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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

último Domingo do Ano Eclesiástico / Domingo Cristo Rei, 21.11.2010

Predigt zu Lucas 23:33-43, verfasst von Gottfried Brakemeier

Prezada comunidade!

Será que houve um engano na escolha deste texto para o domingo de hoje? Ainda não estamos na quaresma, quando iremos contemplar a crucificação de Jesus e sua morte. Mas é exatamente disto que o texto fala. Trata-se de uma típica história da paixão. Jesus está sendo levado ao lugar chamado "Calvário" ou então "Caveira". Que nome horrível! Ali é pregado na cruz juntamente com dois outros que são bandidos, criminosos, gente má. É em tal companhia que Jesus vai morrer. E os soldados romanos lançam os dados para ver quem fica com a roupa de Jesus. Outros derramam cinismo em cima dele, dizendo: "Se você é o rei dos judeus, salve-se a si mesmo." Diziam isto porque no topo da cruz havia um letreiro no qual estava escrito: "Este é o rei dos judeus." Será Jesus mesmo um rei? É sobre isto que no fundo se trava também a discussão entre os dois crucificados ao lado dele. Um creu, o outro não. Um blasfemou, enquanto o outro pediu que Jesus se lembrasse dele ao chegar em seu reino. E Jesus lhe promete: "Ainda hoje você estará comigo no paraíso."

Não, hoje nós não temos a sexta-feira santa. Nós estamos, isto sim, no último domingo do ano eclesiástico. Na próxima semana vamos celebrar o Advento e com ele o início de um novo ano litúrgico. O ano da igreja não coincide com o ano do nosso calendário que termina no dia 31 de dezembro e inicia no dia 1º de janeiro. O ano da igreja começa com o Advento para então comemorar as principais estações da trajetória de Jesus, passando pelo Natal, pela Paixão de nosso Senhor, pela Páscoa, pelo Pentecostes e assim por diante. Mesmo assim, este texto não está fora de lugar. Pois o último domingo do ano eclesiástico é chamado tradicionalmente de "Domingo Cristo Rei". E é este o tema do texto. O letreiro o indica. E nós sintonizamos com ele, quando cantamos e confessamos: "Jesus Cristo é Rei e Senhor, seu é o reino e o louvor, é Senhor potente hoje e eternamente."

E, no entanto, na cruz nada se enxerga disso. Ela não mostra nem força nem glória nem poder. Pelo contrário. A cruz é um sinal de sofrimento, de fraqueza, de vergonha. Ninguém é tão indefeso como quem foi condenado à morte e enfrenta o suplício. Este já sempre tem sido o escândalo da religião cristã, a saber, que nós cremos em alguém que morreu na cruz. Não há nada igual em outras religiões. Como pode ser rei dos judeus, respectivamente rei da humanidade alguém que está pendurado numa cruz e sofre uma das mais terríveis penas que os romanos impunham a escravos fugitivos e rebeldes políticos? Se de fato é rei, que desça da cruz, demonstre seu poder e se vingue em seus carrascos. Esta sem dúvida foi a opinião pública da época. Nós vamos nos sujeitar a Jesus, sim, vamos adorá-lo e seguir-lhe os ensinamentos. Nós vamos fazer tudo o que nos pede, mas não sem que dê provas de sua realeza. É exigir demais aceitar Jesus como rei, enquanto está pregado lá na cruz agonizando. Jesus! Demonstra o teu poder e nós vamos acreditar que tu és rei. Então nós vamos aplaudir e cantar "hosana".

Pois é, prezada comunidade! Nós encerramos hoje mais um ano de pregação do evangelho. Nós olhamos para trás. Todos os domingos e em muitas outras oportunidades temos dado testemunho de Jesus Cristo. Nós o temos invocado como Rei e Senhor. Isto para nós se tornou quase uma rotina. Por isto é bom sermos lembrados da provocação que a fé em Jesus significa. Nosso rei é alguém que foi crucificado. Cremos em alguém "crucificado, morto e sepultado". Assim o confessamos no Credo Apostólico. No mundo de então, dominado pelos romanos, isto soou como um deboche e ainda hoje pode causar estranheza. Jesus não corresponde à imagem de um rei. Ele não é rico, não é chefe de um exército, não tem palácio onde mora, ele não exibe luxo, e nem mesmo povo ele tem. Onde é que está o seu reino? Ele morre sozinho, na cruz, abandonado por todo o mundo. Ele não consegue salvar-se a si mesmo. Os líderes da época, o sumo sacerdote, o rei Herodes, o procurador Pôncio Pilatos, todos eles se evidenciaram como mais poderosos do que o mestre Jesus de Nazaré que pregou o amor ao próximo e sucumbiu vitimado pelo pecado humano.

Mesmo assim a cristandade tem a coragem de anunciar Jesus como rei. E nós o fazemos conscientemente. Aliás, o próprio Jesus o confirma. Quando Pilatos o pergunta: "És tu um rei?" sua resposta é "sim!". Mas ele acrescenta: "O meu reino não é deste mundo." (João 18.36s) Isto significa: Jesus é um rei diferente. Não é como os demais. Ele não explora o povo, cobrando impostos e recrutando jovens para serem soldados. Ele não procura segurar o poder, eliminando os seus concorrentes. Ele não usa a espada para derrotar os seus inimigos. Ele não constrói o seu governo nem em cima de armas nem em cima da força do dinheiro. Normalmente são estes os dois pilares que sustentam o poder. Você precisa de poder militar e você precisa de poder econômico para dominar o mundo. É assim que se faz um rei. É claro que também um pouco de carisma pessoal pode ajudar a ganhar popularidade. Mas a história ensina que o poder costuma ser brutal. Você deve se impor, seja mediante a construção de bombas atômicas, seja através de guerra cambial ou então de outros recursos que lhe prometem a perspectiva de dominar o mundo. A disputa do poder é sempre cruel. Quem quiser ser "rei" neste mundo não deve ter escrúpulos morais. Deve apostar na força e buscar a vitória.

Jesus pensa de modo diferente. Para ele "poder" é outra coisa. Está aí não para dominar, subjugar, reprimir. Poder está aí para servir. É impressionante mesmo! Em vez de se vingar em seus inimigos e amaldiçoá-los, Jesus intercede por eles junto a Deus, dizendo: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." O "Rei Jesus" tem outra estratégia do que os reis comuns. Ele vem para dar "testemunho da verdade", ou seja, para lembrar as pessoas da vontade de Deus, para lhes dizer que Deus ama a criatura, que a paz não se faz por armas e, sim, pelo amor. Por isto mesmo Jesus morre tão indefeso. A cruz é o testemunho máximo de seu amor que rejeita os meios da violência. Jesus prefere tornar-se vítima do pecado a pagar o mal com o mal. É justamente assim que Jesus se torna rei como nenhum outro. Ele traz um pouco do "reino de Deus" para dentro deste mundo. Violentos são os que crucificam Jesus. Ele mesmo não o é. Pelo contrário, com ele veio a paz, veio o perdão de Deus, veio a compaixão que Deus tem com relação a este mundo tão tragicamente imerso em violência, ódio, pecado.

"Jesus Cristo Rei" - tal confissão é um desfio a todos os demais reis neste mundo, aos governantes, a todos que de uma ou de outra forma exercem poder. Não se permite a nós cristãos demonizar o poder como tal. Todo governo precisa dele, melhor, ele precisa de autoridade. Mas, quem apostar somente na força das armas, do dinheiro, do jogo político, dos recursos naturais e desconsiderar a justiça, o direito humano, o amor vai se dar mal. Em Jesus nós podemos aprender - eu o repito - que o poder está aí para servir, não para escravizar as pessoas ou explorá-las. Sua cruz é disto um inequívoco sinal. Ele é antipático, sim, mas profundo e significativo. Para muitos dos nossos contemporâneos a cruz continua sendo um escândalo. Estão chegando notícias alarmantes de perseguição aos cristãos no Iraque, na Índia e em outros países. Infelizmente a violência responsável pela crucificação de Jesus continua em ação no sofrimento causado a seus seguidores. Rogamos a Deus que perdoe aos perseguidores. Porque certamente também eles não sabem o que fazem. Pedimos por paz nesta terra.

A confissão "Jesus Cristo é Rei e Senhor" certamente é uma provocação. Mas ela é extremamente salutar. A cruz de Jesus Cristo documenta o amor que Deus tem a este mundo. Ela questiona o tradicional culto ao poder e quer motivar para a ação reconciliadora. Em vez de destruir vida, Jesus a constrói, salva, resgata. É esta a sua obra "real". Por isto nós o glorificamos e celebramos este Domingo Cristo Rei.

Amém!

 



P. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS, Brasil
E-Mail: gbrakemeier@gmx.net

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