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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

2° domingo de Pentecostés, 26.06.2011

Sermón sobre Mateo 7:21-29, por Marcos Abbott

Irmãos e irmãs em Cristo! 

Para a pregação de hoje são sugeridos apenas três versículos. Para compreendê-los bem, é fundamental olhar para os versículos que os antecedem. No capítulo 10, o evangelista Mateus descreve o envio dos 12 discípulos, dando-lhes autoridade e poder (vv 1-5).  Eles são enviados às ovelhas perdidas do povo de Israel, com a recomendação de que nada levem nos bolsos e nem sequer bolsas (vv. 5-10). Este detalhe é particularmente importante para compreendermos de forma correta as instruções dos vv 40-42. Jesus ainda avisa que eles terão de enfrentar perseguição (16-25), que não devem temer a pessoa que pode matar o corpo, mas sim a Deus que tem poder sobre o corpo e a alma (26-28). Jesus lhes promete o amor de Deus (29-31), e que vai reconhecê-los perante o Pai (32-33), apontando também para o fato de que ele não veio trazer paz, mas espada (34-39). Vemos que o capítulo 10 é dedicado ao envio e à missão dos discípulos, encerrando com os versículos 40-42, tema desta prédica, nos quais promete recompensar aqueles que os receberem.

 

O evangelista revela um plano de quatro parceiros: Deus, Jesus, os discípulos, e os hospedeiros: Deus iniciou a parceria através do envio de Jesus que envia os discípulos. Estes dão o terceiro passo e vão à missão, sendo que as pessoas que os acolhem fecham o quadro. A estes é dada a tarefa de fornecer o suporte para que a missão possa acontecer. Os discípulos devem confiar que serão recebidos por estranhos que fornecerão o necessário para suprir suas necessidades.

 

As recomendações deste texto têm um papel importante em relação ao capítulo dez do Evangelho de Mateus. É uma declaração teológica importante. "Quem recebe vocês recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.” No mundo antigo conhecia-se muito bem a prática de enviar pessoas para levar os recados e as comunicações. Para nós é um pouco difícil compreender a importância da função destes enviados, porque temos um sistema de comunicação que permite contato imediato. No mundo antigo a comunicação dependia de representantes que eram enviados e autorizados a agir em nome do remetente, que deveriam ser capazes de representar os interesses de quem os enviou. Jesus é o enviado de Deus. Os discípulos são enviados de Jesus. Aqui está representada uma linha de autoridade.

 

Jesus usa um conceito familiar para a mente judaica: receber o representante de alguém era o mesmo que receber e aceitar a pessoa que o enviou. Isto significa que aqueles que acolhem os mensageiros de Jesus e lhes dão boas-vindas, recebem Jesus e o próprio Pai. São recebidos, hospedados na casa, e levados à sinagoga onde são apresentados e conseguem a permissão de ensinar. Esta explicação é importante para entender o papel importante que tem a hospitalidade e o acolhimento.  Acolher abre as portas e dignifica quem é recebido e quem este representa. Citados são os profetas, os justos e os pequeninos. O movimento aparentemente é de cima para baixo. O profeta é o porta-voz de Deus; o justo é o que obedece a Deus; os pequeninos podem ser as crianças, os pobres – enfim: aqueles que são vulneráveis. Representam aqui as pessoas da comunidade que não exercem função especial. Um simples copo de água fria é algo muito precioso para uma pessoa que está com sede. Por menor que seja a ação, esta não será esquecida. E mais: é um sinal de hospitalidade e de acolhimento. A história da viúva de Sarepta, que partilha seu último punhado de farinha e azeite com o profeta, imediatamente vem à mente (1Rs 17.8-24). A esta não faltou mais a farinha na tigela e o azeite no jarro.

 

Em verdade, os versículos quarenta a quarenta e dois são surpreendentes, porque muitas vezes não damos atenção a estes detalhes em nossas comunidades. Mas vejamos: acolher um discípulo na missão é acolher o próprio Cristo, e acolher a Cristo é acolher o Pai. É recomendado também acolher os pequeninos. Tenho a impressão que Jesus faz aqui uma inversão: acolher bem às pessoas que se destacam é fácil. Já acolher aos pequeninos com um gostoso copo de água fria é que é o verdadeiro desafio. Aliás, uma das inversões do Reino de Deus é que a maior glória é encontrada em lugares inesperados, até mesmo, e quem sabe justamente nos pequenos atos que adquirem significado especial. Merece ser lembrado que a vida de fé e o caráter do cristão não são construídos a partir de grandes ocasiões e eventos, mas de muitos pequenos gestos diários, praticados ao longo da vida, como o de “oferecer um copo de água fria”. Quando profetas, santos e “pequeninos” são colocados lado a lado, então o evangelista claramente faz a referência de que na comunidade devemos cuidar uns dos outros. O carinho expresso no pequeno gesto de “dar o copo de água” é a expressão concreta do mandamento do amor, que não vai passar despercebida por Deus e vai receber a sua recompensa.

 

Entramos no último ponto que eu gostaria de abordar nesta pregação: a promessa da recompensa. Vamos ver do que se trata. Muitos são de opinião e têm a expectativa de que se fizermos coisas boas, Deus vai nos recompensar, vai ser generoso. Se fizermos coisas boas de forma suficiente, Deus vai admitir-nos no céu. É uma opinião muito popular, mas ela não corresponde à verdade. A Bíblia deixa claro que não podemos ganhar a vida eterna por nossos atos, pois como pecadores nós não vamos conquistar ou ganhar a salvação. Não alcançamos o céu por nossos méritos ou como recompensa. Este, aliás, foi o tema central da Reforma, sobre o qual Martim Lutero nos deixou muitos ensinamentos.

 

Nós nem precisamos nos preocupar com isto. Deus deu um jeito. Em Jesus Ele se tornou um ser humano e fez tudo para nos livrar do pecado, através da morte na cruz, o que, por sua graça, foi creditado para a nossa salvação. Basta-nos confiar em Deus. A fé em Jesus é suficiente, Ele nos carregará consigo para o céu. A salvação é um presente gratuito do Pai que ama seus filhos e sua criação. Ele o faz por amor.

 

Este amor surpreendente de Deus, que nos torna livres da preocupação de termos que conquistar a salvação, e que flui de forma graciosa como fonte de águas vivas, faz com que possamos voltar as nossas vistas em outra direção. Nosso olhar pode se dirigir às pessoas que vivem ao nosso lado, aos “mais pequeninos”, à comunidade. O amor atencioso pode fluir de forma livre às pessoas, de tal forma que podemos ajudar os outros de todas as maneiras, começando com os mais simples gestos. Esta vai ser então a nossa resposta de gratidão a Deus por nos salvar e cuidar de nós.

 

Todas as boas ações que fazemos - mesmo tão pequenas como o de dar "um copo de água fria", são notados por Deus. Jesus diz que as pessoas que fazem estas coisas não perderão a sua recompensa. Ele não está falando que por causa destes atos teremos a recompensa do céu – a salvação, porque, como já falei, esta já temos pela fé em Jesus, que fez tudo para nós. Ele está falando da recompensa que teremos ao cuidarmos uns aos outros, ao servirmos uns aos outros. Ele está falando das consequências da hospitalidade e do acolhimento na comunidade, de como poderemos experimentar o benefício de uma convivência fraterna e carinhosa, onde todas as pessoas têm lugar, são bem recebidas, convivem como amigos e gostam de estar juntos. A promessa é de que Deus nos recompensará com o seu favor em nossas vidas, alimentando-nos renovadamente por seu infindável amor, onde nada nos faltará. Lembremos: é por isto que, ao serem enviados, os discípulos não precisam levar nada nos bolsos e nem sequer bolsas.

 

Eu sei e, em verdade, todos nós sabemos que esta não é a nossa realidade, nem mesmo em nossas comunidades. Isto, no entanto, não é motivo de desânimo ou de desistência. Por enquanto experimentamos sinais. O texto bíblico deste dia nos indica que estamos no caminho certo ao andarmos na contramão do ditado “cada um por si e Deus por todos”. A intenção nem é construir “pequenos pedaços de céu” aqui na terra. Mas faz bem saber somos enviados a construir espaços de hospitalidade e acolhimento.

Amém!

 

(Caso houver possibilidade, sugiro que nas comunidades do Norte, onde faz calor, seja viabilizada a distribuição de um copo de água fria logo após a pregação enquanto se canta um hino. Já para as comunidades do Sul, onde faz frio, um copo de chá quente.)

 



Marcos Abbott
Facultad de Teología SEUT
El Escorial, España
E-Mail: marcos.abbott@centroseut.org

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