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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

Noite de Natal, 24.12.2012

Predigt zu Isaías 11:1-11, verfasst von Inácio Lemke

 

Queridas irmãs, Queridos irmãos,

O clima da Noite Natalina nos une do Sul ao Norte; do Leste ao Oeste neste planeta maravilhoso. É Natal, percebemos isso pelas melodias que pairam no ambiente. É Natal, percebemos isso pelos aromas que fluem pelo ar. Celebramos esta noite, com jeitos diferentes das outras noites, é festa de Nascimento.

As comunidades e pessoas que celebram esta noite no hemisfério Norte, para eles é Natal, quando as ruas e os jardins estão cobertos de neve, muita neve. É clima de Noite de Natal. Mas, para quem vive no hemisfério Sul, Natal é clima de muito sol, noites mornas, muito aroma de flor, flor de milho, canto de sabiá e da cigarra. Tudo parece poesia e harmonia, neste Planeta Terra, presente de Deus. Tudo parece harmonia - ainda há lugar para onde olhar, ouvir e sentir as melodias, os sons, que anunciam o tempo natalino. Mas há também um porém: Quando a própria natureza se junta, para clamar à consciência humana. Para clamar por socorro pelas dores que são causados à mãe natureza pelas mãos humanas.

Quando medito as palavras do profeta Isaías 11, percebo o Kyrie de clamor, compilado pelo colega P. Rodolfo Gaede Neto:

     Pelas dores deste mundo, ó Senhor, imploramos piedade.
     A um só tempo geme a criação.
     Teus ouvidos se inclinem ao clamor desta gente oprimida.
     Apressa-te com tua salvação.
     A tua paz bendita, irmanada com a justiça,
     Abrace o mundo inteiro: tem compaixão!
     O teu poder sustenta o testemunho do teu povo.
     Teu Reino venha a nós! Kyrie Eleison!

 

O profeta Isaías anuncia um novo tempo, tempo de paz e tranqüilidade, em meio à destruição - o exílio. Lembra do tempo saudoso do Rei Davi. Agora anima o povo com um novo tempo: "virá um novo tempo". Virá um descendente, que surgirá lá das raízes, um rebento, que brota de um troco - de um toco. Que imagem! Quanta esperança, quando assim cantamos:

     "Renovo mui delgado
     Brotou em tênue pé;
     Como foi anunciado,
     Vem ele de Jessé.
     Brotou celeste flor.
     Em noite tenebrosa,
     Nasceu o Salvador.

Em tempo de Advento e Natal, com todo fôlego cantamos este hino, que tem como base o texto de Isaías 11.1. Assim também cantamos: "Da cepa brotou a rama e da rama nasceu a flor" de Reginaldo Veloso. Não nos faltam músicas e melodias para anunciar a esperança.

 

Mas, para que a esperança possa se tornar realidade é preciso coragem e ação, que envolve compromisso e vontade - vontade de cada um e cada uma e conseqüentemente, possa se dar a transformação da comunidade, com este anúncio do novo do profeta Isaías. A comum idade nova. Assim cabe aqui uma pergunta, a vocês, irmãos e irmãs: Que comunidade queremos ser? Queremos ser uma comunidade que serve como instrumento de transformação de renovação e sinal de esperança para o mundo? Se assim o desejarmos, então podemos clamar: Dá-nos Senhor a tua graça!

 

A Noite de Natal alimenta esperança e graça no coração de muita gente. É propício, porém, que não apenas nesta noite lembremos Deus, Pai e Mãe de todas as pessoas que sofrem, que perderam o ânimo e a coragem de viver, dos tristes, das pessoas abandonadas, das encarceradas, famintas e das pessoas que choram por estarem enlutadas, por causa da perda de alguém querido. É importante que nos lembremos destas pessoas continuamente. Pois são as criaturas que neste momento são as mais fragilizadas. E nesta noite, assim como nas outras, necessitam de atenção muito especial.

 

Voltamos ao texto do profeta. Ele anuncia um novo rebento, que vem da raiz, sobre o qual paira o Espírito do Senhor e que lhe dá sabedoria e conhecimento, capacidade e poder. Para entender a profundeza destas palavras, é preciso conhecer o gemido e o sofrimento para onde continua sendo anunciada esta mensagem, apesar da resistência. O tronco brota, sem entender como e por quê. A vida irrompe mesmo em lugares menos apropriados e inesperados.

 

Assim lembro uma cena marcante, quando coordenava o trabalho pastoral, junto a famílias "posseiras" na região Sul da Amazônia, em meados dos anos 80. Num acampamento que somava mais de duzentos barracos, num grande latifúndio improdutivo, em princípio de dezembro veio uma ordem judicial de despejo. O despejo aconteceu ainda na escuridão da madrugada. Assim que as pessoas eram retiradas do barraco, este era derrubado e queimado.  Mas a cena que me marcou, foi quando vi num barraco (casebre) uma luz de lamparina. Quase todos os barracos já haviam sido derrubados e as pessoas haviam sido retiradas da área pelas forças policiais e jagunços. Apenas neste barraco havia um raio de luz e na correria uma adolescente veio até mim pedir insistentemente ajuda para ir com ela ao casebre de onde vinha este raio de luz. Tomei coragem e acompanhei a jovem, furando a barreira de isolamento montado pela polícia e jagunços. E qual foi a minha surpresa: num canto do barraco havia um colchão, alguns panos velhos e no meio destes duas mulheres, uma havia acabado de dar à luz. Nunca as havia visto. Também não lembro mais ao certo se a criança recém nascida era menino ou menina. Como era área de conflito e despejo, mãe e criança ainda naquela noite, foram retiradas sem clemência. Não foram levados para um hospital, pois era muito longe e arriscado. Contudo conseguimos levar a mãe, a criança e a acompanhante até uma casinha próxima, onde uma família deu-lhes abrigo. Nunca soube o destino da mãe e da criança. Caso a criança tenha sobrevivido ao choque do despejo para dentro deste mundo miserável, este ano deve ter comemorado, em algum lugar e em algum dia no mês de dezembro, o seu 30º aniversário.

 

Todos os anos neste tempo de Advento voltam à minha memória, o raio de luz do barraco, a insistência da jovem adolescente, a imagem da mulher e criança num velho colchão. Onde estarão estas pessoas neste Natal, como continuam a vida?

 

Eu sei que muitas situações de conflitos neste país foram resolvidas. Mesmo assim, cabe lembrar sempre de novo, que ainda há muita injustiça e violência nas cidades e nos campos nos mais diferentes recantos deste mundo. Sei também que ainda estamos muito longe do anúncio do profeta Isaías. Onde os diferentes viverão em harmonia. Onde o anúncio da utopia se faz presente no mundo do conflito. Isso é crer e confiar na graça, que aos nossos pobres olhos ainda é velado.

 

Meu consolo vem das palavras: "... com justiça julgará os necessitados e defenderá os direitos dos pobres." Na nossa impotência, fraqueza e medo, Deus não nos abando. "Com justiça e com honestidade, ele governará o seu povo." Um governo diferente nasce na manjedoura. Nasce menino, anunciado pelos anjos e reconhecido por poucos. E perseguido por outros.

 

Assim, deixemos que a luz da Noite de Natal ilumine e desperte o coração de cada um e cada uma, para a convivência entre diferentes. Para isso rogamos a Deus, que dê sabedoria, tolerância e amor, que nos compromete com o Credo no Triúno Deus. Em graça e Paz,

 



Pastor Sinodal do Sínodo Norte Catarinense, Inácio Lemke
Joinville, SC, Brasil
E-Mail: sinodonc@terra.com.br

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