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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

22º Domingo após Pentecostes, 20.10.2013

Predigt zu Lucas 18:1-8, verfasst von Hans Alfred Trein

 

 

Querida Comunidade!

Jesus nos conta uma parábola, para nos esclarecer sobre como funciona a política, sobre a relação entre sociedade e Estado e sobre a necessidade de lutar teimosamente pelo direito e pela justiça. Especialmente nós, cristãos de confissão luterana podemos aprender dessa parábola que orar está sempre ligado a lutar. Se essa parábola não tivesse sido escrita, há dois mil anos atrás, eu diria que foi escrita para nós. Na parábola aparecem dois protagonistas: um juiz e uma viúva. Vamos olhar mais de perto o que se desenrola entre eles.

O juiz não liga pra nada, não acredita em Deus e nem se importa com as pessoas. A parábola o descreve como alguém centrado em si mesmo. Podemos imaginar que ele tem poder, ganha um bom salário, tem estabilidade e não pode ser demitido, ninguém pode com ele, não deve respostas a ninguém pelo que faz ou deixa de fazer. A parábola não diz qual é a causa que a viúva lhe traz. Mas, sabe-se que, no tempo de Jesus, juízes individuais julgavam causas econômicas. Portanto, é muito provável que está em jogo o seu direito à herança, a uma hipoteca ou a receber algum dinheiro ainda devido ao seu falecido marido.

A viúva é pobre, não tem nem pra viver nem pra morrer, está na rua da amargura. No tempo de Jesus, as viúvas não tinham nada em seu nome, não tinham amparo previdenciário (pensão do INSS) nem qualquer espécie de assistência social. No AT e no NT elas são mencionadas geralmente junto com os órfãos e os estrangeiros como exemplos das pessoas mais vulneráveis e necessitadas de direitos da sociedade antiga. Os profetas chegam a fazer da sua vulnerabilidade um indicador, para se medir, se um reinado era justo ou não. Se a gente quer saber quem seria a viúva hoje em dia, é só olhar para os setores mais vulneráveis e empobrecidos da nossa sociedade.

O juiz não dá atenção à viúva, fica protelando a sua causa. Pra que se incomodar com gente que não tem onde cair morto? O adversário da viúva pode ser alguém de posses, influente... Indispor-se com essa gente desgasta e estressa. Na sua posição a vida tem que ser boa, tranquila. Nela não cabe uma viúva que vem fazer barraco todo o dia, onde ele atende.

A viúva teima, insiste, sua única arma é a perseverança. Afinal, ela não tem alternativa. Ficar em casa, esperando quieta e ordeira pela justiça, não enche barriga. O tempo corre e nada acontece. Ela sabe que sua única chance é lutar, não tem vergonha de ir atrás do seu direito. Não lhe resta outra coisa do que ficar enchendo a paciência do juiz. Ela não tem com que fazer um agrado ao juiz, para colocar seu processo mais em cima da pilha a ser julgada. Dá para imaginar que essa cena foi se repetindo por semanas, meses, quem sabe, anos! A demora já é uma injustiça! Na prática é uma condenação silenciosa das partes mais fracas num processo!

Até que um belo dia, o juiz fica pensando lá com os seus botões: "É verdade que eu sou eu e o resto não conta! Até gosto dessa fama de que "eu sou o cara" e não devo explicações a ninguém. Mas, essa viúva tá me enchendo o saco! E, pelo jeito, não vai parar de me azucrinar a vida. No fundo, eu sei que ela não pode desistir, caso contrário é o seu fim. Acho que eu vou atender o seu caso, pra me livrar desse nhém, nhém, nhém... Vai que, uma hora dessas, ela ainda me avance ou me cuspa na cara! Afinal, essa coisa vai dando nos nervos da gente! E isso também não é vida pra mim".

Nesse ponto, a narração é interrompida. Não tem um fim, nem feliz, nem trágico. O final fica em suspenso. Para nós, ouvintes, o final fica projetado para o futuro, para o fim dos tempos, e depende da fé perseverante.

O evangelista Lucas conta essa parábola para a sua comunidade com o objetivo de incentivá-los a serem persistentes na oração, lutarem por seus direitos e não perderem a confiança. Se a perseverança consegue vencer mesmo um juiz ateu, quanto mais ela alcançará ouvidos junto a Deus. A viúva não fica só fechada em casa, rezando pra Deus resolver sua questão. Isso ela certamente também faz, mas não deixa de trazer sua causa ao juiz, vai à luta! Ela age como a mães da Praça de Maio que querem saber de seus filhos e maridos desaparecidos durante o regime militar na Argentina. Com a viúva e las madres a gente aprende algo sobre a oração e a perseverança. Orar e lutar estão sempre ligados. Quando a causa é vital, a gente não desiste nunca! E pode-se ter a confiança de que Deus está ouvindo, e mesmo que tarde, de repente atende. As pessoas vulneráveis podem não ser as escolhidas dos juizes, mas são as escolhidos de Deus!

Daria para concluir a mensagem da parábola mais ou menos assim: Deus não vai falhar! Mas, como está a fé de vocês, a sua motivação para lutar por direitos? Terá sobrado alguma confiança e luta, quando Jesus voltar? Ou a nossa fé é apenas maquiagem para dias de festa, que ao primeiro choro de dor fica toda borrada? A fé empurra a gente para lutar por direitos, os nossos e os dos outros, orando e confiando em Deus que atenderá a causa dos seus escolhidos. Se a causa for justa, ninguém segura! Deus ouve o clamor e acompanha as lutas! Mais cedo ou mais tarde até mesmo um judiciário lerdo e um Estado corrupto vai acabar tendo que atender. Basta perseverar na confiança, e esse é o desafio mais difícil de manter aceso.

Entrementes, existem muitas leis favoráveis aos mais fracos. Mas, se os empobrecidos não se juntarem e fizerem um movimento social de reivindicação, a lei não é cumprida. Muito pelo contrário: se os setores vulneráveis da sociedade não se unirem em torno de seus direitos, até mesmo as leis favoráveis serão modificadas, seus direitos lhes serão tirados. É isso que se vê no Brasil, na movimentação da bancada ruralista que já deturpou o código florestal e, desde abril vem atacando frontalmente os direitos de indígenas e quilombolas às suas terras tradicionais. É um atraso querer transformar o Brasil inteiro no fazendão do mundo sob controle do capital internacional. Além disso, os órgãos de Estado são lentos, seguidamente incompetentes, pois estão ocupados por apadrinhados políticos que estão ali, sem ter que se importar com quem quer que seja. Se não houver mobilização social, os direitos ficarão apenas no papel.

Muitos de nós não estão acostumados a manifestar-se publicamente, a ir para as ruas e lutar pelos direitos, como ocorreu em nosso país através das manifestações populares em junho e mais recentemente em início de outubro. Em geral, somos pessoas ordeiras, aprendemos a confiar na lei, a obedecer às autoridades, a ficar na espera... manifestações públicas, muitas vezes, viram palco para baderneiros e vândalos, aí vem a polícia... é aquele esparramo, e a gente não quer participar disso.

Especialmente, nós evangélicos de confissão luterana, que por muitas gerações vivemos nesse país, sem direitos civis e religiosos e por isso nos recolhemos para o âmbito privado, temos que aprender a lidar com o espaço público e a lutar por direitos dentro da sociedade. Nossos antepassados conseguiram conquistar muitos direitos que hoje são naturais para nós: liberdade religiosa, cidadania plena, direito de cultivar nossa cultura, direito de não sermos mais discriminados ou perseguidos por causa da origem e até mesmo por causa de nossa fé de confissão luterana. À medida que esses direitos nos são garantidos, nós podemos nos engajar na luta por direitos semelhantes também para aqueles que atualmente não os têm garantidos.

Aqueles que detêm o poder econômico e político, ao longo da história, sempre jogaram os mais fracos uns contra os outros. O grande lema desde a antiguidade é: divide et impera. Ou seja: quando você consegue dividir o povo, você consegue governar e controlá-lo. Está em nossas mãos mudar isso! Precisamos formar uma consciência política clara - perpassada pela solidariedade cristã - com os segmentos mais vulneráveis de hoje, para reivindicar direitos diante de um Estado que se comporta como aquele juiz da parábola: não se importa com nada, é autosuficiente e só funciona sob pressão. Oração e luta por direitos! Direitos sociais de meninos e meninas de rua, de mulheres, de indígenas, de pequenos agricultores, de atingidos por barragens, de expulsos da terra pelo agronegócio, de quilombolas, de ribeirinhos, de aposentados/as, de jovens e idosos/as... Já há leis favoráveis a esses grupos, mas se não houver mobilização social, o Estado não vai cumprir as leis e os grandes ainda tentarão mudá-las. O Estado brasileiro vem acumulando injustiças ao longo da história e não quer enfrentar a solução dos conflitos de direitos que esses erros criaram, age como o juiz da parábola, vai protelando, desviando... Da viúva podemos aprender a perseverança e a teimosia, pois o Estado nada vai resolver, senão por pressão. É assim que também se expressou uma liderança indígena Macuxi nas recentes mobilizações em início de outubro: "Nossa arma é a teimosia e nossa força é a esperança!".

Muitas pessoas pequenas em muitos lugares pequenos estão dando passos pequenos e estão transformando a cara do mundo! (Viele kleine Leute, an vielen kleinen Orten, die viele kleine Schritte tun, können das Gesicht der Erde verwandeln). E por quanto tempo tem de haver mobilização social, confiança nos direitos, fé em Deus? Até que Jesus volte! O Reino de Deus ainda pode demorar, mas vem vindo. Podem apostar nisso! Amém



Conselho de Missão entre Indígenas - COMIN -, Hans Alfred Trein
São Leopoldo/RS
E-Mail: comin_mob@est.edu.br

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