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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

1º Domingo após Natal, 29.12.2013

Ser amigo da morte ou da vida? Necrófilo ou biófilo?
Predigt zu Mateus 2:13-23, verfasst von Yedo Brandenburg

Estimada comunidade de Jesus Cristo:    

               Na esperança de que as celebrações natalinas tenham alimentado os nossos sonhos por um mundo com menos violência e mais justiça, nós nos reunimos para sermos alimentados pela palavra de Deus. Trazemos a mensagem que diz: “Ser amigo da morte ou da vida? Necrófilo ou biófilo?” .

               O texto de Mateus 2.13-23 nos coloca dentro da vida do recém-nascido Jesus. O cenário político lhe é desfavorável. Herodes, rei na Judeia,  não suporta concorrentes, mesmo que seja na pessoa de uma frágil e indefesa criança. Seus planos são de morte em relação à criança. Devido a isso, há a necessidade da intervenção divina para proteger a vida do menino Jesus. Por meio de um sonho, um anjo do Senhor diz para José pegar a criança e a sua mãe e se refugiar no Egito, pois Herodes quer matá-la. No meio da noite, às pressas, eles se colocam a caminho. Imaginemos um casal com bebê enfrentando a longa distância da Judeia para o Egito, o frio das noites e o calor dos dias no deserto, a escassez de água e os inúmeros perigos. Até os soldados romanos, preparados para longas caminhadas, preferiam combater a atravessar o deserto, conforme relata o historiador Plutarco (45 d.C. - 120 d.C.). Coragem e confiança em Deus são necessárias nessa viagem extremamente difícil e sob condições precárias.

               Ao perceber que foi enganado pelos visitantes do Oriente, Herodes tem um ataque de fúria. Sabe-se que ele passa por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos, chegando, inclusive, a assassinar familiares para se garantir no poder. Dele tudo se pode esperar. Ele é um amigo da morte, um necrófilo. Em sua fúria, Herodes ordena matar, em Belém e em suas vizinhanças, todos os meninos de menos de dois anos de idade. Dessa forma ele quer eliminar a ameaça ao seu trono. Quanta dor em Belém e arredores! Quantas famílias chorando a perda precoce de seus rebentos! Cumpre-se, assim, o dito do profeta Jeremias: “Raquel chora por seus filhos! Todos estão mortos!” Sim, se Raquel, a esposa do patriarca Jacó, estivesse presente naquele momento, ela choraria ao ver a desgraça de seus filhos. Raquel representa a dor de todas as mães em Israel e, por extensão, de todas as mães do mundo que sofrem com a morte prematura e injusta de seus filhos. Por detrás do luto de Raquel, oculta-se a dor do próprio Deus. Ele chora por essas crianças que são assassinadas pelo poder despótico de um governante necrófilo. Onde e quando em nossos dias se tira o direito à vida das crianças?

               As crianças assassinadas por ordem de Herodes nos lembram da terrível brutalidade dos seres humanos e da perseguição que o próprio Jesus sofre desde o início de sua vida terrena até a sua morte na cruz. Lá na cruz, Jesus se solidariza com todas as pessoas que sofrem devido aos necrófilos de todos os tempos. Jesus é o Emanuel, o “Deus está conosco”!      

               Quando criança, a vida de Jesus foi providencialmente poupada. Anos após, contudo, o governante romano Pôncio Pilatos sentenciará o inocente Jesus à morte. Mas a sua morte será vencida pela ressurreição. O poder de Deus supera a força da morte. O nosso Deus é biófilo, ou seja, amigo da vida. Ele tem paixão pela vida! Por isso, mesmo na cruz, Jesus traz uma palavra de perdão para os seus algozes. Nisso se revela a sua extraordinária liberdade, mesmo preso à cruz.
               No Egito, José e família se tornam refugiados. Também em nossos dias há muitas famílias que migram para outras terras a fim de escapar de perseguição e morte. O Egito nos é conhecido especialmente como lugar da dura escravidão do povo hebreu, libertado por intervenção divina mediante Moisés. O evangelista Mateus anuncia o cumprimento das palavras de Oseias 11.1: “Eu chamei o meu filho, que estava na terra do Egito” . Devido a isso, Mateus considera o retorno de Jesus à terra de Israel o cumprimento da verdadeira libertação. Jesus é como um segundo Moisés, um segundo - e definitivo - libertador do povo de Deus. Com a sua vinda do Egito, Jesus assume a tarefa de levar a salvação ao mundo, de ser  amigo da vida numa realidade envolta pelos tentáculos da morte.

               Assim, após a morte de Herodes, novamente um anjo do Senhor aparece em sonho a José, no Egito. José recebe a ordem de voltar com sua família para a terra de Israel. O retorno é, sem dúvida, motivo de grande alegria. Como bom israelita, José gostaria de ir ao Templo de Jerusalém para dar graças ao Senhor. Mas o clima por lá está tenso e semeado de discórdia e violência. Arquelau, que assume o governo da Judeia em lugar de seu pai Herodes, também é um tirano, com sede de poder, um necrófilo. Sua fama de atrocidades chega aos ouvidos de José. Ao tomar conhecimento de todas essas péssimas notícias, José sente medo e, como pai, teme pela vida do menino Jesus. Novamente Deus comunica-lhe, por meio de um sonho, para ir diretamente a Nazaré, evitando assim qualquer risco de vida para a criança.

               No início de dezembro faleceu o grande líder do povo sul-africano, Nelson Mandela. Ele sofreu com a dor do seu povo, com as crianças que eram violentadas com a perda de seus pais devido ao regime opressor dos brancos. Os agentes de morte semeavam o Apartheid na África do Sul. Inicialmente, Mandela procurou mudanças políticas e estruturais por meio da violência armada. Mas, depois de seus 27 anos como prisioneiro do regime branco, Mandela respondeu ao mal com o bem e tornou-se o símbolo da libertação do povo sul-africano. Diz-se que a grande transformação no interior de Mandela aconteceu durante a sua longa permanência numa minúscula cela na prisão de Robben Island, na Cidade do Cabo. Lá, na prisão, ele se tornou verdadeiramente livre. Ao sair da prisão, Mandela tinha todos os motivos para, num ataque de fúria, responder àqueles que o oprimiram por décadas com o mal. De um possível amigo da morte, Mandela tornou-se um amigo da vida. Com certeza, Mandela é um exemplo de postura biófila para nossos dias.

               Mais um pouco e 2013 passou. Onde e quando neste ano, a exemplo de Herodes, fomos amigos da morte, necrófilos, tendo ataques de fúria, passando por cima de pessoas, sendo injustos, gananciosos e  respondendo ao mal com o mal? Por outro lado: onde e quando, sob a ação de Deus, que se revelou em Jesus Cristo como o nosso libertador, fomos amigos da vida, biófilos, perdoando, respondendo ao mal com o bem? Essa é a libertação tão necessária e urgente em nossos dias.

               Queira o bondoso Deus ajudar-nos para que em 2014 sejamos biófilos num mundo onde a violência se faz tão presente e a necrofilia assume proporções assustadoras. Amém.



P. Yedo Brandenburg
93001-970 São Leopoldo/RS
E-Mail: yedobra@gmail.com

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