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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

3º Domingo na Quaresma, 03.03.2013

Predigt zu Lucas 13:1-9, verfasst von Gottfried Brakemeier

 

 

Prezada comunidade!

Ainda estamos sob o impacto da tragédia acontecida na boate de Santa Maria no dia 27 de janeiro deste ano. O alto número de vítimas, entre as quais também jovens da IECLB, bem como as circunstâncias nos deixaram perplexos. Vai custar para superar o trauma que o sinistro provocou. Porventura, tem explicação? Quem são os culpados? É inevitável perguntar assim. Nós queremos conhecer as causas e identificar os responsáveis para que jamais se repita um horror igual a este. Queremos justiça! Foi este um dos grandes reclamos que se ouviu como reação ao que aconteceu naquela madrugada em Santa Maria.

 

Também o texto para a pregação de hoje fala de tragédias, ambas com forte repercussão entre o povo de Jerusalém. O primeiro caso é o mais revoltante. Um grupo de romeiros vindo da Galiléia foi brutalmente massacrado pelos soldados de Pôncio Pilatos quando abatiam os animais que iam ofertar no templo. O procurador romano misturou o sangue deles com o dos animais. Nós desconhecemos os motivos. A Galiléia era conhecida como reduto de rebeldes, razão pela qual pessoas daquela região estavam sob a mira especial dos ocupantes romanos. Talvez o banho de sangue tivesse motivos políticos. De qualquer maneira, o crime agitou os ânimos. Qual seria a opinião de Jesus a respeito? Há gente interessada em saber isto. Jesus, que te parece?

 

Pelo que tudo indica, aquele povo pensa de modo bem tradicional. Desgraça, assim se acreditava, sempre seria castigo para algum pecado. Por isso aqueles galileus não poderiam ser inocentes. Deveriam carregar alguma culpa para merecer tal atrocidade. Jesus, porém, discorda. Ele pergunta: "Vocês acham que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido estas coisas?" E ele continua: "Não eram, eu afirmo isto a vocês; se, porém, vocês não se arrependerem, vão perecer todos de igual modo." Jesus se nega a responsabilizar as vítimas pelo seu infortúnio. Certamente aqueles galileus eram pecadores também, mas não mais do que os outros. Então não se permite descarregar a culpa do que aconteceu somente neles. Isto seria injusto, desumano, hipócrita.

 

O mesmo vale para o segundo caso que Jesus, ele mesmo, menciona. Dezoito pessoas foram soterradas pelo desabamento da torre de Siloé. Provavelmente se tratava de uma fortificação do muro da cidade. Quem são os responsáveis? Os engenheiros, os pedreiros, ou novamente eles mesmos? A opinião pública tendia a culpar os próprios atingidos. Teriam sofrido a pena justa para algum pecado. Novamente o juízo de Jesus é outro. Ele quebra aquela lógica de acordo com a qual cada um colhe o que plantou. Ele também não responsabiliza nenhum "carma" pelo desastre, nenhum débito acumulado numa suposta vida anterior, nenhum enigmático destino. Ele diz a mesma coisa como antes. Esses dezoito que morreram não eram mais pecadores do que todos os demais. E: "Se vocês não se arrependerem, vão perecer todos de igual modo." Como entender? E a culpa pelas tragédias, como fica?

 

Ora, responsabilidades devem ser apuradas. Isto também Jesus nunca negou. É claro que Pilatos seja o culpado do massacre dos galileus. Ele deveria ser acusado de um crime contra a humanidade. Pilatos é um sujeito brutal, inescrupuloso, bárbaro. Não há o que o desculpasse. Já no caso da torre de Siloé a pergunta pela culpa é mais complicada. Mas certamente houve negligência humana também. Lembro-me do desabamento de dois edifícios no Rio de Janeiro alguns anos atrás. Foi revoltante. Um grande número de famílias perdeu o lar e todos os pertences. Para aumentar o lucro, os prédios foram construídos com material de péssima qualidade. Foi um crime também. É claro que os culpados devam ser penalizados. Assim também no incêndio ocorrido em Santa Maria.

 

Mesmo assim permanecem perguntas abertas. A identificação dos culpados não vai trazer os mortos de volta. As perdas são irrecuperáveis. O que permanece é a dor de pais, parentes, amigos. Devemos nos conformar com ela? Sim, por mais difícil que seja não há outra solução. Não adianta querer a vingança nas pessoas que julgamos responsáveis. Vingança é outra coisa do que justiça. Há que se advertir para que o luto não se transforme em raiva. Esta até certo ponto é compreensível. Mas a caça às bruxas nada resolve e pode facilmente criar novas vítimas. A isto é preciso resistir. A dor dos enlutados exige as nossas condolências e até mesmo o nosso silêncio. Pois nós não temos respostas para explicar uma desgraça como esta. Por que ela atingiu justamente estes e não outros? Por que o desabamento da torre de Siloé matou exatamente estes dezoito? Por que tantos outros foram poupados?

 

Essas perguntas surgem sempre que acontecem desastres. Penso no trânsito, por exemplo. É espantoso o número de vítimas. Medidas como a "lei seca" conseguiram reduzir o número. Mas acabar com os acidentes fatais nas nossas estradas é um sonho que dificilmente vai se cumprir. Vida humana é vida ameaçada. Não há remédio seguro contra a desventura. É preciso lutar contra os perigos, sim. É nosso dever tentar eliminar violência à semelhança daquela praticada por Pôncio Pilatos nos galileus, ou então aquela onda de violência orquestrada por bandidos em Santa Catarina. Devemos insistir em que sejam cumpridas as determinações de precaução contra incêndios em edifícios, cinemas e recintos semelhantes. Devemos combater a violência na sociedade. Mesmo assim, a desgraça não mora longe. Terremotos, assaltos, meteoritos, ou então doenças fatais são perigos que cercam a vida humana. Uma vida segura, a salvo de tais eventualidades é ilusória. Infelizmente.

 

E quando a desgraça nos atinge, estamos sozinhos com Deus. Outras pessoas podem ser solidárias conosco, sem dúvida. E isto ajuda muito. Mesmo assim, devemos carregar nossa dor sozinhos. Deus, com que merecemos isto? Pelo que me parece Jesus diria: "Vocês não devem perguntar assim. Se aqueles soterrados pela torre de Siloé e se aqueles galileus assassinados por Pôncio Pilatos não eram mais pecadores do que os demais, também vocês não carregam culpa especial." Tragédias não se prestam para servir de empurra-empurra de responsabilidades. Deus quer que sirvam de alerta. Eles são como um indício do juízo de Deus que pode atingir as pessoas súbita e indistintamente. Jesus quer que não fiquemos presos à pergunta pelo "por que" da tragédia. Esta é de difícil resposta, se é que tem. Ele quer que perguntemos "para que" serviu. E aí Jesus é muito claro. Ele diz que desgraças como essas servem de lição para nos lembrar de nossas dívidas junto a Deus. Todo o mundo está em débito com Deus. Por isto mesmo todos necessitam fazer penitência e acertar as contas com Ele.

 

É disto que fala da parábola da figueira estéril. Ela faz igualmente parte do texto para a pregação de hoje. É um alerta também. Figueira que não traz fruto será cortada. Ela é inútil e tira o espaço de outras árvores. O mesmo acontece com pessoas que ficam em débito com Deus. Elas precisam temer o juízo divino. Trata-se de uma advertência muito séria. Deus espera o cumprimento de sua vontade. Somos chamados a crescer na fé, a amar o próximo e a servir à comunidade, ou seja, a fazer boas obras. Ainda há tempo para a gente se reorientar. Deus em sua graça concede mais um prazo à figueira. Mas chegará o momento em que será tarde. Os golpes que sofremos querem servir à nossa conscientização. E se isto acontecer, elas com certeza cumpriram sua função.

 

E a dor sobre as perdas? Ela fica, é claro. E ela pode ser forte. Mas aquele Deus que insiste no arrependimento, em bons frutos, ou seja, em obras de amor é também o Deus que sabe consolar. Ele ressuscita mortos e assegura que nenhuma despedida nesta terra seja definitiva. Desde a páscoa a morte deixou de ser todo-poderosa. Nossa tristeza já não é sem esperança. Que essa certeza nos acompanhe durante mais uma semana da quaresma.

Amém!

 



P. Gottfried Brakemeier
Nova Petrópolis, RS, Brasilien
E-Mail: gbrakemeier@gmx.net

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