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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

2º Domingo de Advento, 09.12.2012

Predigt zu Lucas 3:1-6, verfasst von Gottfried Brakemeier

 

Estimada Comunidade!

João Batista provocou escândalo em sua época. Teve a coragem de conclamar a um radical arrependimento, ou seja, a uma mudança de comportamento e de mentalidade. O povo a quem João se dirige já não obedece a Deus, permite o crescimento da maldade, a explosão da violência. Por isto este povo merece a mais severa crítica. João denuncia o pecado. Ele alerta para o juízo de Deus que está próximo. Por isto prega o "batismo de arrependimento para a remissão dos pecados". Quem quiser salvar-se terá que se submeter a este batismo. João não é apenas "profeta pregador", ele é "profeta batizador". Batizava nas margens do rio Jordão, oferecendo aos penitentes o perdão de Deus. Existe perspectiva de salvação, sim. Mas para tanto se faz necessário um decidido ato de penitência, de correção de rumo, de reforma. Aquele profeta escandalizou seus contemporâneos. E ele pagou caro pelo atrevimento. João sofreu o martírio, porque denunciou o pecado do rei e de sua esposa. Ser profeta é profissão de alto risco.

Isto porque arrepender-se é difícil. As pessoas resistem, ficam presos aos seus interesses, não querem admitir o erro. Tomemos como exemplo a corrupção em nosso país. O julgamento do "mensalão" que esteve em destaque na mídia, foi um passo adiante. Mas será que mudou a mentalidade das pessoas? A defesa falou em "caixa dois", tentando minimizar o roubo do patrimônio público. Os prejuízos causados pela corrupção em nosso país são imensos, travam o progresso e diminuem a qualidade de vida da grande maioria. E muitos acham ser isto muito natural. Quem está no poder, deve tirar proveito. É assim que se pensa, lamentavelmente. João Batista alerta: "Arrependei-vos! Preparai o caminho do Senhor!" Sua pregação incomoda. Provoca indignação e até mesmo perseguição.

O Batista se considera "voz que clama no deserto". Quem pela primeira vez tinha falado nesses termos, era o profeta Isaías (Is 40,2) há mais de quatrocentos anos antes. De acordo com a fé corrente em Israel era do deserto que viria a renovação. Certamente deserto não deixaria de ser um lugar de provação, de travessia, de tentação. Jesus foi tentado no deserto (Mt 4.1s). Da mesma forma, porém, era visto como um lugar de revelação divina, de fonte de socorro, de um reinício assim como aconteceu no êxodo histórico do Egito. Foi no deserto que Deus revelou a sua lei e firmou a aliança com Israel. Assim também o entendeu Isaías. Como voz que clama no deserto, ele anuncia um novo tempo para Israel. Deus chega para salvar o seu povo. Por isto importa construir vias para facilitar a vinda de Deus. "Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas." "Todo vale será aterrado e nivelados serão todos os montes e outeiros". Isaías convida a remover tudo o que possa ser obstáculo para a recepção condigna do grande hóspede divino.

João Batista sintoniza com esse profeta. Também ele está convicto de que Deus está perto. Ele atua no deserto, batizando no rio Jordão que banha aquelas paragens. O simbolismo é forte. João convida: "Vamos recomeçar, reiniciar da frente, vamos reorientar a nossa caminhada. Vamos tentar um novo êxodo." Novamente importa preparar o caminho do Senhor. Deus quer um outro mundo do que este que aí está, mais harmonioso, mais de acordo com os seus propósitos. Não há nada mais urgente do que uma radical faxina, uma terapia para curar os males que se instalaram na sociedade e em cada pessoa em particular. Em seu tempo João tinha razão em insistir em arrependimento. Creio ser óbvio que hoje, nas condições atuais, suas palavras não perderam nada de sua validade. Enquanto nas cidades brasileiras centenas de pessoas são assassinadas a cada dia, não há como descansar. Também sobre nós paira a ameaça do juízo de Deus. E os sinais já são claramente perceptíveis. Eles nos assustam.

E, no entanto, João tem mais a anunciar do que juízo. Além de crítica ele tem uma promessa. Ele diz: "A glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a verá." "Toda carne" é sinônimo de "todas as pessoas". Que glória é essa? A comunidade cristã viu o cumprimento desse prenúncio em Jesus Cristo. "Ele é das glórias o Senhor, de todo o mundo o Salvador" assim nós cantamos num dos mais conhecidos hinos de Advento (HPD 5). Talvez o próprio João se referisse àquele de quem se considera precursor. De qualquer maneira, sua pregação aponta a algo maravilhoso a acontecer. A glória de Deus vai manifestar-se em breve. E todo o mundo será testemunha. Por isto mesmo João Batista é o profeta do Advento. Nesse período nós celebramos a proximidade do Natal, a chegada de Deus a este mundo, o despontar de luz nas trevas.

Assim sendo o Advento tem duas mensagens ao mesmo tempo. Uma é a da penitência. "Arrependei-vos", disse João Batista. É esse o recado também para hoje. E se ele for atendido, muita coisa poderá mudar para o melhor. Muitas "irregularidades" serão eliminadas, caminhos tortuosos serão endireitados, conflitos serão sepultados. Ansiamos por um mundo mais tolerante, mais justo, mais fraterno. Essa mensagem do Advento é simbolizada pela cor litúrgica desse período. A violeta que de momento ornamenta o altar e o púlpito é a cor do arrependimento. Ela lembra exatamente essa mensagem. A outra é simbolizada pelas velas que acendemos na coroa de Advento e em outros lugares. O Advento nos remete para frente à chegada de Deus em Jesus Cristo. Assim o diz o próprio termo. Advento é chegada. O tempo da penitência não nos deixa sem luz. Logo mais será Natal, "e toda carne verá a salvação de Deus." O Advento ao conclamar para o arrependimento acende em nós a esperança. Deus não abandona seu mundo. Ele não o entrega à sua sorte. Ele vem para resgatá-lo da desgraça. João Batista o prenunciou. Falou de ambas as coisas, do arrependimento e do milagre da vinda de Deus a este mundo.

Confesso que a história de João Batista me lembra de outro grande profeta que igualmente quis reforma, a saber, Martim Lutero. Claro, não vamos confundir. Lutero viveu em outra época, em outro país, em outro povo. Vários séculos separam um do outro. Lutero não andou batizando e os problemas com que se defrontava eram outros do que aqueles do primeiro século. Aliás, o texto da prédica de hoje fornece uma data muito exata da atuação de João Batista. É o décimo - quinto ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia. Conforme o cálculo dos historiadores trata-se do ano 28 da nossa era. Isto é importante, pois logo depois de João Batista aparece Jesus. Temos aqui uma indicação cronológica muito segura da atuação de ambos. Lutero viveu mil e quinhentos anos mais tarde. Mas o que me fez associar o nome de Lutero a João Batista é o escândalo provocado por ambos e o evangelho que anunciam. Queriam a reforma, transformação, renovação e esbarraram em fortes resistências. Também Lutero foi perseguido. Reforma é sempre algo antipático, assim como arrependimento e penitência o é. Ao mesmo tempo, porém, João Batista e Lutero são "evangelistas". Eles não o são do mesmo modo. Em João o anúncio do evangelho ainda é muito tímido. Mas ele está aí. Isto em Lutero é diferente. Mesmo assim existe uma forte convergência entre os dois. Ambos nos conscientizam da dupla natureza do Advento como chamado ao arrependimento e indicação da chegada de Deus. A celebração condigna do Advento respeita ambos os aspectos.

 Amém!



P. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS, Brasil
E-Mail: brakemeier@terra.com.br

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