Estimada comunidade!
Nossa preocupação como Igreja tem sido o olhar cuidadoso para com os pequenos, isto é, com os que, muitas vezes, são colocados à margem. O cuidado e a reconciliação tem sido tema preferencial em muitas comunidades. Temos tido este olhar cuidadoso e reconciliador não porque achamos isto interessante, mas por causa da tarefa que recebemos do próprio Cristo. O texto previsto para a pregação neste domingo quer nos auxiliar no cumprimento desta tarefa. Ele se encontra-se em Mateus 18.15-20.
(Leitura do texto)
O tema deste 12º. Domingo após Pentecostes que diz respeito à correção fraterna e reconciliadora é dado pelo próprio Evangelho. As leituras paralelas, tanto de Ezequiel 33.7-11, como de Romanos 13.8-14, ressaltam outros aspectos. Enquanto Ezequiel fala da necessidade da denúncia profética para que o povo não pereça, o texto de Romanos acentua a importância do amor ao próximo no cumprimento da lei.
Sim, e agora? Como pregar sobre um assunto de ordem prática e disciplinar como esse da correção fraterna e reconciliadora? Certamente não temos visto, em nossas comunidades, uma regra disciplinar que preveja a correção de um membro que erra. Há, isto sim, tentativas de alertar e admoestar o/a irmão/ã na fé. Dificilmente a comunidade exclui um membro de seu meio por razões de conduta. O que a gente vê são membros sendo excluídos por não contribuírem.
Além do mais, quando discutimos sobre questões de ética na comunidade, diz-se que este assunto pertence à esfera privada de cada um. Mais ou menos assim: "Ninguém tem algo a ver com a minha vida particular". Diz-se que cada cristão deve saber o que é certo e o que é errado. Por um lado, esta compreensão evita a caça às bruxas na comunidade e chama para a responsabilidade pessoal. Por outro lado, a privatização da ética está ligada a um liberalismo generalizado, onde tudo é válido e nada pode ser cobrado. Não creio que uma comunidade, que tenha normas básicas de atuação ética comuns para todos os membros, precise ter medo de perder seus fiéis. Ao contrário, a credibilidade poderia ser recuperada em não poucos casos.
Isto porque uma comunidade que leva a sério o erro de seus membros tem mais credibilidade diante das outras pessoas. Convém estar consciente de que uma comunidade é formada por pessoas pecadoras. Por isto, a intenção da regra comunitária neste texto do evangelho de Mateus não pode ser a de criar uma comunidade pura, sem erro, sem pecado. Isto não seria possível. A comunidade pode somente dar um exemplo de como ela lida com a ovelha que se perdeu. Assim como o pastor vai em busca dela para recuperá-la e integrá-la ao rebanho, a comunidade vai buscar o membro que se encontra em pecado. O perdão ao que está em dívidas é o objetivo final e último de Jesus e será o da comunidade também. A correção fraterna sugerida por Jesus será sempre um meio para ganhar o irmão de volta e não excluí-lo. Para tanto, o faltoso deve estar consciente e arrependido. O perdão também não pode ser barato. De qualquer maneira, olhando para a realidade do evangelista Mateus, dificilmente aquela comunidade excluía algum membro pecador. Pelo contrário, acreditava-se que a correção fraterna sugerida por Jesus surtisse algum efeito positivo.
Talvez a história a seguir nos ajude a entender a variedade de atitudes que podemos ter para com o outro, sem que necessariamente o faltoso seja punido.
CACHIMBO DA PAZ
Certa vez, um jovem membro de uma tribo indígena apresentou-se ao cacique, informando-lhe sua decisão de eliminar um inimigo que o havia ofendido gravemente. Decidira matá-lo sem piedade. O cacique escutou-o atentamente e propôs:
- Faça o que você tem em mente. Porém, antes de ir, vá até a árvore sagrada do nosso povo, encha o seu cachimbo de tabaco e fume-o com calma.
Então o homem tomou seu cachimbo, encheu-o de tabaco e sentou-se sob a copa da grande árvore. Passada uma hora, sacudiu as cinzas do cachimbo e decidiu falar novamente com o cacique:
- Pensei melhor e acho que seria demais matar o meu inimigo. Resolvi que darei uma surra nele para que ele jamais se esqueça do que fez contra mim. Novamente o cacique o escutou e aprovou a sua decisão. Mas ordenou:
- Já que você mudou de idéia, encha outra vez o seu cachimbo e vá fumar no mesmo lugar.
Também dessa vez o homem cumpriu a ordem do cacique e gastou meia hora fumando e meditando. Depois foi até o cacique e disse:
- Considero demais surrar meu inimigo. Decidi que jogarei na cara dele toda a sua má ação. Ele há de envergonhar-se diante de todas as pessoas.
Como das outras vezes, o homem foi escutado com bondade. Entretanto, o cacique voltou a ordenar-lhe que repetisse a sua meditação, como havia feito anteriormente. O homem, ainda chateado, porém muito mais sereno, dirigiu-se à árvore centenária e, ali sentado, foi transformando em fumaça o seu tabaco e a sua bronca. Quando terminou, voltou ao chefe e disse:
- Pensei melhor e vi que a coisa não é para tanto. Irei até meu agressor para dar-lhe um abraço. Dessa forma, recuperarei um amigo, que seguramente se arrependerá do que fez.
O cacique tomou duas porções de tabaco, e juntos foram fumar ao pé da árvore sagrada. E disse:
- Isso era precisamente o que eu queria lhe pedir, mas não podia dizer. Era necessário dar-lhe tempo para que você mesmo o descobrisse.
Prezados irmãos e irmãs! Lidar com o erro tendo o perdão como alvo! Esta é a proposta de Jesus. Para tanto certamente há outros meios do que fumar cachimbo. Mas sempre é preciso tomar tempo e refletir. Este é um caminho maravilhoso a ser seguido, e sempre trará resultados positivos. Desta forma rompe-se o círculo vicioso da raiva, do ódio, do rancor e encontra-se o círculo da tolerância, da doçura, do perdão e do amor.
Nesse texto de Mateus Jesus fala sobre como agir em caso de desentendimento com um irmão ou uma irmã. Sua primeira orientação é que se chame o irmão para uma conversa honesta e franca. Nessa conversa, o erro que causa o conflito deve ser tratado. É interessante perceber que Jesus não recomenda fazer de conta que nada aconteceu. O erro, segundo ele, deve ser encarado abertamente. E mais: não é necessário fazer escândalo. A conversa inicialmente, deve acontecer tão somente entre as partes envolvidas. O objetivo, também, não é acusar nem causar constrangimento, mas, sim, ajudar quem falhou. O objetivo é apontar a falha e buscar reconciliação. Se isso tudo não adiantar, então sim, é necessário buscar ajuda para resolver o problema. Se isso também não for suficiente, aí sim, o assunto deve ser tornado público. O recurso final é passar a tratar essa pessoa como alguém diferente.
É fundamental destacar que, em todo esse processo de aproximação, o objetivo sempre será a pessoa como tal para que haja reconciliação. Mesmo que todas as tentativas falharem, as portas devem continuar abertas para que, quem errou, possa reconhecer o seu erro e, assim, haver uma reconciliação.
Que nós possamos admitir os nossos erros e ajudar para que aconteça o mesmo com outros, afim de que possamos viver em harmonia em nossas comunidades, nem que para isso sejam necessárias algumas porções de tabaco.
Amém.