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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

20º Domingo Após Pentecostes, 30.10.2011

Predigt zu Mateus 23:1-12, verfasst von Gottfried Brakemeier

 

Prezada comunidade!

"Façam o que digo, mas não façam o que faço!" É este um conhecido conselho entre nós. Ele é a confissão de um fracasso. As pessoas não conseguem agir de acordo com o seu discurso. Sabem o que é certo e o que deles se exige. Mas a prática não acompanha a teoria. Creio tratar-se de uma experiência compartilhada por todos nós. Ficamos em débito com os nossos deveres. Não somos assim como deveríamos ser e acumulamos culpa. Enquanto a constatação do descompasso entre o falar e agir nada mais for do que uma verdade dolorosa, nós até a podemos até mesmo admitir. Mas quando ela se transformar em desculpa, torna-se problemática, traiçoeira, maldosa. Será de fato "humano" agir diferente do que se fala? Não, não pode ser. Pessoa que diz coisas bonitas para depois comportar-se como um demônio, não tem credibilidade. Perdeu a autoridade. Deve haver coerência entre o discurso e a prática.

Parece-me que o conselho a que me refiro se inspira em palavras deste trecho do evangelho de Mateus. Jesus ataca os escribas e os fariseus. Ele alerta seus discípulos e o povo que o escuta, dizendo: "Os mestres da lei e os fariseus têm autoridade para explicar a ‘Lei de Moisés'. Por isto vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam." Pois é! Por sua conduta eles desacreditam seu discurso. A doutrina é boa. Jesus não veio para revogar a lei e os profetas. A vontade de Deus permanece válida mesmo quando o ser humano a despreza. Por isto enquanto eles ensinam o mandamento de Deus vocês devem obedecer. Mas por favor, não imitem as suas obras. Eles ficam devendo ao povo o bom exemplo. Eles corrompem a ética e induzem as pessoas ao pecado. Quem eram estes "escribas", mestres da lei, quem eram estes fariseus?

Ora, eram as autoridades religiosas no tempo de Jesus. Cabia-lhes a interpretação da "lei de Moisés", da Bíblia, das tradições do povo de Deus. Esperava-se deles orientação em assunto de fé e de conduta. Por isto mesmo gozavam de grande respeito na sociedade de então. Pertenciam à classe intelectual, à elite religiosa, à liderança da comunidade judaica. Muitos fariseus eram "escribas", portanto teólogos, e muitos "escribas" eram fariseus. Estes formavam antes grupos "leigos", mas fortemente engajados numa vida dedicada à observação da lei. E justamente estes são acusados por Jesus de uma conduta falha, não correspondente com o seu ensino. Que há de errado com eles?

O ataque de Jesus é violento. Ele critica neles que amarram fardos pesados e os põe nas costas do povo. Exigem a observação de inúmeras prescrições. Enquanto isso eles mesmos não se importam. Não mexem um dedo sequer para carregar os fardos. Eles fazem tudo para serem vistos como gente piedosa, erudita, devota. Buscam os primeiros lugares nos banquetes e nos cultos. Eles gostam de serem saudados com reverência nas praças e de serem chamados "Mestres", "Doutores", "Pai". Eles são vaidosos. Mas sua arrogância trai o seu ensino. Por isto, eles são hipócritas. Fingem que cumprem a lei, mas no fundo a desrespeitam. Cuidado, não imitem o jeito dos fariseus e escribas.

Prezada comunidade! Nós faríamos injustiça a esses fariseus e escribas, se os considerássemos indistintamente como um bando de corruptos. Havia muita gente honesta entre eles. "Generalizações" sempre são perigosas. O fariseu não é um sujeito mau por natureza. Muito pelo contrário. Eram pessoas que levavam a sério sua fé e se esforçavam por uma conduta em conformidade com a vontade de Deus. Então, convém não vamos desprezá-los. Mesmo assim, Jesus denuncia perigos a que autoridades, sejam elas religiosas ou políticas, por demais vezes sucumbem. O capítulo 23 do evangelho de Mateus não deixa de dirigir-se também a autoridades cristãs e porque não dizê-lo a autoridades políticas e seculares. Estão aí possíveis vícios de todos aqueles que se encontram em posição de destaque e de poder. Eles dizem, mas não fazem. Eles colocam pesados fardos nos ombros do povo, cobram impostos e baixam decretos às vezes difíceis de entender, enquanto eles sempre acham um jeito de garantir seus privilégios. Não é isto o que se observa em ampla escala, também e justamente no Brasil?

Jesus, ao atacar este grupo influente, é corajoso. Logo mais ele vai dizer: "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Pois vocês fecham a porta do "Reino do Céu" para os outros...vocês dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã, da erva-doce e do cominho, mas não obedecem aos mandamentos mais importantes da Lei que são: o de serem justos com os outros, o de serem bondosos e o de serem honestos." É longa a lista das acusações de Jesus às lideranças religiosas. Falta aos escribas e fariseus o amor, a humildade, a sinceridade. Ficam presos a minúcias como o pagamento do dízimo sobre os temperos, mas se esquecem das coisas realmente importantes. É lógico que eles não gostassem das palavras de Jesus. Quem denuncia, provoca inimizades e colhe oposição. Assim também Jesus. Mas não há como calar a boca diante dos desmandos, diante das assim chamadas "irregularidades", do arbítrio dos poderosos. Jesus tem a coragem de enfrentar essa "classe" e chamá-la à responsabilidade.

Recentemente falou-se que corrupção faz parte da cultura latino-americana. Não sei quem inventou essa palavra. Mas ela é altamente nefasta. Insinua que corrupção nesse continente seja algo "normal". Sempre houve e sempre haverá. Portanto, vamos nos conformar com ela. Quanto mais corruptos, tanto mais seríamos latino-americanos. Que idéia diabólica! A gente está tentada a reagir: "Ai de vocês que assim pensam. Vocês estão cavando a sepultura da sociedade, corroendo seus fundamentos, acabando com toda a ética. Tal postura merece o mais enérgico repúdio. Corrupção é um mal a ser combatido com toda determinação. Jesus que no-lo diga.

Aliás, está despontando algo bonito em nosso mundo globalizado. Em vários países estão surgindo movimentos de protesto contra a desigualdade social, contra a especulação nos mercados financeiros, contra os privilégios dos magnatas financeiros. Isto é novidade. E é promissor. Deve crescer a inconformidade com os males que nos impõe um sistema financeiro injusto. No Brasil este movimento que certamente se inspirou no que está acontecendo nos países árabes, se volta contra a corrupção tão incrustada nas instituições políticas e na mentalidade dominante. Queremos honestidade, queremos justiça, queremos o fim da ganância e da idolatria do lucro. Queremos um mundo mais humano, sustentável, seguro.

Suponho que estes movimentos têm ainda um longo caminho pela frente. Transformações sociais não acontecem de hoje para amanhã. Mas a inconformidade com o que já não dá mais iniciou. Isto é animador. Cristãos têm razões para se juntar aos reclamos. Jesus neste capítulo dá o exemplo. Repito que sua crítica não se dirige somente aos "escribas e fariseus" de então. Jesus fala ao povo. Todos os que carregam responsabilidade deveriam ouvir suas palavras com muita atenção, inclusive nós cristãos. Os vícios que Jesus aponta podem ser também os nossos. "Eles dizem, mas não fazem!" Que tragédia! Cristãos deveriam esforçar-se por evitar esse problema. Aliás, todos estão na mesma obrigação. Não vamos culpar outros enquanto nós mesmos não nos examinamos a nós mesmos e, se necessário, fizemos a nossa confissão de culpa.

Termino chamando a atenção ao final do texto para a prédica de hoje. Endereçando os discípulos, Jesus diz: "Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros." Quem é corrupto não serve os outros. Serve a si mesmo. É egoísta, procurando assegurar vantagens para si mesmo. Quem gosta de honras, não serve os outros. Serve a si mesmo. Gosta de se projetar à custa de outros, de sobressair e de destacar seu status social. Jesus recomenda humildade. Podemos desistir de títulos e de menções honrosas. Por que? Ora, porque um só é nosso Mestre e todos nós somos irmãos e irmãs. Isto vale mais do que graus acadêmicos e outras honrarias. É claro que isto não significa que vamos abolir tais títulos. Devemos honra a quem honra merece. O que Jesus critica é a vaidade que rebaixa o outro para a si mesmo promover. Cuidado para que não nos tornemos hipócritas revestindo-nos de um falso brilho.

Nós todos somos irmãos e irmãs. É esta a verdade que constrói verdadeira comunhão. Jesus nos anima a viver de acordo com ela, eliminando assim as desigualdades que criam conflitos entre as pessoas e que agridem a vontade de Deus. Rogamos a Deus queira dar êxito a este esforço.

Amém!



P. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS, Brasil
E-Mail: gbrakemeier@gmx.net

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