas a gente também a pensa e reflete. Afetividade e racionalidade estão juntas, são os dois trilhos sobre os quais anda o trem. O povo da vila não tinha ligação afetiva com a estátua, nem reflexão humana que legitimasse o valor da mesma. Sendo assim, estava ali jogada, suja, descuidada, com o rosto no chão, sem valor, desprezível, dispensável, sem importância.

Jesus, na leitura bíblica e na explicação que fez na sinagoga, valorizou a Palavra. Ele puxou-a para o meio. Limpou a sujeira colocada pela ação humana. Levantou o rosto dela. Cuidou bem dela. Devolveu-lhe o brilho. O brilho é este: Hoje se cumpriu o que dizem as Escrituras. "O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo" (Lucas 4.18-19).

Diante do Senhor há dois caminhos. Seguir o exemplo dos moradores da vila, jogar a Palavra no chão, com o rosto virado, pisar nela, desprezá-la, sujá-la com seus próprios interesses e seu egocentrismo. As conseqüências são terríveis. Ver Jesus ir embora. Pagar um preço muito alto, que pode ser a sua própria vida e salvação. Ou estar atento à Palavra, a exemplo do viajante. Fazer uma faxina geral e profunda na mente e no coração. Valorizar a Palavra. Limpá-la, tirando dela o egoísmo e egocentrismo humanos. Cuidar bem dela. Lustrá-la. Colocá-la num lugar bem visível. E convidar para apreciá-la e vivê-la. As conseqüências são maravilhosas: vida e salvação, por graça e fé em Jesus Cristo, lembrando que este é sempre um bom e digno trabalho comunitário das ovelhas do rebanho. Fica conosco, Senhor.

Amém.



P. Teobaldo Witter
Cuiabá, MT, Brasil
E-Mail: twitter@terra.com.br

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