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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

16º Domingo após Pentecostes, 16.09.2007

Predigt zu Lucas 15:1-10, verfasst von Heloísa Dalferth

 

Graça e paz, através de Cristo Jesus.

Ó Deus, esteja conosco através de teu espírito, para que a tua Palavra realmente nos fale e nos toque em sua profundeza.

Querida Comunidade!

Jesus nos ensinou como pregar a Palavra de Deus:  Contando histórias!

O evangelista Lucas nos relata essas duas histórias que Jesus contou quando fariseus, profundos conhecedores da lei, cochichavam entre si porque ele se misturava com gente que não deveria. Tratava-se de "publicanos e pecadores" que vinham para ouvir a sua pregação. 

Publicanos eram cobradores de impostos, pessoas muito mal vistas e até odiadas pelo povo. Ser publicano era praticamente sinônimo de ladrão - jamais poderia se imaginar que Deus teria misericórdia com um deles. Muito pelo contrário, eles receberiam o castigo merecido através da ira de Deus.

Pecadores eram uma vez pessoas que tinham problemas com a moral e os bons costumes, como ladrões, assassinos, criminosos. Os fariseus consideravam ‘pecadores' todos aqueles e aquelas que não seguiam as leis de Deus conforme as entendiam. Eles até tinham um lista de profissões, de acordo com a qual, quem exercia uma delas, era considerado ‘pecador(a)', a exemplo de pastores de ovelhas, cobradores de impostos, tecelões, e até médicos, entre outras.

Confrontado com a acusação de se misturar com pecadores, pessoas perdidas, Jesus conta essas duas histórias sobre perdas. Na primeira história, um homem, um pastor de ovelhas, entra em ação; na segunda uma mulher, uma dona-de-casa. Os dois sofrem uma perda e agem cada qual em seu contexto. Ambos se concentram e canalizam todas as suas forças na procura intensiva e incansável, até que o perdido é encontrado.

Neste momento eu me permito fazer algumas perguntas, as quais cada um e cada uma pode responder para si:

Como reagimos nós quando perdemos algo?

•-         Inseguros(as) - perdidos(as) também? Procuramos nos lugares possíveis e impossíveis, até que não sabemos mais onde procurar?

•-         Reagimos com raiva, procuramos culpados...?

•-         Serão o caos, a falta de tempo e de organização que levam a culpa...?

•-         Não se teve tempo para arrumar a casa, não se cuidou direito, algo nos escapou do controle...?

•-          ... ou ainda.... alguém o pegou! Fomos roubados e roubadas?

Permito-me ir ainda um pouco adiante com meus comentários e talvez até com especulações: Em relação à parábola da ovelha perdida: o pastor de ovelhas que passa dia após dia com suas ovelhas acaba conhecendo-as bem e apegando-se a cada uma delas. É isso que nos diz o texto. Com certeza o fato de uma ou outra se perder faz parte da rotina de um pastor de ovelhas. Mas cada uma das cem ovelhas é única. E aquela que está em perigo, precisa de sua atenção e de seus cuidados especiais. E quando ela é recuperada e novamente faz parte do rebanho, a alegria e a gratidão são imensas!

Na parábola da dracma perdida uma mulher perde algo! Será que ela tinha que ter medo por causa disso? Ela era responsável pela lida da casa. Será que estava mal cuidada, bagunçada e por esse motivo perdeu a moeda? Será que, ao invés de ser uma boa dona de casa estava ocupada com outras coisas, que nem caberiam a uma mulher?

Essa mulher era com certeza uma mulher pobre, pois em si uma dracma não era tanto dinheiro assim. Mas para ela, pelo que tudo indica, representava muito. Imagino que vocês devem estar se perguntando: o que significava uma dracma e quanto valia?

Uma dracma, moeda grega, tinha o mesmo valor como um denário, moeda romana. Pagava um dia de trabalho, como sabemos da parábola dos trabalhadores na vinha (Mt 20.2,9,13). Em tempo de carestia, equivalia ao preço de uma medida de trigo ou três medidas de cevada. (Ap 6.6). Interessante é que o texto fala em ‘dracmas' e não em denários. Isso pode ter a ver com o fato de os romanos serem os opressores.

Também para aquela mulher, pois, uma dracma certamente representava o salário de 1 dia de trabalho. Portanto era algo precioso para alguém pobre da Palestina. Hoje se diria, no Brasil, que é o dinheiro que uma mulher diarista, ou bóia-fria, faxineira, perdeu depois que a patroa lhe pagou no fim do dia. É o dinheiro do leite e do pão das crianças, do feijão e arroz da família.

Querida comunidade! A forma como Jesus contou essas duas histórias certamente fez com que os e as ouvintes da época tivessem que concordar: assim age Deus! As duas parábolas são transparentes para o agir divino. Deus age como um homem que procura por sua ovelha perdida, e como uma mulher que ansiosa e incansavelmente varre, revira a casa até que encontra a sua moeda. Age ainda, como nos conta a parábola seguinte ao nosso texto, como um pai que se alegra com a volta de seu filho que se perdeu, mas que achou o caminho de volta para casa.

Vejamos: O pastor de ovelhas deixa as outras 99 ovelhas sozinhas e não desiste até que encontra a centésima. E ela estava machucada e fraca, precisou ser carregada! Assim é Deus... Ele nos carrega quando é preciso, quando nós não temos forças para andar sozinhos ou quando desaprendemos a andar. Nós muitas vezes nem percebemos quando somos carregados e carregadas por Deus. E Ele se alegra imensamente quando estamos melhores, quando nos recuperamos, quando podemos tocar a nossa vida para frente. Assim é Deus!! 

O mesmo observamos na segunda parábola. Jesus apresenta Deus como uma mulher que procura uma de suas 10 dracmas. Uma moedinha - pequena, mas que lhe é imensamente importante. Aqui Jesus descreve a sua própria atividade, a sua preocupação, sua comunhão com pessoas pecadoras e marginalizadas.

Essas duas histórias levantam a seguinte pergunta: Tu concordas com essa posição de Deus - posição implícita na procura incansável do pastor de ovelhas e da mulher?

Eu convido vocês a nos aprofundar ainda um pouco mais nas duas parábolas: As procuras são intensas. Nenhum dos dois desiste antes de encontrar o que estava perdido. Pessoas às vezes procuram algo sem grande vontade e sem intensidade, e pode ser que o que procuram está bem próximo, mas não o encontram. Também pode acontecer que procuram e procuram, mas não encontram.

Entretanto, o fato de encontrar e recuperar a ovelha perdida traz uma alegria tão grande ao pastor que ele não consegue ficar sozinho. Ele vai para casa, convida seus vizinhos e amigos e faz aquela festa. E a mulher ao limpar a casa, ao ouvir o tilintar da moeda também se alegra sobremaneira: convida suas amigas e vizinhas para compartilhar com elas sua alegria. E elas todas se alegram com a mulher. É assim mesmo! Quando a gente está explodindo de alegria, não se consegue segurar para si.

Certa vez uma mulher que trabalhava com mulheres pobres em uma favela de São Paulo fez a seguinte pergunta:

•-         Por que Jesus viu na mulher que perdeu uma moedinha, bem como em sua alegria e na de suas vizinhas e amigas, o jeito de ser de Deus?

Resposta: Eu não sei! Talvez, porque Jesus viu o sagrado na vida e no dia a dia das pessoas!

Diferente do que em outros sistemas religiosos, que traçam diferenças entre o sagrado e o profano, Jesus leva o sagrado para dentro de todos os âmbitos da vida. Ele viu o jeito de ser de Deus na vida de homens e mulheres, anônimos ou não, que estão ocupados com o ‘iluminar', com o ‘procurar', com o ‘ir em busca', com o ‘varrer' e com o ‘encontrar'. E Jesus viu o jeito de ser de Deus também na alegria dos amigos e das amigas, dos vizinhos e das vizinhas que se alegraram juntos, que também comemoraram o ‘encontrar' da ovelha e da moeda. Jesus inaugura o direito à alegria e à comemoração.

O centro destas histórias, pois, está nessa alegria sobre o encontro e a recuperação do que estava perdido. São alegrias que acontecem no dia-a-dia da vida. Deus é como um pastor de ovelhas que se arrisca quando uma se perde. Deus é como uma mulher que não desiste e que gosta de festejar. Pela graça de Deus nós somos libertados, e assim estamos livres para a obra do amor. Por isso podemos festejar.

Para as pessoas no Brasil, também as marginalizadas em cidades e no campo, para pessoas sem terra, a festa é um elemento muito importante. Quando mulheres terminam uma coberta, costurada de retalhos de tecido e restos de lã, elas comemoram! Mulheres se reúnem e aprendem a fazer pomadas e a lidar com ervas e chás. Assim fazem resistência contra o sistema de saúde de nosso país, que é exclusivista. Dele só usufrui quem pode pagar.

Os sem-terra conseguem fazer resistência à política agrícola do latifúndio, com as suas ocupações. Dentre as preciosidades que nós encontramos em nossa procura em nosso país, nós ficamos com a esperança, com a criatividade e a solidariedade.

Sim, a esperança, muitas vezes vestida de teimosia, motiva, ampara, empurra para frente e para o alto estas pessoas sofridas que querem viver da Palavra de Deus.

Que Deus ilumine a todos nós, a não desanimarmos diante das dificuldades. Que não desistamos jamais de buscar saídas e alternativas. Que Deus não afaste de nós as mãos valiosas, motivadas pela busca do Reino. Que Ele faça conosco assim como fez o pastor de ovelhas que saiu à procura, e como fez a mulher que arregaça as mangas, acende a candeia, varre, procura até encontrar a sua dracma.

Assim como a o pastor de ovelhas e a mulher festejaram com seus amigos e amigas e vizinhos e vizinhas, assim o próprio Deus se alegra e festeja quando nós reconhecemos a nossa limitação e a nossa fragilidade e quando nos deixamos achar por Deus. Diz a Bíblia, "de igual modo, há júbilo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende."

Amém.

 

 

 

 



Heloísa Dalferth
Lichtenstein-Holzelfingen Alemanha
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