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ISSN 2195-3171





Göttinger Predigten im Internet hg. von U. Nembach

véspera de Ano Novo, 31.12.2014

Predigt zu Lucas 12:35-40, verfasst von Harald Malschitzky

 

Queridas irmãs, queridos irmãos em Cristo.

No concerto das criaturas, o ser humano é o que recebeu o dom de medir o seu tempo em passado, presente e futuro. Para fazê-lo, ele criou uma ferramenta muito eficaz, que é o calendário. Até os nossos dias convivem calendários diferentes que foram elaborados a partir de critérios próprios de povos e civilizações. Nós mesmos convivemos com dois calendários: Um é o civil que vai de primeiro de janeiro a trinta e um de dezembro. O outro é o calendário litúrgico, também conhecido como ano eclesiástico, que inicia no primeiro domingo de Advento e termina no domingo imediatamente anterior ao Advento. As datas deste calendário são móveis. Mas, temos calendários litúrgicos diferentes na cristandade: Nós celebramos o Natal no dia 25 de dezembro, outros no dia 6 de janeiro!

Usando a ferramenta calendário, nós organizamos o nosso tempo. Organizamos o passado que então é história, organizamos o presente, nossos afazeres, nossos planos mais imediatos, nossos encontros com amigos e familiares, e tentamos organizar o futuro fazendo prognósticos, previsões, cálculos. Sabemos, porém, que está aí o papel mais instável de qualquer calendário. Previsões frustram por diversas razões, ainda que em nossos dias se pense que é possível fazer previsões confiáveis, afinal temos uma tecnologia altamente desenvolvida e sofisticada. E as previsões parecem ser muito concretas, pois partem daquilo que move grande parte da sociedade humana moderna: Produção, desenvolvimento, consumo, lucro. E se os índices não derem certo, a gente é capaz de mudar os parâmetros originais, tanto que a gente adapta os índices à realidade e o balanço sai redondinho...

Também no terreno ideológico e religioso existem previsões e prognósticos, que estão baseados em esperanças que fazem parte inerente das tradições religiosas, por exemplo. Os cristãos têm em sua esperança a previsão do estabelecimento definitivo do Reino de Deus ou, em outras palavras, da segunda vinda de Cristo. Esta esperança é parte inerente à fé cristã. Também ela, porém, muitas vezes se constitui em problema, a saber, quando uma previsão, uma esperança, é transformada em lei. E a história da igreja cristã está cheia de movimentos e manifestações que tratam a esperança como lei e que, por isso, levam a uma tremenda frustração, quando o previsto não acontece, inclusive a suicídio coletivo.

Os primeiros cristãos, muitas das pequenas comunidades, tinham a esperança de que o Reino definitivo de Deus se estabeleceria durante a sua geração. Aliás, o próprio apóstolo Paulo manifesta, em uma de suas cartas, a opinião de que ele experimentaria em vida a segunda vinda de Cristo. No entanto, ele não transformou sua esperança em uma lei, tentando obrigar Deus ao calendário humano. Entre muitos cristãos e muitas comunidades, na época, a esperança transformada em lei criou sérios problemas: Pessoas largaram seu trabalho e seu ganha-pão (mais tarde viveriam à custa de outros!), abandonaram suas famílias, se embrenharam em desertos, longe da civilização. A cristandade primeira estava realmente diante de um problema. A pergunta era como ajudar pessoas e comunidades a continuar em sua fé, mesmo que a segunda vinda de Cristo tardasse, não se concretizasse como eles mesmos o tinham imaginado.

Sabemos que o evangelista Lucas fez muitas pesquisas para então escrever o evangelho que leva o seu nome e o livro de Atos dos Apóstolos. Nessa sua pesquisa ele recolheu uma parábola de Jesus que seguramente ajudaria. Ela está em Lucas 12.35-40, que vamos ouvir.

As palavras de Jesus deslocam os olhos do imediatismo de muita gente, para colocar o Reino de Deus no horizonte de suas vidas, vidas que eles estavam desvalorizando, porque o futuro já nem interessava. Lá no final da parábola está a frase, quase chocante, porque Jesus compara a vinda do Reino de Deus com a tática de invasão do ladrão. Ouçamos a frase: "...se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, [vigiaria e] não deixaria arrombar a sua casa". A palavra central do nosso texto é VIGIAR, estar atento. E o texto nos conta que enquanto uns vigiavam, outros dormiam sossegados.

Dois milênios depois a esperança continua acesa, porque a maioria entendeu o recado e o desafio de Jesus. Sim, porque há também um desafio: "Cingido esteja o vosso corpo". Uma expressão conhecida é "cingir o lombo". Na época de Jesus as pessoas usavam uma espécie de capa larga. Uma cinta, muitas vezes de cores alegres, era usada para prender a roupa perto do corpo a fim de que ela não atrapalhasse no trabalho. "Cingido esteja o vosso corpo" significa, entre outros, que o nosso corpo seja usado para viver a vida que é dom de Deus, agora sob o mandamento do amor radical pregado e vivido por Jesus. Em outras palavras, o desafio era viver plenamente a vida, no espírito de Jesus, até que o Reino de Deus se estabeleça. Nas cartas do apóstolo Paulo, vamos encontrar inúmeras indicações para o novo viver em Cristo, que não é um viver restrito à comunidade, mas tem dimensões civis...

Mas, tem gente dormindo, quem sabe no travesseiro de que o mero cumprimento dos ritos da igreja é suficiente, ou o travesseiro de estar contribuindo financeiramente. Por isso o horizonte do futuro do Reino de Deus fica difuso e insignificante para a vida. No mundo o travesseiro se chama sucesso, consumo, conquistas, aparência pessoal. A dimensão do horizonte de Deus não aparece... Parece que tudo é seguro, calculável, previsível. Que o preço de tudo isso é que grande parte da humanidade está na miséria, é ignorado. Bem, a gente até contribui nessa ou naquela campanha! De vez em quando somos sacudidos por alguma catástrofe como o tsunami de 10 anos atrás, doenças como ebola no momento, mas damos graças por isso estar acontecendo longe de nós. Ignoramos tantos outros sinais do nosso sono profundo que a natureza nos coloca, a menos que sejamos diretamente atingidos. Que catástrofe é, para nós, ficar 24 horas sem energia elétrica!

Nós cristãos somos desafiados a cingir os nossos corpos, seja em nível pessoal, seja em instituições e igrejas. O mundo precisa saber - ainda que não queira ouvir - que o horizonte da vida e do universo é de Deus e para Deus. Tendo como foco este horizonte é preciso ser cristão e ser igreja. O travesseiro cômodo de costumes e tradição não serve. Passado e tradição são bons se nos ajudam no presente e em direção do futuro. Neste contexto arrisco uma observação quando aos festejos dos 500 anos de Lutero em 2017. Não ponho em dúvida a seriedade dos enormes preparativos que estão acontecendo, mas desejo que o jubileu não seja só um bom sono sobre as "glórias" do passado, mas sim um olhar para frente, para o horizonte, com os lombos cingidos. Aqui me vem à mente a palavra atribuída a Lutero - e por ele usada - de que plantaria uma macieira mesmo que soubesse que morreria no dia seguinte. Verdade que -simbolicamente - luteranos no mundo estão plantando árvores. Neste contexto me ocorre uma palavra do Papa Francisco (não me lembro da fonte), segundo a qual devemos deixar os pais e doutores da igreja em seu lugar, prestando atenção a sua palavras, e abrir olhos e corações para as pessoas que encontramos em nossos caminhos.

Oramos nos cultos a prece do Pai Nosso "venha o teu Reino", por ele esperamos, mas isso não nos desobriga da vida e do mundo, muito pelo contrário, nos compromete a estar alerta para que o mundo encontre salvação, isto é, vida plena, digna, com justiça e paz. Amém.

Oração: Senhor, nosso Deus e pai em Jesus Cristo: Obrigado por nos dares vida com esperança e por mostrares em Cristo os caminhos a seguir. Perdoa quando dormimos em vez de ficar alerta. Ajuda-nos a ter os lombos cingidos no novo ano que está diante de nós. Por Cristo, que contigo e com o Espírito Santo vive e reina eternamente. Amém.




Harald Malschitzky
São Leopoldo-RS –Brasil
E-Mail: harald.malschitzky@terra.com.br

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