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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

1º Domingo na Quaresma , 21.02.2010

Predigt zu Romanos 10:8b-13, verfasst von Arteno Spellmeier

 

Estimadas Irmãs! Estimados Irmãos! Cara Comunidade!

Será suficiente declarar: "Jesus é Senhor"? Entre os milhares de cristãos existentes no mundo dificilmente haverá um que irá afirmar o contrário, que Jesus Cristo não é Senhor. Os hinos, as orações, as liturgias, as prédicas nos templos de todas as igrejas cristãs estão repletos da confissão: "Jesus é Senhor!" Por que é tão fácil para nós afirmarmos que Jesus é Senhor e por que parece ter sido tão difícil fazer a mesma confissão no tempo do apóstolo Paulo, no tempo das primeiras comunidades cristãs?

As primeiras pessoas que confessavam publicamente "Jesus Cristo é Senhor" corriam o risco de ser - em diferentes épocas com mais ou menos intensidade - perseguidas, presas, torturadas e mortas, de perder seus empregos, de ter os seus bens confiscados pelo Estado, de perder a cidadania e, assim, entrar na categoria de escravos, de ter suas casas de oração destruídas e os livros sagrados queimados. Confessar Jesus Cristo como único Senhor implicava riscos e sofrimentos. Confissão e testemunho de vida se completavam.

Depois de quase trezentos anos de perseguição, o Imperador Constantino passou a tolerar, a partir do ano de 313, o cristianismo por motivos políticos e, mais tarde, o transformou na religião oficial de todo o Império Romano, passando as comunidades cristãs de impotentes a poderosas, de ameaçadas a ameaçadoras, de perseguidas a perseguidoras, de minorias a maiorias, de livres para ouvir e viver de acordo com o Evangelho a comprometidas com a política do Império. As pessoas ameaçadas não eram mais as que confessavam publicamente que Jesus é Senhor, mas as que o negavam. Inverteu tudo.

No século 5, uns 150 anos depois do fim da perseguição à igreja cristã pelo império, o santo Hilário escreveu: "...Em lugar disto (das antigas perseguições) enfrentamos atualmente um perseguidor, um inimigo muito mais perigoso que nos adula, ou seja, o Imperador de Roma. Ele não mais fere as nossas costas, mas pendura ordens e condecorações em nosso peito. Ele não confisca mais os nossos bens, pelo contrário, ele nos dá presentes de grande valor. Ele não nos obriga a sermos livres de verdade, aprisionando-nos, mas nos transforma em escravos, quando nos honra e homenageia em seu palácio. Ele não mais nos ataca pelas costas, mas se apossa de nosso coração. Ele não mais nos manda decapitar, mas mata o nosso espírito com ouro... Ele diz sim a Cristo para, de fato, negá-lo. Ele anuncia união, mas impede comunhão".

Estão entendendo, porque ficou tão fácil e inofensivo confessar Jesus Cristo como Senhor? A confissão do senhorio de Jesus Cristo não encontrava mais necessariamente a sua complementação no testemunho de vida. Paulatinamente os cristãos fizerem o senhorio de Jesus concordar com todas as barbaridades cometidas por eles mesmos, pelo império e pela Igreja a tal ponto que imperadores e papas passaram a representar Cristo sobre a terra. Era tão bom ser adulado, receber condecorações no peito, de ser homenageado no palácio, de poder contar com os abonos e subsídios financeiros do Império para a construção de templos cada vez maiores, para a realização das assembléias e dos sínodos... Era tão bom ter muito dinheiro e poder para fazer tantas coisas boas, mesmo que com isso "o espírito fosse morto a peso de ouro, o Cristo negado de fato e a união imposta à custa da comunhão". Pois, com o passar do tempo, aconteceu - e com a concordância de boa parte dos cristãos - o que o santo Hilário denunciou: "... Ele não confisca mais os nossos bens, pelo contrário, ele nos dá presentes de grande valor. Ele não nos obriga a sermos livres de verdade, aprisionando-nos, mas nos transforma em escravos, quando nos honra e homenageia em seu palácio. Ele não mais nos ataca pelas costas, mas se apossa de nosso coração. Ele não mais nos manda decapitar, mas mata o nosso espírito com ouro.." Pior que isto. Os próprios cristãos passaram a gostar do poder e a adequar o senhorio de Jesus Cristo à nova realidade, restringindo-o cada vez mais ao mundo dos mortos, à sacristia, à intimidade. E desde aí não parou mais a participação dos cristãos no jogo do poder. Foram corrompidos e se deixaram-se corromper, transformaram-se em corruptos e corruptores - em diferentes épocas com diferente intensidade.

A confissão do senhorio de Jesus Cristo, o testemunho de vida e a liberdade de seguir o Evangelho não mais se complementavam. O inimigo não era mais somente externo, mas passou a ser interno. Como enfrentar os dois? Como recuperar o sentido original da confissão de Paulo: "Se você declarar com os seus lábios: ‘Jesus é Senhor' e no seu coração crer que Deus o ressuscitou você será salvo"? Em todos os lugares, em que as comunidades cristãs são minorias oprimidas elas entendem sem muitas explicações porque para Paulo a confissão "Jesus é Senhor" é o centro, a síntese do Evangelho e passará a ser também para elas, com todas as conseqüências dela decorrentes.

O que, no entanto, significa para nós num entorno majoritariamente "cristão" confessar que Jesus é Senhor sobre a vida e a morte e que nos ressuscitará? Quem quer abrir mão de si mesmo para ficar livre em Cristo? Quem consegue esvaziar-se de seus medos, também do medo da pobreza? Quem consegue abrir mão da necessidade que tem de ser reconhecido pelo menos um pouco pelas outras pessoas? Quem consegue abrir mão da necessidade de sentir um pouco de segurança quanto à firmeza das bases de sua fé e de ter um mínimo de controle sobre a vida?

A confissão "Jesus é Senhor" tem consequências para a nossa relação com os nossos bens e com o sistema econômico de nosso país que, possivelmente, será apregoado como o melhor e o mais justo de todos, se não o único possível. Esta confissão tem consequências para a nossa relação com todos os sistemas que provocam morte, cerceiam a liberdade, atropelam a justiça porque se julgam donos de tudo e de todos, assumindo o lugar de Cristo. Esta confissão tem consequências para a nossa relação com o meio ambiente e toda a criação de Deus. Esta confissão tem consequências para a nossa relação com as outras pessoas, com o nosso meio social, com o nosso trabalho e o das outras pessoas. Esta confissão tem consequências para a forma como nós nos vemos a nós mesmos e para a definição do nosso papel dentro da comunidade cristã e da sociedade: não precisamos mais ser tudo porque nos complementamos uns aos outros; podemos aceitar a alteridade das outras pessoas porque Deus nos aceita em nosso jeito de ser diferentes; não precisamos mais ser a melhor pessoa de todo mundo porque somos aceitos por Deus do jeito como somos. Esta confissão tem conseqüências para a nossa relação com a morte porque através da ressurreição a vida ganha um novo sentido.

Estaremos prontos para assumir as consequências do discipulado, se o que é dito em Filipenses 2.8 ganhar sentido para nós: "Ele (Jesus Cristo) se rebaixou, andando nos caminhos da obediência até a morte - e morte na cruz". Ao tentarmos confessar Jesus Cristo como único Senhor e disto tentarmos fazer o nosso testemunho de vida, descobriremos que estamos numa situação semelhante à do povo judeu e das primeiras comunidades cristãs e que vivemos das mesmas promessas: 1º "Deus aceita as pessoas por meio da fé que elas tem em Jesus Cristo. Ele faz isto a todos que crêem, pois não há diferença entre as pessoas" (Rm 3.22); 2º "A mensagem de Deus está perto de você, nos seus lábios e no seu coração, isto é, a mensagem de fé que anunciamos" (Rm 10.8); "Isso se refere a todos, pois não há diferença entre judeus e não-judeus. Deus é o mesmo Senhor de todos e abençoa muito todos os que pedem a sua ajuda" (Rm 10.12).

Ao confessarmos Jesus Cristo como único Senhor e disto tentarmos fazer o nosso testemunho de vida, descobriremos que estamos na situação de Lutero que em sua explicação sobre o batismo responde da seguinte forma a pergunta "Que significa este batizar com água"? "Significa que, por arrependimento diário, a velha pessoa em nós deve ser afogada e morrer com todos os pecados e maus desejos. E, por sua vez, deve sair e ressurgir nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus para sempre".

Se é a participação no poder que começou a criar e continua a criar tantas dificuldades para a nossa sintonia de comunidades cristãs com o senhorio de Jesus Cristo, por que não experimentamos ler as escrituras com os olhos dos pobres, viver a impotência das pessoas com deficiência, sofrer com as mães que tem filhos dependentes químicos, sentir o abandono das crianças de rua? Porque enxergamos nestes grupos de pessoas, no melhor dos casos, objetos de caridade e não irmãos e irmãs, sujeitos que Deus está enviando para que nos livremos de um monte de necessidades: algumas sérias, outras criadas, nenhuma que não possa ser superada pela mensagem da salvação e da promessa de reconciliação?

Amém!



P. Arteno Spellmeier
São Leopoldo, RS, Brasil
E-Mail: arteno.nho@terra.com.br

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