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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

16º Domingo após Pentecostes, 08.09.2013

Predigt zu Lucas 14:25-33, verfasst von Martin Dietz


 

Prezada Comunidade,

"Sendo assim, quem pode ser salvo?" (Lc 18.26). Desta forma perguntaram, preocupados, alguns ouvintes a Jesus, depois que o Senhor constatou que "é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus" (Lc 18.25). Ora, das palavras de Jesus se deduz o óbvio: nenhum camelo jamais passou ou passará pelo fundo de uma agulha. Portanto, está excluída a hipótese de um rico herdar o Reino de Deus. "Quem pode ser salvo?", por sua vez, indica a suspeita de que todos, indistintamente, de alguma forma, são "ricos", de modo que ninguém há que possa ter esperança de ingressar no Reino de Deus.

A mesma pergunta preocupada dos ouvintes de Jesus nós deveríamos fazer quando lemos a passagem de Lc 14.25-33. Nesse texto, Jesus impõe condições ao discípulo em potencial que, convenhamos, poucos estão em condições de preencher.

Vamos, porém, por partes. O Evangelista inicia seu relato mencionando que grandes multidões seguiam Jesus. A elas o Senhor dirige as palavras que servem de base a esta reflexão. O Evangelista indica que Jesus frequentemente estava cercado por grandes grupos de pessoas. À beira do mar da Galiléia, Jesus se assentou num barco e passou a ensinar as pessoas que estavam na praia (Lc 5.1-3). Ao descer do monte, encontrou pessoas que o esperavam para ouvi-lo e ser curadas de suas doenças (Lc 6.17). Poderíamos mencionar outros exemplos de casos semelhantes. Jesus, por sua parte, vez ou outra, realizava o movimento inverso: retirava-se para lugares solitários, a fim de orar sozinho ou estar apenas com os doze discípulos (Lc 6.12).

Pelo visto, assim indicam os textos bíblicos, Jesus não estava muito preocupado com popularidade. Ele não fazia questão de facilitar as coisas para conseguir um número ainda maior de adeptos. Ao contrário, parece até que queria se livrar da maioria das pessoas que o cercavam. De outra maneira, não teria dito o que Lc nos relata. Em seu ensinamento, Jesus faz um "peneira" entre as multidões que o acompanham em busca dos discípulos que, efetivamente, o seguem; procede, por assim dizer, a uma separação antecipada entre o joio e o trigo.

São, ao todo, três pré-requisitos a serem observados por quem quer ser discípulo de Cristo. O primeiro diz respeito à família: o "candidato" tem que aborrecer seus familares e, finalmente, a própria vida. A segunda condição consiste em tomar a cruz. A terceira e última, que encerra a passagem, ordena que se renuncie a todos os bens materiais. Entre o segundo e o terceiro "conselho", Jesus conta duas parábolas em forma de perguntas: quem inicia a construção de uma torre, antes de fazer as contas, se será capaz de concluí-la? Que rei vai à guerra, sabendo que não está em condições de derrotar o inimigo?

Com alguma fantasia, poderíamos ver nas três condições impostas por Jesus ao discípulo em potencial uma referência indireta aos famosos votos de "castidade, obediência e pobreza" professados por pessoas que se consagram à vida religiosa, p.ex., na Igreja Católica. "Aborrecer" a família inclui a esposa e apontaria para o voto de castidade. "Tomar a cruz" poderia ser interpretado como referência ao voto de obediência. "Renunciar a tudo", evidentemente, estaria relacionado ao voto de pobreza.

Uma linha de interpretação dentro da Igreja Cristã compreendeu o chamado radical ao discipulado como "conselhos evangélicos", os quais apenas uns poucos "consagrados" tomariam sobre si. De fato, em outras passagens dos Evangelhos e do Novo Testamento somos informados sobre seguidores de Cristo que não abandonaram família e bens, nem tiveram que abdicar de vontades pessoais ou sofrer o martírio por sua fé. Apesar disto, o que Jesus diz em Lc 14.25-33 não se dirige apenas a uma "elite religiosa", mas, indistintamente, a todos os que querem seguí-lo. Jesus deixa bem claro quais são as condições para quem quer ser seu discípulo. E aconselha: cada qual pense bem, antes de se aventurar ao discipulado. Que ninguém diga que não foi avisado a tempo.

Confesso que tenho minhas dificuldades com este texto de pregação. Onde está o Jesus que chama: "vinde a mim?". E, ainda: não somos, todos nós, que, neste domingo, meditamos Lc 14.25-33 como os camelos que jamais passarão pelo fundo da agulha? Que perspectiva de entrada no Reino de Deus se nos oferece? Viemos ao culto em busca de alento, conforto, esperança, etc, e somos confrontados com um "desconvite" de Jesus!?

Que nos resta? Quem sabe, a concepção de que teríamos diante de nós "conselhos evangélicos" a serem seguidos apenas por uns poucos especialmente consagrados até não seja tão má? Ou, então, talvez, nos obrigamos a "domesticar" as condições radicais impostas por Jesus? Uma ajuda nessa direção vem da informação, segundo a qual "aborrecer" pai e mãe, etc. significa "apenas" "amar menos". O que fazer, porém, com o apelo a deixar tudo para ser discípulo de Cristo? Será suficiente que preservemos apenas a necessária "distância interior" em relação aos bens materiais? Que não nos deixemos escravizar, dominar por eles? Quais são os critérios para avaliar se realmente a "liberdade interior" não é apenas desculpa que acoberta nossa ganância?

O Cristianismo Primitivo teve seus profetas radicais ambulantes que abandonaram tudo por causa da fé em Cristo. A Comunidade de Jerusalém praticou, no início, a comunhão de bens. Pessoas, motivadas por sua fé, se desfizeram de seus bens e os colocaram à disposição de pessoas necessitadas dentro da Comunidade. No médio prazo, porém, a Comunidade empobreceu e precisou de auxílio de outras Comunidades.

Conscientemente, gostaria de não "domesticar" o anúncio de Jesus, não lhe tirar o escândalo. Não quero colocar um pouco de "açúcar" e tornar palatável aquilo que, em si, não conseguimos engolir. Permanecemos, por assim dizer, "sentados entre as cadeiras": por um lado, o anúncio radical de Jesus; por outro, a constatação de que já Lc deixa transparecer que não foram todos os seguidores de Cristo que atenderam ao apelo ao "discipulado radical". Uns quantos permaneceram com suas famílias, não se desfizeram de seus bens, nem tomaram outras dificuldades sobre si por causa do Evangelho.

Hoje, o que importa é ouvir o apelo radical de Cristo. Quem é mais importante: a família ou o Senhor? Que preço estamos dispostos a pagar pelo discipulado? E: somos, de fato, senhores dos nossos bens ou, no fundo, escravizados a eles?

Que ouvindo o apelo de Cristo sejamos não apenas multidão que o acompanha, mas discípulos que lhe seguem.

Amém.



P. Martin Dietz
Cachoeira do Sul, RS. Brasil
E-Mail: martin.dietz@hotmail.com

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