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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

3º Domingo da Páscoa, 22.04.2012

Predigt zu Lucas 24:36-43, verfasst von Hans Trein

Caro Corpo de Cristo!

O mestre foi crucificado. Seus seguidores estão sendo perseguidos. Por isso, estão escondidos e com medo. As mulheres já vieram lhes dizer que o mestre ressuscitou. Os discípulos de Emaús também acabaram de contar, como o tinham reconhecido no partir do pão. Mas, como crer no que se considera impossível! Como admitir a boa nova, se impera o medo. E aí acontece o inverossímil: O Cristo ressuscitado aparece no meio do grupo amedrontado e incrédulo. Como é do seu jeito pastoral, Cristo absorve e releva a surpresa e o espanto. Mostra-lhes as mãos e o pés. Pede que o toquem, para se convencerem de que não é algum espírito ou fantasma, mas ele mesmo, em carne e osso.

Nesse ponto, segue um verso meio estranho: "E, por não acreditarem eles ainda, por causa da alegria, e estando admirados, Jesus lhes disse: tendes aqui alguma cousa que comer?" Não acreditar em algo por causa da alegria... Como pode ser isso? Penso que os discípulos estavam em estado de confusão: por um lado, reconheciam a figura de seu mestre e se alegravam por tê-lo ali consigo, por outro lado, isso não podia estar acontecendo, pois não era possível, estava fora do conhecimento e da imaginação, não podia ser verdade, não podia ser real! 

Assim é também conosco: temos dificuldade com o que não conhecemos. Muitas coisas não admitimos como possíveis, pois nos falta o conhecimento a respeito. Cometemos muitos erros e equívocos por desconhecimento. Nesse ponto, certamente a ciência ajudou muito, passou a explicar muita coisa. Entendemos melhor como se dão vários fenômenos na natureza e na sociedade. Mas, ainda tem muitas coisas que não conhecemos. E estas se apresentam como estranhas e até mesmo monstruosas. Por outro lado, não é possível pretender conhecer tudo. É preciso admitir também o mistério.

Ambientalistas têm se valido muito da frase: é preciso conhecer para preservar. Conhecer como funciona a natureza, como acontecem os fenômenos climáticos dentro dela, que consequências pode ter o desmatamento ou a barragem de rios é fundamental para que a gente possa evitar erros e para que a gente possa enfrentar aqueles que - por interesse e tendo poder para tal - insistem em cometê-los.

Eu gostaria de contar-lhes uma pequena história que nos desafia a conhecer as pessoas que vivem de modo bem diferente de nós. Ela foi tirada do livrinho "Faces of the Other" - As faces do Outro de um grupo que pensa sobre as nossas relações com pessoas de outras culturas e religiões. A história é a seguinte:

Um homem estava perdido numa densa floresta. Quando a luz do dia foi declinando e as sombras do anoitecer foram se alongando e engrossando, ele ficou mais e mais amedrontado. Em todo canto ouvia ruídos estranhos. Atrás de cada árvore poderia estar escondido algo ameaçador. Depois de três dias e noites sem pregar o olho e com o corpo todo dolorido, ele ficou desesperado.

Finalmente, ao amanhecer do quarto dia, vagando sem rumo, ele avistou um monstro se aproximando de longe. Encheu os bolsos de pedras, de um galho fez um porrete para se defender. Seu coração batia acelerado. O suor de medo escorria, à medida em que o monstro se aproximava e tomava vulto. Era do tamanho de um homem alto. Agachou-se atrás de uns arbustos, pegou algumas pedras mais afiadas e se preparou para atacar. Ele congelava de medo, agora era tudo ou nada!

Foi então que ele se deu conta de que o monstro horrível era um ser humano. Jogou fora suas pedras, mas ainda segurou o porrete, só para o caso de estar enganado. Quando o homem estava bem perto dele, jogou fora também o porrete e lançou seus braços ao redor dos ombros daquele homem. Era o seu próprio irmão!

Nós facilmente vemos monstros quando distantes uns dos outros. Nossa primeira reação é o medo, a segunda é a cautela. Temos reservas frente ao desconhecido. É uma forma de a gente se proteger. Suspeitamos da humanidade daqueles que são diferentes, que têm outros costumes, que comem outras comidas, que enxergam o mundo de modo diferente, que, enfim, não são como nós. É mais fácil pintá-los como monstros e negar-lhes a humanidade. Não dispor-se a conhecer o outro diferente parece nos confirmar em nosso jeito de ser, nos poupa o trabalho mental e emocional de admitir a diversidade ao nosso redor. Quando nos dispomos ao encontro com o outro desconhecido, sempre somos tomados de alguma ansiedade que precisa ser superada.

Nosso tempo precisa de novos caminhos para descobrir a dignidade e a santidade de todos os seres humanos. Como a paz no mundo é muito precária, não podemos caminhar mais sozinhos, fazendo nossas próprias coisas, ignorando o que os outros estão fazendo, por estarem muito distantes. O mundo está ficando pequeno. Nós precisamos uns dos outros. Precisamos uma nova descoberta uns dos outros, onde não apenas a sua própria família, clã ou povo importa, mas onde importam também aqueles que você não conhece. Não estou falando daquele amor universal que voa sobre o mundo e não vê o outro. Estou falando do respeito ao diferente que se encontra no cotidiano da vida, e onde é preciso superar receios, preconceitos e discriminação para a gente descobrir o irmão e a irmã. É como contou um membro de nossa igreja do Sínodo Noroeste: "Quando eu era pequeno, eu tinha muito medo de negros. Um dia, eu estava andando com a minha vó de carroça pela rua, quando passamos por uma pessoa de pele escura. Eu olhei para a minha vó e disse: ‘Vó, eu tenho medo'. Minha vó baixou carinhosamente a minha cabeça sobre o seu colo e disse: ‘Não precisa ter medo, a vó te cuida!´ Hoje, eu preferiria que a minha vó tivesse me dito algo diferente, naquela oportunidade." Esse episódio hoje me atrapalha quando quero me aproximar dos afro-descendentes.

Nesse sentido, todos ainda estamos como que perdidos numa densa floresta. Ao longo de muitas gerações fomos construídos, distinguindo-nos de figuras monstruosas.Temos que desaprender algumas coisas e aprender novos jeitos, caso contrário nunca vamos conseguir sair da floresta. Nossa imaginação fértil cria monstros quando não vemos como a outra pessoa realmente é. Será que conseguimos reunir a fé, a coragem e a força, a capacidade de jogar fora as pedras e os porretes e de abraçar uns aos outros como irmãs e irmãos, admitindo as diferenças? Isso não seria também uma expressão de ressurreição, de nova vida?

A história sobre o homem perdido na floresta, com medo do monstro se aproximando e no final descobrindo que o monstro era seu irmão, termina do seguinte modo: o homem agarrou o seu irmão com amor e gratidão. "Graças a Deus, você veio à minha procura. Por favor, agora me mostra o caminho para sair dessa floresta!" O irmão olhou para o outro com lágrimas nos olhos, e respondeu: "Eu agora também estou perdido, meu irmão. Eu posso lhe mostrar quais caminhos não tomar. Mas, a saída vamos ter que achar juntos!"

De fato, pensando na humanidade toda, estamos juntos nesse planeta terra. Entrementes, sabemos à suficiência que os nossos preconceitos não nos encaminham para uma convivência justa e pacífica; eles só nos mantém como perdidos na floresta com medo de monstros. Só vamos encontrar uma saída juntos e para isso precisamos nos conhecer melhor.

No evangelho lido, Jesus vai ao encontro de seus discípulos e também ao nosso encontro de um jeito muito carinhoso. Propõe comunhão através da comida. Não vem com discurso. Quer comer algo. Vai para o nível do essencial na vida, para que eles creiam que é ele mesmo em carne e osso que ressuscitou. Hoje, estamos reunidos aqui como corpo de Cristo em carne e osso.

Comer em conjunto cria comunhão e oportuniza conversas, conhecimento uns sobre os outros. Isso Jesus praticou muito durante sua vida, tanto que a ceia tornou-se um elemento distinto do culto cristão desde os primórdios. Em nossa relação com comunidades indígenas também experimentamos isso. Mulheres Kaingang convidaram mulheres da OASE, para juntas fazerem biscoitos. A conversa rolou solta. Umas souberam da vida das outras. O que antes parecia um monstro estava se tornando uma irmã. Excelentes experiências também fazem as crianças de escolas que passam um dia inteiro na aldeia, convivendo com as crianças indígenas, participando de sua aula, brincando em conjunto e almoçando juntas. São comoventes os depoimentos das crianças depois de um dia assim. Na cultura sulina o chimarrão tomado em roda cria comunhão. Se Jesus tivesse nascido e vivido por aqui, provavelmente a bebida da eucaristia seria o chimarrão, se tivesse nascido em ambiente cultural afro-brasileiro seria a cachaça, acompanhada de pipoca e rapadura.

Na Santa Ceia vamos nos alimentar de corpo e sangue de Jesus Cristo, para que também nós vençamos nossa incredulidade e nos abramos para conhecer o outro desconhecido, para deixar de vê-lo como monstro e passar a vê-lo como irmão e irmã. Que Deus nos encoraje e nos dê essa experiência de ressurreição. Onde tudo parecia morto, crucificado pelo preconceito e pela discriminação, ressurge nova vida de respeito e reconciliação.

Amém.



P. Hans Trein
São Leopoldo, RS, Brasil


E-Mail: Comin_mob@est.edu.br

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