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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

Domingo de Ramos, 13.04.2014

Predigt zu Mateus 21:1-11, verfasst von Éverson Block

 

 Apontamentos contextuais

A cidade de Jerusalém fervilhava com os preparativos para a festa da Páscoa judaica. Essa festa era o ápice das comemorações da libertação israelita do jugo egípcio há algumas gerações passadas. Uma das características desta festa era a sua duração: ela se estendia por vários dias e envolvia alguns rituais bem descritos pelos livros vetero-testamentários de Êxodo e Levítico. Era uma festa de alegria! É neste contexto que acontece o episódio de nossa perícope.

Também o “Zeitgeist” (espírito da época) que reinava naqueles dias era de grande expectativa quanto à revelação do Messias. Alguns setores da sociedade de Israel aguardavam a manifestação do enviado/ungido de Javé, que viria devolver a dignidade de grande povo aos israelitas, como nos tempos de Davi. Reinavam confusões quanto à revelação do enviado de Deus. Em torno de Jesus também reinavam confusões sobre ser ele ou não o messias; basta que olhemos o envio por João Batista de seus discípulos, quando este se encontrava aprisionado, para perguntarem ao Cristo: “és tu o Messias ou havemos de esperar outro?” – Mt 11.3. Sim, de fato, Jesus Cristo é o messias enviado a Israel e a toda humanidade.

 

Olhando para o texto.

Jesus Cristo, a uma semana do grande acontecimento da fé cristã – a Ressurreição –, está chegando a Jerusalém. Ele vem a pé pelo que parece. Nas imediações do Monte das Oliveiras ele pára sua comitiva e envia dois discípulos – seus nomes não são citados - até o povoado de Betfagé, onde encontrariam amarradas uma jumenta e sua cria. Eles deveriam trazer os animais até ele. Junto com a ordem de trazerem os animais, Jesus também dá instruções do que dizer, caso alguém questionasse o que eles faziam. Mateus aproveita este enxerto explicativo para apontar, na fala de Jesus Cristo, o cumprimento da profecia (Zc 9.9) referente a este detalhe importante na história da salvação.

Ao trazerem os animais, Jesus monta nele, mas não sem antes os presentes colocarem as suas vestes como encilha. Também as pessoas nas ruas espalhavam ramos de árvores para embelezar o caminho pelo qual passava o messias. Ao fundo um coro de populares gritava a plenos pulmões: Hosana! Aclamavam e davam boas vindas ao messias.

No momento em que ele entra em Jerusalém a cidade fica alvoroçada (assim Almeida Revista e Atualizada). As multidões gritavam: “este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galiléia!” (v.11)

 

Uma possibilidade de atualização do texto.

Penso que temos aqui alguns ensinamentos para a nossa espiritualidade cotidiana.
a)    Jesus Cristo vem muito humildemente para sua paixão montado em um animal que era usado pelos mais desprovidos de recursos na época: um jumento. Tal fato nos aponta para uma simplicidade inquietante! Resumindo:
ser cristão tem um quê de simplicidade implícito na vocação.

Uma palavra de muita atualidade para o contexto brasileiro em que vivemos; isso porque nossos tempos são marcados por uma busca de uma espiritualidade em que não mais existe lugar para uma vida com simplicidade. Há uma intensa busca por riquezas e bens materiais. Graças a essa busca, os cristãos – ou pelo menos os que assim se auto-intitulam – têm buscado riquezas, dando asas à teologia da prosperidade, com seus votos e negociatas. A atitude de Jesus, qual seja, de chegar a Jerusalém no lombo de uma jumenta, prova-me que o Senhor não é favorável a ostentação de vida luxuriosa. Assim como ele sabia onde estava esta jumenta com sua cria, o Senhor também poderia ter sinalizado aos discípulos onde estava um cavalo persa ou uma carruagem cheia de glamour, ornada com ouro, dignas de um rei, ainda mais um rei no seu nível. Mas não (!), ele se assemelha ao povo simples, utilizando um animal do cotidiano dos seus contemporâneos.

Uma vida simples é importantíssima para uma espiritualidade saudável. Quando a busca por riqueza começa a ganhar espaço na vida do cristão, a fé está sob ameaça. Porque para ficarem ricos muitos perdem todos os escrúpulos e esquecem por completo da vontade do Senhor. Há que se apontar, também, que uma vida digna é algo legítimo e que tem respaldo bíblico. Basta olhar os códigos vetero-testamentários que ordenam o cuidado para com o pobre, o estrangeiro, o órfão e a viúva.

Há que se dizer, contudo, que para alguém ficar rico, alguém próximo precisa ser explorado. Aqui há uma questão que é potencialmente explosiva no meio evangélico. Quantos tiram o pão da mesa para levá-lo à igreja e enriquecem os pastores ou líderes com outros títulos, que, para “esquentarem” o dinheiro, compram propriedades rurais por milhões? Sem contar nos empresários que com suas riquezas doam generosas porções às comunidades cristãs, numa mal fadada tentativa de apaziguar Deus por suas falcatruas.

Uma vida simples também é importante e está nos planos do Criador, pois uma vida simples permite uma sociedade sustentável, com um meio ambiente preservado e protegido, de modo que as futuras gerações possam usufruir da maravilhosa criação de nosso Deus. Em nossos dias, quando o assunto sustentabilidade está em alta, nós, os cristãos, somos chamados a repensarmos algumas atitudes, como, por exemplo, o consumismo desenfreado, adquirindo coisas e substituindo objetos que nem sempre precisam ser trocados. Isso tem a ver, na prática, com atitudes como utilizar mais o transporte coletivo, a bicicleta e, por que não, quando a distância o permite, as pernas. Tem, ainda, a ver com o lixo, com a utilização da água etc etc.

A vida com simplicidade tem ainda uma importância vital para a espiritualidade: quando não cultivada e buscada, facilmente a busca por dinheiro pode tornar-se um deus para o cristão e ele se afunda na idolatria. Quantas são as pessoas cristãs que tornaram o dinheiro em seu deus por não cultivarem uma vida de simplicidade? Deixaram/abandonaram ao santo trino Deus porque seu coração foi arrebatado pela busca das posses. Lembremo-nos: “ali onde está teu coração, está ali verdadeiramente teu Deus” (Martim Lutero).

 

Um segundo ensinamento que o texto nos traz é:
b)    É preciso ter clareza quanto a quem é Jesus Cristo para mim.
Ter dúvidas quanto a quem é o senhor Jesus Cristo assemelha-me a esta multidão que estendeu ramos de árvores e suas vestes à passagem de Jesus, mas uma semana depois gritava a plenos pulmões: crucifica-o!

Este acontecimento, lembrado no Domingo de Ramos, me leva a refletir na conveniência que muitas vezes define a vida do “crente”: quando interessa, sou cristão; quando não é conveniente, esqueço que o sou.

Interessante aqui que a multidão que ficou alvoroçada quando o messias entra em Jerusalém e o aclama como tal, uma semana depois o condena alvoroçada, em benefício de Barrabás (o primeiro agraciado com a “pré-morte” de Jesus).

A firmeza na fé é uma característica do cristão maduro, daquele que não se deixa influenciar pelo meio em que está, mas mantém firme a sua confissão. A igreja de Cristo no século 21 está carente de pessoas que aclamem Jesus Cristo em toda situação. Para utilizar a linguagem do livro do Apocalipse, pessoas que sejam quentes e não mornas (Ap 3.16).

Uma leitura atenta e minuciosa do livro de Atos dos Apóstolos pode nos ser inspirador quanto ao que significa ter a coragem de ser testemunha de Jesus Cristo no mundo, mundo este que não é mais avesso ao Evangelho hoje do que era nos tempos apostólicos. Precisamos novamente no seio da igreja de lideranças, pais e mães, jovens e adultos que saibam firmemente quem é Jesus Cristo e o que ele fez por cada um de nós, que saibam dar razão da sua fé diante das oportunidades de renegarem esse Jesus.

Mas para isso, é necessário que a pessoa tenha clareza sobre quem é Jesus Cristo. Isso passa pela experiência da metánoia, isto é, do arrependimento e volta para o trino Deus, para a vivência do batismo e da Ceia do Senhor. Eis aí o significado de fazer discípulos e de evangelizar o mundo.

Pensemos, pois, nestes ensinamentos e deixemo-nos envolver pelo humilde Jesus Cristo montado em uma jumentinha às portas de Jerusalém. Amém.

 



P. Éverson Block
Ituporanga/SC
E-Mail: eversonblock@yahoo.com.br

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