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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

18° Domingo após Pentecostes, 30.09.2007

Predigt zu Lucas 16:19-31, verfasst von Harald Malschitszky

 

Irmãs e irmãos em Cristo!

A vida é o dom mais precioso que ganhamos e temos. Praticamente tudo o que fazemos e até o que deixamos de fazer está ligado a cuidar desta vida. A gente pensa em melhorá-la adquirindo bens, cuidando da saúde, pensando na velhice, criando ambientes em que esta vida possa desabrochar. Ainda que por este mundo afora existam culturas muito diferentes umas das outras, ainda que os espaços para viver sejam distintos - pensemos na China, na África, na Europa, no Pólo Norte, nas nossas Américas -, mesmo que também os sonhos e desejos de cada um sejam muito diferentes, todos querem viver.

Já nas primeiras páginas da Bíblia lemos sobre a vida como presente e sobre a sua preciosidade. O Salmo 8 - para citar um só texto - canta o papel do ser humano dentro da criação. Qual fio condutor o tema do ser humano, sua vida, sua dignidade e seu destino perpassa a Bíblia, da primeira à ultima página.

No entanto, a Bíblia não esconde que este ser humano, que ganhou e tem vida, na busca por sempre mais vida se desencaminhou. Curiosamente, uma das primeiras coisas depois da malfadada busca por plenitude, depois do desastre do primeiro pecado, foi o rompimento com o seu semelhante e com seu criador. Adão põe a culpa em Eva e, no final das contas, ambos jogam a culpa no próprio Deus. Caim mata Abel, seu irmão, e pergunta descaradamente a Deus: "Acaso sou eu tutor de meu irmão"? (Gn. 4.9).

Temos aí um segundo fio condutor que também vai do início ao fim da Bíblia.  Ele nos conta a história de como os seres humanos destroem vida - a própria e a dos outros! As formas os métodos para destruir vida são quase incontáveis.

Mas há ainda um terceiro fio condutor que atravessa a Bíblia. É o mais forte, o mais consistente, o absolutamente indestrutível: É o fio condutor do amor de Deus por sua criatura, apesar de todos os seus descaminhos. Este amor de Deus é relatado, é pregado por Moisés e os profetas e, em determinado momento, é vivido, sofrido e morrido por Jesus Cristo.

Este é o pano de fundo da parábola que Jesus conta e Lucas registra em seu evangelho. Ouçamos o texto de Lucas 16. 19-31. São duas as pessoas. De um não se menciona o nome. Ele é apresentado como o rico. O outro se chama Lázaro. O primeiro sempre viveu bem demais, de banquete em banquete, de festa em festa, vestiu-se  luxuosamente, cercou-se de muitos amigos seguramente. Pois não é preciso ter muita fantasia para imaginar que também o seu enterro foi de luxo. Lázaro, por sua vez, é a própria figura da miséria. Ele nada tinha, vivia de esmolas, era doente... De resto dependia mesmo é de Deus, o que já diz o seu nome (Deus ajuda). Quando sentado à porta do rico, tinha vontade de se saciar dos nacos de pão que eram atirados ao chão, pois serviam apenas para limpar as mãos dos convivas. Nem isso lhe era concedido! Cachorros vadios aliviavam sua dor lambendo-lhe suas feridas. Seu enterro - pobre diabo - deve ter sido de indigente.

Quantas vezes será que o rico repetiu a conhecida frase: "Acaso sou eu tutor de meu irmão?" "O que é que tenho com Lázaro?" Ele sempre viveu como se Lázaro não existisse, como se Lázaro não fosse criatura de Deus, imagem de Deus.

Na sua morte, como que em um filme e num pesadelo, ele se dá conta de que vida fora vazia e fútil e que, agora, nada mais lhe restava do que sofrimento, um caminho sem volta. E ele apela, invocando um dos patriarcas de sua história, a Lázaro. Ele pede menos do que do que os nacos de pão atirados no chão: Apenas algumas gotas d'água na ponta do dedo de Lázaro. O pai Abraão não o concede. Mas no filme de sua vida, que não tinha lugar para Lázaro, aparecem cinco irmãos, que viviam como ele viveu, à larga! Lázaro, quem sabe, poderia convencê-los de uma transformação em suas vidas. Também este pedido é rejeitado por Abraão, com um argumento simples: Eles têm Moisés e os profetas: que os ouçam. O rico, porém, tinha um argumento que lhe parecia mais forte: Se alguém retornar da morte, aí sim, eles vão acreditar. A resposta: Quem não ouve Moisés e os profetas também não vai se importar com uma mensagem sobrenatural!

O rico viveu sem Lázaro, teria que morrer sem ele. Sua vida passou de lado do projeto de Deus para os seres humanos e sua criação. Ele viveu como se fosse o dono do mundo! Ele não deu chances para que também Lázaro e outros lázaros vivessem a vida que tinham recebido de Deus. Ele se deixou obcecar e cegar pela vida que tinha. É interessante que não há uma só palavra no texto sugerindo que o rico fosse uma pessoa má, rancorosa, estúpida. Em sua vida simplesmente não havia espaço e nem visão para a partilha.

Eu acho que, a esta altura, quase todos nós temos uma pergunta meio atravessada na garganta? Será que a riqueza, por si só, já nos impede de participar do Reino de Deus? E mais: O que, afinal, é riqueza?

Antes de mais nada, riqueza são bens, é patrimônio. O acúmulo sem limites e ganancioso é imoral, é pecado. Este acúmulo é uma das raízes da miséria no mundo. Entretanto, riqueza são também conhecimentos, é o privilégio de estudar muitos anos; riqueza é minha saúde e a condição de dela cuidar; riqueza é - para usar palavras de Lutero - ter "casa, lar, esposa e filhos, campo, gado e todos os bens". Tudo isso também pode eclipsar e endurecer o meu coração, pois "onde está o teu coração, ali está o teu Deus", independente de tudo que acumulei. Quem se deixa eclipsar e obcecar por qualquer tipo de riqueza, não tem olhos para Lázaro e nem para o mundo de Deus. Também não para o próprio Deus, que, quando muito, é usado de forma interesseira e hipócrita. De repente Deus não passa de um ídolo em nossas mãos! Ai de nós...

Há, porém mais uma pergunta que sempre se levanta: Será que a pobreza por si só faz do ser humano herdeiro do Reino de Deus?  Certamente que não. Também o pobre é gente e tem sonhos e desejos muitas vezes indignos do ser humano como imagem de Deus. Mas ele nada tem para se bastar. Dificilmente alguém se basta em sua pobreza a ponto de ignorar o outro. Nem riqueza, nem pobreza por si mesmas fazem alguém herdeiro do Reino de Deus. No entanto, o rico tem um ônus maior e corre maior risco de pôr tudo a perder.  

Por que será que "Moisés e os profetas" precisam ser ouvidos para que nossas vidas não sejam um desastre? Ora, porque eles fazem parte daquele fio condutor da Bíblia que fala do amor de Deus por sua criatura. Moisés e os profetas são a expressão de todas aquelas testemunhas que não param de lembrar o ser humano de sua origem em Deus e de seu destino. Mais: Eles tentam mostrar o que isso tem a ver com a vida concreta entre as pessoas, os povos e as nações; eles colocam a vontade de Deus qual espelho diante dos seres humanos para que não haja ricos que se bastam e nem pobres que nada têm.

O mundo mostra, porém, que Moisés e os profetas não são tomados a sério nem mesmo por aqueles muitos milhões de seres humanos que invocam o "Deus de Abraão. Isaque e Jacó" e pai de Jesus Cristo. Mas também para nós não haverá nenhuma mensagem sobrenatural ou do além. O próprio Jesus, ressurreto, nos lembra Moisés e os profetas para que os ouçamos. Ele mesmo, no evangelho de João, é descrito como a palavra que se fez carne, palavra que precisa ser OUVIDA! Em Cristo o próprio Deus se misturou ao ser humano para falar a nossa língua e reafirmar, de uma vez por todas, o grande amor de Deus por nós. Este amor de Deus é mais uma riqueza que temos.

Na verdade, os ricos somos nós e a palavra que ouvimos nos diz que não podemos ficar com toda esta riqueza para nós, como o rico da parábola. A nossa riqueza é também para todos os lázaros. Somos convocados a agir com a nossa riqueza para que os lázaros deixem de ser lázaros!

Façamos algumas perguntas que o rico do texto esqueceu de fazer:

Como lidamos com as outras pessoas? O outro é gente, gente como nós, ou apenas um lázaro do lado de fora da nossa porta? 

Aceitamos a nos envolver em causas e ações - na igreja e fora dela - que buscam melhorar a vida de outros?

Somos capazes de abrir mão de alguma parte de nossa riqueza por alguma causa?

Partilhamos alguma parte da riqueza da nossa vida e do nosso tempo para que outros também vivam com dignidade?

Se passarmos de lado por todos os lázaros que estão aí, nossa riqueza nos condenará. Se dela partilharmos, ele será uma bênção para todos.

      

Deus abra nossos ouvidos e corações para que Moisés e os profetas, mas sobretudo o Cristo, determinem o jeito de levar as nossas vidas. Amém.

 

 

                                                          



Pastor em. Harald Malschitszky
São Leopoldo ? RS - Brasil
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