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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

1º Domingo na Quaresma, 17.02.2013

Predigt zu Lucas 4:1-13, verfasst von Harald Malschitzky


Querida comunidade.


O teólogo alemão Helmuth Thielicke escreveu, há muitos anos, um livrinho sobre o "Pai Nosso". Esse é o seu título em português. O título original, porém, diz mais. Uma tradução literal seria: "A oração que abraça (ou envolve) o mundo". E é isso mesmo. O Pai Nosso é a oração mais ecumênica que existe, tanto que são poucas as igrejas que não a usam. Aliás, o Pai Nosso não está confinado aos limites das igrejas e do cristianismo. Uma pequena cena o ilustra bem. Na posse de um prefeito houve um momento para representantes de igrejas e religiões usarem a palavra. Depois de diversas mensagens, um conhecido líder da umbanda convidou todos os presentes para orar o Pai Nosso!


Se, por um lado, é admirável o lugar e papel dessa oração ao redor da terra, por outro também ela corre o risco de se transformar em "vã repetição" (palavras de Jesus). O risco, porém, não lhe tira o mérito e o valor. Sempre de novo se faz a experiência com pessoas enfermas e em estado terminal: O Pai Nosso é a oração que está presente. Ainda estamos em estado de choque com a morte de mais de duzentos jovens em uma boate em Santa Maria (Rio Grande do Sul). Quantas vezes será que o Pai Nosso foi orado e repetido? Para quantas famílias, em seu desespero, essa oração terá sido a única coisa que ainda foram capazes de rezar?


Uma das preces do Pai Nosso é "Não nos deixes cair em tentação". Martim Lutero, no seu Pequeno Catecismo, faz a seguinte leitura dessa prece: "Deus não tenta ninguém. Mas pedimos nesta oração que ele nos proteja e guarde, para que não sejamos enganados pelo diabo, pelo mundo e por nós mesmos nem sejamos levados a crenças falsas, desespero e outra grande vergonha ou vício. E pedimos que, mesmo sendo tentados, vençamos no final e mantenhamos a vitória".


Para muitos talvez não só o jeito de Lutero falar pareça estranho, mas o assunto como tal, a tentação, seja algo estranho. Uma das razões é tão antiga como o ser humano: A gente pensa que sabe o que faz e acha que é dono de seu nariz. Outra razão é o mundo de hoje em que vivemos. Em todos os níveis da vida reina uma enorme permissividade, uma verdadeira ausência de ética. Vale tudo. Quanto mais vantagem a gente puder levar, melhor. E quem se comporta diferente não deixando se ofuscar por essa suposta liberdade, é tido como conservador ou ultrapassado. Uma pergunta que não deve calar é simples: Esse modelo de vida e sociedade permissiva ajuda a humanidade a ser feliz e a ter vida plena, com sentido e significado?


O trecho do evangelho proposto para o domingo de hoje, o primeiro domingo na Quaresma, lembra-nos de forma especial o sofrimento de Jesus. E ele pode ajudar-nos na busca por vida, comunhão e esperança. O texto é do Evangelho de Lucas, do capítulo 4, os versículos 1 a 13. Vamos acompanhar Jesus ao deserto, vamos acompanhá-lo em sua solidão e suas tentações. Espelhemos a nossa vida na sua posição frente às tentações.


O deserto é lugar de silêncio e oração, mas também o lugar da solidão, do vazio, da tentação. Para Jesus, nas cenas narradas no texto, o deserto seria o lugar da tentação. Jesus está só. Dietrich Bonhoeffer, teólogo e pastor que se opôs ao regime nazista, escreve que, nesse momento, Deus abandona literalmente o seu filho e o deixa à mercê do tentador. E a tentação acontece em um ponto muito nevrálgico do ser humano, a fome. Desafio do diabo: Que Jesus transforme pedras em pão. Afinal ele é filho de Deus. Com o desafio, na verdade, ele está pondo em dúvida a filiação de Jesus. A resposta de Jesus, porém, dá a dimensão maior da vida: Além do pão precisamos da palavra criadora e renovadora de Deus para viver.


Parece-me que hoje estamos rodeados de tentações. O demônio se traveste até de belas propagandas. Vivemos num mundo em que reina o consumismo com desastres já anunciados. Centramos a vida em ter muito e demais desde a comida até a parafernália eletrônica. Estamos convictos de que isso é nossa conquista e, portanto, nosso direito, mesmo que uma grande parte da humanidade passe fome e miséria. Uma pergunta bem simples: ainda sabemos agradecer a Deus pela vida e pelo pão de cada dia? Deixamo-nos orientar pela palavra de Deus também para dizer um claro não ao consumismo, sabendo que o esbanjamento e o desperdício é uma afronta a Deus e à sua criação?


O tentador, porém, não desiste facilmente e, num segundo assalto, oferece a Jesus o poder sobre todos os reinos e poderosos do mundo. Ele usa o fascínio do poder absoluto e ilimitado, a "autoridade e glória destes reinos". A história da humanidade está crivada de exemplos do exercício do poder absoluto por déspotas e suas famílias, também dentro da igreja! O poder despótico, porém, se instala facilmente também em lugares de trabalho e em famílias. E em toda parte ele revela sua dimensão diabólica que massacra as pessoas e destrói o mundo. Já por si próprio tal poder é expressão demoníaca. Na tentação de Jesus, o diabo usa a mentira mais deslavada, quando afirma que tudo lhe pertence. Por isso é deslavada também a promessa que ele faz a Jesus de lhe transferir todo o poder.


A ilusão do poder tem preço: curvar-se em adoração ao tentador. Com isso um círculo vicioso e demoníaco se fecha e aprisiona quem se deixa enredar. Jesus não só desmascara o tentador, como também rompe o círculo demoníaco que o tentador queria fechar. "Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto". Adorar a Deus e prestar-lhe culto faz com que enxerguemos o mundo e as criaturas como parte da boa criação de Deus, que não pode ser usada de forma despótica, utilitarista e egoísta.


A terceira tentação tem a ver com a relação pessoal de Jesus com seu pai, a relação de confiança. O diabo quer pôr à prova essa confiança e usa até o trecho de um Salmo. Em última análise ele quer pôr à prova o próprio Deus. Será que ele vai cuidar de seu filho? Se ele não cuidar, é porque ele não é Deus! Quantas vezes será que tentamos a Deus, fazendo determinadas exigências? Quantas são as promessas feitas para conseguir algo de Deus não passam de tentações de Deus? Hoje temos inúmeros grupos do tipo igrejas da prosperidade que literalmente negociam com Deus, que dizem só crer em Deus se houver prosperidade. Em última análise Deus só é Deus na medida em que concede bem-estar e, em não poucos casos, luxo e riqueza. É isso que o diabo sugere: Deus aceita os maiores desatinos e ainda cuida para que a gente não se machuque. "Não tentarás o Senhor, teu Deus" é a resposta de Jesus e um claro recado aos seus seguidores. Deus não se deixa provocar, ainda que se usem palavras sagradas como argumento.


A narrativa da tentação de Jesus, que aparece em três evangelhos, pretende confirmar que Jesus é o filho de Deus encarnado, humano, até na dimensão mais complicada das decisões que precisam ser tomadas e da tentação de tomá-las sempre em proveito próprio. Vencendo as tentações, Jesus não só abre um caminho, mas caminha conosco essa pedregosa estrada. Ele nos ensina que não precisamos estar sós na constante luta contra as tentações. Pois a palavra de Deus nos orienta a viver em dignidade diante de Deus, com suas criaturas e com toda a criação. Essa narrativa, porém, nos diz ainda outra coisa, a saber, que ninguém pense estar imune às tentações (esta já seria uma tentação!). Enquanto vivermos, haverá tentações a ponto até de a nossa fé fraquejar. Martin Lutero sofria muito com as tentações e ele tinha uma afirmação muito simples que ele repetia: "Sou batizado". O batismo é uma espécie de senha que nos remete ao próprio Cristo, que viveu, sofreu, morreu e ressuscitou também por nós. Somos batizados, e assim inseridos no corpo de Cristo.

Amém.


Oração: Senhor, nosso Deus, agradecemos pela vida que é presente de tuas mãos. Não permitas que esqueçamos que a vida é dádiva e não propriedade. Não permitas que caiamos na tentação de usá-la só a nosso favor e contra ti e a tua criação. Com teu filho pedimos: Não nos deixes cair em tentação. Por Cristo. Amém.




P. Harald Malschitzky
São Leopoldo – RS
E-Mail: harald.malschitzky@terra.com.br

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