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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

19º Domingo após Pentecostes, 19.10.2014

O cristão é cidadão do Reino de Deus com compromissos neste mundo.
Predigt zu Mateus 22:15-22, verfasst von Elisandro Rheinheimer

 

Dos Evangelhos aprendemos que no centro da pregação (ministério) de
Jesus estava o Reino de Deus. Suas palavras encarnavam, tomavam forma, tornavam
concreto aquilo que anunciavam: pessoas eram curadas, chegavam ao
arrependimento, eram reorientadas na verdade, mudavam suas vidas, eram
dignificadas, recebiam cuidado, amor e compaixão. Em Jesus o Reino de Deus
irrompeu-se cabalmente, e não cessou com sua morte, ressurreição e ascensão. No
poder do Espírito Santo os discípulos de Jesus foram libertados de seu medo e
empoderados para anunciar o evangelho aos quatro cantos do mundo e assim, por
fé e batismo, muitos foram sendo acrescentados a este Reino de Deus, tornados
cidadãos celestiais. E destes, partiu o questionamento que de tempos em tempos
ouvimos novamente: como devemos nos portar neste mundo considerando que já não
pertencemos a ele, mas, sim, ao Reino de Deus? A resposta a esta pergunta foi
baseada, desde os tempos da cristandade antiga, no relato de um dos conflitos
havido entre Jesus e seus opositores que neste final de semana estamos lendo
conforme o evangelho de Mateus 22.15-22.
No texto, vemos os fariseus, defensores das leis do judaísmo, e os
herodianos, partidários do rei Herodes e, portanto, defensores do império
romano, planejando uma armadilha para incriminar Jesus. Perguntaram-lhe se era
justo pagar tributo a César.  Do contexto e de suas personagens podemos
depreender que se Jesus respondesse "sim" seria acusado de colaborador dos
romanos que exploravam o povo judeu, entre outras formas, através de impostos.
Se respondesse "não" seria acusado de agitador do povo. Em ambas as situações
conseguiriam tirar Jesus e suas ideias de circulação.
Entretanto, Jesus surpreendeu. Não se limitou a responder sim ou não e,
mais do que esquivar-se da armadilha planejada, levou a uma profunda reflexão
para além da questão de pagar ou não tributo a César. Jesus disse: "Dai a César
o que é de César e a Deus o que é de Deus". Com estas palavras Jesus queria
ensinar, pelo menos, três coisas:
1º) que devemos cumprir nossas obrigações civis e públicas. "César"
era um título atribuído aos imperadores romanos, no caso, o César desta época
era Tibério. Por isso, quando Jesus fala em "César" ele não está se referindo
somente a uma pessoa, mas a um conjunto maior, o Estado (um governo que tem por
obrigação prestar serviços necessários à existência da sociedade organizada e
exercer as funções de legislador, administrador e juiz) e as relações de poder
entre as pessoas. Dessa forma, "dar a César o que é de César" é um ensino de
Jesus que nos chama para o nosso compromisso terreno em cumprir nossas
obrigações civis e públicas com autoridades e concidadãos.
Ser cidadão do Reino de Deus não nos isenta de obrigações mínimas e
inevitáveis para com o Estado (governos) e a vida em sociedade com suas regras,
leis e constituições. É óbvio que não concordamos com muita coisa. Não
concordamos com os impostos diretos ou indiretos que nos são cobrados, ou
melhor, concordaríamos se de fato fossem reinvestidos em melhoria social e
bem-estar. Qual deve ser então nossa postura como cidadãos celestiais? Seguindo
a máxima de "dar a César o que é de César" nossa resposta deveria ser: pagar o
imposto e cobrar de César (nossos administradores públicos) de maneira legitima
e legal a aplicação dos recursos. Mas o que fazemos normalmente é seguir o
caminho da sonegação e do murmúrio. Outro exemplo: estamos cansados de sofrer
com políticos corruptos e neste momento estamos às vésperas do segundo turno
(escrevo antes das eleições), sendo assim, qual a nossa postura como cidadãos
celestiais? Seguindo a máxima "dar a César o que é de César" nossa resposta
deveria ser: fazer uso pleno do voto de maneira consciente, resistindo à
tentação de anular ou se ausentar à votação, ainda que pareça não haver mais
candidatos idôneos, bem como fazer as cobranças no devido tempo. Mas o que
fazemos por vezes é abdicar do voto. Haveria muitos outros exemplos ainda a
mencionar. Importa aqui destacar que enquanto cidadãos celestiais um "bom
cristão é um bom cidadão". Como cidadãos temos deveres e obrigações perante o
governo e a sociedade organizada. Pagar impostos, entre outros, faz parte
dessas obrigações. Mas também temos direitos garantidos pela constituição, que
devem ser exigidos de "César" pelas vias legais e/ou manifestações públicas de
inconformidade, a exemplo de protestos pacíficos ocorridos há pouco tempo em
nosso país. Dessa forma, "dar a César o que é de César" implica tanto
cumprirmos nossas obrigações quanto aplicarmos a responsabilidade a quem cabe
(mesmo quando nós sejamos César).
2°) que acima de César e de nós mesmos existe Deus a quem devemos nossa
gratidão.

Por um lado, "dar a Deus o que é de Deus" é
recorrer a ele na hora do aperto, quando necessitamos de saúde, paz, proteção,
auxilio financeiro, bênçãos de toda medida, etc. Nestes momentos Deus passa a
ser nosso médico, nosso segurança particular, nosso conciliador, nosso banco,
nosso advogado pessoal. Certamente Deus quer que a ele entreguemos todas as
nossas causas e pedidos. Jesus ensinou: "tudo o que pedirem em meu nome o meu
Pai que está nos céus dará", reservando obviamente a Deus o direito de prover
sabendo o que é de fato o melhor para cada um de nós.
Por outro lado, "dar a Deus o que é de Deus" implica expressar
concretamente a Deus nossa gratidão por sua salvação, por seu auxilio e seu
cuidado. Uma gratidão que deve ser expressa em louvor, adoração, honra e glória
através de nossas palavras, mas também no exemplo concreto de vida e fé,
resistindo inclusive a perseguições e abandonando toda forma de idolatria,
conforme Paulo está a elogiar os tessalonicenses no texto complementar lido.
Nossa gratidão a Deus pode se expressar de muitas maneiras. Apenas alguns
exemplos: reservando um momento do dia para leitura da sua Palavra e oração,
confessando nossos pecados, pedindo perdão e concertando os nossos erros,
perdoando e buscando compreender o irmão mais fraco que cai em pecado,
contribuindo na obra de Deus através da igreja com tempo, dons e dinheiro,
aderindo a campanhas solidárias, auxiliando nosso vizinho de maneira
despretensiosa, etc. Enfim, "dar a Deus o que é de Deus" implica reconhecer que
acima de nós e de César existe Deus a quem devemos tudo o que temos e somos.

3°) que podemos facilmente cair na tentação da alienação.

Entretanto temos de considerar que, como ainda não vivemos nos céus como
anjos, diariamente vivemos o conflito e as reivindicações entre os mundos de
César e o de Deus. Alguém já disse que esta equação se resolve com a seguinte
frase "vivemos no mundo, mas não somos do mundo". Ainda assim, sempre há o
perigo de cairmos na tentação da alienação, que pode ocorrer de duas maneiras.

Uma delas é a substituição dos mundos. Acontece quando decidimos viver
somente no mundo de César, participando da vida social e pública com tal
engajamento que não temos tempo para cultivar a nossa espiritualidade. Nosso
relacionamento pessoal com Deus então esfria: deixamos para orar e ler a Bíblia
mais tarde porque agora não temos tempo diante de nossos compromissos
profissionais e assim o dia passa e não fizemos nem um nem o outro, não vamos
mais ao culto porque já sabemos o que vai ser pregado, não confessamos pecados,
pois Deus já sabe de tudo mesmo e tudo perdoa. Incluem-se neste tipo de
alienação os motivos mais nobres de ajuda ao próximo que nos afastam do Reino
de Deus. E, como não ouvimos mais a Deus, tudo o que nos é precioso (incluindo
nossa família) vai se esfacelando e perdendo espaço para o nosso ser orgulhoso
do status que conquistou na vida social e publica. Mas o contrário também é
verdadeiro. Se nos dedicarmos incansavelmente ao relacionamento pessoal com
Deus de maneira tal que este relacionamento nos afaste do convívio entre as
pessoas e nos desobrigue a seguir regras mínimas da vida em sociedade, teremos
o seguinte resultado: nossas relações com as pessoas se tornam julgadoras,
estéreis, insípidas, sem graça, além de antissociais e anárquicas.

A segunda forma de alienação pode ocorrer
através da inversão dos mundos. Quantas vezes nos vemos fazendo o contrário que
o ensinamento de Jesus, ou seja, dando a César o que é de Deus e a Deus o que é
de César? Acontece de diversas formas: pagando imposto a César e cobrando saúde
e emprego de Deus; sonegando a César e contribuindo financeiramente "em dia"
com Deus e deste cobrando que seja obrigado a devolver o dobro ou sete vezes
mais através do consumo de bens e serviços;  cumprindo leis e pagando
imposto a César e não indo à igreja ouvir o que Deus tem a dizer, não
contribuindo com amor, nem mesmo com tempo, dons e dinheiro, na obra de Deus
realizada pela igreja, devendo, portanto, uma vida santificada a Deus.

Em resumo, fomos salvos por Deus em Jesus
Cristo, sendo assim pertencemos a Ele e somos cidadãos do seu Reino. Todavia,
vivemos esta nossa cidadania celestial como estrangeiros neste mundo até que o
Reino de Deus que veio em Jesus Cristo se instale em definitivo. Não somos
deste mundo, mas nele vivemos e somos chamados a ser sal e luz, cumprindo com
nossas obrigações civis e públicas, buscando não cair na tentação da alienação.
Portanto, enquanto os interesses e reivindicações deste mundo não se chocarem
com os do Reino de Deus, cabe ao cristão atender as palavras de Jesus: "Dai a
César o que é de César e a Deus o que é de Deus"; mas, quando se chocarem, e os
interesses de César nos levarem a pecar, então cabe antes obedecer a Deus do
que a homens (Atos 5.29), perseverando na fé e no amor, conforme os
tessalonicenses, bem como no temor, sabendo que todo o poder deste mundo é dado
e tirado por Deus, conforme o texto de Isaias.

Que Deus nos ensine e inspire no dia-a-dia com seu Espírito Santo. Amém!



P. Elisandro Rheinheimer
Tangará da Serra/MT
E-Mail: ieclbtangaradaserra@hotmail.com

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