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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

20º Domingo após Pentecostes , 10.10.2010

Predigt zu Lucas 17:11-19, verfasst von Cláudia P. S. Pacheco

Prezada comunidade!

Inevitável! A cura dos dez leprosos evoca o tema da ingratidão. Conversando a respeito deste texto num grupo de senhoras foi unânime a afirmação: "Por que a gente é assim? Esquece de agradecer." As senhoras ficaram impressionadas porque os nove não agradeceram. Despertaram histórias de ingratidão, lembraram situações vividas na própria comunidade como, por exemplo, a de famílias que trazem suas crianças para o batismo e depois não voltam mais. Enfim, as nove pessoas ingratas tornaram-se o centro da atenção.

Segundo um comentarista, o mundo em que vivemos quer surpreender-nos pela tristeza humana. Os meios de comunicação, entre eles, a televisão oferecem diariamente um banquete de conflitos humanos de toda ordem (miséria, violência, corrupção) de modo que essas surpresas diárias nos paralisam. Assim, ficamos vulneráveis diante da miséria humana e sem ação. Portanto, diz ele, "o grande desafio da fé é sermos surpreendidos pela alegria."

Então, deixemo-nos surpreender pela alegria do texto. Considero que ela está na pessoa que voltou para louvar a Deus. O próprio Jesus nos coloca diante desta pessoa ao perguntar: "Por que somente este estrangeiro voltou para louvar a Deus?" Que surpresas residem nesta vida? Era uma pessoa estrangeira, um samaritano, de uma cultura diferente. Sabemos bem que os judeus não se davam com os samaritanos. Segundo a tradição judaica da purificação, este povo por se misturar com outras culturas tornara-se um povo impuro. Antropologicamente, cada cultura se achará o centro e portadora da verdade, da sua verdade. Jesus encontrou a fé no samaritano e isto basta para nos convidar a rever nossas verdades como absolutas, e nosso jeito de viver como o único e melhor.

Também esta pessoa sofria de uma doença que hoje é reconhecida pela medicina por "Hanseníase", pois é transmitida pelo bacilo de Hansen. Há um grande esforço social da área da saúde para que seja chamada pelo nome científico, pois a doença carrega em si um mal histórico que é transmitido à pessoa que dela padece, devido a uma tradição secular de preconceito difundida na sociedade, incluso em ambiente religioso. Como exemplo, a tradição judaica considerava a Hanseníase uma conseqüência do pecado. Segundo Levítico 13.45 "a sua praga está na cabeça". A doença sempre gerou medo devido à possibilidade de contágio, mesmo que a ciência tenha descoberto que de nada vale o isolamento, pois a maioria das pessoas é resistente ao bacilo e não desenvolve a doença. A presença de amigos e familiares é fundamental para a cura.

O escritor Grahan Greene adverte que "lepra" é uma palavra, não é uma moléstia. E diz ainda que as pessoas nunca acreditarão que lepra se cura, pois "palavra não se cura". A vergonha de se ter uma doença como essa ainda constitui um muro para a obtenção da cura. Contudo, os fatores mais importantes para o desenvolvimento da doença são a alimentação errada ou a nutrição insuficiente. As pessoas carentes são as mais expostas ao problema. A doença tem suas raízes na desigualdade econômica, muito antes do que no campo religioso. Em nosso país, há esforços no sentido de se por um fim a esse mal: dia 24 de janeiro é o Dia do Hanseniano; dia 26 de janeiro é o Dia Mundial de Combate à Hanseníase; Dia 27 de janeiro é o Dia Estadual de Combate à Hanseníase. E em nossa IECLB, a cada mês, o dia 26 é o Dia de Orar pela Diaconia. Contudo, depois de nosso país ter assinado um termo de compromisso mundial para eliminar a doença até 2010, verifica-se que a cada ano 40 mil novos casos são identificados. Outras doenças, não só a Hanseníase, ainda hoje são motivo para a exclusão social, aumentando a dor que a pessoa já enfrenta. O preconceito é uma grande barreira que impede as pessoas de viver bem.

No texto bíblico, o grupo que implorava a compaixão de Jesus carregava um pesado fardo (sofrimentos físico, espiritual e social). A compaixão de Jesus sobre as dez pessoas manifesta o amor incondicional de Deus sobre todos os seus filhos e filhas. O sol nasce pra todos. É um amor que não se restringe a uma cultura, religião ou doença social. É um amor que cumpre o propósito do Reino. Os "leprosos" constituem um grupo marginalizado pela sociedade da época, mas privilegiado no Reino de Deus. Um grupo que manifesta a chegada do Reino (Mt 11.5). Mas, só um deles assume o propósito do Reino, é aquele que reconhece, agradece e que louva a Deus. Alguém que não era da casa de Israel. Deus não se arrepende de ter curado a todos, eles precisavam viver, sem discussão de mérito.

O preconceito em si é uma doença maléfica e mortal que afeta as relações humanas. Não nos cabe julgar gratos e ingratos, mas procurar ver as pessoas diferentes de nós, com os olhos de Deus, e não desprezá-las na visão do Reino. Pois é Deus que convida para "o banquete" do Reino (Mt 22). Se coubesse aos seres humanos o julgamento, certamente seria desprezado o que para Deus é essencial no seu Reino. O amor de Deus transcende o conhecimento humano e seus juízos a respeito de conceitos como "ingratidão". Sinto que o texto convoca para priorizar ações de fé em contextos de não-vida. Portanto, o que efetivamente as comunidades cristãs têm feito para incluir as pessoas com doenças e deficiências na vida comunitária? Que lugar ocupam as pessoas que estão doentes no plano da comunidade? Por quanto tempo vamos questionar a solidariedade da igreja com os povos indígenas e outros marginalizados? A igreja está inserida nos espaços públicos (conselhos municipais) para assegurar a cidadania para os seus irmãos e suas irmãs? Saibamos que isto é prioritário no Reino.

Outra alegria do texto se refere à força que brota da fé, mesmo na fraqueza. O testemunho deste homem de "voltar e louvar a Deus" revela que a palavra de Jesus: "Vão e peçam aos sacerdotes que examinem vocês" (Lc 17. 14) foi aceita pela fé. E a cura que não tinha sido dada de imediato, no caminho foi consumada. Era necessário fazer o caminho na confiança. A fé é ativa. Está na gente enquanto buscamos, enquanto caminhamos. Na perspectiva do Reino, o hanseniano assume a sua luta por causa da fé. A fé é o diferencial. Por isso, assume a atitude de reconhecer, agradecer e louvar a Deus por tê-lo feito caminhar em busca da cidadania. As pessoas com doenças e deficiências podem fazer o próprio caminho. Mas Jesus, ao enviá-las ao sacerdote, está reintegrando estas vidas nos diversos segmentos sociais. Isto nos desafia também ao comprometimento evangélico de criar com elas ambientes que nos alimente na fé em comunhão. Bem mais que retirar as barreiras arquitetônicas, precisamos retirar as de preconceito e construir pontes humanas de acesso. Se alguém afirmar que isto não é necessário, que hoje em dia não é mais assim, pergunto: Então, onde estão estas pessoas? Porque vemos tão poucas ou não as vemos nos cultos em nossas igrejas? Não faz muito tempo que nosso país deixou de ser líder mundial em prevalência da Hanseníase. Nós é que não visualizamos as expressões de preconceito em nossas comunidades.

Neste ano, na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência, durante a Caminhada pelos Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência também, a princípio, surpreendeu-me a tristeza de ver apenas a participação de três pessoas de nossa comunidade. Depois, enquanto caminhava, surpreenderam-me bem mais as quase vinte cadeirinhas de rodas reivindicando a acessibilidade. Nunca tinha visto tantas crianças em cadeiras de rodas. Se hoje contamos com a presença de pessoas antes marginalizadas em nossas comunidades cristãs é devido à fé dessas pessoas e de seus cuidadores e seu respectivo empenho por cidadania. Só quem passa pelo problema sabe o que significa.

De fato, não passa pelos nos nossos corpos o sofrimento do outro e tampouco nos aproximamos dos corpos marginalizados. Por vezes, no imperativo de ajudar, e mostrar diaconia como desencargo de consciência, aderimos a projetos assistenciais que não permitem que a pessoa faça o caminho da sua libertação. Uma verdadeira inclusão, cura e libertação de nossas doenças e preconceitos demanda tempo de convivência, e de diálogo respeitoso com o diferente. Tudo tem o seu tempo, mas tempo também é dádiva e graça. Que Deus tenha misericórdia de nós!

De fato, a tristeza humana e sua ingratidão nos impacta. Se tivermos pouco tempo de interpretação para este texto bíblico, a ingratidão é a impressão mais imediata. Ela nos compromete moralmente, mas muito pouco. É preciso reafirmar que o samaritano hanseniano é o presente deste texto, a surpresa, a dádiva que nos convida ao horizonte do Reino, aproximando-nos da realidade de seus grupos privilegiados. Ao mesmo tempo estas pessoas são ordenadas como agentes de fé e de testemunho do Reino inaugurado por Jesus, em seus próprios corpos e histórias, quando Ele diz: "Levante-se e vá. Você está curado porque teve fé" (Lc 17.19).

Visto por um lado, "palavra" não se cura a si mesma. Mas acredito que o Verbo Encarnado é a única Palavra/Ação que, recebida com fé, tem o poder de nos curar na totalidade. Que como Corpo de Cristo presente no mundo, possamos em comunidades conjugar a palavra que liberta.

Amém.



Pa. Cláudia P. S. Pacheco
Santo Ângelo, RS, Brasil
E-Mail: claudiaspacheco@hotmail.com

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